"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Livraria Luis Burnay – Leilão de Livros, Manuscritos, Autógrafos, Fotografias e Efémera


A Livraria Luís Burnay vai realizar mais um dos seus, sempre bons, leilões de livros e manuscritos.

Desta vez elaborou um Catálogo de Livros, Manuscritos, Autógrafos, Fotografias e Efémera do Paço de Pombeiro e de outras proveniências para o leilão que decorrerá no próximo dia 15 de Maio pelas 18 horas, na sala de pregão da livraria.


Livraria Luís Burnay – sala de pregão

Os livros encontram-se em exposição na livraria nos dias 12, 13 e 14 de Maio no horário normal de funcionamento (10h- 13h / 15h – 19h) e na manhã do próprio dia de leilão.
Mas leia-se a nota de divulgação deste leilão da autoria da Livraria sobre o mesmo e que me parece bastante esclarecedora sobre a sua importância:

Estimados clientes /amigos

Realizaremos no próximo dia 15 de Maio pelas 18 horas um leilão de livros, manuscritos, autógrafos, fotografias e efémera.

Entre os mais de 400 lotes que vão ser postos em praça, merecem natural destaque pela raridade, valor e significado histórico, a arca com o arquivo das famílias Freire de Andrade (Porto e Braga) e Pereira de Lago Portocarreiro que inclui o espólio de António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira (figura importante da história portuense), duas notáveis pastas barrocas com as armas de D. Gaspar de Bragança Arcebispo de Braga (o segundo dos famosos “Meninos da Palhavã”) e o espólio literario do escritor Ruy Chianca.

Nos livros merecem particular atenção as primeiras edições da  “Luz da Liberal e Nobre Arte de Cavalaria” de Manuel Carlos de Andrade, da “História Genealógica da Casa Real Portuguesa” de D. António Caetano de Sousa e um conjunto completo do “ Diario Historico, Politico-Canonico y Moral” de Fr. José Alvarez de La Fuente importante marco no jornalismo espanhol de setecentos.

Nos manuscritos e autógrafos bem representados com espécimes desde o século XV, sobressai uma bonita “Carta de Brasão” joanina de 1723, vários “pergaminhos” régios (alguns raros de D. Miguel I, da Rainha D. Luísa de Gusmão e de D. Fernando Rei) e cartas autógrafas do Rei Henrique IV de França, da Infanta D. Maria Teresa (filha de D. João VI e Irmã de D. Miguel), de Alexandre Herculano, de António Sérgio, do Almirante Napier e um bilhete postal  com retrato de Adolfo Hitler e assinatura autógrafa. Merecem ainda particular atenção dos camilianistas três muito interessantes cartas autógrafas de Camilo, uma das raríssimas impressões em cetim de uma poesia dedicada a Laura Geordano, um exemplar do “Nacional” de 1850 e ainda uma fotografia do famoso descarrilamento do comboio no caminho de ferro do Minho onde Camilo viajava.

No importante e significativo conjunto de fotografias antigas de colecção, com interessantes exemplares de Rocchini, Relvas, Biel, Camacho, Alvão, Lima, Brazão, Fenton e outros, destacamos as reportagens fotográficas da viagem de D. Carlos e D. Amélia aos Açores e á Madeira em 1901 e das inesquecíveis cheias do Douro em 1909 e uma fotografia do “Yacht Amélia I” em frente ao Terreiro do Paço.

Acresce ainda a presença de varias “curiosidades” de raridade, como duas caixas de charutos da Fabrica de Xabregas, dois jogos antigos para crianças, um manifesto antigo de carga marítima para o Rio de Janeiro, uma apólice antiga da Companhia de Seguros Bonança e um exemplar do notável cartaz desenhado por Roque Gameiro para o “Centenario” da descoberta do caminho marítimo da Índia em 1898.



Vejamos então agora alguns dos lotes em praça, mais uma vez sem um critério predefinido de escolha, apenas pelo seu interesse histórico-cultural, algumas curiosidades – jogos e publicidade – e, como sempre, alguns espécimenes bibliófilos.



21. ANDRADE, Manuel Carlos de.- Luz da liberal e nobre Arte de Cavallaria offerecida ao Senhor D. João Principe do Brazil.- Lisboa: Na Regia Officina Typografica, 1790.- XXVI, 454, (2)p.: 1 retr., 93 grav.; 33cm.-E.

Trata-se de uma das mais espectaculares obras impressas em Portugal, que no dominio da equitação e hipologia nos colocou lado a lado com as mais celebradas obras desta especialidade publicadas na Europa de então. Segundo Inocêncio (V, 386), alguns pretenderam atribuir esta obra ao Marquês de Marialva. Sob o ponto de vista grafico e artístico esta obra rivaliza com as estrangeiras apresentado 93 excelentes gravuras finamente abertas por buril em chapa de cobre por Joaquim Carneiro da Silva, sempre de pagina inteira e várias desdobráveis de maiores dimensões e de bonito efeito estético. No inicio apresenta ainda um retrato do Príncipe D. João a quem a obra é dedicada. O texto de grande interesse técnico vem adornado com duas vinhetas decorativas abertas em chapa, cabeções de enfeite e algumas letras capitulares ilustradas. Meia-encadernação de pele de finais do seculo XIX com o corte das folhas carminado ao gosto da época. Restauro marginal antigo na margem de uma folha (231) e dobra parcialmente aberta de uma estampa (nº 64). Exemplar completo e muito limpo e estimado desta obra notável hoje rara e valiosa."



43. BRAGANÇA, Gaspar de (Dom) (Infante de Portugal, Arcebispo de Braga).- (ENCADERNAÇÃO).- Sec. XVIII.- (36x25cm.)

Excepcional pasta para documentos em chagrin vermelho, com os planos adornados com o brasão do Arcebispo de Braga, D. Gaspar de Bragança filho ilegítimo de D. João V, o segundo dos famosos " meninos da Palhavã". Esta notável peça de encadernação barroca portuguesa, apresenta ao centro de cada pasta o brasão da Casa de Bragança encimado pela dupla cruz arquiepiscopal que trespassa uma coroa ducal, tendo por cima um galero de 20 borlas, enquadrado por uma artística composição ao gosto da época com quatro grandes volutas unidas por arabescos, tudo em ferros simples, rodas e viradores decorativos a ouro com o fundo por vezes pintado de negro para fazer contraste. As margens apresentam ainda uma elaboradíssima decoração constituída pelos cantos em forma de "leque" decorados no interior com ferros simples e uma cercadura de roda enriquecida com ferros simples a rematar. Guardas em seda.



81. (CASTELO BRANCO, Camilo) - NOVAES, Faustino Xavier de.- 1 Documento autógrafo.- Sec. XIX.- 35f.; 37cm.

Trata-se de um significativo fragmento do original autógrafo das Novas Poesias de Faustino Xavier de Moraes, com algumas anotações autógrafas por Camilo Castelo Branco, a quem se deveu a organização da edição. Em " linguados " de papel azul pautado numerados a lápis no canto superior direito este conjunto compõe-se da seguinte forma: [indicamos entre parêntesis a numeração correspondente na edição original em livro] 65 (118) - 74 (135) ; 79 (141) - 92 (162) ; 95 (165) - 108 (187); 139 (235) - 170 (283).
De particular interesse verificar-se que se devem a Camilo todas as citações de clássicos portugueses antes de algumas poesias e a nota que informa ser um autógrafo.



82. CASTELO BRANCO, Camilo.- 1 Carta autógrafa.- (1p.; 21cm.)

Carta seguramente dirigida ao seu amigo Duarte Gustavo Nogueira Soares. Em tom confessional e até premonitório do seu suicídio que viria a concretizar cinco anos depois, muito desalentado com a morte da nora e da neta Maria Camila ocorrida pouco tempo antes, diz: " Se, menosprezando a higiene, voçê lêsse folhas, veria que depois de mª nora, morreu minha neta, uma criancinha de 18 meses que me deixou inconsolável para o resto da vida. O que vale é que isto está a acabar. O esposo e pai d'aquellas mortas tem 21 annos, e promette pouquissima vida. A riqueza abriu-lhe as portas á extravagancia; e quando a doença o prostrou, veio para a minha companhia; mas tarde. Tenho outro filho mentecapto. E aqui tem as minhas delicias na velhice:- são como as das mocidades…"
Assinada e datada de 18 de Dezembro de 1884. Esta carta ajuda a compreender o drama de Camilo.



85. CASTELO BRANCO, Camilo.- 1 Impressão em setim
Impressão em setim de uma poesia do insigne escritor dedicada á cantora lírica Laura Geordano aquando da festa de despedida em seu benefício realizada no Real Teatro de São João no Porto, no dia 31 de Maio de 1854. Começa:" À Senhora Laura Geordano na noite do seu benefício, no Real Theatro de S. João, no Porto, em 31 de Maio de 1834 " .- (Porto): typ. de S.J. Pereira, s.d. (1834).- Impressa em setim verde. O soneto vem adornado com uma bonita cercadura.

Estão referenciadas mais três poesias de Camilo impressas em tecido, e qualquer uma delas é hoje considerada como uma das mais raras e apetecíveis peças de uma colecção camiliana. Muito estimada.



101. CHIANCA, Ruy (Rui Pedro de Carvalho Oliveira Chianca 1891-1931)- Arquivo pessoal de

Espólio literário deste notável escritor – dramaturgo, poeta e jornalista. Rui Chianca, deixou o seu nome ligado a uma efémera tentativa de revivescência do teatro histórico em verso, levada a cabo nos primeiros anos do regime republicano.Sendo militar de carreira, a sua participação na abortada insurreição monárquica de 1918 forçou-o a emigrar clandestinamente para o Brasil, onde escreveu varias peças de idêntica inspiração, tendo sido director literário da revista ilustrada - Portugal. Este acervo documental é constituído por centenas de documentos e milhares de páginas, grande parte autógrafos ou documentos dactilografados com emendas autógrafas alguns provavelmente inéditos, bem como cartas de amigos quase sempre figuras conhecidas da época. Incluem-se ainda grande numero de efémera relacionados com o escritor ou as suas obras.



Obras do Autor – Originais Manuscritos e Datilografados:
1. S. Frey – 24.4.1906, (com 15 anos). Manuscrito.
2. A Vingança. Entracto em verso por Ruy Pedro d'Oliveira Chianca
3. Manon – 1º acto. Manuscrito.
4. Nun'Alvares – Peça histórica em 3 actos e 8 quadros, manuscrito em vários tipos de papel.
5. Por um Beijo – Um acto em verso – Escrito em Fevereiro de 1912 para ser representado por estudantes da Escola Politécnica – Editado em Junho de 1913, 2 manuscritos da mesma peça.
6. Aljubarrota – escrito em 1911 e editado em 1913, manuscrito em vários tipos de papel com a inscrição: “visto para editação”, com uma dedicatória à sua mulher.
7. A Freira de Beja – (Soror Mariana) – Novembro de 1915, 2 manuscritos. 1 Com inscrição manuscrita do editor: “o frontispício será a duas cores e para ele e capa mandarei cliché.”
8. Portugal Restaurado, peça histórica em prosa e 3 actos – 2 manuscritos (feita e acabada em Badajoz – outubro de 1919)
9. Portugal – A Historia de um povo – reconstrução histórica de Ruy Chianca, Invicta – Film. Datilografado.
10. Portugal heroico, lendário e boémio (contos e cronicas) – Rio, Dezembro de 1925. (Datilografado).
11. Leonor Teles – Quadro em verso – 12 de Outubro de 1928, datilografado com uma               dedicatória manuscrita a Lucília Simões.
12. O Heredo – Morbo de Camilo. Datilografado.
13. A Alma de D. João – Fantasia lírica n'um acto. Manuscrito.
14. D. Francisco Manuel – Drama histórico em 4 actos, em verso. Manuscrito em vários tipos de papel.
15. O Santo Condestabre – Resposta ao libelo do cardeal diabo, Dr. Julio Dantas, outros tempos, manuscrito em vários tipos de papel.
16. A Triste feia – 1º acto (manuscrito)
17. Margarida – Opereta em 3 actos, manuscrito com a seguinte inscrição: “não está    acabada”.
18. Era uma vez um ladrão… / Peça em 1 acto em prosa, inspirada num conto de Maurice de Marsan, datilografado.
19. O Estábulo (manuscrito)
20. A Tia de Carlos – comedia em 3 actos de Pedro Gil – traduzido do espanhol. (manuscrito)

Poesia. “Ruy Chianca – Farrapos”. 90 Páginas datilografadas e encadernadas. Autógrafo. Poesias datadas (1909/1922), algumas com notas sobre a sua récita por actores bem conhecidos como Maria Mattos e Carlos Santos.

Pasta (1): Intitulada – Teatro Inedito – Prosa: Carta de Chaby Pinheiro a Maria do Carmo de Pina Manique (com data de 1.8.1931 em Paris) pela “… triste notícia da morte do seu marido e nosso amigo Ruy Chianca…”, Recortes de jornais – sobre Ruy Chianca; Revista – Ecco Artistico, ano II, nº43, 1912, com Chianca na capa; Carta da Associação de Classe dos livreiros de Portugal com data de 23.07.1931, dando os pêsames a sua mulher; Separata da revista "De Teatro", 1924 c/ dedicatória; vários papéis e artigos de jornais sobre o "caso Marcos Portugal" com assinaturas de ilustres ligados à música e não só, na cerimónia do centenário da sua morte a que esteve ligado; Liga Monárquica D. Manuel II do Rio de Janeiro; Carta de António Maria Teixeira, de 1925, sobre a publicação dos seus livros; Cartas da Sociedade de Geografia (4); Cartão de identificação de diretor literário da revista ilustrada – Portugal, Rio de janeiro de 1926; Passaporte de Ruy Chianca e sua mulher do Consulado Geral de Portugal no Rio de Janeiro em 1929, entre outros.

Pasta (2): Intitulada – Outubro de 1902: Vários papéis com estudos e árvores genealógicas dos seus ascendentes e da sua mulher Maria do Carmo de Pina Manique. Apontamentos para a minha autobiografia literária - 1919; Apontamentos para a minha autobiografia – Abril de 1919. [Nestes apontamentos biográficos, conta como tomou parte no golpe de Estado de 5 de Dezembro de 1917, insurreição protagonizada por uma Junta Militar Revolucionária à qual pertencia e da qual era Presidente Sidónio Pais. Após o assassinato deste em 1918, tomou parte activa no movimento monárquico o que levou à sua fuga para o Brasil, escondido num navio da mala real inglesa. Chegado ao Brasil foi acolhido pelos intelectuais e público brasileiro e a sua primeira conferência literária, realizada no teatro lírico do Rio de Janeiro, provocou um enorme escândalo por estar entre o público o encarregado de negócios de Portugal, este em consequência foi castigado e transferido daquele posto.]

Pasta (3): Intitulada – Apontamentos para a genealogia de José de Pina Manique Chianca: 8 desenhos (alguns relativos às suas peças) a tinta-da-china e carvão, um dos quais do artista Tagarro, cadernos e várias paginas manuscritas e datilografadas de estudos da história de Portugal e outros. Historietas datilografadas: O renegado; Escorropicha; S. Gonçalo de Amarante e o Duque de Loulé e a casa de Bragança. Maço de 68 (págs.) manuscritas intituladas: 4º volume – As origens da raça.

3 Álbuns: Intitulados – Ruy Chianca: Recortes de jornais de Portugal e Brasil colados, com notícias sobre as suas peças de teatro e actividade literária; clichês de actrizes e actores que representaram as suas peças e programas de teatros. Também algumas cartas coladas que abordam temas como crítica literária às suas peças e em relação à sua situação política.



165. FIGURAS para recortar (figures à découper).- Sec. XX

Curioso conjunto de 11 séries ainda não recortadas de figuras decorativas e recreativas para crianças, finamente impressas a cores esmaltadas, de fabrico suiço que representam, cabeças de gatos e de cães, palhaços e trajes civis e militares. Muito invulgares.



194. HERCULANO, Alexandre.- 1 Carta autógrafa (4p.;20cm.)

Nesta curiosa e muito interessante carta dirigida provavelmente a um " irmão " maçon na Secretaria da Justiça que não conseguimos identificar, o grande historiador vem solicitar ajuda : " Vou obrigá-lo a escrever uma carta em que me informe sobre os tramites a seguir n'um negocio; negocio em que nada interessa o meu profundo egoismo de velho; mas em que se me entolha a consciência e o coração, que com grande vergonha minha, descubro agora que não está investido de todo de musculo em cartilagem. É o caso. Appareceram-me aqui dous velhos com cara de boa gente , que se agarraram a mim a chorar, sem poderem proferir palavra. Procurei socegá-los e saber o que queriam de mim. Era uma historia tão simples como horrivel, a ser como hoje estou inclinadissimo a crer, verdadeira. " de seguida Herculano resume os acontecimentos, dignos de uma ficção, e desabafa: " Quanto, meu bom amigo, estamos ainda longe da verdadeira justiça e da verdadeira liberdade! Podia tudo isto ser comedia e mentira; pode sê-lo. Mas tenho perguntado à gente d'aquida gente de Santarem a quantos tenho podido, e todos uniformemente defendem como verdadeira a mesma historia. " e termina: “ Na Secretaria das Justiças devem saber-se os tais tramites. Tenha paciência de m'os indicar. Se contribuir-mos para salvar um innocente, sempre Deus nos tomaria isso em desconto de sermos refinados liberdadeiros e pedreiros-livres. "
Assinada e datada de 15 de Novembro de 1873. Para além da história que tocou no coração de Herculano é de particular interesse assumir a sua qualidade de " Pedreiro-Livre ".



195. HISTOIRE / NATURELLE ET MORALE / DES / ILES ANTILLES / DE L'AMERIQUE / Enrichie de plusieurs belles figures des Raretez les plus / considerables qui y sont d'écrites / avec un Vocabulaire Caraibe.- A Rotterdam: Chez Arnould Leers, 1658.- (16), 527, (12)p.: il.; 24cm.-E

Raríssima primeira edição desta notável obra seiscentista sobre a história Natural e os costumes das Antilhas. Foi publicada anónima e durante muitos anos atribuída a vários autores como Louis de Poincy, Cesar de Rochefort, Raynald Breton, Jean Baptiste du Tertre e mesmo ao próprio editor Arnout Leers. Estudos recentes atribuem a maior parte do trabalho ao Pe. Rochefort, a partir de informações de Poincy que foi governador da Ilha de São Cristóvão. Trata-se de uma obra dedicada a viajantes ou mesmo um guia para emigrantes, com uma primeira parte que oferece uma descrição muito pormenorizada das pequenas antilhas e da respectiva história natural seguindo-se uma segunda parte onde se descrevem os costumes e a organização social dos seus habitantes, terminando num vocabulario caribenho atribuído ao Padre Raymond Breton. Vem ilustrada com uma bonita gravura alegórica inicial, um retrato de Jacques Amproux a quem o livro é dedicado e varias gravuras intercaladas no texto (algumas de pagina inteira), que representam diversas espécies de animais e plantas, tudo finamente aberto em chapa de cobre. Encadernação da época, inteira de pele, com pequenos defeitos. Com falta das folhas 97/98 e 111/112. Para além de um insignificante restauro antigo numa folha e pequeno defeito junto ao festo noutra, exemplar limpo e estimado desta obra valiosa e muito apreciada.



214. JAMAIN, H.; FORNEY, E.-Les Roses: Histoire - Culture - Description / préface par Ch. Naudin; 60 Chromolithographies d'aprés nature par Grobon; ouvrage publié sous la Direction de J. Rothschild.-Paris: J. Rothschild, 1873.- IV, 136p.: 59 (de 60) est.; 26cm.-E.

Esta magnifica monografia sobre as Rosas e sua cultura está ilustrada com 59 (de 60) excelentes cromolitografias que representam outras tantas variedades, cada uma com a respectiva descrição e métodos de cultura. Para além do interesse científico há que realçar o interesse estético das estampas, algumas retocadas á mão como aguarelas. Como habitualmente com as edições de J. Rotschild o papel apresenta-se com mais ou menos picos de acidez. Muito raro e valioso. Meia-encadernação de chagrin, levemente cansada nas charneiras. Corte das folhas dourados.



217. JOGO ANTIGO - (Sec. XIX).- SENTENCES & Citations ou Jeu des Fleurs Historiques & Littéraires.- Paris, Breveté- S.G.D.G.- 1 Caixa.

Trata-se de um curioso jogo de sociedade (didático e para crianças) de finais do seculo XIX, constituído por 16 cartões ilustrados com cenas históricas impressas em vistosas cromolitografias esmaltadas. Cada um tem oito entalhes redondos cuja parte superior se pode levantar e que têm no verso um nome de um autor famoso com uma citação histórica, e no local que lhe compete para compor o desenho, encontra-se escrito o nome do autor com a explicação da citação. Faltam 16 das peças redondas que se levantam, mas curiosamente apresenta 4 improvisadas na época para substituir as que já faltavam uma ou outra imperfeição no esmalte dos cartões. Caixas com pequenos defeitos Mesmo com imperfeições peça rara de colecção."



256. MANIFESTO DE CARGA DO PORTO PARA O RIO DE JANEIRO.- 1 Documento manuscrito e parcialmente impresso ( 14x26cm.)

Manifesto de carga passado por: " …Eu Manuel da Silva Monteiro, capitão da Galera Flor do Porto que ao presente está ancorado no porto desta Cidade, para seguir viagem ao Porto do Rio de Janeiro… tenho carregado dentro na dita galera debaixo de coberta enxuta, e bem acondicionado do Illmº Snr Henrique Carlos Freire de Andrade, meia pipa de vinho de embarque encapada, que faz por conta e risco de quem pertencer… o qual me obrigo, e prometo, levando-me Deos a bom salvamento, e dita Galera de entregar em nome do sobredito a Exmª Snrª D. Maria Joze de Mendonça Cardozo Figueira e Azevedo."
Assinatura autógrafa. Datado do Porto 27 de Junho de 1820.



262. MANUSCRITOS - ARCA COM O ARQUIVO DAS FAMILIAS FREIRE DE ANDRADE (Porto e Braga) e PEREIRA DO LAGO PORTOCARREIRO.

Notável arquivo familiar guardado durante mais de 150 anos numa arca encoirada e pregueada do Sec. XIX, forrada no interior a chita estampada.
Trata-se do espólio de António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira, fidalgo da Casa Real, proprietário do Palácio Freire de Andrade no Porto [hoje sede da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e Luis Mesquita Carvalho], membro da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino que enfrentou os franceses durante a Primeira Invasão, e vereador da Câmara do Porto aquando da segunda Invasão. Passou depois para seu filho Henrique Carlos Freire de Andrade Coutinho Bandeira, também fidalgo da Casa Real. Por sua morte passou para o filho Henrique Freire de Andrade Coutinho Bandeira Figueira de Azevedo, Fidalgo da Casa Real, Tenente Coronel de Milicias e Tenente dos Voluntarios realistas do Porto, que ao casar com D. Maria Felizarda Pereira do Lago Porto Carreiro, a ele juntou um substancial acervo de manuscritos da família Pereira do Lago Portocarreiro. Reunidos assim, os dois espólios, passaram depois para Henrique Freire de Andrade Coutinho Bandeira Figueira de Azevedo e sua filha D. Henriqueta Freire de Andrade Coutinho Bandeira, que ao casar com D. Paulo de Melo Sampaio de Sampaio Freitas do Amaral, 1º Barão de Pombeiro de Riba Vizela o transmitiu a D. João de Melo Pereira de Sampaio, Senhor do Paço de Pombeiro de Riba Vizela, da Casa de Sezim em Nespereira, Guimarães e da Casa de Vila Pouca em Joana, Famalicão.
É importante referir que ao longo deste percurso temporal o arquivo foi sempre sendo enriquecido e acrescentado com documentos relativos á vida pessoal e familiar de cada um dos seus possuidores, adquirindo por isso agora grande significado histórico não só pelo quantitativo com mais de 1.000 documentos e 34 livros encadernados, mas sobretudo pela invulgar abrangência temporal que evidenciou (no nosso inventario preliminar) com 1 documento do Sec.XIII, outro do Sec.XV, 30 do Sec.XVI, e mais de 160 do Sec. XVII. Naturalmente os séculos XVIII e XIX estão amplamente representados (centenas). Outra característica interessante é a variedade de documentos com particular destaque para varios documentos régios e abundante correspondência particular e oficial,muitos apontamentos genealógicos com árvores de costados, testamentos, doações, partilhas de bens, inventarios, certidões, escrituras, prazos e aforamentos, vínculos, e um pouco de quase todosos documentos curiosos e invulgares que se guardam ao longo de tanto tempo num arquivo desta dimensão.Tratando-se de um Arquivo intocado há tanto tempo, consideramos a sua ocorrência no mercado um acontecimento da maior raridade tanto mais que em geral os documentos se apresentam bem conservados, até os mais antigos.

No final do catálogo apresentamos uma listagem muito sumária de alguns documentos mais relevantes, apenas para dar uma ideia do seu conteúdo.



268. MARIA PIA, Dona (Rainha de Portugal).- 1 Fotografia.- Sec. XIX.- (38x17cm.)

Fotografia sobre papel com suporte em cartão. Retrato de meio-corpo de D. Maria Pia. Trabalho do atelier " Fratelli d'Alessandri-Roma " impresso na margem inferior do cartão. No verso ostenta o carimbo da biblioteca " Campos e Sousa ".



347. PUBLICIDADE Antiga.- 29 Documentos

Curioso e invulgar conjunto de publicidade antiga, quase toda francesa de inicios do século XX. Particular destaque para o " Paticycle " de Fernand Leblanc, para os carros " Mathis " e para o farolins " Lucifer ".



374. SARAMAGO, José.- Terra do Pecado: Romance.- Lisboa: Editorial Minerva, 1947.- (4), 331p.; 20cm.-B.

1ª edição do primeiro e mais raro livro deste autor galardoado com o prémio Nobel. Como o próprio escritor referiu, este romance a que chamou "A Viúva" saíu com o título actual por exigência do editor, e por isso foi retirado durante algum tempo da bibliografia oficial de Saramago. Exemplar com curiosa inscrição no anterrosto “ oferecido pelo meu editor” acompanhada por um recorte de revista com excerpto de uma entrevista a Saramago que refere precisamente que só teve um exemplar oferecido pelo editor e que o perdeu! Rubrica no rosto da tradutora "Mariac Dimbla" (pseudónimo de Maria do Carmo Dias Monteiro de Barros). Estimado. Procuradíssimo."



376. SENTENÇA "DE GENERE".- 1 Documento.- Sec. XVII.- (2p.;31cm.)

A favor de Francisco Alves Tinoco " justificante por Christam velho inteyro, & limpo de toda a raça de nação infecta por seus pays, e avós paternos & maternos…" passada em Braga a 1 de Janeiro de 1681 por António de Figueira Pinto.Parcialmente impressa."



381. SHAKESPEARE, William - [trad. D. LUIS I].- Hamlet: drama em cinco actos / traducção portugueza.- Lisboa; Imprensa Nacional, 1877.- 149p.; 23cm.-E

Trata-se da rara 1ª edição da tradução para português desta famosa obra de W. Shakespeare, feita pelo Rei D. Luis I, que segundo Inocêncio, parece ter tido uma edição de tiragem muito pequena destinada apenas a ofertas pessoais do monarca. Pensamos que este exemplar deve ter pertencido ao próprio Rei não só porque está revestido por uma bonita meia encadernação de chagrin com o título encimado por uma coroa real, tudo a ouro na pasta superior, mas sobretudo porque no anterrosto ostenta a assinatura autógrafa do monarca, e na lombada na casa do autor tem gravado a ouro "D. Luis I". A encadernação vem assinada "Lisboa & Companhia".



393. SOUSA, D. Antonio Caetano de.- História genealógica da Casa Real Portugueza, desde a sua origem até ao presente ….-Lisboa Occidental: Na Officina de Joseph Antonio da Sylva, 1735-1768.- 15 vols.: il.; 29cm.-E + SOUSA, D. Antonio Caetano de.- Provas da História genealógica da Casa Real Portugueza…-Lisboa Occidental: Na Officina Sylviana, 1739-1748.- 6 vols.; 29cm.-E + INDICE geral dos appelidos, nomes próprios e cousas notáveis que se comprehendem nos treze tomos da História genealógica da Casa Real Portugueza e dos documentos comprehendidos nos seis volumes de Provas…-Lisboa: Na Regia Officina Sylviana, 1749.- 435p.; 29cm.-E

Colecção completa da primeira edição desta obra notável de incontestável valor histórico e genealógico. Segundo Inocêncio (I, 101) pode ser considerada uma história geral do reino, pois que nas suas vastas dimensões abrange variadíssimos assuntos, mais ou menos enlaçados com a genealogia e acções da família real portuguesa desde o principio da monarquia. Também sob o ponto de vista gráfico, a edição é monumental e muito cuidada, vem impressa em papel encorpado e adornada com muitas vinhetas e brasões decorativos tudo finamente gravado por Debrie. O quarto volume apresenta como lhe compete 49 gravuras que representam medalhas, moedas, e selos pendentes. O primeiro volume não apresenta o frontispicio comum nas edições da Academia mas conserva o retrato do autor finamente aberto em chapa. Conjunto estimado limpo e com boas margens, revestido por encadernações da época, inteiras de pele, com bonitos ferros a ouro e rótulos nas lombadas. Alguns volumes apresentam defeitos nas lombadas e coifas. Colecção atraente.

Aqui deixo a minha leitura deste precioso catálogo, convidando-vos a folheraem atentamente o mesmo, pois que tem “um pouco de tudo para todos os gostos” e está sobretudo muito bem elaborado.


Saudações bibliófilas.

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