"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Afonso Lopes Vieira – um apontamento a propósito das Novidades Bibliográficas de Maio da Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho


A Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho apresentou as últimas novidades bibliográficas adquiridas de Maio. 

Relembro que está a decorrer a Feira do Livro em Coimbra, integrada num certame que incluirá programas de música, artes plásticas e gastronomia, de 23 de Maio e 1 de Junho, no Parque Dr. Manuel Braga, e onde esta Livraria está presente com um stand de venda de livros antigos e seleccionados.


Feira Cultural de Coimbra

Afonso Lopes Vieira nasceu a 26 de Janeiro de 1878, em Leiria, e morreu a 25 de Janeiro de 1946, em Lisboa. Foi um poeta e ficcionista.


Afonso Lopes Vieira em criança

Frequentou a Universidade de Coimbra onde concluiu o curso de Direito em 1900. Nesse mesmo ano radicou-se em Lisboa, onde exerceria a função de redactor na Câmara dos Deputados, até 1916 e foi a partir deste ano que se dedicaria exclusivamente à literatura e à acção cultural.

Em 1902 casa com Helena Aboim e vai viver para S.Pedro de Moel.

Durante a juventude participou na redacção alguns jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) estreia-se poética, iniciando um período de intensa actividade literária.

Ainda que se possa considerar um cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira nunca esqueceu as suas origens, conservando as imagens de Leiria como uma paisagem bucólica e romântica, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, onde se fixa por largos períodos, e é uma paisagem de eleição para a inspiração e génese da sua obra. O mar e o pinhal são os principais motivos da sua poética.

Na sua casa de São Pedro de Moel recebeu vários amigos, também escritores, e viajou por Espanha, França, Itália, Bélgica, Norte de África e Brasil, tendo decidido "reaportuguesar Portugal, tornando-se europeu".

Em Lisboa residiu no antigo Convento da Rosa, no Largo da Rosa, nº 6, que foi sua propriedade e residência entre 1927 e 1942.


Afonso Lopes Vieira
Quadro a óleo de Columbano Bordalo Pinheiro (1910)

Levou a cabo inúmeras tentativas de reabilitação junto do grande público (inclusivamente infantil) de um património nacional, nomeadamente clássico e medieval, esquecido.

Este seu carácter activo e multifacetado manifestou-se, nomeadamente, na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942).

Também se empenhou noutras formas de “renascimento” destes valores seja pela tradução (Romance de Amadis) ou divulgação de obras de autores basilares da cultura nacional (edição de Os Lusíadas).
A sua dedicação à causa infantil iniciou-se com a publicação de Animais Nossos Amigos (1911).

Integrado no grupo da Renascença Portuguesa, colaborou em publicações como A Águia, Nação Portuguesa ou Contemporânea.


Ex-libris da Renascença Portuguesa,
da autoria de António Carneiro

A sua poesia, próxima do saudosismo, faz a transição entre a poesia neorromântica de fim-de-século e as correntes nacionalistas e sebastianistas do início do século XX, recuperando métricas, formas e temas tanto inspirados na literatura clássica como nos romanceiros ou na literatura popular.

Com uma faceta de anarquista, que inspirará, por exemplo, a obra ficcional Marques (História de um Perseguido), as inúmeras acções de renascimento cultural de Portugal que promoveu mantiveram-se num plano da consciência individual, sem aderirem a programas com ideais em parte coincidentes, como o integralismo, representando, antes, no início do século, a persistência de um neorromantismo que fora encetado com o neogarrettismo de Alberto de Oliveira.


Assinatura de Afonso Lopes Vieira
©Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira

Em face do despontar do Salazarismo, demarcar-se-ia deste, embora sob a égide e em defesa do Integralismo lusitano, como o expressaria no texto Éclogas de Agora (1935). Este livro esteve proibido até ao 25 de Abril de 1974.

Destacam-se na sua produção: Para quê?, Náufragos: Versos Lusitanos, O Encoberto, Bartolomeu Marinheiro, Arte Portuguesa, Ilhas de Bruma e Onde a Terra Acaba e o Mar Começa.

Tem ainda colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave zul (1899-1900), Serões (1915-1920), Arte & vida (1904-1906) A republica portugueza (1910-1911) Alma Nova (1914-1930), Atlântida (1915-1920), Contemporânea (1915-1926), e Ordem Nova (1926-1927).


©Hemeroteca digital da Câmara Municipal de Lisboa


 
Pinto, Manuel de Sousa, 1880-1934, dir. publ.; Barros, João de, 1881-1960, dir. publ.
©Hemeroteca digital da Câmara Municipal de Lisboa

Nestas Novidades Bibliográficas de Maio a Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho apresenta um excelente lote de obras deste poeta hoje um pouco esquecido.



10456. VIEIRA, Afonso Lopes – ILHAS DE BRUMA. F. França Amado impressor & livreiro, Coimbra, 1917. In. 8.º de 133-(2) págs. Br.
Primeira edição. Nítida impressão a duas cores sobre papel de qualidade superior.

"... Afonso Lopes Vieira é ideologicamente um moderado e a sua obra apresenta-se globalmente com um cariz conservador, apontando para um nacionalismo tradicionalista, que lhe valeu os elogios de um António Sardinha e o epíteto de "neo-Garrett" por parte de Alberto de Oliveira" in Dicionário de Literatura Portuguesa



10457. VIEIRA, Afonso Lopes – A DIANA de Jorge de Montemor. Lisboa, 1924. In-8.º de XXXVII-246-LXXII-(4) págs. Encadernação meia inglesa com lombada em pele, na qual se inscrevem dizeres dourados. Conserva capas de brochura. Apresenta um ex-libris no ante-rosto.

Primeira edição desta primeira versão portuguesa de "Diana", originalmente escrita em Castelhano.



10458. VIEIRA, Afonso Lopes – SANTO ANTÓNIO. Sociedade Editora Portugal-Brasil, Lisboa, 1932. In-8.º de 236-XLII-(8) págs. Encadernação meia inglesa com cantos e lombada em pele, apresentando-se a lombada decorada com dizeres dourados. Encadernação ligeiramente cansada.

“...diário de viagem espiritual, (...) escrevi-o, sobretudo por devoçao nacional (...) no centenário do Santo nacional.”

10459. VIEIRA, Afonso Lopes – OS VERSOS de ... Sociedade Editora Portugal-Brasil, Lisboa, 1927. In-8º de 319-(5) págs. Encadernação moderna meia inglesa em pele castanha com cantos e rótulo verde na lombada. Sem capas de brochura. Apenas aparado à cabeça.
Primeira edição.

Inclui as poesias publicadas em Romanceiro, O Pão e as Rosas, Ilhas de Bruma, País Lilás, Para os Piquenos, Scenas Infantis, Ao Sodado Desconhecido e Cancioneiro.
Unicamente se incluiram neste volume duas composições Para os Piquenos Portugueses por esses versos pertencerem a edições especiais, ilustradas.

10460. VIEIRA, Afonso Lopes – O PÃO E AS ROSAS. Livraria Ferreira Editora, Lisboa, 1908. In-8º de 169 págs. Enc. nova meia francesa com cantos em pele vermelha e rótulos de pele azul na lombada. Apenas aparado á cabeça. Conserva capas de brochura. Ocasionais picos de humidade ao longo do texto. Rubrica de posse do poeta GARCIA PULIDO.
PRIMEIRA EDIÇÃO



10461. VIEIRA, Afonso Lopes – ROSAS BRAVAS - acto em verso. "Editora", Lisboa, s/d. In-8.º de 41(1) págs. Encadernação meia inglesa com cantos e lombada em pele. Conserva capas de brochura, as quais se encontram em execelente estado de conservação. O miolo apresenta acidez generalizada. Dedicatória não autógrafa no ante-rosto.

Ilustrado em separado com uma gravura, a cores, de Thomás Bordalo Pinheiro do projecto do Cenário Original de Raul Lino, executado no teatro por Augusto Pina.
Muito invulgar.



10462. VIEIRA, Afonso Lopes – A FÉ E O IMPÉRIO. Tipografia Inglesa Lda, Lisboa, 1933. In-8.º de 26(2) págs. Br. Exemplar com ocasionais picos de acidez.

Publicação de uma "Conferência feita em Luanda aos 28 de Junho de 1932". Edição limitada a 200 exemplares.



10463. VIEIRA, Afonso Lopes – CANÇÕES DO VENTO E DO SOL. Edições Ulmeiro, Lisboa, 1983. In-8.º de 138(4) págs. Encadernação editorial.

Livro de poesia com influências marcadamente simbolistas.
(...)E os poetas, que são poetas porque têm
nos olhos a recôndita agudeza
que vem de fitar o além,
e de amorosamente comtenplarem
nas coisas, que ainda são, o que elas eram,
---saberão ver, com tristeza,
na graça das que voarem,
a sombra das que morreram...



10464. VIEIRA, Afonso Lopes –"MARQUES" (história d'um perseguido). Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão, Lisboa, 1904. In-8.º de 164 págs. Br. Apresenta uma rubrica de posse no frontispício.

Referindo-se a esta obra disse Gaspar Simões: "Raúl Brandão, Patrício, Mário de Sá-Carneiro, Almada, o próprio Almada da Engomadeira, mestres da ficção portuguesa da primeira metade do século, foragidos do realismo, avatares da ficção em que o real se torna poético, como que foram beber a esta fonte oculta da novelística nacional. O "Marques", de Afonso Lopes Vieira, é uma obra-prima do género".



10465. VIEIRA, Afonso Lopes – PAÍS LILÁS, DESTERRO AZUL. Sociedade Editora Portugal-Brasil, Lisboa, 1922. In-8º de 183-(7)-VIII págs. Br. Magnífica impressão de esmerado apuro gráfico sobre papel de linho. Apresenta ocasionais picos de acidez.

O livro de poemas termina com um artigo de Julio Brandão sobre o livro “Em Demanda do Graal”. O mesmo crítico no periódico “Primeiro de Janeiro” em Maio de 1922 diz que “... Há em ALV as mesmas afinidades étnicas que criaram Garrett, a quem tanto devemos, tam nosso pelo sangue e pelo espírito, e a quem a maior parte dos críticos viram quási sempre deturpado pela intriga política ou amorosa, sem cuidarem da essência luminosa e eterna da sua obra e do seu génio... O novo livro de ALV é todo em redondilha maior - a mais popular, a mais portuguesa das formas poéticas…”



10466. VIEIRA, Afonso Lopes – AUTO DA SEBENTA. Typ. França Amado, Coimbra, 1899. In. 8.º de 40 págs. Br.

Peça comemorativa editada pela comissão académica do centenário da "Sebenta". Primeira edição. "...Afonso Lopes Vieira é ideologicamente um moderado e a sua obra apresenta-se globalmente com um cariz conservador, apontando para um nacionalismo tradicionalista, que lhe valeu os elogios de um António Sardinha e o epíteto de "neo-Garrett" por parte de Alberto de Oliveira" in Dicionário de Literatura Portuguesa.



10467. VIEIRA, Afonso Lopes – AR LIVRE. Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso. Lisboa. 1906. In-8º de 216 págs. Brochado.

RARA Primeira edição e cremos que única. Capa de brochura ilustrada e assinada como monograma LF. Apresenta rubrica de posse no frontispício.

Agostinho de Campos em “Antologia Portuguesa” sobre este título regista a seguinte opinião:  “... Ar Livre, saídos das leituras de Haeckel, tem ao menos uma grande significação e merecimento na vida literária de Lopes Vieira. Este livro marca o ponto de bifurcação em que o poeta enveredou decidido para o mundo da natureza exterior, deixando de rodar apenas em torno da sua própria alma embebida de história, tradição e leituras, e preparando-se assim para enriquecer imperecivelmente as letras portuguesas com as obras-primas que iluminam “O Pão e as Rosas” e as “Canções do Vento e do Sol”. Mas Alberto Pimental no jornal “Novidades” em 1906 diz que este livro conserva do princípio ao fim “... a unidade de uma nobre concepção filosófica: reclama justiça, igualdade e amor, repele todas as escravidões, amaldiçoa todos os despotismos e vai procurar a fraternidade universal À sua origem divina... ”.



10468. VIEIRA, Afonso Lopes – A ÚLTIMA OBRA DO POETA AFONSO LOPES VIEIRA. Bertrand Lda, Lisboa, 1948. In-8.º de 76(1) págs. Br.  Ilustrado com um retrato de Afonso Lopes Vieira por Columbano.

Publicam-se neste livrinho os textos escolhidos para os bilhetes postais das colecções que Afonso Lopes Vieira ideou e às quais deu os nomes de "Conheça a sua poesia" e "Conheça os seus Prosadores".



10469. VIEIRA, Afonso Lopes – O POETA SAUDADE. França Amado Editor, Coimbra, 1901. In-4º de 132 págs. Encadernação meia francesa em pele vermelha com cantos e dourados na lombada. Conserva capas de brochura, com alguns picos de humidade. No entanto miolo, aparado e muito limpo.

Nítida impressão de esmerado apuro gráfico. PRIMEIRA EDIÇÃO já de muito difícil aparecimento no mercado.



10470. VIEIRA, Afonso Lopes – O CONTO DE AMADIZ DE PORTUGAL para os rapazes portugueses. Imprensa Portugal-Brasil, s.l., 1938. In-4.º de 44-(1) págs. Br.

Ilustrado com desenhos de Lino António. Apresenta dedicatória não autógrafa no ante-rosto.



O bibliófilo
(Norman Rockwell, Bookworm, 1926)

Não é um nome muito sonante nas letras portuguesas nem um poeta com grande procura (e, como tal, com preços elevados) no mercado bibliófilo, embora esteja quase sempre presente nos catálogos da maioria dos leilões e tenha um grupo de bibliófilos coleccionadores bem definido.

Pretendi apenas mostrar o que se pode encontrar no mercado bibliófilo, tendo como amostragem as obras disponibilizadas pelo Miguel de Carvalho, e tentar chamar a atenção para a leitura da sua obra, pois que reflecte bem o estado de “encruzilhada ideológica” em que se encontrava a intelectualidade portuguesa nos inícios do séc. XX (o que acontecia igualmente na politica …).


Saudações bibliófilas.

domingo, 25 de maio de 2014

Palácio do Correio Velho – Leilão 332 | Livros e Manuscritos




O Palácio do Correio Velho vai realizar nos próximos dias 4 e 5 de Junho mais um dos seus leilões – o Leilão 332 | Livros e Manuscristos.

Trata-se de um interessante leilão de livros antigos e modernos, manuscritos, encadernações, postais, fotografias, litografias e memorablia.




(Lote de capa 089 | Lote da contra-capa 033)

A exposição decorrerá, na sede da empresa leiloeira na Calçada do Combro, 38 A - 1º em Lisboa, nos dias 2 de Junho (Segunda-feira) das 10:00h/13:30h e 14:30h/19:00h e 3 de Junho (Terça-feira) das 10:00h/13:30h e 14:30h/19:00h
O leilão teá lugar, no mesmo local, no dias  4 de Junho (Quarta-feira )às 15:00h e 5 de Junho (Quinta-feira) às 15:00h.



Vejamos alguns dos lotes em praça:



033. ANDRADE, Manoel Carlos de. LUZ // DA LIBERAL, // E // NOBRE ARTE // DA // CAVALARIA, //....//....// (gravura com as armas reais de Portugal). // Lisboa, Na Regia Officina Typografica, 1790.
In -4º gr. de XXVI - (1fl. em branco) -454 - I págs. Encadernação inteira de carneira castanha mosqueada, sólida e bela, tendo tido alguns restauros. Ocasionais restauros nas cinco folhas iniciais. Exemplar da primeira edição do mais célebre e belo livro português sobre Equitação, impresso sobre papel de linho. Obra atribuida ao Marquês de Marialva, sendo por isso conhecida por «Arte de Marialva». Ilustrada com um retrato do Principe D.João (depois D. João VI) e as 93 gravuras, (19) desdobráveis, completas, delineadas por Joaquim Carneiro da Silva e outros gravadores, que representam o rei e distintos fidalgos da época montados nos seus ginetes e praticando a arte de cavalgar, reproduzindo ainda algumas das mesmas gravuras, os brasões de armas dos fidalgos retratados. Frontispício com as armas reais e alguns decorativos cabeções de enfeite e capitulares. Um dos melhores livros de Equitação publicados na Europa, no século XVIII. O seu autor cita - nos autores clássicos como La Guerinière, La Broue e Newcastle, entre outros. Inocêncio menciona que «a edição foi mandada executar por ordem da Rainha D.Maria I, sendo a tiragem de 1000 exemplares, dos quais se entregaram 800 ao autor, ficando os restantes 200 para serem expostos à venda». 5 das estampas foram delineadas por Carneiro da Silva, 30 abertas por Froes Machado, 8 abertas por Manuel Alegre, 7 de Luis Fernandes Piedra, 9 por Pietro Martini, 1 por Quevedo e terminada por Orouet e outra por Francisco Gregorio de Queiroz. As restantes não tem nome de gravador e muitas delas nem sequer do delineador, que sabemos por indicação de Cirilo, ter sido Carneiro da Silva. Há todavia 4 chapas delineadas por Gaspar Froes. Nota de posse de Jose Manoel Galvão, Picador de Cavalaria.
INOCÊNCIO: V, pág.365 ; AMEAL: nº 108; PALHA : nº 489; MANUEL DOS SANTOS: nº 2127; MONTEVERDE : nº 196.


089. [BORGONHA, João de & LIMPO, Baltasar.] MISSALE Iuxta vsum & ordinem Almae Bracarensis Ecclesiae Hispaniarum Primatis, summo studio atque diligentia noviter excusum, & multis insuper scitu dignis, ac clero pernecessariis auctum. Lugduni, (Lyon), Excudebat Petrus Fradin, sumptibus Ioannis à Burgundia, Bibliopolae Lusitanorum Regis, 1558.
In-fólio de [9]- CCL- (56 págs.)- [1-1] fólios. Encadernação em madeira revestida de veludo vermelho antigo, com três marcadores de leitura em tecido. Pequenas falhas, leve cansaço nas margens mas com toda a patine e «pathos» do seu centenário uso. Frontispício xilográfico (que se encontra recortado e montado sobre folha antiga), e texto (a duas colunas, letra gótica) impressos a vermelho e negro, com capitulares historiadas e vegetalizadas e pautas e hinos musicais. Alguns sinais de traça numa das margens das últimas 30 folhas, sem afectar o texto. Base das folhas dos primeiros fólios reforçadas ou espelhadas. Bom exemplar. Belo papel de fantasia colorido nas folhas de guarda.
Contém as seguintes gravuras: 1 - Frontispício xilográfico com portada arquitectónica, tendo ao alto Nossa Senhora com o Menino, dos lados as figuras de S. Pedro, S. Martinho e, em maior destaque, S. Frutuoso e S. Geraldo (os santos bracarenses), assentes em escudo episcopal e dois grifos renascentistas. 2 - Fólio [2] verso, com xilografia da morte de Jesus no Golgota, tendo ao seu lado Maria e João, enquadrada em portada arquitectónica, tendo dos lados mísulas com bustos de profetas, uma provável Sibila e Doutores, tendo em conta o dizer ao alto da composição «Operatus est salutem in medio terrae», tendo ainda a representação dos Quatro Evangelistas, nos seus símbolos respectivos, nos quatro cantos da composição. 3 - Fólio. XXII com a mesma portada xilográfica tendo no meio, em vez do Calvário, o título «Incipit Missale secundum ordinem et regulam almae Bracarensis ecclesiae Hispaniarum Primatis». 4 - Fólio CXX xilogravura tendo no verso a representação de Deus Pai, no trono celestial, rodeado de Anjos, assinatura de «ISK», bastante na linha de A. Dürer. No reverso, Calvário (Jesus, Maria e João) de grande proporção. No texto, ilustrando as respectivas missas, encontramos ainda xilogravuras com as dim de 12 x 7,5 cm., com representações de Nascimento, Crucificação, Ressurreição, Pentecostes, Santos ( 2 vezes), S. Martinho, S Frutuoso, S. Pedro, Assunção de Nossa Senhora, S. Geraldo. Entre os fólios CCXIIII e CCXV tem coladas 56 págs., impressas a duas cores e a duas colunas, provavelmente já do séc. XVIII, com as orações e leituras evangélicas para as principais festas do calendário litúrgico. No fim, folha do séc. XVIII, incipit «Collecta», com pequenos acrescentos de referências a fazerem-se ao Papa e Reis, em algumas das orações. Nota de posse manuscrita mais antiga de Bartolomeu da Costa Botelho, e em seguida: «Este Missal pertence à Igreja de Sta. Lucrécia anexa ao meu Canonicato, Luís da Costa Lobo». Exemplar muito raro deste belo missal quinhentista feito na Borgonha para o Rei de Portugal e para o Arcebispado de Braga ou Santa Igreja Bracarense, por ordem do seu arcebispo Baltasar Limpo, havendo só três exemplares conhecidos no país, dois deles completos na Biblioteca Nacional.

Num bom conjunto de obras de Camilo Castelo Branco (lotes 092 a 128) destaca-se:



097. BRANCO, Camilo Castelo. AMOR DE PERDIÇÃO. (Memorias d'uma Familia). Romance. Porto: Em Casa de N. Moré - Editor,1862. (Porto: 1862 -Typ. de Sebastião José Pereira)
In - 8º de XI - 249 - (1) págs. Primeira edição de uma das mais emblemáticas e apreciadas obras de Camilo.Meia encadernação de chagrin castanho, da época, esfolada, cansada e com defeitos. Exemplar sem capas de brochura. Miolo apresentando algum acastanhamento do papel. Exemplar com o anterrosto parcialmente restaurado e as seguintes anotações mss. a tinta: «O dono deste romance nunca o emprestou a homens. Quando porém alguma senhora o deseje ler, encontra-o sempre à sua disposição». E a seguir :«Oferecido a Maria Madalena». Rara, apreciada e muito procurada edição original. Henrique Marques: nº 61. Segue-se, no mesmo volume: COUSAS LEVES E PESADAS. Este titulo está encimado pelos dizeres: «Bibliotheca do Carroção». Porto, Em Casa de Luiz José d' Oliveira - Editor, 1867.E, no verso, o registo tipográfico: (Porto, 1867 - Typographia de A.J. da Silva Teixeira). Segue - se da pág. 5 à 7, o Prefácio e o texto propriamente dito decorre da pág. 9 à 235. In - 8º de 235 págs. Primeira edição colectiva dos escritos que reúne, impressos anteriormente em diversas publicações. Rara.



144. CAMÕES, Luiz. OS LUSIADAS. Edição consagrada a commemorar o terceiro centenário do poeta da nacionalidade portugueza pelo Gabinete Portuguez de Leitura no Rio de Janeiro.Revisão do texto do Poema e observações philiologicas, por Adolpho Coelho; prefacio critico, de Ramalho Ortigão; noticia historica do Gabinete Portuguez de Leitura, de Reinaldo Carlos Montoro. Anno MCCCCLXXX. Lisboa, Na Officina de Castro Irmão IMpressor, 1880.
In - 8º gr. de XCIII - 422 págs. e 4 inums. finais. Contém o retrato do poeta, o facsimile da portada da 1ª edição dos Lusiadas e uma vinheta alusiva em cada canto, tudo aberto em madeira. Bom exemplar, revestido de encadernação inteira de chagrin preto com gravação a seco e a ouro nas pastas e lombada e bonitas seixas douradas.



229. DIÁRIOS ECLESIÁSTICOS. Lote de dois (2) títulos em 2 vols., a saber: 1 - DIARIO ECCLESIASTICO para o Reino de Portugal, principalmente para a cidade de Lisboa, para o anno de 1803. Setimo depois do Bissexto.Ordenado pela Congregação do Oratorio de Lisboa (vinheta decorativa). Lisboa, Na Regia Officina Typografica. In -12º de 175 - (1) págs. Encadernação inteira de carneira fina vermelha decorada a ouro com motivos de estilização vegetalista, festões e dois florões centrais em ambas as pastas.Lombada com pequenos defeitos e o exemplar com sinais de manuseamento.; 2 - DIARIO ECCLESIASTICO para o Reino de Portugal, principalmente para a cidade de Lisboa. Ordenado pelo P. Vicente Ferreira, calendarista da extincta Congregação do Oratório. Lisboa,Na Imprensa Nacional,
1839. In -12º de 64 - 64 - 24 págs. Com um mapa de Portugal colorido, desdobrável. Encadernação inteira de pele vermelha com a efigie de D.Maria II encimando o escudo d'armas reais portuguesas decorado com atributos bélicos e enquadrado por colunas corintias, tudo gravado a ouro. Exemplar levemente cansado. Precioso livrinho.



259. [EMILIA DAS NEVES DE SOUSA] Á SUA PRIMEIRA ACTRIZ OS PORTUGUESES NO RIO DE JANEIRO. (Rio de Janeiro),Typographia de Lourenço Winter, 1865.
In - 4º gr. de (VII) fls. prels. inums. e 115 - 1 págs. nums. As folhas preliminares contém um poema encomiástico dirigido à genial actriz portuguesa e nas seguintes, até ao final do volume decorre : A DAMA DAS CAMELIAS, Drama em cinco actos por Alexandre Dumas Filho, traduzido por José Maria de Souza Lobo.Todas as páginas decoradas com dupla cercadura tipográfica. Encadernação inteira de veludo azul, da época. Dentro de um estojo de protecção com as margens ondeadas também revestido de veludo azul, já coçado, e cuja tampa tem ao centro as Armas Reais de Portugal, (El - Rei D.Luís I) gravadas a ouro com Corôa Real assente em vários ornatos, tudo dentro do Manto Real. Em baixo o super - libros: E.N.S (Emília das Neves de Sousa). Estojo com falta de um dos pequenos fechos em metal, necessitando arranjo. Peça romântica, única e muito valiosa,
NOTA: Emília das Neves de Sousa, a «Linda Emília» (1820 -1883) foi uma actriz dramática portuguesa de grande relevo durante o século XIX, a primeira grande vedeta feminina a surgir em Portugal. Filha de um açoriano da freguesia de São Bartolomeu dos Regatos,em Angra do Heroismo, um dos «Bravos do Mindelo», razão pela qual a freguesia lhe dedica a toponímia de um dos seus arruamentos. Emília das Neves estreou-se no Teatro aos 18 anos, em 1838 e será aplaudida até 1883.Trazida para o teatro sob a égide de Alexandre Dumas, foi uma das maiores figuras do meio teatral português da geração romântica. Ficaram memoráveis os seus desempenhos em particular nas peças: «Judith», «Proezas de Richelieu», «Joana, a Louca», «Gladiador de Ravena» e «Maria Stuart».



312. GRAVURA: SILVA OEIRENSE, Francisco António. MANOEL FERNANDES THOMAZ. Dezembargador e Natural da Figueira.
Retrato a negro, desenhado do natural em 1820 e aberto em 1822, de uma das grandes figuras da época, tendo na mão esquerda um exemplar do livro «Direito Natural» e escrevendo: «22 de Janeiro de 1818. Memorias para a Regeneração Politica de Portugal». Com passe - partout. Bom estado de conservação. Valioso.
Dim.: 31 x 21 cm. (mancha)



354. LANDMANN, Lieutenant - Colonel George Thomas. HISTORICAL, MILITARY // AND // PICTURESQUE 0BSERVATIONS // ON // PORTUGAL, // Illustrated by seventy-five coloured plates, including // authentic plans of the sieges and battles fought in // The Peninsula during the late war. //...// In two volumes // Vol. I ( & II). // London : // Printed for T. Cadell and W. Davies...// 1818.
In-fólio 2 vols. de (12) - XVI -607 - (1) -203) - (1) e (4) – XII - (2) -293 -(1) -132 págs., + 1 vol. contendo Documents & Appendices com 203 - (1) e 132 págs. Primeira edição. Meias encadernações francesas uniformes em bonito chagrin vermelho com os cantos também em pele, e filetes a ouro nas lombadas e pastas. Exemplar limpo e muito atractivo.
O autor foi Oficial de Engenharia durante a Guerra Peninsular. No primeiro volume pretende -se dar uma panorâmica da história de Portugal enquanto que no segundo se procura descrever as belezas naturais e arquitectónicas de muitas localidades portuguesas, ilustrando -as com belas águas - tintas primorosamente coloridas à mão. O 1º volume contém dedicatória ao Principe Regente, 4 gravuras coloridas representando torturas da Inquisição, 2 gravuras numismáticas e 14 mapas e plantas de cidades e movimentos de tropas. O 2º volume apresenta 55 gravuras aguareladas, sendo algumas desdobráveis, que representam vistas de Lisboa, Palmela, Setúbal, Alcácer do Sal, Mértola, Faro, Aljustrel, Albufeira, Portimão, Silves, Monchique, Lagos, Aljezur, Arraiolos, Estremoz, Sintra, Mafra, Abrantes, Vila Velha de Rodão, Torres Vedras, Vimeiro, Leiria, Pombal, Coimbra, Porto, Penafiel, Amarante, Ponte de Lima, Valença do Minho, Tuy, Vigo, etc. Leves picos de acidez. Trata-se do mais famoso livro estrangeiro ilustrado sobre Portugal. RARO E VALIOSO.
DUARTE DE SOUSA: II, nº 398 ; BRUNET: III, 812 ; TOOLEY: nº 291, «The most beautiful illustrated English book on Portugal of that period»; ABBEY«Travel»,140.



419. MANUSCRITO: LEON, Juan Ponce de. EGEMPLOS Y LECIONES Y CONFERENCIAS INSTRUCTIVAS. Dirigidas à la Juventude Portuguesa. Obra dedicada ao Marquês de Loulé... Lisboa, 1859.
In - 4º de cerca de 300 págs., inums. Encadernação inteira de carneira com as armas reais de Portugal nas pastas, a ouro, seixas e corte dourado das folhas, lombada a abrir-se ou rasgar-se em 2 pontos. Letra muito legível, escrita por um emigrado político, com contos e alegorias curiosas, o 1º desenrolando-se no Brasil, que o autor deve ter conhecido.Obra inédita de um emigrado político espanhol em Portugal, não tendo sido possível encontrarmos qualquer referência bio - bibliográfica.



469. NEMÉSIO, Vitorino. GIL VICENTE, Floresta de Enganos. Lisboa, Editorial «Inquérito», Lda., 1941.
In - 8º de 78 págs. Brochado. Exemplar único, corrigido profusa e substancialmente pelo autor, provavelmente com vista à publicação de uma segunda edição da obra.



508. PINTO, Major Alexandre de Serpa. COMO EU ATRAVESSEI ÁFRICA. do Atlantico ao Mar Indico, determinações geographicas e estudos ethnographicos. Londres, Sampson Low, 1881.
In - 4º 2 vols.de XXIII -336 e VI -340 págs. Encadernações em tela editorial, finamente gravadas a ouro e a negro nas pastas e lombadas com imagens alusivas. Uma das lombadas a abrir-se, de resto bom exemplar. Completa, com os vários mapas e as centenas de ilustrações. Apreciada e procurada obra de grande valor heróico e etnográfico.



525. POSTAIS: LISBOA. Conjunto de sesenta e cinco (65) bilhetes - postais, dos quais 48 não circulados e 17 circulados (de 1906 a 1930), das três primeiras décadas do séc. XX, com belas e valiosas imagens de Lisboa antiga, alguns com valor etnográfico.



613. SCHWEINFURTH, Dr. Georg. THE HEART OF AFRICA. Three Years' Travels and Adventures in the unexplored regions of Central Africa. From 1868 to 1871. By... Translated by Ellen E. Frewer. With an Introduction by Winwood Reade. In two volumes. Vol. I & II. With maps and woodcut illustrations. Second Edition. London, Sampson Low, Marston, Low, and Searle, 1874.
In-8º máx. 2 vols. de XVI - 559 - (1) e X - 521 -(1) - 24 págs. Completo. O 1º tomo ilustrado com cerca de 72 xilogravuras e um mapa desdobrável dos caminhos desbravados pelo Dr. Schweinfurth na África Central. O 2º tomo contém cerca de 45 bonitas xilogravuras.Encadernações do editor, levemente cansadas, em percalina verde com gravação a ouro, reproduzindo em ambas as pastas anteriores a figura do rei Munza com os seus atributos majestáticos.Muito apreciado.



659. TWISS, Richard. VOYAGE EN PORTUGAL ET EN ESPAGNE fait en 1772 et 1773 par...., gentilhomme anglais, Membre de la Société Royale.Traduit de l' anglais. Orné d'une carte des deux royaumes. Berne, chez la Société Typographique, 1776.
In - 8º de 380 págs., incluindo ainda um Suplemento de 52 págs. O Suplemento fornece informações sobre as estradas, um resumo da História de Portugal e de Espanha, etc. O texto original foi publicado em 1775 com o titulo: «Travels through Portugal and Spain in 1772 and 1773», by Richard Twiss, esq. With copper- plates and an Appendix. London, 1776. In -8º.
O presente exemplar está ilustrado com uma gravura de Cipriani junto do frontispício e um mapa desdobrável. Picos de traça generalizados, mas que não impedem a leitura. Folha final do Index reforçada.Meia encadernação de carneira castanha mosqueada com cantos, as pastas em cartonagem marmoreada e a lombada decorada com ferros a ouro de estilização «Império».
XAVIER COUTINHO : nº 612.



692. VASCONCELOS, Francisco Botelho de Moraes i. EL ALPHONSO, // o la Fundacion del Reino // de Portugal, // assegurada, i perfecta // en la conquista de Lysboa. // Poema Epico. // Impresso em Salamanca: En La Imprenta de Antonio Villargordo, 1731.
In- XX - 284 -VIII págs. Encadernação inteira de pergaminho da época, algumas manchas leves nas folhas, de resto bom exemplar desta muito apreciada obra, na sua 2ª edição, tendo sido nesta que adquiriu a forma de 10 cantos. O autor nascera em Torre de Moncorvo, em 1670, filho de Francisco Botelho de Moraes e de D. Beatriz de Vasconcelos Saraiva, e nesta obra homenageia o fundador com um canto épico. Obra muito rara e invulgar.



702. VIEIRA, P. António. SERMONES SELECTISSIMI. Pars prima, seconda, tertia, quarta. Coloniae Agrippinae, Hermani Demen, 1692.
In - 4º 2 vols. de cerca de 1600 págs., completos, impressos a duas colunas. Marca do impressor alegórica nos quatro frontspícios. Nota de posse da biblioteca do Mosteiro do Lambert. Encadernações em pele de porco reforçadas sobre madeira, finamente gravadas a sêco com tarjas sucessivas, de elementos tipográficos quinhentistas, tendo ao centro o super-libros heráldico de Francisco, abade do Mosteiro. Com fechos de metal originais, perfeito estado, muito belo exemplar. Bastante raras entre nós estas edições ainda seiscentistas dos Sermões de Vieira (30) em latim e para o público europeu, assinalando bem a sua voga na época.



708. ZACUTO, Abraão. ZACVTI LUSITANI, Medici, Philosophi praestantissimi, OPERUM Tomus primus, in quo DE MEDICORUM Principium Historia, libri sex... Lugduni, (Lyon), Ioannis -Antonii Huguetan & Marci-Antoniii Ravaud, 1642.
In - fólio de (52)- 984-(31) págs. Encadernação inteira de carneira belamente gravada a sêco ao estilo renascentistas. Bom estado de conservação. Obra muito rara deste grande médico judeu português, com bela portada alegórica e rasura do vocábulo «praestantissimi» por possível confusão com protestantíssimo... Texto a duas colunas, sinais discretos de traça em algumas margens, corte carminado das folhas. Obra fundamental da medicina quinhentista, numa linha de filosofia perene e com muitas referências a médicos, observações e casos portugueses. Muito raro e procurado.

Aqui fica mais um convite para a leitura e consulta atenta deste catálogo, que pela variedade de temáticas, poderá interessar a qualquer bibliófilo.

Saudações bibliófilas.


Nota: © Todas as informações e fotografias apresentadas são propriedade exclusiva do Palácio do Correio Velho e não podem ser reproduzidas sem a sua autorização prévia.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Rosalia de Castro, poetisa galega – um apontamento biobibliográfico.



Rosalia de Castro

Nascida em Santiago de Compostela, em Fevereiro de 1837, Rosalía de Castro deixou uma obra ímpar. Os seus Cantares Gallegos são unanimemente considerados como a primeira grande obra da literatura galega contemporânea, vindo assim contrariar um conceito antigo de que o idioma galego não é propício à poesia.

Em qualquer idioma é difícil encontrar um autor que simbolize toda uma língua e toda uma literatura, mas Rosalia de Castro deve ser considerada como a fundadora da moderna literatura galega.

Co seu xordo e costante mormorio
atráime o oleaxen dese mar bravío,
cal atrái das serenas o cantar.
«Neste meu leito misterioso e frio
-dime-, ven brandamente a descansar».
El namorado está de min... ¡o deño!
i eu namorada del.
Pois saldremos co empeño,
que si el me chama sin parar, eu teño
unhas ansias mortáis de apousar nel.
 Fragmento de Follas Novas


 
Casa-Museu de Rosalía em Padrón

Em 21 de Fevereiro de 1837, Rosalía de Castro nasce em Camiño Novo, no cruzamento com a estrada para Conjo, na periferia de Santiago de Compostela, filha de María Teresa de la Cruz de Castro y Abadia e, segundo se julga, do padre católico José Martínez Viojo, embora não existam documentos que sustentem esta afirmação comummente aceite.

A sua mãe era uma aristocrata proveniente da linhagem dos Castro, implantada desde a Idade Média na Galiza, pertencendo os condes de Lemos a um dos seus ramos. María Teresa é a senhora da casa grande de Arretén; descende, portanto de uma das famílias mais ilustres e respeitadas da Galiza. Quando Rosalía nasce, María Teresa tinha 32 anos.

Não podendo, pela sua condição sacerdotal, legitimar ou reconhecer a filha, encarrega suas irmãs, Teresa e María Josefa, de cuidarem da recém-nascida. No assento de nascimento, figura o nome de María Rosalía Rita de Castro, filha de pais incógnitos.

Numa certidão do concelho de Padrón, datada de 17 de Setembro de 1842, regista-se que ali reside Teresa de Castro com sua filha Rosalía e com uma criada de nome María Martínez. Após ter vivido os primeiros anos com suas tias paternas, terá, portanto, ficado ao cuidado da mãe.

Em 1850, Rosalía e sua mãe residem em Santiago, onde a jovem estuda e participa em diversas actividades culturais.


Aurelio Aguirre

Em 1852 apaixona-se por Aurelio Aguirre, o poeta romântico chamado de "o Espronceda galego".
Sobre este poeta galego leia-se igualmente: ¿Quién fue en realidad Aurelio Aguirre?.  

Mas no ano seguinte – 1853 – contrai o tifo. Cura-se, mas Eduarda Pondal, a sua melhor amiga, morre, vítima da mesma doença.

Em 1856 muda-se para Madrid, onde vive em casa de uma prima. Deste ano datam as suas primeiras publicações. Em 2 de Março, realiza-se o célebre Banquete do Conjo.

Em 1857 sai a sua primeira colectânea de poemas em língua castelhana – La flor.

O ano de 1858 será marcado pela morte de Aurelio Aguirre, grande amigo de Rosalía e o seu primeiro amor. Neste mesmo ano, com Manuel Murguía, um escritor e investigador funcionário do Estado.


Manuel Murguía

O casal regressa à Galiza em 1859, onde, a 12 de Maio, em Santiago, nasce Alejandra, a sua primeira filha. Publica em castelhano La hija del mar.

No entanto em 1861 voltariam a Madrid. Neste ano começa a publicar textos em galego e em castelhano. É editado o seu «ensaio de romance», Flavio.

A sua mãe morre em 1862 e Rosalia dedica-lhe o seu livro A mi madre, publicado no ano seguinte.

Será em 1863 que Rosalia publica, em Vigo, a sua primeira grande obra em língua galega, Cantares Gallegos. A língua galega estava desde o século XV relegada para a condição de idioma rural. Neologismos castelhanos foram sendo tomados de empréstimo e integrados, a fonética castelhana invadira também a pureza do galego genuíno – o vernáculo foi-se perdendo.

“E cando a gaita gallega
aló nas Castillas oias,
ó teu corazón pregunta,
verás que che di en resposta
que a gaita gallega:
Non canta, que chora”


Cantares Gallegos

Em Portugal, Antero de Quental e Teófilo Braga não deixam de saudar com entusiasmo a publicação desta obra.

Neste mesmo ano sai também a público Flavio e publicará em castelhano A mi madre.

Devido à publicação de Cantares Gallegos (a primeira obra editada em língua galega), o dia 17 de Maio, passou a ser Dia das Letras Galegas, é feriado nacional na Galiza. 

Em 1864 deu-se um artigo de Rosalía cujo original se perdeu, enfurece um grupo de seminaristas de Lugo, que invadem as instalações do El Almanaque de Galicia, destruindo a composição., pelo que este nunca seria publicado.
Em 1866 edita em Madrid a narrativa Ruinas  e, em Lugo, El Cadicee no ano seguinte, ainda em castelhano, , sai o romance El caballero de las botas azules.
Em Setembro de 1868, eclode em Cádis uma revolta liberal, liderada pelo almirante Topete ao qual se junta depois o marechal Prim. A rebelião dirige-se contra a rainha Isabel II e contra o presidente do seu governo, González Bravo.


Isabel II, em 1852. Próximo a sua filha Isabel.
(Quadro de Francisco Xavier Winterhalter)

A rainha refugia-se em França e é deposta. Devido à liberalização do governo, Murguía é nomeado Chefe do Arquivo de Simancas. O casal passa a viver entre Madrid e Simancas. Depois de terem residido em Lugo, Rosalía e Manuel voltam a Madrid onde, em Dezembro, nasce uma segunda filha, Aura.

Em Julho de 1871, nascem os gémeos Gala e Ovídio; em Julho 1873 nasce, na Corunha, Amara; em Março de 1875 nasce Adriano Honorato Alejandro (que viria a morrer em Novembro do ano seguinte, vítima de uma queda); finalmente em Fevereiro 1877 Rosalía dá à luz Valentina (que nasce morta).

Entretanto, em Madrid, Murguía dirige La Ilustración Gallega y Asturiana.

Em 1880 publica, em galego, a colectânea Follas novas.

Publica em 1881 El primer loco; cuento estraño. E em  La Ilustración Gallega y Asturiana, publica um texto sobre «Padrón y las inundaciones».

Em castelhano, é editada a colectânea En las orillas del Sar, em 1884.

Em Padrón, a 15 de Julho de 1885, com 48 anos, morre Rosalía de Castro, vitimada por um cancro no útero. É enterrada no cemitério de Adina, junto à campa de sua mãe.

Os restos de Rosalía mortais serão trasladados para o Panteão dos Galegos Ilustres, no convento de São Domingos de Bonaval, em Santiago de Compostela em 1891.

Homenagens que culminariam em 1917, com a inauguração de um monumento a Rosalia de Castro no Passeio de Ferradura, no centro de Santiago de Compostela.

Estátua de Rosalía na Praça da Galiza, no Porto

Em Portugal, a Setembro de 1954, na cidade do Porto, na Praça da Galiza, é inaugurado um monumento a Rosalía, da autoria do escultor Salvador Barata Feyo (1902-1990).

Vem este apontamento a propósito de um belíssimo exemplar da 1ª edição de Follas Novas inserido na Montra de 19 de Maio  da in-libris.



8345. CASTRO (Rosalía de). — FOLLAS NOVAS // VERSOS EN GALLEGO // DE // ROSALÍA DE CASTRO DE MURGUÍA // PRECEDIDOS DE UN PRÓLOGO // POR // EMILIO CASTELAR // MADRID // La Illustracion Gallega y Asturiana // ... // 1880 (Aurelio J. Alaria, impresor, Estrella, 15, Madrid. 14,5x20 cm. 271-I págs. E.



“Guardados estaban, ben podo decir que para sempre, estes versos, e xutamente condenados po-la sua propia índole á eterna olvidanza, cando, non sin verdadeira pena, vellos compromissos obrigáronme á xubtalos de presa e correndo, ordenalos e dalos á estampa. N’era esto, en verdade, o qu’eu queria, mais n’houbo outro remedio; tuben que conformarme c’o duro d’as circunstancias que asi o fixeram (...) Despois d’o xa dito, tendrey que añadire qu’este meu libro n’é en certa maneira, fillo d’a mesma inspiracion que dou de si os Cantares gallegos? Paréce-me que non. Cousa este ultimo d’os meis dias d’esperanza e xuventude, ben se ve que ten algo d’a frescura propia d’a vida que comenza. Mias o meu libro d’hoxe, escrito como quen dí, en medio de todo-l-os desterros, non pode ter anque quixera o encanto que soye emprestarlles á inocencia d’as primeiras impressiós: que ô sol d’a vida, ó mesmo que o que alima ó mundo que habitamos, non loce n’os seus albores d’a mesma sorte que cando vay poñerse tristemente, envolto antr’as nubes d’o postreiro outono. Por outra parte, Galicia era n’os Cantares ó obxeto, á alma enteira, mentras que n’este meu libro d’hoxe, âs veces, tan soyo á ocasion, anque sempre ó fondo d’o cuadro (...)

Primeira edição do segundo livro da autora, inequivocamente a figura mais representativa da literatura galega de todos os tempos.

Espero ter despertado a vossa atenção para esta poetisa e para um melhor conhecimento da cultura galega.

Saudações bibliófilas.