"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

terça-feira, 28 de abril de 2009

Luis Raphael Soyé

Frontespício e pàgina de título
de "Noites Josephinas"

Gostaria de iniciar estas nossas conversas com a apresentação de um escritor do séc. XVIII-XIX, que tem a particularidade de ter feito história em vários países, sobretudo Portugal e França.
Dou a palavra a Inocêncio V, 317. que nos dá este excelente retrato do autor:

LUIS RAPHAEL SOYÉ, n. em Madrid a 15 de Abril de 1760, filho de pais estrangeiros, sem contudo constar precisamente a que nação pertencessem.
José Maria da Costa e Silva afirmava, não sei com que fundamento, que eram naturais da Alemanha, e pretendia derivar dai o gosto e predilecção que o filho inculcava nas suas obras pela poesia alemã.

Página inicial de "Noite I"

Eu porém, que comecei a familiarizar-me com a lição dos versos de Soyé aos sete anos de idade, quando mal sabia ler, creio ter razões bastantes para duvidar até de que ele entendesse o alemão, e julgo mais que provável que todo o seu conhecimento da literatura daquele pais era bebido exclusivamente nas traduções francesas de Huber, no tratado “Des Progrès des Allemands”, par Bielfeld, vertido na mesma língua, etc. etc. Seja o que for, é certo que Soyé veio para Lisboa trazido ainda na primeira infância por seus pais, que em breve faleceram, correndo a sua educação, ao que posso julgar, por conta do morgado da Oliveira João de Saldanha Oliveira e Sousa, depois primeiro conde de Rio Maior, que parece haver sido o seu protector durante muitos anos. Consta que fizera os estudos de humanidades no Seminário de Rilhafoles, dos padres da Congregação de S. Vicente de Paulo, e que aprendera também as artes da pintura e gravura a buril, do que nos deixou documento em algumas estampas das suas “Noites Josephinas”. Aos 29 de Outubro de 1777 professou a regra franciscana no convento de N. S. de Jesus da Terceira Ordem da Penitencia, e passou a seguir os estudos maiores na Universidade de Coimbra, aí fez alguns actos em Teologia, com desembaraço e aceitação de seus mestres, que muito o distinguiram. Mas tenho para mim que não chegou a graduar se naquela Faculdade, embora pelo tempo adiante ele se inculcasse como «doutor» nos rostos de alguns opúsculos que em França deu á luz. Ou porque tivesse abraçado constrangido a vida monástica, ou porque a sua vocação para ela se desvanecesse, é facto que resolveu voltar para o século, impetrando de Roma um breve pelo qual lhe foram anulados os votos clausurais, e passou ao estado de clérigo secular em 1791.
Já anteriormente, a contar de 1786, havia publicado algumas obras poéticas, composições dos seus primeiros anos, as quais foram muito aplaudidas por uns, e censuradas por outros, como acontece quase sempre.

Retrato de Luis Raphael Soyé
Pelos anos de 1802 saiu de Portugal para França, incumbido (segundo dizem) pelo ministro D. Rodrigo de Sousa Coutinho, de escolher e comprar livros para a Biblioteca Publica de Lisboa, então recentemente organizada. Terminada esta comissão, resolveu ficar em Paris, onde parece se estabeleceu com loja de livreiro. Do seu tracto e amizade com Francisco Manuel existe a prova numa ode que este lhe dirigiu, na qual se lhe mostra muito afeiçoado. Alguns versos que publicará nos anos de 1808 e seguintes em louvor de Napoleão, e que traduzidos em francês agradaram ao imperador, e foram por ele remunerados generosamente, fizeram que depois da Restauração dos Bourbons o poeta ficasse malquisto, e vendo-se então em pobreza e impedido de voltar para Portugal, como parece desejava, partiu para o Rio de Janeiro.

Ali conseguiu enfim que por ele se interessassem algumas pessoas influentes, e obteve a nomeação de Secretario da Academia das Belas Artes, lugar que pouco tempo desfrutou. Atacado de paralisia aos 68 anos no de 1828, e fugindo-lhe de casa um preto, única pessoa que consigo tinha, permaneceu assim em total abandono durante alguns dias, até perecer miseravelmente de fome, como se reconheceu pela achada do cadáver já putrefacto, quando a falta de noticias suas despertou nos vizinhos a curiosidade de se informarem do acontecido!

Obras mais conhecidas:

SOYÉ. Luís Rafael - SONHO POEMA EROTICO QUE ÁS BENÉFICAS MÃOS Do Nosso Augusto, e Amabilissimo PRINCIPE DO BRASIL OFFERECE LUIZ RAFAEL SOYÉ. LISBOA Na Offic. Patr. de FRANCISCO LUIZ AMENO. M. DCC. LXXXVI. (1786) In 8.º de 14x9,5 cm. Com lxxxviii-125 pags.. com vinhetas e um retrato do Príncipe D. José. - Consta de seis cantos em oitava rima. O prólogo é erudito. e talvez vale a pena de ler se. O poema vale pela boa linguagem e versificação, pela viveza das pinturas, e pela graciosa singeleza dos seus quadros pastoris.

SOYÉ, Luís Rafael - Noites Jozephinas de Mirtilo sobre a infausta morte do Serenissimo Senhor D. Joze Principe do Brasil ... Lisboa, Regia Officina Typographica.-1790.in 8º de 252 pags- Poema panegírico sobre a morte do Rei D. José I. Retrato gravado de Josephus Brasiliae princeps na página de titulo por Luis Rafael Soyé. E uma gravura alegórica igualmente por L. R. Soyé. Cada uma das 12 noites tem, no início, uma gravura talhada por alguns dos maiores artistas portugueses (Gregorio Francisco de Queiroz: vinhetas das IV-VII-VIII-IX-XI; Jose Lucio da Costa: vinhetas das I & V, Jeronimo de Barros e Joao Thomas.

Obrigado pela vossa paciência na leitura
Saudações bibliófilas,
Rui