Lagos – Praia do Camilo
A Librairie Camille Sourget apresentou o seu Catalogue 14 de livros raros e valiosos neste período de Verão, particularmente
propício à leitura.
Este catálogo n ° 14 contém
clássicos da bibliofilia como Les Fables de La Fontaine, Les Essais de Montaigne ou Les Pensées de Pascal, mas também algumas obras menos conhecidas que irão deliciar
os coleccionadores mais exigentes. Nele vamos encontrar 50 livros e manuscritos
raros do séc. XV ao séc. XIX.
Para todos aqueles que não
poderão deslocar-se à livraria em Paris [93 rue de Seine - 75006 PARIS] aqui
fica o convite para a sua leitura on-line.
Senão
veja-se:
N° 14 - Avant d’être peintre, Brueghel est dessinateur.
« C’est comme élève de Pierre Coecke qu’en 1551 Peter Brueghel est reçu
dans la gilde anversoise. Puis, selon l’usage établi chez les peintres flamands,
au moins depuis Jean Gossart, une quarantaine d’années auparavant, le jeune
‘Franc-maître’ part pour l’Italie, où au lieu, comme ses contemporains Lambert
Lombart, Frans Floris, d’interroger les œuvres de Léonard de Vinci, de Michel Ange,
de Raphael, ou plus récentes des derniers grands Vénitiens Tintoret et Titien,
il fuit les vieilles pierres, les colonnes et les imposantes fresques pour
dessiner dans la campagne romaine, précurseur en cela des modernes paysagistes.
Si nous ne connaissons pas l’itinéraire certain du voyage de Brueghel en
Italie, qui lui fit peut-être traverser la France, du moins
nous en est-il resté bien mieux encore : ses premiers dessins connus. Que l’on
ne se méprenne pas sur ce mot de dessins, ce ne sont nullement des croquis. Non
seulement les dessins très complets qui jalonnent toute sa carrière furent
presque tous destinés à être fidèlement
reproduits par la gravure, mais encore à partir de ses premiers dessins, datés
de 1552 et 1553, faudra-t-il attendre jusqu’à 1559 pour voir apparaître sa première
œuvre peinte. Sans que l’on puisse conclure qu’il n’avait rien peint avant cette
date, il n’en est pas moins évident que le dessin, tel qu’il l’entendait, lui
était un moyen d’expression suffisant
et complet. Revenu d’Italie en 1554, c’est de nouveau à Anvers qu’il se fixe et travaille pour Jérôme Cock, ancien peintre,
établi, avec son frère Mathys, éditeur et marchand d’estampes, à l’enseigne des
‘Quatre Vents’. ... »
« Mort en 1569, Peter Brueghel fut, après Jérôme Bosch, mort en 1516... la
grande figure du XVI e siècle flamand, solidement et clairement situé entre le
siècle des Van Eyck, Van der Weyden, Memling, se prolongeant en Quenti Metsys et le siècle de Rubens et des Baroques
» (Jacques Busse).
SUPERBE SUITE DE TOUTE
RARETÉ AVEC DE SI BELLES MARGES.
47. [RAPHAËL]. REIFFENBERG, baron de / MEULEMEESTER, Joseph-Charles. Les
Loges de Raphaël.
Collection complète des 52 tableaux peints à fresque qui ornent les voûtes du
Vatican et représentent des sujets de la Bible, dessinés à l’aquarelle et
gravés en taille-douce par J.-C. de Meulemeester... et accompagnés d’un texte
par le baron de Reiffenberg. Bruxelles, Arnold Lacrosse, 1845.
Por cá, a In-Libris compôs mais
uma das suas excelentes montras temáticas, desta vez virada
para os periódicos – Notável lote de publicações periódicas do séc XIX e XX.
A este propósito pode ler-se na sua introdução:
Publicações
periódicas
Elaboradas sob a égide do efémero —
são notícias, divulgação literária ou científica, ideários políticos,
caricaturas, modas, etc., que retratam o momento circunstancial — quando hoje nos chegam às mãos, graças ao empenho
de alguns coleccionadores, elas transformam-se em fonte inquestionável de
conhecimento. Muito mais do que o relato de uma época, elas são elementos
fundamentais para o estudo transdisciplinar, do legado que representam.
Peças raras, algumas únicas,
independentemente do número de exemplares que cada publicação possa ter tido,
uma vez que, ao contrário de um livro, foram concebidas para serem descartáveis
e com “vida útil” efémera o que fomenta a sua raridade, especialmente quando
completas, como é o caso deste conjunto.
Do conjunto, que em minha opinião constitui um excelentete repositório
de exemplares para um bom começo do estudo desta temática tão fascinante, deixo
estes três exemplos (que obviamente não dispensa a leitura de todos os lotes):
8493. MACEDO (José Agostinho
de).— O ESCUDO. Jornal de Instrucção Politica. (Lisboa. Na Impressão
Liberal. 1823). 5 números. 14,5x20,5 cm. E.
“Quando aos olhos do homem Filosofo se offerece o grande quadro do
seculo 19, por toda a parte sente, contempla, e admira huma tendencia universal
ao desenvolvimento daquellas luzes, que só pódem pela reforma, e melhoramento
das instituições sociaes, constituir o ser humano naquelle gráo de felicidade
que he compativel com a imperfeição da natureza, e predominio das paixões,
propensões, e interesses do mesmo homem.(...) Eis aqui o que o Povo português
não tem encontrado nos outros Periodicos. Revelações afrontosissimas de
defeitos alheios; detracção continua dos actos mais sagrados do Governo,
instigações directas, e indirectas para a imoralidade, vehiculos de
rivalidades, odios, vinganças particulares, indiferentismo para com a Religião
huma das mais solidas Bazes da Constituição Politica, longe de darem uma idéa
desta Constituição, não fizerão mais do que promover o descontentamento, e
lançar os animos em huma torpe apathia. Mas agora, (eu o espero), meditando
toda a Nação sobre estes pensamentos, dirá: não era isto o que até hoje se nos
disse, temos uma idéa clara do nosso melhoramento, nós o queremos (...). As
noticias verdadeiras (quando as houver, e se me comunicarem) servirão como
apendix a este escrito, fazendo sempre sobre ellas, quanto em mim couber,
aquellas reflexões que ajudem o conhecimeto publico, e com que se desterrem
falços terrores, quimeras esperanças, e frivolos pretextos de anarchismo, e de
insobordinação(...)”.
Interessante publicação saída três anos após a Revolução Liberal no
Porto, onde o autor defende o constitucionalismo.
Publicação que consta de 5 números e de 2 suplementos. De muito raro
aparecimento no mercado.
Encadernação em inteira de pele. Exemplar em excelente estado de
conservação.
8508. GERMINAL. Directores:
J. Gonçalves e A. Basto. Secretario da redacção: Gonçalves Dias. Porto.
1901-1902. 17,5x25,5 cm. 12 números Enc. em I.
Publicada no Porto de 1 de Julho de 1901 a Julho de 1902, apresenta
excelente colaboração: António Patrício, Teixeira de Pascoaes, Guerra
Junqueiro, António Maria Eusébio, Manuel Laranjeira, José Agostinho, Lopes de
Oliveira — que faz uma avaliação a Camilo Castelo Branco —, Amadeu
Cunha,António Carvalhal, António Correia de Oliveira, Bernardo de Passos,
Campos Monteiro, João Grave, Joaquim Leitão, Júlio Brandão, Lopes de Oliveira,
Rodrigo Solano, Urbano de Castro entre muitos outros.
O número 10 é quase todo ele dedicado a António Nobre. De destacar
igualmente o desenho de Cristiano de Carvalho retratando Almeida Garrett.
De muito raro aparecimento no mercado. Sendo relevante para qualquer
colecção camiliana.
Encadernação com lombada e cantos em pele. Excelente estado de
conservação. Apenas levemente aparado à cabeça.
7428-B. A PARODIA.
Caricaturas de Raphael Bordallo Pinheiro e M. Gustavo Bordallo Pinheiro.
Editor: Candido Chaves. Typographia e lytographia da Companhia Nacional
Editora. Lisboa. 1900-1907. 5 vols. 26,5x36 cm. com 155 números E.
“Os portuguezes são essencialmente conservadores. Por muito que esta
opinião possa surprehender o nosso collega Magalhães Lima, não é menos certo
que se nós mudamos com frequencia de fato, nos recusamos obstinadamente a mudar
de idéas, o que faz com que em Portugal a fortuna sorria mais aos alfayates
como o sr. Amieiro do que aos envangelistas como o sr. Teophilo Braga. Se somos
inquestionavelmente um paiz de janotas, estamos longe de ser um paiz de
reformadores. Assim, o nosso primeiro embaraço ao emprehender esta publicação é
familiarisar o publico com a idéia de que já não se chama o António Maria o
jornal que tem agora na mão, por que o publico, conservador e rotineiro,
quereria ver perpetuado no tempo e na galhofa, aquelle titulo que ficou
pertencendo a uma epocha que desappareceu e que por isso fez o seu tempo (...).
A Parodia é outra coisa, como o tempo é outro. (...) A Parodia — dixemol-o sem
receio de ser immodestos — somos nós todos. A Parodia é a caricatura ao serviço
da grande tristeza publica. É a Dança da Bica no cemiterio dos Prazeres...”
É a mais célebre e popular publicação satírica portuguesa, publicação
onde Rafael Bordalo Pinheiro deixou milhares de admiráveis ilustrações e
caricaturas retratando a vida política e social da época, nomeadamente na série
zoomórfica, que surge logo no n.º1 com "A Grande Porca - a Política",
seguindo-se depois "O Grande Cão - as Finanças"; “A Galinha Choca - a
Economia"; "O Grande Papagaio - a retórica parlamentar"; "A
Grande Toupeira - a reacção"...
Colaboração de nomes da
caricatura tais como: Celso Hermínio, Jorge Cid, Manuel Monterroso, Vale e
Sousa, Alonso, etc.
A Paródia, publicada de 1900 a 1907, atravessa diferentes séries: 1.ª
Série de 17/1/1900 a 31/12/1902; a 2.ª Série de 11/1/1903 a 10/2/1905 é uma
fusão com a Comédia Portuguesa. Esta série termina com a morte de Raphael
Bordalo Pinheiro, seu director; a 3.ª série, de 23/2/1905 a 1/6/1907, tem como
director Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro e conta com a colaboração de Alfredo
Cândido, Saavedra Machado, João Valério, Manuel Monterroso.
Muito raro quando, como o presente exemplar, se encontra completo.
Encadernação em tecido. Pequenos restauros de sustentação de papel no
primeiro número.
Aqui ficam estes dois convites para leitura, que embora sobre temas bem diversos abarcam um conjunto de obras de estudo e de coleccionismo apaixonantes.
Claro que se poderá colocar esta questão para alguns: “Vou de férias
ou compro um livrito?” – bem delicada como sempre.
Boas leituras e votos de boas férias.
Saudações bibliófilas.
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