"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 24 de outubro de 2009

Fialho de Almeida – «Lisboa Galante»



«Lisboa Galante»
Encadernação

Como prometido, apresento hoje o livro de Fialho de Almeida. No entanto, desiludam-se aqueles que certamente esperariam ver os exemplares de «Os Gatos», pois escolhi um livro mais modesto, uma das suas primeiras obras – «Lisboa Galante».

Trata-se de um conjunto de contos, cujo enredo se desenrola em Lisboa no último quartel do século XIX, o qual ilustra bem tudo aquilo que se disse sobre a personalidade e estilo literário de Fialho de Almeida.


«Lisboa Galante»
Indice


Escolhi este exemplar, muito embora não seja um título muito procurado e de um autor que se encontra um pouco no esquecimento na actualidade, também pela sua encadernação.

Mas vejamos então o livro:


«Lisboa Galante»
Página de título

FIALHO DE ALMEIDA, José Valentim – Lisboa Galante. Porto, Livraria Civilisação – Casa Editora de Costa Santos, Sobrinho & Diniz. 4 - Santo Ildefonso – 12, 1890. 321- (3) pp. 1ª edição.


«Lisboa Galante»
Capas de brochura

Encadernado conservando as capas de brochura.


«Lisboa Galante»
Encadernação - Lombada

Encadernação meia-francesa em pele bordeaux com cantos. 5 nervuras na lombada com rótulos, verde escuros, com cercadura de filet em casa-fechada, e florões dourados entre os nervos com cercaduras em casa-fechada igualmente. Data na base da lombada. Filets nos remates da pele, junto ao papel de tipo francês, nas pastas.


«Lisboa Galante»
Encadernação – Pasta anterior


Para uma primeira abordagem do livro deixo alguns excertos, um pouco ao acaso, como é meu hábito.


«Lisboa Galante»
“A condessa”


«Lisboa Galante»
“Os cabelos de Alzira”



«Lisboa Galante»
“As ruas – O demónio da vitrine - Um adultério cor de roza”


Boa leitura e, quem sabe se com este modesto artigo, tenha despertado a curiosidade para a leitura deste autor.

Pelo menos ele teve a coragem de afrontar Eça de Queirós (1) o que era, e ainda é, um pouco difícil, pois este sempre foi considerado como um “autor de culto”.


Saudações bibliófilas

(1) Maior audácia, considero apenas a de José Agostinho de Macedo, quando se propôs “corrigir os erros” de «Os Lusíadas» de Camões!
Leia-se neste Blog o artigo: José Agostinho de Macedo


7 comentários:

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui. Complemento perfecto del artículo anterior, creo que en la actualidad los cuentos están muy bien valorados con respecto a otros géneros literarios, pero debo admitir que a mi me encantan.
El autor no lo conocía hasta ahora. Con respecto al ejemplar tiene una preciosa encuadernación. Creo haber visto la etiqueta del encuadernador en una de las fotos.
Gracias por la información
Saludos Bibliófilos.

Rui Martins disse...

Marco Fabrizio
Gracias por tu comentario. Esa era la idea: establecer una conexión entre las dos entradas, primero el hombre y el escritor y después una obra.
Fialho no es muy conocido, éste es una de las razones de escribir en él.
Lo que tú viste no es la etiqueta del encuadernador pero si el ex libris de uno de los libreros anticuarios por donde pasó el libro: Livraria Académica de J. Guedes da Silva - Porto.
Saludos

Marco Pedrosa disse...

Caro Ruy,

De fato nada se compara ao charme da douração à punho.
A torpe ganância por lucro quase fez desaparecer esta arte durante o século passado, ficando restrita aos poucos ateliês tradicionais da Europa, por exemplo.
No Brasil, desapareceu por completo.
Mas felizmente s douração manual com ouro verdadeiro vem sendo resgatada no mundo todo nas últimas décadas, no Brasil especificamnte nos últimos oito anos.
Positivamente "não se consegue uma boa encadernação sem douração manual."
Gostaria muito de conhecer sua coleção de ferros, especialmente os do séc XIII, na minha opinião os mais belos.
Abraço.
Marco Pedrosa.

Marco Pedrosa disse...

Estimado Ruy,

No Brasil também dizemos douração a seco, ou ainda douração cega. Gosto muito do termo espanhol "gofrado" ou "gofragem".
É pena mesmo termos um oceano entre nós, não tenho dúvida que tens muito a me dizer, pois vejo que és um estudioso do assunto.

Abraço.

Marco Pedrosa

Rui Martins disse...

Estimado Marco Pedrosa

Obrigado pelos seus comentários. De facto a encadernação sempre me fascinou!

Não foi por acaso, que em jovem, consegui aprender os rudimentos básicos da encadernação tendo chegado mesmo a encadernar dois ou três livros. Não cheguei, no entanto, a ensaiar a técnica da gravação a ouro (ouro fino evidentemente) ainda que tenha aprendido como esta se executava. Cheguei mesmo a ver os ferros e as finíssimas folhas de ouro protegidas nos seus papeis...
Nada pode superar a visão de um bom dourado feito manualmente com um bonito ferro bem aquecido que deixa o ouro eternamente incrustado na pele...

Como nunca sei o que vou escrever a seguir (nestas coisas dou total liberdade ao meu espírito e inspiração de momento) deixo-lhe este link para o «le bibliomane moderne»:
http://le-bibliomane.blogspot.com/2008/11/les-fers-dorer-une-collection-bien.html
aonde pode apreciar uma colecção só de florões (poucos mais tipos de ferros tenho ... eu colecciono é livros) que é minha, ainda que publicada anonimamente na altura.
Se tiver alguma questão diga-me ou se pretender uma fotografia melhor peça-me que eu a enviarei.

Cumprimentos
Rui

PS: O oceano é mesmo uma grande complicação ... valho-nos as “modernices” da “net”, que nestas coisas sou um grande defensor que não da douração!

Galderich disse...

Rui,
Precioso libro que liga con el anterior apunte. Por el texto que nos permite leer las fotografias tiene muy buena pinta. Buen continente y buen contenido!

Rui Martins disse...

Caro Galderich

Pode dizer-se, neste caso, que o “hábito faz o monge”!
Com efeito, o livro não tem nada de especial, o autor tem os seus seguidores, sobretudo no Alentejo onde é objecto de algum carinho, mas passa muito despercebido, excepção a «Os Gatos».
Vale mais a encadernação que o seu conteúdo (embora eu goste do livro, pelo menos fala-me da “minha Lisboa!”)

Como já repararam, sempre que o tema ou o autor o justifica, tento fazer uma pequena nótula sobre a sua bio-bibliografia e depois apresentar um livro ou outro documento. Para os que não conheçam o tema ou o autor, ficarão com uma melhor visão para emitirem um juízo e, deste modo, dar a conhecer sempre um pouco mais da nossa bibliofilia e estes autores serem mais acessíveis, monetariamente, a quem se pretenda iniciar ...
O século XIX, sobretudo, é uma fonte inesgotável de potenciais formas de coleccionismo e estudo bibliófilo e, por enquanto, não assustar em demasia quem se queira iniciar!

Isto ocorre com alguma frequência por eu falar mais daquilo que nem sempre é muito conhecido e, em minha opinião, pelo menos valer a pena ser discutido.
Sobre os grandes autores já quase tudo foi dito ou escrito.
Quem sou eu para tentar dizer algo mais?

Saudações bibliófilas

PS: Desculpa o português, mas este comentário é para ti, em primeiro lugar, mas também para todos os outros.