"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eça de Queirós – Uma carta manuscrita





Eça de Queirós (1871)
 
Trago-vos hoje uma carta manuscrita de Eça de Queirós e dirigida a Eduardo Coelho. Não é datada, apenas refere o dia 10, mas pelos acontecimentos referidos, a Guerra franco-prussiana e a queda do III Império, coloca-a depois de 1870, por ter sido escrita em Leiria, deve ser anterior a 1872, pois no dia 16 de Março desse ano, Eça é nomeado cônsul de 1ª classe nas Antilhas espanholas, e aí chega no dia 20 de Dezembro a Havana, onde foi empossado pelo seu antecessor como cônsul.

Ainda que tenha sido nomeado, mais tarde, administrador municipal de Leiria, local onde a carta foi escrita e onde escreveu a sua primeira novela realista, «O Crime do Padre Amaro», publicada em 1875 e que desencadeou tanta polémica, não nos parece que se deva datar tão tardiamente esta missiva, mas colocá-la antes de 1872 ... deixo, no entanto, a questão para ser melhor esclarecida pelos estudiosos queirosianos.

Uma coisa me parece certa. É de presumir, pelos dados referidos, que esta carta foi escrita antes da referido romance!

Deixo um breve esboço biográfico dos dois correspondentes.


Estátua de Eça de Queirós
Praça do Almada na Póvoa de Varzim

 
José Maria de Eça de Queirós nasceu em Novembro de 1845, numa casa da Praça do Almada na Póvoa de Varzim, no centro da cidade; foi baptizado na Igreja Matriz de Vila do Conde.
Faleceu em Paris a 16 de Agosto de 1900. Teve funerais nacionais e está sepultado em Santa Cruz do Douro.

É um dos mais importantes escritores portugueses. Foi autor, entre outros romances de importância reconhecida, de «Os Maias» e «O crime do Padre Amaro» este último por muitos considerado o melhor romance realista português do século XIX.

Como curiosidade, refira-se que o seu pai, José Maria d'Almeida de Teixeira de Queiroz, era magistrado, formado em Direito por Coimbra, e foi juiz instrutor do célebre processo de Camilo Castelo Branco e com ele convivia regularmente, quando Camilo vinha à Póvoa para se divertir no Largo do Café Chinês.
Foi juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Lisboa, presidente do Tribunal do Comércio, deputado por Aveiro, fidalgo cavaleiro da Casa Real, par do Reino e do Conselho de Sua Majestade. Foi ainda escritor e poeta.

 
Estátua de Eduardo Coelho
Jardim de S. Pedro de Alcântara

José Eduardo Coelho nasceu em Coimbra a 23 de Abril de 1835 e aí faleceu em 14 de Maio de 1889. Foi um tipógrafo e jornalista português.

Órfão de pai aos treze anos, foi mandado pela mãe a Lisboa onde trabalhou no comércio. Depois de aprender o ofício de tipógrafo ingressou na Imprensa Nacional em 1857.

Em Dezembro de 1864, com Tomás Quintino Antunes, fundou o periódico «Diário de Notícias», do qual foi director até sua morte. Era amigo íntimo de Eça de Queirós, que foi um importante colaborador nos primeiros anos do diário.

Como homenagem tem no Jardim de S. Pedro de Alcântara, um monumento erguido em 1904, que representa Eduardo Coelho fundador do jornal Diário de Notícias, por baixo dele um ardina apregoa o famoso jornal.

Trata-se de um documento escrito em papel, com marca impressa a seco em relevo, a duas páginas com cerca de 211x134 mm.


Carta - 1ª página


Carta - 2ª página

Papel com marcas de dobras e alguns picos de acidez, mas mantendo, em parte, a sua sonoridade. Texto um pouco desvanecido pela qualidade da tinta.


Marca em relevo do papel


Carta - Pormenor com a assinatura de Eça de Queirós

Está acompanhado duma versão impressa da referida carta em papel de boa qualidade com 215x160 mm.


Versão impressa


Mancha tipográfica impressa


Saudações bibliófilas

Bibliografia:
Sobre Eça de Queirós, consulte-se na Biblioteca Nacional, pela documentação que apresenta de interesse para todos aqueles que se interessam pelo estudo deste escritor, o qual é um verdadeiro "mito" das nossas letras e objecto de tantos e tão variados estudos: «Eça de Queirós»

3 comentários:

Galderich disse...

Después de unos buenos paseos por los jardines es un placer leer este tipo de cartas de intelectuales en los que aportan información acerca de lo que les envolvía y dan su opinión.
Es curioso como los conflictos bélicos de estos tiempos dividían tambien a Europa en dos posturas irreconciliables.

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui.
Muy buenas las conjeturas que realizas para aproximar la fecha en la que se escribo esta carta, la cual se debe cuidar como tesoro.
¡Felicidadeas!
Saludos bibliófilos.

Rui Martins disse...

Estimados Galderich y Marco Fabrizio
Estos documentos son preciosos para el estudio de un personaje y también un poco de la historia de la época.
¡Es siempre fascinante intentar determinar una fecha!
Mi gusta más de escribir sobre el autor que sobre sus libros… estos son simplemente el reflejo del personaje.
Al comprender el hombre se comprende mejor su obra.
Gracia por vuestros comentarios
Saludos