"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 20 de julho de 2014

Guerra Junqueiro – um apontamento bio-bibliográfico



Guerra Junqueiro

Ao consultar a montra de 18 de Junho da Candelabro – Livraria Alfarrabista encontrei algumas obras de Guerra Junqueiro, poeta de que aqui já se deixou alguma informação (é só procurarem….), mas que, em minha opinião, merece sempre mais uma pequena nota de divulgação. Mas convenhamos que não é fácil falar-se de Guerra Junqueiro, não porque haja pouco que dizer, mas muito pelo contrário porque muito há para se dizer.

Abílio Manuel Guerra Junqueiro foi um bacharel formado em Direito pela Universidade de Coimbra, alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor e poeta. Nasceu em Freixo de Espada à Cinta a 15 de Setembro de 1850, filho do negociante e lavrador abastado José António Junqueiro Junior e de sua mulher Ana Maria do Sacramento Guerra. A família era tradicionalista e religiosa. Ficou órfão de mãe aos 3 anos de idade, o que deixou alguns sinais na sua poesia, como no célebre passo «Minha mãe, minha mãe, ai que saudade imensa…» de “Aos simples”, o poema inicial de A velhice do Padre Eterno.

Fez os estudos preparatórios em Bragança, matriculando-se em 1866 no curso de Teologia da Universidade de Coimbra.

Compreendendo que não tinha vocação para a vida religiosa, dois anos depois, transferiu-se para o curso de Direito, que terminou o curso em 1873, durante um período que coincidiu com o movimento de agitação ideológica em que eclodiu a Questão Coimbrã. Nessa cidade convive de perto com o poeta João Penha, em cuja revista literária, A Folha, faz a sua estreia literária.


João Penha

Entrou no funcionalismo público da época e foi secretário-geral do Governador Civil dos distritos de Angra do Heroísmo e de Viana do Castelo.

Mas breve opta pela vida política, a que se entregou com grande entusiasmo. Eleito deputado por Macedo de Cavaleiros, filia-se no Partido Progressista (1), então na oposição, e consegue ser novamente eleito deputado em 1880, desta vez por Viana do Castelo, e 1890 por Quelimane, Moçambique.

Casou em 10 de Fevereiro de 1880, em Viana do Castelo, com Filomena Augusta da Silva Neves, de quem teve duas filhas, Isabel Maria e Júlia Francisca. (A primeira casou com Luís Pinto de Mesquita Carvalho e com ele instituiu a Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e Luís Pinto de Mesquita, com sede no Porto, na Casa-Museu de Guerra Junqueiro.)

Nunca deixou a suas actividades agrícolas cuidando da lavoura das suas terras de Barca de Alva, no Douro.
Nos anos oitenta, participa nas reuniões dos Vencidos da Vida (2), juntamente com Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Eça de Queirós e António Cândido, entre outros.


Os Vencidos da Vida (fotografia de P. Marinho, in Brasil-Portugal, a. II, 1900): António Maria Vasco de Melo César e Meneses, Luís Augusto Pinto de Soveral, Carlos Félix de Lima Mayer, Francisco Manuel de Melo Breyner, Guerra Junqueiro, Ramalho Ortigão, Carlos Lobo d'Ávila, Bernardo Pinheiro Correia de Melo, Eça de Queirós e J. P. de Oliveira Martins.

Reage ao Ultimato inglês de 1890, com o livro de poesias Finis Patriae, altura em que se afasta ideologicamente de Oliveira Martins, confiando na República como solução para os males da sociedade portuguesa.

Foi entre 1911 e 1914 o embaixador de Portugal na Suíça (o título na época era de "ministro de Portugal na Suíça").

Na fase final da sua vida, retira-se para a sua propriedade no Douro, assinalando-se então uma viragem na sua orientação poética, que se volta para a terra e para "os simples".

Faleceu em Lisboa a 7 de Julho de 1923.

Em 1966, o seu corpo é solenemente trasladado para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, numa cerimónia ocorrida para homenagear também outras ilustres figuras portuguesas entre os dias 1 e 5 de dezembro. Antes dessa data, encontrava-se no Mosteiro dos Jerónimos.


Guerra Junqueiro – caricatura

Guerra Junqueiro foi o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada "Escola Nova". Poeta panfletário e anticlerical, a sua poesia ajudou a criar o ambiente revolucionário que conduziu à implantação da República.

Iniciou a sua carreira literária de maneira promissora em Coimbra no jornal literário A Folha, dirigido pelo poeta João Penha, do qual mais tarde foi redator. Aqui cria relações de amizade com alguns dos melhores escritores e poetas do seu tempo, grupo geralmente conhecido por Geração de 70 (3).

Influenciado por Baudelaire, Proudhon, Victor Hugo e Michelet, iniciou uma intensa escrita poética com o fim último de, pela crítica, renovar a sociedade portuguesa.

De facto, que desde muito novo, começara a manifestar notável talento poético, e já em 1868 o seu nome era incluído entre os dos mais promissores da nova geração de poetas portugueses.

Guerra Junqueiro foi um poeta precoce. Se descontarmos as incipientes Duas páginas dos catorze anos, de 1864, e a colaboração na famosa Folha, de João Penha, o seu primeiro livro, Mysticae nuptiae, ainda ao gosto ultra-romântico, é de 1866, tinha o jovem poeta 16 anos e frequentava o primeiro ano do curso de Teologia da Universidade de Coimbra.


Guerra Junqueiro – assinatura

No mesmo ano, no opúsculo intitulado O Aristarco português, apreciando-se o livro Vozes sem eco, publicado em Coimbra em 1867 por Guerra Junqueiro, já se prognostica um futuro auspicioso ao seu autor.
No Porto, na mesma data, aparecia outra obra, Baptismo de amor, acompanhada dum preâmbulo escrito por Camilo Castelo Branco; em Coimbra publicara Guerra Junqueiro a Lira dos catorze anos, volume de poesias; e em 1867 o poemeto Mysticae nuptiae; no Porto a casa Chardron editara-lhe em 1870 a Vitória da França, que depois reeditou em Coimbra em 1873.

Em 1873, sendo proclamada a República em Espanha, escreveu ainda nesse ano o veemente poemeto À Espanha livre.

Em 1874 apareceu o poema A morte de D. João, edição feita pela casa Moré, do Porto, obra que alcançou grande sucesso. Camilo Castelo Branco consagrou-lhe um artigo nas Noites de insónia, e Oliveira Martins, na revista Artes e Letras.

Foi residir para Lisboa onde sxe tornou colaborador em prosa e em verso, de jornais políticos e artísticos, como A Lanterna Mágica (4) e O António Maria (5-6) (1879-1885;1891-1898), com a colaboração de desenhos de Rafael Bordalo Pinheiro.


A Lanterna Mágica


O António Maria – 1879 (n.º 1 ao n.º 30)


O António Maria – 1884 (n.º 240 ao n.º 291)

Em 1875 escreveu o Crime, poemeto a propósito do assassínio do alferes Palma de Brito; a poesia Aos Veteranos da Liberdade; e o volume de Contos para a infância.

No Diário de Notícias também publicou o poemeto Fiel e o conto Na Feira da Ladra.

Em 1878 publicou em Lisboa o poemeto Tragédia infantil.

Colaborou em diversas publicações periódicas, nomeadamente: Atlantida (1915-1920), Branco e Negro (1896-1898), A Illustração Portugueza (1884-1890), A imprensa (1885-1891), Jornal do Domingo (7) (1881-1888), A Leitura (1894-1896), A mulher (1879), A Republica Portugueza (1910-1911), e Serões (1901-1911).


Jornal de Domingo: revista universal  n.º 1
(20 de Fevereiro de 1881)

Uma grande parte das composições poéticas de Guerra Junqueiro está reunida no volume que tem por título A musa em férias, publicado em 1879. Neste ano também saiu o poemeto O Melro, que depois foi incluído na Velhice do Padre Eterno, edição de 1885. Publicou Idílios e Sátiras, e traduziu e coligiu um volume de contos de Hans Christian Andersen e outros.

Após uma estada em Paris, aparentemente para tratamento de doença digestiva contraída durante a sua estada nos Açores, publicou em 1885 no Porto A velhice do Padre Eterno, obra que provocou acerbas réplicas por parte da opinião clerical, representada na imprensa, entre outros, pelo cónego José Joaquim de Sena Freitas.
Quando se deu o conflito com a Inglaterra sobre o "mapa cor-de-rosa", que culminou com o ultimato britânico de 11 de Janeiro de 1890, Guerra Junqueiro interessou-se profundamente por esta crise nacional, e escreveu o opúsculo Finis Patriae, e a Canção do Ódio, para a qual Miguel Ângelo Pereira escreveu a música. Posteriormente publicou o poema Pátria.

Estas composições tiveram uma imensa repercussão, contribuindo poderosamente para o descrédito das instituições monárquicas.


Guerra Junqueiro – caricatura

Considera-se por vezes a sua produção poética determinada por dois impulsos distintos:

Um desses impulsos é o da poesia virulenta, panfletária, empenhada em regenerar o mundo, profligando três males: a dissolução moral, personificada no libertino D. João (A morte de D. João, de 1874); a igreja católica, com os seus dogmas e os seus clérigos mais ou menos obtusos (A Velhice do Padre Eterno, de 1885); e a monarquia, corrupta e opressora (Finis Patriae, de 1891, e Pátria, de 1896; Fernando Pessoa considerou este último «não só a maior obra dos últimos trinta anos, mas a obra capital do que há até agora da nossa literatura. Os Lusíadas ocupam honradamente o segundo lugar.»). Corresponde à fase mais juvenil e combativa da sua vida.

O outro impulso é o da poesia apaziguada, bucólica, fresca, por vezes tingida de misticismo e panteísmo. É o caso de livros como A Musa em Férias, de 1879, Os Simples, de 1892, que o autor considerava o seu melhor livro, e as Orações: Oração ao Pão, de 1903 e Oração à Luz, de 1904. Este impulso corresponde à idade mais madura, em que nele se verificam transformações como a «reconstrução espiritualista» de que fala Leonardo Coimbra.


Guerra Junqueiro

Sobre A Velhice do Padre Eterno, por exemplo, o poeta confidenciará a João Grave, já próximo da morte: «Hoje, não o escreveria tal como se tornou conhecido, justamente pelo que nele há de grosseiro e imperfeito. Inspirou-mo, aos vinte e oito anos, o meu sentimento cristão sobreexcitado; e eu (…) aceitando sem exame tudo quanto a imaginação me oferecia, compus a “Velhice”, estrofe a estrofe, com o entusiasmo e a audácia de quem tivesse a verdade presa na mão.» Já numa nota das Prosas Dispersas tinha escrito: «Eu tenho sido, devo declará-lo, muito injusto com a Igreja. A Velhice do Padre Eterno é um livro da mocidade. Não o escreveria já aos quarenta anos. (…) Contendo belas coisas, é um livro mau, e muitas vezes abominável.»


Viagem à roda da Parvónia foi escrita por Guilherme de Azevedo e Guerra Junqueiro nos finais do século XIX. Trata-se de uma comédia política.
Proibido logo no dia a seguir à estreia, o texto ganhou, à época, contornos de escandaloso e maledicente.
©Fotografia; homemdoslivros.blogspot.com


Bibliografia:
Viagem À Roda Da Parvónia
Duas Páginas dos Catorze Anos (1864)
Mysticae nuptiae (1866)
Vozes sem Eco (1867)
A Morte De D. João (1874)
Contos para a Infância (1875)
A Musa Em Férias (1879)
O Melro (1879)
A velhice do Padre Eterno (1885)
Finis Patriae (1890)
Os Simples (1892)
Oração Ao Pão (1903)
Oração À Luz (1904)
Gritos da Alma (1912)
Pátria (1915)
Poesias Dispersas (1920)
Prosas Dispersas (1921)
Horas de Combate (1924)


Guerra Junqueiro

Vejam-se alguns dos exemplares disponibilizados pela Candelabro – Livraria Alfarrabista:



3557. JUNQUEIRO (GUERRA) - A MORTE DE D. JOÃO. 6ª edição, emendada e com o retrato do auctor. Lisboa. Livraria de Antonio Maria Pereira - Editor. 1897. In-8º de XX-323-III págs. Enc.

Edição bastante apreciada por incluir, em folha à parte, o retrato fotográfico de Junqueiro.
Exemplar em muito razoável estado de conservação, com encadernação editorial e antiga assinatura de posse no anterrosto.



3612. JUNQUEIRO (GUERRA) - ESPARSAS. Poesias colligidas por Cruz Coutinho. Porto. MDCCCLXXXVI. In-8º gr. de 142 págs. inums. Enc.
Com a devida vénia, transcrevemos a descrição feita pelo insigne e infelizmente já desaparecido livreiro Manuel Ferreira, de umas "Esparsas" em tudo idêntica à nossa: "O volume termina com o título "Rosa Pálida", cuja poesia não chegou a ser impressa. Frontispício estampado a vermelho e negro e com todas as páginas circundadas por filetes da mesma cor. A folha que se segue ao frontispício diz: "Aos seus bons amigos: Eduardo Sequeira, Oliveira Alvarenga, D. o collector."
"Vem indicado no verso do anterrosto que a tiragem destas poesias licenciosas, publicadas segundo se julga à revelia do autor, constou de 10 exemplares, estando este por numerar, como alguns outros que já vimos e sem o nome do destinatário, pelo que cremos que dela terá sido feita uma contrafacção da edição original ou que desta tenham sido impressos mais alguns que aparecem sem número."
"Exemplar em folhas. Publicado sem as capas da brochura".
Bela encadernação com lombada e cantos em pele.
Exemplar em excelente estado de conservação.



5111. JUNQUEIRO (GUERRA) - O CAMINHO DO CÉU. Com uma nota preambular de João Grave.
Porto. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, Ldº. 1925. In-8º de XLVIII-47 págs. Enc.

As primeiras XLVIII páginas são ocupadas com a extensa nota preambular de João Grave.
Primeira edição, póstuma, publicada após a morte de Junqueiro, segundo sua vontade expressa.
Encadernação editorial em material sintético, decorada com ferros a seco em ambas as pastas.
Exemplar com alguns sinais de manuseamento, mas em bom estado de conservação.Tem antiga assinatura de posse.



5303. JUNQUEIRO (GUERRA) - O CRIME. A proposito do assassinato do Alferes Brito.
Porto. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, Lda editores. S/d. In-8º de 24 págs. Br.

Pensamos tratar-se da 2ª edição deste poemeto de Junqueiro, primitivamente dado à estampa em 1875.
Exemplar em bom estado de conservação, com alguma, pouca, acidez ao nível das capas da brochura.



3602. JUNQUEIRO (GUERRA) - O MONSTRO ALEMÃO. Atila e Joana d'Arc. Opusculo oferecido à Junta Pariotica do Norte e cujo produto de venda se destina a sua obra de Assistencia aos orfãos de guerra. Porto. Officinas de "O Comércio do Porto". 1918. In-4º de 19-III págs. Br.

Curioso e invulgar opúsculo com introdução do Prof. Alberto de Aguiar.
EXEMPLAR MUITO VALORIZADO PELA DEDICATÓRIA DE JUNQUEIRO.
Em bom estado de conservação, com alguma acidez ao nível das capas da brochura.



3603. JUNQUEIRO (GUERRA) - ORAÇÃO À LUZ. Porto. Livraria Chardron de Lello & Irmão, Editores. 1904. In-8º gr. de 32 págs. Br.

Trata-se de uma das mais conhecidas e apreciadas obras do genial Poeta.
Primeira edição.
Exemplar manuseado com algumas imperfeições nas capas da brochura e pequena falha de papel no canto superior do anterrosto e rosto.



3604. JUNQUEIRO (GUERRA) - ORAÇÃO AO PÃO. Porto. Livraria Chardron de Lello & Irmão, Editores. 1902. In-8º gr. de 19 págs. Br.

Primeira edição de uma das obras mais conhecidas e reeditadas de Junqueiro.
Exemplar em bom estado de conservação; tem alguns picos de acidez nas capas da brochura e pequeno furo na contracapa.



3021. JUNQUEIRO (GUERRA) – PATRIA. Esta é a ditosa patria minha amada. Camões. 1896. S/ editor. S/ local de edição. In-8º de 187-I-XXV-III págs. Enc.

Trata-se de uma das mais importantes obras do autor e, sem exagero, de toda a poesia portuguesa.
Primeira edição, muito invulgar.
Encadernação antiga mas não contemporânea, com lombada e cantos em pele: não conserva as capas de brochura, está aparado e carminado.
Exemplar em muito bom estado de conservação, com algumas ocasionais e inevitaveis manchas de acidez.



3065. JUNQUEIRO (GUERRA) - PROMETHEU LIBERTADO. (Esboço do Poema). Com um prefácio de Luiz de Magalhães. Porto. Livraria Chardron, de Lello & Irmão & Irmão, Ldª. 1926. In-8º de 48 págs. Br.

O extenso e belo prefácio de Luiz de Magalhães ocupa as primeiras 34 páginas.
Primeira edição, póstuma.
Exemplar em bom estado de conservação, ainda por abrir.



5065. JUNQUEIRO (GUERRA) - TRAGEDIA INFANTIL. Lisboa. Editor - J. H. Verde. 1877. In-8º peq. de 33-I págs. Br.

Primeira edição desta rara obra de Junqueiro.
Exemplar em fraco estado de conservação, apresentando as capas da brochura falhas e defeitos vários.



5304. JUNQUEIRO (GUERRA) - VICTORIA DA FRANÇA. Nova edição. Porto. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão Lda editores. S/d. In-8º de 22-II págs. Br.
Exemplar com bastante acidez sobretudo ao nível das capas da brochura.

A Frenesi Loja também nos apresenta um excelente lote de livros de que deixo aqui o seu registo:



JUNQUEIRO (GUERRA) – OS SIMPLES. Lisboa, 1923, Parceria Antonio Maria Pereira – Livraria Editora. 8.ª edição. 128 págs. + 1 folha em extra-texto (protegida com papel vegetal).
Encadernação editorial em tela finamente gravada numa imitação de japonismo muito em voga na Baixa-Chiado no início do século XX.
Exemplar em bom estado de conservação; miolo limpo.

Junqueiro, feito ainda em vida glória poética nacional por aqueles que de poética nada sabiam, foi um valor retórico que perdurou mesmo fora dos meios republicanos seus naturais. Não houve selecta escolar do Estado Novo que não tenha exibido, sem engulhos, a moleirinha-toque-toque-toque. «Mas apesar destas limitações hoje evidentes» – diz a História da Literatura Portuguesa de António José Saraiva / Óscar Lopes (15.ª ed., Porto Editora, Porto, 1989) –, «Junqueiro não teria conseguido identificar-se com tão vastas camadas da pequena burguesia, não teria exercido uma influência tão considerável, mesmo para além da sua época, se não dispusesse de certos meios extraordinários de expressão literária. Em primeiro lugar, o seu simplismo ideológico relaciona-se com uma flagrante visualidade de imagens: Junqueiro não pensa com finura, porque vê logo as ideias e sentimentos em alegoria ou imagem. [...] Por outro lado, a facilidade rítmica do verso junqueiriano colhe, nalguns poemas, certas tonalidades de emoção inapreensível para uma versificação menos espontânea [...]»



JUNQUEIRO (GUERRA) – A VELHICE DO PADRE ETERNO. Porto, 1885, Editores Alvarim Pimenta e Joaquim Antunes Leitão. 1.ª edição. 216 págs. Impresso sobre papel superior.



Encadernação antiga meia-inglesa com gravação a ouro na lombada pouco aparado, sem capas de brochura.
Exemplar estimado, charneira frágil; miolo limpo, papel fresco. Carimbo na folha de ante-rosto e assinatura de posse no frontispício



JUNQUEIRO (GUERRA) – A VELHICE DO PADRE ETERNO. Porto, s.d. [1912 ?] Livraria Chardron, de Lelo & Irmão, editores. [1.ª edição ilustrada]. 8 págs. + 272 págs.
Profusamente ilustrado no corpo do texto. Tiragem comum da encadernação editorial em tela com a pasta anterior e a lombada gravadas a ouro, e relevo seco na pasta posterior folhas-de-guarda impressas
Exemplar estimado; miolo limpo.



JUNQUEIRO (GUERRA) – PATRIA. s.l., 1896, s.i. [também não indica tipografia] [ed. Autor ?]. 1.ª edição.188 págs. + XXVIII págs.
Encadernação modesta de amador com elegantes vinhetas e lettering gravados a ouro na lombada aparado e sem capas de brochura.
Exemplar estimado; miolo limpo; discreta rubrica de posse no canto superior esquerdo da folha de ante-rosto

António José Saraiva e Óscar Lopes, na sua História da Literatura Portuguesa (15.ª ed., Porto Editora, Porto, 1989), apontam esta fase poética de Junqueiro como o ponto charneira na abordagem do real:
«[...] A nebulosidade [da sua] ideologia anticlerical permitia que, entretanto, prosseguisse até à crise política de 1890 a sua carreira de deputado monárquico, gravitando na órbita de Oliveira Martins e na do grupo de literatos e aristocratas dos Vencidos da Vida.
Com o Ultimato assiste-se, porém, à sua rotura com Martins e à passagem para as fileiras republicanas. Datam de 91 Finis Patriæ e Canção do Ódio, violentas sátiras à dinastia brigantina e à Inglaterra, das quais ainda é sequência Pátria (1896), poema já, no entanto, repassado de um patriotismo elegíaco a condizer com as tendências saudosistas do tempo. [...]»



JUNQUEIRO (GUERRA) – FINIS PATRIAE. Porto, s.d., Livraria Chardron, de Lelo & Irmão, editores. 4.ª edição. XII págs. + 52 págs.
Exemplar estimado; miolo limpo.



JUNQUEIRO (GUERRA) – HORAS DE COMBATE. Porto, 1924, Livraria Chardron, de Lélo & Irmão, Ld.ª, editores. 1.ª edição (textos reunidos). LXXVIII págs. + 82 págs.
Exemplar em bom estado de conservação; miolo limpo, parcialmente por abrir; assinaturas de posse sobre a capa e na pág. V.

Abílio Manuel Guerra Junqueiro havia falecido há poucos meses; este volume póstumo parece surgir, à pressa, mais motivado pelo estudo de Mayer Garção do que pela divulgação da obra do poeta republicano.



JUNQUEIRO (GUERRA) – HORAS DE LUTA. Porto, s.d. [circa 1924], Livraria Lello, Limitada – editora proprietária da Livraria Chardron. [2.ª edição (textos reunidos, sendo Horas de Combate a 1.ª edição)]. L págs. + 198 págs. Impresso sobre papel superior algodoado.
Encadernação editorial sobre tela encerada com gravação a ouro e relevo seco em ambas as pastas e na lombada.
Exemplar em bom estado de conservação; miolo no geral limpo, com ocasionais picos de oxidação.

O vertente volume amplia em muito aquilo que em 1924, sob o título Horas de Combate e com o mesmo prefácio de Mayer Garção, havia já sido reunido, a fim de dar a conhecer, conjuntamente, momentos em que o poeta, ao serviço da causa republicana, mais panfletário se erguia na palavra e no tom. Um dos problemas dessa outra edição residia precisamente na exiguidade do corpo de texto de Guerra Junqueiro ante o desmesurado, todavia correcto, texto do prefaciador. Daí, considerar-se a vertente edição um livro tanto mais doseado como representativo do vate.



JUNQUEIRO (GUERRA) – TRAGEDIA INFANTIL. Capa e ilustrações de Alonso. Lisboa, 1913, Parceria Antonio Maria Pereira. 2.ª edição, ilustrada. 44 págs.
Exemplar muito estimado; miolo limpo; rubrica de posse nos cantos superiores direitos da capa e da folha de ante-rosto.



Poemeto publicado inicialmente em 1877 e posteriormente incluído na obra A Musa em Férias, surge aqui ilustrado pelo caricaturista talassa Alonso (nome artístico de Joaquim Guilherme Santos Silva). O propósito de Junqueiro – como, por exemplo, o do seu contemporâneo Antero (veja-se a Advertência ao Thesouro Poetico da Infancia, Ernesto Chardron Editor, Porto, 1883) – é pedagógico, fazendo um intervalo na sua poesia de afrontamento republicano. A infância era, então, uma aposta dos progressistas, que acreditavam existir em toda e qualquer criança, latente, um poeta. Mas o propósito educativo, mesmo para a época, pelo menos no caso de Junqueiro, afigura-se-nos duvidoso... Senão, leiamos uma passagem em que os imberbes personagens do motivo literário brincam, por assim dizer, “aos adultos”:

«[...] Com todas as qualidades
Da menagère exemplar,
Em quanto o irmão faz cidades,
Bebé prepara o jantar.

Dorme a boneca ao pé d’ella
No berço. De quando em quando
Bebé escuma a panella
Que está fervendo e cantando.

Mexe o guisado e a fritura,
Vê se têm o sal bastante,
E sentando-se á costura
Com um ar meigo, radiante,

Em quanto a creança loira
Dorme o bom somno florido,
Co’a illusão d’uma tesoira
Talha a illusão d’um vestido.

Mas são horas; o irmãosito
Já deve de andar cansado
Das construções de granito
E da rabiça do arado. [... etc., etc., etc...]»

Trata-se da representação de um mundo mesquinho com o homem sempre nas alturas dos grandes projectos, a correr mundo, ou, pelo menos, ao ar livre, enquanto a mulher permanece aprisionada na procriação e na lide doméstica. Pouco depois, com o advento dos provincianos salazaristas, tudo isto veio a ser sistematizado como modelo incontestável de encarceramento de uma sociedade inteira.



JUNQUEIRO (GUERRA) – TRAGEDIA INFANTIL. Lisboa, 1877, Editor – Typ. de J. H. Verde. 1.ª edição. 36 págs. Impresso sobre papel superior.
Exemplar estimado, com cuidadosos restauros na frágil capa; miolo irrepreensível.



VALORIZADO PELA DEDICATÓRIA MANUSCRITA DO AUTOR À MARQUESA DE ÁVILA E BOLAMA

Na In-Libris para além duma excelente bibliografia passiva de Guerra Junqueiro encontramos um título raro aparecimento no mercado:



7697. JUNQUEIRO (Guerra).— PEDRO SORIANO. Paris - 2119. (S.l. nem data autêntica). 11,5x16,5 cm. 14 págs. B.

Pedro Soriano, em 1881, foi condenado (cumpriu pena de prisão e degredo) por ter simulado o casamento religioso, para disfrutar dos prazeres carnais com uma jovem. Este feito, foi tão condenado como invejado pelos seus contemporâneos. Guerra Junqueiro, ao que parece, encontra-se no segundo grupo, tendo chegado a dedicar-lhe um poema de circulação clandestina. Diz-se que, anos mais tarde, tentou reaver os exemplares dessa restrita tiragem, de forma a não lhe mancharem a reputação.

RARA e valiosa edição deste inusitado poema licencioso de Junqueiro, impresso em excelente papel de linho, cuja introdução é a seguinte:
"Pedro Soriano foi o heroi de um casamento simulado que houve em Lisboa. Tinha o membro viril desenvolvidissimo. Uns amigos de Junqueiro, encarregaram-se de lhe apresentar o Soriano, porque tendo contado a Junqueiro a enormidade do membro, ele dissera que exageravam. Junqueiro viu e exclamou: “Tamanho membro merece um poema”."

Capa da brochura um pouco cansada.



Com mais estes apontamentos, e referência a algumas das suas obras, penso ter reavivado o vosso interesse pela obra deste poeta português.

Podemos afirmar que foi um homem empenhado nas lutas do seu tempo e um bom exemplo de cidadania, embora poeticamente se lhe apontem algumas críticas, quanto ao estilo e construção dos poemas, ninguém lhe nega um lugar na galeria da imortalidade das nossas letras

Quanto ao seu interesse bibliófilo esse é por demais conhecido, pois raro é o leilão onde não apareçam alguma(s) das suas obras.

Saudações bibliófilas.

Notas:

(1) Partido Progressista (Portugal)
(6) O António Maria (1879-1885;1891-1898) cópia digital da Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa
(7) Jornal de Domingo: Revista Universal 


Fontes consultadas:

Guerra Junqueiro – Wikipédia, a enciclopédia livre
Guerra Junqueiro - Infopédia
Grémio Literário Vilarealense: GUERRA JUNQUEIRO – Ciclos Poesia Trasmontana e Alto-Duriense


segunda-feira, 14 de julho de 2014

Duas propostas para leitura de férias



Lagos – Praia do Camilo

A Librairie Camille Sourget apresentou o seu Catalogue 14 de livros raros e valiosos neste período de Verão, particularmente propício à leitura.

Este catálogo n ° 14 contém clássicos da bibliofilia como Les Fables de La Fontaine, Les Essais de Montaigne ou Les Pensées de Pascal, mas também algumas obras menos conhecidas que irão deliciar os coleccionadores mais exigentes. Nele vamos encontrar 50 livros e manuscritos raros do séc. XV ao séc. XIX. 

Para todos aqueles que não poderão deslocar-se à livraria em Paris [93 rue de Seine - 75006 PARIS] aqui fica o convite para a sua leitura on-line.




Senão veja-se:



N° 14 - Avant d’être peintre, Brueghel est dessinateur.

« C’est comme élève de Pierre Coecke qu’en 1551 Peter Brueghel est reçu dans la gilde anversoise. Puis, selon l’usage établi chez les peintres flamands, au moins depuis Jean Gossart, une quarantaine d’années auparavant, le jeune ‘Franc-maître’ part pour l’Italie, où au lieu, comme ses contemporains Lambert Lombart, Frans Floris, d’interroger les œuvres de Léonard de Vinci, de Michel Ange, de Raphael, ou plus récentes des derniers grands Vénitiens Tintoret et Titien, il fuit les vieilles pierres, les colonnes et les imposantes fresques pour dessiner dans la campagne romaine, précurseur en cela des modernes paysagistes. Si nous ne connaissons pas l’itinéraire certain du voyage de Brueghel en Italie, qui lui fit peut-être traverser la France, du moins nous en est-il resté bien mieux encore : ses premiers dessins connus. Que l’on ne se méprenne pas sur ce mot de dessins, ce ne sont nullement des croquis. Non seulement les dessins très complets qui jalonnent toute sa carrière furent presque tous destinés à être fidèlement reproduits par la gravure, mais encore à partir de ses premiers dessins, datés de 1552 et 1553, faudra-t-il attendre jusqu’à 1559 pour voir apparaître sa première œuvre peinte. Sans que l’on puisse conclure qu’il n’avait rien peint avant cette date, il n’en est pas moins évident que le dessin, tel qu’il l’entendait, lui était un moyen d’expression suffisant et complet. Revenu d’Italie en 1554, c’est de nouveau à Anvers qu’il se fixe et travaille pour Jérôme Cock, ancien peintre, établi, avec son frère Mathys, éditeur et marchand d’estampes, à l’enseigne des ‘Quatre Vents’. ... »
« Mort en 1569, Peter Brueghel fut, après Jérôme Bosch, mort en 1516... la grande figure du XVI e siècle flamand, solidement et clairement situé entre le siècle des Van Eyck, Van der Weyden, Memling, se prolongeant en Quenti  Metsys et le siècle de Rubens et des Baroques » (Jacques Busse).
SUPERBE SUITE DE TOUTE RARETÉ AVEC DE SI BELLES MARGES.



47. [RAPHAËL]. REIFFENBERG, baron de / MEULEMEESTER, Joseph-Charles. Les Loges de Raphaël. Collection complète des 52 tableaux peints à fresque qui ornent les voûtes du Vatican et représentent des sujets de la Bible, dessinés à l’aquarelle et gravés en taille-douce par J.-C. de Meulemeester... et accompagnés d’un texte par le baron de Reiffenberg. Bruxelles, Arnold Lacrosse, 1845.


Por cá, a In-Libris compôs mais uma das suas excelentes montras temáticas, desta vez virada para os periódicos – Notável lote de publicações periódicas do séc XIX e XX.



A este propósito pode ler-se na sua introdução:

Publicações periódicas

Elaboradas sob a égide do efémero — são notícias, divulgação literária ou científica, ideários políticos, caricaturas, modas, etc., que retratam o momento circunstancial —  quando hoje nos chegam às mãos, graças ao empenho de alguns coleccionadores, elas transformam-se em fonte inquestionável de conhecimento. Muito mais do que o relato de uma época, elas são elementos fundamentais para o estudo transdisciplinar, do legado que representam.

Peças raras, algumas únicas, independentemente do número de exemplares que cada publicação possa ter tido, uma vez que, ao contrário de um livro, foram concebidas para serem descartáveis e com “vida útil” efémera o que fomenta a sua raridade, especialmente quando completas, como é o caso deste conjunto.

Do conjunto, que em minha opinião constitui um excelentete repositório de exemplares para um bom começo do estudo desta temática tão fascinante, deixo estes três exemplos (que obviamente não dispensa a leitura de todos os lotes):



8493. MACEDO (José Agostinho de).— O ESCUDO. Jornal de Instrucção Politica. (Lisboa. Na Impressão Liberal. 1823). 5 números. 14,5x20,5 cm. E.

“Quando aos olhos do homem Filosofo se offerece o grande quadro do seculo 19, por toda a parte sente, contempla, e admira huma tendencia universal ao desenvolvimento daquellas luzes, que só pódem pela reforma, e melhoramento das instituições sociaes, constituir o ser humano naquelle gráo de felicidade que he compativel com a imperfeição da natureza, e predominio das paixões, propensões, e interesses do mesmo homem.(...) Eis aqui o que o Povo português não tem encontrado nos outros Periodicos. Revelações afrontosissimas de defeitos alheios; detracção continua dos actos mais sagrados do Governo, instigações directas, e indirectas para a imoralidade, vehiculos de rivalidades, odios, vinganças particulares, indiferentismo para com a Religião huma das mais solidas Bazes da Constituição Politica, longe de darem uma idéa desta Constituição, não fizerão mais do que promover o descontentamento, e lançar os animos em huma torpe apathia. Mas agora, (eu o espero), meditando toda a Nação sobre estes pensamentos, dirá: não era isto o que até hoje se nos disse, temos uma idéa clara do nosso melhoramento, nós o queremos (...). As noticias verdadeiras (quando as houver, e se me comunicarem) servirão como apendix a este escrito, fazendo sempre sobre ellas, quanto em mim couber, aquellas reflexões que ajudem o conhecimeto publico, e com que se desterrem falços terrores, quimeras esperanças, e frivolos pretextos de anarchismo, e de insobordinação(...)”.



Interessante publicação saída três anos após a Revolução Liberal no Porto, onde o autor defende o constitucionalismo.

Publicação que consta de 5 números e de 2 suplementos. De muito raro aparecimento no mercado.

Encadernação em inteira de pele. Exemplar em excelente estado de conservação.



8508. GERMINAL. Directores: J. Gonçalves e A. Basto. Secretario da redacção: Gonçalves Dias. Porto. 1901-1902. 17,5x25,5 cm. 12 números Enc. em I.

Publicada no Porto de 1 de Julho de 1901 a Julho de 1902, apresenta excelente colaboração: António Patrício, Teixeira de Pascoaes, Guerra Junqueiro, António Maria Eusébio, Manuel Laranjeira, José Agostinho, Lopes de Oliveira — que faz uma avaliação a Camilo Castelo Branco —, Amadeu Cunha,António Carvalhal, António Correia de Oliveira, Bernardo de Passos, Campos Monteiro, João Grave, Joaquim Leitão, Júlio Brandão, Lopes de Oliveira, Rodrigo Solano, Urbano de Castro entre muitos outros.



O número 10 é quase todo ele dedicado a António Nobre. De destacar igualmente o desenho de Cristiano de Carvalho retratando Almeida Garrett.

De muito raro aparecimento no mercado. Sendo relevante para qualquer colecção camiliana.

Encadernação com lombada e cantos em pele. Excelente estado de conservação. Apenas levemente aparado à cabeça.



7428-B. A PARODIA. Caricaturas de Raphael Bordallo Pinheiro e M. Gustavo Bordallo Pinheiro. Editor: Candido Chaves. Typographia e lytographia da Companhia Nacional Editora. Lisboa. 1900-1907. 5 vols. 26,5x36 cm. com 155 números E.

“Os portuguezes são essencialmente conservadores. Por muito que esta opinião possa surprehender o nosso collega Magalhães Lima, não é menos certo que se nós mudamos com frequencia de fato, nos recusamos obstinadamente a mudar de idéas, o que faz com que em Portugal a fortuna sorria mais aos alfayates como o sr. Amieiro do que aos envangelistas como o sr. Teophilo Braga. Se somos inquestionavelmente um paiz de janotas, estamos longe de ser um paiz de reformadores. Assim, o nosso primeiro embaraço ao emprehender esta publicação é familiarisar o publico com a idéia de que já não se chama o António Maria o jornal que tem agora na mão, por que o publico, conservador e rotineiro, quereria ver perpetuado no tempo e na galhofa, aquelle titulo que ficou pertencendo a uma epocha que desappareceu e que por isso fez o seu tempo (...). A Parodia é outra coisa, como o tempo é outro. (...) A Parodia — dixemol-o sem receio de ser immodestos — somos nós todos. A Parodia é a caricatura ao serviço da grande tristeza publica. É a Dança da Bica no cemiterio dos Prazeres...”



É a mais célebre e popular publicação satírica portuguesa, publicação onde Rafael Bordalo Pinheiro deixou milhares de admiráveis ilustrações e caricaturas retratando a vida política e social da época, nomeadamente na série zoomórfica, que surge logo no n.º1 com "A Grande Porca - a Política", seguindo-se depois "O Grande Cão - as Finanças"; “A Galinha Choca - a Economia"; "O Grande Papagaio - a retórica parlamentar"; "A Grande Toupeira - a reacção"...
Colaboração de  nomes da caricatura tais como: Celso Hermínio, Jorge Cid, Manuel Monterroso, Vale e Sousa, Alonso, etc.



A Paródia, publicada de 1900 a 1907, atravessa diferentes séries: 1.ª Série de 17/1/1900 a 31/12/1902; a 2.ª Série de 11/1/1903 a 10/2/1905 é uma fusão com a Comédia Portuguesa. Esta série termina com a morte de Raphael Bordalo Pinheiro, seu director; a 3.ª série, de 23/2/1905 a 1/6/1907, tem como director Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro e conta com a colaboração de Alfredo Cândido, Saavedra Machado, João Valério, Manuel Monterroso.
Muito raro quando, como o presente exemplar, se encontra completo.

Encadernação em tecido. Pequenos restauros de sustentação de papel no primeiro número.

Aqui ficam estes dois convites para leitura, que embora sobre temas bem diversos abarcam um conjunto de obras de estudo e de coleccionismo apaixonantes.

Claro que se poderá colocar esta questão para alguns: “Vou de férias ou compro um livrito?” – bem delicada como sempre.

Boas leituras e votos de boas férias.

Saudações bibliófilas.