O Miguel de Carvalho apresentou recentemente as últimas novidades
bibliográficas da sua Livraria Alfarrabista
adquiridas durante o mês de Abril para o que criou um linkespecial.
Desta vez vou começar com duas obras na temática do livro antigo de que esta Livraria também possui um bem seleccionado
acervo.
10361. PITISCUS, Samuel – LEXICOO ANTIQUITATUM ROMANARUM in quo
Ritus et Antiquitates cum Graecis ac Romanis communes, tum Romanis peculiares,
Sacrae et Profanae, Publicae et Privatae, Civiles ac Militares exponuntur.
Accedit his Auctorum notatorum, emendatorum , & explicatorum Index
copiosissimus. Ex Typographia Balleoniana, Venetiis, 1719. 3 vols de in-folio.
Encadernações da época, inteiras de pele com ferros a ouro nas lombadas, com
defeitos nas coifas e charneiras e sem guardas. Leve humidade marginal nas
primeiras e ultimas folhas. Esta edição é rara e de esmerado apuro gráfico,
composta a duas colunas em caracteres redondos e italicos. As páginas de rosto
vêm impressas a negro e vermelho e adornadas com uma bonita vinheta alegórica,
finamente aberta por buril em chapa de cobre. O primeiro volume apresenta ainda
uma gravura de página inteira, e uma grande vinheta decorativa como titulo.
Pensamos tratar-se da primeira
edição italiana deste dicionário dos costumes e antiguidades dos romanos baseados
na famosa obra de Johanes Rosinus. [200 €]
10359. BOEHMER, Justus Henning – CORPUS JURIS CANONICI GREGORI XIII...
post emendationem absolutam in duos tomos diovisum et appendice nova avctum
...recensuit cum codicibus veteribus manuscriptis... Halae Magdeburgicae,
Impensis Orphanotrophei, 1747. 2 vols de in-folio. Encadernações da época,
inteiras de pele um pouco cansadas. O texto vem composto a duas colunas e a
página de rosto do primeiro volume vem impressa a negro e vermelho, e adornada
com uma bonita vinheta decorativa, finamente aberta em chapa. O mesmo volume
tem ainda uma bonita gravura de página inteira que figura o Consistório
Cardinalício que elegeu o Papa Benedito XIV, com a efígi e deste Santo Padre
também finamente aberta em chapa e que serve de frontispício alegórico.
Trata-se da rara 1ª edição desta
obra de Direito Canónico, publicada por este famoso professor da Universidade
de Halle, importante jurista eclesiástico. [180 €]
Como sempre a literatura (e em especial a poesia…)
ocupa um espaço relevante nestas Novidades.
Começo com NatáliaCorreia,
já diversas vezes aqui referida.
10315. CORREIA, Natália – O HOMÚNCULO tragédia jocosa com quatro
ilustrações da autora. Contraponto, Lisboa, 1964. In- 4º de 38-(2)págs.
Encadernação meia francesa em pele azul com florões dourados em casas abertas
na lombada. Conserva capa de brochura. Ilustrado com quatro colagens da Autora.
Expressiva dedicatória autógrafa.
Obra muito rara.
Peça publicada em 1965 por Luiz
Pacheco e logo apreendida pela PIDE, onde a sátira está presente do início ao
fim, abrindo, assim, espaço a uma profunda crítica ao salazarismo.Nesta peça é
possível notar a presença de elementos vindos do Surrealismo, bem como algumas
semelhanças com o Teatro do Absurdo.
"Câmara real no palácio de el-rei Salarim, senhor
absolutíssimo da Mortocália, país de dez milhões de habitantes e outras
estátuas de heróis que outrora o glorificaram, antiquissimamente alojado na
Europa, de forma a ver o mar, e de clima temperado por calores propícios a
fazer sesta" [80 €]
10274. CORREIA, Natália – PASSAPORTE. Editora Gráfica Portuguesa,
lisboa, 1958. In-8º de 60-(4)págs. Br. Primeira edição. Raro.
Um dos primeiros e mais raros
livros de poesia de Natália Correia. [85 €]
POEMA DESTINADO A
HAVER DOMINGO
Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.
Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.
Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.
Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre
Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o amor por fim tenha recreio.
De David Mourão-Ferreira, temos igualmente algumas das suas obras mais
procuradas.
10325. MOURÃO-FERREIRA, David –
TEMPESTADE DE VERÃO. Guimarães Editores, Lisboa, 1954. In-8º de 69-(2)págs.
Br. Integrado na colecção "Poesia e Verdade". Com um desenho de
António Vaz Pereira na página antes da folha de rosto. Valorizado com uma
extensa dedicatória autógrafa datada de Novembro de 1954. Conserva cinta
editorial. Cheio de anotações,a lápis, feitas por Maria de Lourdes Belchior e
com interesse literário.
Primeira edição.
Segundo livro do autor, distinguido com o Prémio de Poesia Delfim
Guimarães. [85 €]
Praia do Esquecimento
Fujo da sombra; cerro os olhos:
não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.
Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a
descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me
sustento.
E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a
pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.
10281. MOURÃO-FERREIRA, David –
A SECRETA VIAGEM. Edições Távola Redonda, Lisboa, 1950. In-8º de 59-(3)
págs. Br. Integrado na colecção "Távola Redonda". Valorizado com uma
expressiva dedicatória autógrafa do autor. Livro numerado (nº 6) e assinado
pelo autor de uma tiragem especial de 165 exemplares. Muito raro.
Obs.: Primeiro livro de
poesia de David Mourão-Ferreira onde já se encontram alguns dos traços da sua
poética. [75 €]
A Secreta Viagem
No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada...
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!
Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa...
Que figuras de lenda! Olhos vagos,
perdidos...
Por entre nossas mãos, o verde mar se
escoa...
Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!
Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa... alheio aos meus
sentidos.
— Desfeitos num rochedo ou salvos na
enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!
De Mário Cesariny de Vasconcelos encontramos um óptimo conjunto de títulos.
10311. VASCONCELOS, Mário
Cesariny de [ant.] – ANTOLOGIA SURREALISTA DO CADÁVER ESQUISITO. Guimarães
Editores, Lisboa, 1961. In-8ºde 106(2)págs. Br. Colecção " Poesia e
Verdade". Frontispicio ilustrado por Cruzeiro Seixas, Mário Henrique
Leiria, Cesariny e Simon Watson Taylor. Primeira Edição. Raro.
Primeira reunião de textos colectivos realizados por surrealistas
portugueses usando um jogo muito comum neste movimento- O "cadavre
exqui". Participam nesta antologia nomes como Mário Henrique Leiria, Mário
Cesariny, António Maria Lisboa,Henrique Risques Pereira, Alexandre O' Neill,
Pedro Oom, Alfredo Margarido, entre outros. Obra de referência do Surrealismo
Português. Muito rara. [80 €]
10309. VASCONCELOS,
Mário Cesariny de – NOBILÍSSIMA VISÃO. Guimarães Editores, Lisboa, 1959.
In-8º de 76-(4)págs. Br. Cadernos por abrir. Livro raro, integrado na
conceituada «Colecção Poesia e Verdade».
Primeira Edição.
Livro Raro. Nesta primeira edição, «Nobilíssima Visão» é
“uma visão humorística do mundo, por vezes bem à maneira surrealista, onde
surgem ingredientes neo-realistas para serem imediatamente ultrapassados” (O
Surrealismo em Portugal, p. 316). Mais tarde, em 1976, foi totalmente refundida
pelo autor. [140 €]
À JUSTA
vou aqui por este lado
a vistoriar o historiado
vou por aqui e vou bem
já o dizia a minha mãe
pobre morta é verdade
mas é assim a eternidade
vou depressa antes que anoiteça
e o campo de facto desapareça
e canto esta canção irregular
que é como canta quem anda a vistoriar
10308. CESARINY, Mário – PENA CAPITAL. Contraponto, Lisboa, 1957.
In-8.º de 135-(4) págs. Br. Exemplar em bom estado de conservação, com miolo
muito limpo, apresentando apenas ocasionais picos de acidez nas capas de
brochura.
PRIMEIRA EDIÇÃO com uma
dedicatória autógrafa.
Encerra o
célebre poema “you are welcome to Elsinore”. Alguns poemas encontravam-se
até aqui inéditos. Os temas aqui publicados rondam essencialmente “...o humor,
o absurdo, non-sense, inverosimilhança. As imagens utilizadas são fortemente
influenciadas pelo surrealismo e os textos narrativos encontram-se na linha das
correspondentes composições francesas...” (Maria de Fátima Marinho, Dicionário
de Literatura Portuguesa). [300 €]
De Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes temos esta obra importante na sua bibliografia:
10241. CINATTI, Ruy – BORDA D´ALMA | OS MELHORES ANOS DA NOSSA VIDA -
DIVERTIMENTO CONTRAPONTÍSTICO. Editora Pax, Lisboa, 1973. In-8º de 32 págs.
Br.
Obra Muito rara.
Sátira ao sistema eleitoral e político, ao regime fascista e
à guerra colonial, ao destino da pátria e do império. Inclui também ainda 2
trabalhos: OS MELHORES ANOS DA NOSSA
VIDA/ R. Cinatti e DIVERTIMENTO
CONTRAPONTÍSTICO /José Blanc de Portugal. [75 €]
De Júlio Maria dos Reis Pereira, ou Júlio como artista plástico e Saúl
Dias como poeta, temos este raro livro de poemas:
10271. DIAS, Saúl – AINDA. Versos de
Saul Dias com desenhos de Júlio da colecção “poeta”. Edições “Presença”.
(Coimbra). 1938. In-8º de 44 págs. inums. Br. Ilustrado com desenhos de Júlio
impressos em página inteira. De tiragem reduzidíssima. Valorizado por uma
dedicatória autógrafa. Muito raro. [175 €]
Serena,
pacífica província,
toda alma e toda calma!
Sempre aos domingos
beijada pelo sol!
Jogam, em plena praça, o futebol
os garotos da rua
(jogo sem convenções...)
Província das procissões
(oiros velhos, doridos...)
e das brancas primeiras comunhões!
Província sem sentidos!
Muitos outros autores, de leitura quase obrigatória, ficaram por
referir, mas essa descoberta caberá a
vós fazê-la com o convite para uma boa leitura – mais que não seja dos poemas
seleccionados pelo Miguel.
Saudações
bibliófilas.
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