"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Biblioteca do Convento de Mafra


Palácio Nacional de Mafra, vista panorâmica

Como já referi, nesta pequena viagem por alguns dos “locais de culto” da bibliofilia portuguesa em que “visitámos” algumas das Bibliotecas Públicas mais conhecidas e com espólio mais valioso para os estudiosos (não esquecendo que muitas outras existem com acervos de inegável qualidade e rareza mas como é evidente não nos cabe, e seria por de mais fastidioso, fazer todas estas descrições) e a famosa Livraria «Lello & Irmão» no Porto, vamos hoje “espreitar” a Biblioteca do Convento de Mafra e a propósito tecer algumas considerações à margem, pois o seu principal obreiro – o rei D. João V – também o foi da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra.

O Palácio Nacional de Mafra localiza-se no concelho de Mafra, a cerca de 25 quilómetros de Lisboa. Trata-se de um palácio e mosteiro monumental em estilo barroco. Foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e uma das Sete Maravilhas de Portugal a 7 de Julho de 2007.

Há quem defenda que a obra se construiu por causa de uma promessa feita relativa a uma doença de que o rei padecia ou pelo facto da rainha D. Maria Ana de Áustria lhe ter dado descendência (esta a hipótese mais defendida).


D. João V, Rei de Portugal

D. João V nasceu em Lisboa a 22 de Outubro de 1689 e aqui faleceu a 31 de Julho de 1750, foi Rei de Portugal desde 1 de Janeiro de 1707 até à sua morte.

Alexandre Herculano disse de D. João V: «O nosso primeiro rei do século XVIII pôde emular Luís XIV em fasto e magnificência. Há, porém diferença entre os dois monarcas: Luís XIV, mais guerreador que guerreiro, malbaratou o sangue dos seus súbditos em conquistas estéreis, enquanto D. João V, mais pacífico que tímido, comprou sempre, sem olhar ao preço, a paz externa dos seus naturais.».

A.H. de Oliveira Marques diz de D. João V na sua «História de Portugal»: « O reinado do Magnânimo ficou famoso pela tendência do monarca em copiar Luís XIV e a corte francesa. O ouro do Brasil deu ao soberano e à maioria dos nobres a possibilidade de ostentarem opulência como nunca anteriormente.
Por toda a parte se construíram igrejas, capelas, palácios e mansões em quantidade. Em Mafra, perto de Lisboa, um enorme Mosteiro exibiu a magnificência real. D. João V ocupou-se igualmente das artes e das letras, despendendo vastas somas na aquisição de livros e na construção de bibliotecas.
Como em tantas cortes do século XVIII, a depravação moral ocupou lugar preponderante. O rei - e com ele muitos nobres - gerou filhos em freiras de diversos conventos, muitos dos quais se converteram em centros de prazer e numa espécie de lupanares reservados à aristocracia.»


Veríssimo Serrão na «História de Portugal» volume V página 234 diz que «era senhor de uma vasta cultura, bebida na infância com os padres Francisco da Cruz, João Seco e Luís Gonzaga, todos da Companhia de Jesus. Falava línguas, conhecia os autores clássicos e modernos, tinha boa cultura literária e científica e amava a música. Para a sua educação teria contribuído a própria mãe, que o educou e aos irmãos nas práticas religiosas e no pendor literário.» E a seguir: «Logo na cerimónia da aclamação se viu o pendor régio para a magnificência. Era novo o cerimonial e de molde a envolver a figura de Dom João V no halo de veneração com que o absolutismo cobria as realezas.»

Assim com o nascimento da princesa D. Maria Bárbara o monarca determinou o cumprimento da referida promessa, pelo que a sua construção foi iniciada a 17 de Novembro de 1717 com um modesto projecto para abrigar 13 frades franciscanos.


D. João V–Peça de Minas (Ouro 916,6) M. 1733

O ouro do Brasil começou a entrar nos cofres portugueses e D. João V e o seu arquitecto, Johann Friedrich Ludwig (Ludovice) (que estudara na Itália), iniciaram planos mais ambiciosos.
Não se pouparam a despesas. A construção empregou 52 mil trabalhadores e o projecto final acabou por abrigar 330 frades, um palácio real, umas das mais belas bibliotecas da Europa, decorada com mármores preciosos, madeiras exóticas e incontáveis obras de arte. A magnifica basílica foi consagrada no 41.º aniversário do rei, em 22 de Outubro de 1730, com festividades de oito dias.

Entre 1771 e 1791, por breve de Clemente XIV, de 4 de Julho de 1770, a requerimento do Marquês de Pombal, foi ocupado pelos Cónegos Regulares de Santo Agostinho da Congregação de Santa Cruz de Coimbra; os Franciscanos da Província da Arrábida saíram do Convento de Mafra, em Maio de 1771. Em 1791, os Cónegos Regulares de Santo Agostinho saíram do edifício de Mafra.

Em 1834, no âmbito da "Reforma Geral Eclesiástica" empreendida pelo ministro e secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 28 de Maio, promulgado a 30 desse mês, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.


Palácio Nacional de Mafra – Litografia de 1853

O palácio era popular para os membros da família real, que gostavam de caçar na Tapada. As melhores mobílias e obras de arte foram levadas para o Brasil, para onde partiu a família real quando das invasões francesas, em 1808.
Durante os últimos reinados da Dinastia de Bragança, o Palácio foi utilizado como residência de caça e dele saiu também em 5 de Outubro de 1910 o último rei D. Manuel II para a praia da Ericeira, onde o seu iate real o conduziu para o exílio em Inglaterra.

O Palácio possui ainda dois carrilhões, mandados fabricar em Antuérpia por D. João V, com um total de 92 sinos que pesam mais de 200 toneladas e são considerados os maiores e melhores do mundo.


Biblioteca do Convento de Mafra

O maior tesouro de Mafra é a sua biblioteca, situada ao fundo do segundo piso, rivalizando em grandiosidade com a Biblioteca da Abadia de Melk, na Áustria. Construída por Manuel Caetano de Sousa, tem 83 m de comprimento, 9.5 m de largura e 13 m de altura.

Juntamente com a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra é o maior exemplo deste tipo de arquitectura e possui igualmente um espólio valiosíssimo.
Tem mais de 36 mil obras espalhadas pelas estantes, feitas de madeira exótica vinda do Brasil, que contempla todos os ramos do saber e que se estendem ao longo de 83 metros de comprimento.

Impressiona a dimensão destas salas iluminadas pela luz natural que entra a jorros pelas enormes janelas, da autoria de Manuel Caetano de Sousa em estilo "rocaille".

O magnífico pavimento é revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira estilo rococó, situadas em duas filas laterais, separadas por um varandim contêm milhares de volumes encadernados em couro, testemunhando a extensão do conhecimento ocidental dos séculos XIV ao XIX. Entre eles muitas jóias bibliográficas, como incunábulos.

A biblioteca do Convento de Mafra é uma biblioteca conventual exactamente como era e revela um espólio riquíssimo e muito vasto, pelo facto de nunca ter sido deslocada, nem quando da extinção das ordens religiosas em 1834, e reunir a biblioteca do convento e a das escolas, instituídas por decreto de D. João V em 1733, três anos depois da sagração da basílica
É curioso que os livros que a Inquisição proibia e colocava no Index [lista de livros proscritos] integravam as bibliotecas dos seus conventos


Biblioteca do Convento de Mafra

A biblioteca tem planta em cruz, dispondo na parte mais a sul os livros religiosos.
No centro encontramos os livros relativamente aos quais a inquisição levantava algumas reservas, da filosofia à anatomia, sem esquecer entre os quais se encontra o «Auto da Barca do Inferno» de Gil Vicente.
Na parte a norte, perto da entrada, estão os livros de arquitectura, direito, medicina e música.
manuscritos religiosos ainda em pergaminho e uma primeira edição dos «Lusíadas», impressa em 1572.

Estes volumes magníficos foram encadernados na oficina local, também por Manuel Caetano de Sousa.

Os livros são conservados com a inesperada ajuda de morcegos que vivem na biblioteca e que se alimentam de insectos nocivos.

Como nota marginal, mas que me parece ter total cabimento neste meu modesto apontamento, quero fazer referência ao livro de José Saramago «Memorial do Convento» editado em 1982, pela sua riqueza histórico/ficcionista naquilo que rodeou a construção deste Palácio com todo um enquadramento socio-político, que torna este romance, em minha opinião, um dos mais conseguidos deste autor.


«Memorial do Convento»

A história de «Memorial do Convento», evoca a História Portuguesa no reinado de D. João V, no séc. XVIII procurando uma ponte com as situações políticas dos meados do séc. XX (época ditatorial do Estado Novo/Salazar).

Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Oficio, fazem aumentar o numero de vitimas nos “autos de fé”, que tanto eram cristãos novos como aqueles que eram considerados hereges aos quais estavam sempre ou tentavam sempre que "tivessem ligações com prática de bruxaria".

O «Memorial do Convento» caracteriza uma época de excessos e de diferenças sociais. Este livro é uma narrativa histórica que ultrapassa personagens e acontecimentos verídicos, com seres concebidos pela ficção.
Para além do romance histórico este livro oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no inicio do séc. XVIII.

É por isso um romance social que segue a linha do neo-realismo, preocupando-se com a realidade social e, é também, um romance de intervenção, que visa denunciar a situação política que se vivia em Portugal não só no séc. XVIII como também hoje em dia (na perspectiva política do autor) em que o povo vive reprimido. É um romance de espaço/tempo/época.

Representa uma época histórica entre Lisboa e Mafra sendo estes dois locais os principais espaços onde decorre a acção deste livro.
Todo esta trama de espaços em que se movimentam as personagens e onde se passa a acção do livro permite-nos conhecer melhor o ser humano.

Saudações bibliófilas

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Livraria Lello & Irmão


Livraria Lello & Irmão - Porto – Fachada Exterior

Lamberto Palmart referiu, ontem no seu comentário sempre perspicaz e pleno de conhecimentos, de quem “anda nesta coisa dos livros” há tanto tempo, a Livraria Lello & Irmão do Porto.

Julgo ser justo fazer uma referência a esta livraria, ex-libris da Cidade Invicta, descrita por Enrique Vila-Matas como "A mais bonita livraria do mundo", e, que em 2008, foi considerada a terceira mais bela livraria do mundo pelo jornal inglês «The Guardian».

A Livraria Lello surgiu em Outubro de 1930, no Porto, quando foi mudada a designação da Livraria Internacional Chardron, que havia sido fundada em 1869 pelo francês Ernesto Chardron, na Rua dos Clérigos.

Chardron foi também editor de alguns dos mais afamados escritores da época como, por exemplo, Eça de Queirós. Faleceu ainda novo com 45 anos.


Eça de Queirós (1845-1900)
«Os Maias»
Porto, Livraria Inrernacional de Chardron, 1888.
2 Volumes. 1ª edição
(à venda em «d'outro tempo»)

A Livraria Internacional foi comprada pela Lugan & Genelioux Sucessores. A 30 de Junho de 1894, já após a morte de Genelioux, Mathieux Lugan vendeu a Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello, que tinha por associado um irmão. Até aos dias de hoje, a livraria esteve sempre na posse da família Lello.


Livraria Lello & Irmão – Interior

A 13 de Janeiro de 1906 foi inaugurado, na Rua das Carmelitas, o edifício, internacionalmente famoso, que ainda hoje alberga a Livraria Lello.

No dia da inauguração do edifício, acontecimento bastante badalado quer em Portugal como no Brasil, marcaram presença personalidades das artes, do ensino, do comércio e da política, como Guerra Junqueiro, Abel Botelho, Bento Carqueja, António Arroio, Júlio Brandão, José Leite de Vasconcelos, entre outros.


Livraria Lello & Irmão – Interior

Este edifício, em estilo neogótico, com escadaria de madeira trabalhada, uma fachada com um arco amplo e uma janela tripla, tornou-se um ex-líbris da cidade do Porto. Na fachada há duas figuras pintadas, da autoria de José Bielman, uma representando a Arte e a outra a Ciência. No interior há uma sala grande onde está a já referida escadaria que dá acesso ao primeiro piso, onde também existe um café com mesas para os leitores. O espaço da livraria está decorado com pilares com bustos de Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro, assinados por Romão Júnior. Há ainda um vitral com o símbolo da Lello & Irmãos com a divisa "Vecus in Labore". O edifício foi desenhado pelo engenheiro Xavier Esteves e veio ser classificado como património nacional.


Livraria Lello & Irmão – Interior

Em finais de 1994, a livraria, entretanto renomeada Lello & Irmão, foi restaurada, respeitando a traça original, interior e exterior, passando por uma grande modernização para adaptar o espaço às necessidades da época. A Livraria Lello passou a ter um fundo bibliográfico de 60 mil títulos, um ficheiro informático nacional e internacional, uma secção de revistas, uma de música e uma de livros antigos. Foi também criada uma galeria de arte permanente.

Saudações bibliófilas

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra


Já que estamos a falar de Bibliotecas públicas não quero deixar de referir talvez a mais bela e conhecida Biblioteca de Portugal – a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra.

Coimbra

A Biblioteca Joanina, também chamada, noutros tempos Casa da Livraria, é uma biblioteca do século XVIII situada nas dependências da Universidade de Coimbra, no pátio da Faculdade de Direito desta Universidade.

Construída num estilo marcadamente rococó, é reconhecida com uma das mais originais e belas bibliotecas barrocas europeias.

Além de ser um local de pesquisa privilegiado para muitos estudiosos, o espaço é ainda frequentemente utilizado para concertos, exposições e outras manifestações culturais.


Fachada exterior da Biblioteca

A sua construção, no seguimento do projecto régio de reforma dos estudos universitários (consequência da difusão das correntes iluministas em Portugal), começou no ano de 1717, no exterior do primitivo perímetro islâmico, sobre o antigo cárcere do Paço Real.
Tinha por objectivo albergar a biblioteca universitária de Coimbra e foi concluída em 1728.

O mestre de obras foi João Carvalho Ferreira. A decoração pintada só foi realizada alguns anos mais tarde, já nas vésperas da Reforma Pombalina: os frescos dos tectos e cimalhas foram executados por António Simões Ribeiro, pintor, e Vicente Nunes, dourador. O grande retrato do Rei é atribuído ao italiano Domenico Duprà e a pintura e douradura das estantes foi realizada por Manuel da Silva. O mobiliário, em madeiras exóticas, brasileiras e orientais, foi executado pelo entalhador Francesco Gualdini.

Exteriormente de estrutura paralelepipédica, salienta-se o portal nobre, de estilo barroco, encimado por um grande escudo nacional de D. João V.


Pormenor do interior da Biblioteca Joanina

Interiormente compõe-se de três salas que comunicam entre si através de arcos idênticos ao portal e integralmente revestidos de estantes, decorados a motivos chineses (na primeira sala em contraste ouro sobre fundo verde, na segunda, ouro sobre fundo vermelho e na última ouro sobre fundo negro).

Toda a sua arquitectura envolve um retrato de D. João V que, colocado na parede do topo do edifício, na última sala.


Retrato de D. João V na Biblioteca

A Biblioteca Joanina reúne cerca de 70 mil volumes, a maior parte dos quais no andar nobre, o único, dos três pisos do edifício, aberto ao público. Aí se conservam os principais fundos de Livro Antigo (documentos até 1800) da Universidade.

Os seus cerca de 1250 m2 úteis actuais foram obtidos com o arranjo de dois níveis de caves, para depósito e salas de trabalho.

Saudações bibliófilas


O professor Carlos Fiolhais, director da Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra, convida os internautas a conhecer esta biblioteca, e os seus tesouros, num vídeo da BBC – Brasil Multimedia:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/multimedia/2009/02/090226_coimbra_video.shtml

No site da “Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra” pode fazer-se uma visita virtual:
http://bibliotecajoanina.uc.pt/o_edificio/visita_virtual


Bibliografia:

TORGAL, Dr. Luís Reis - «A Universidade de Coimbra», Coimbra, Universidade de Coimbra, s.d. (edição em português, francês, inglês e alemão) Encadernação editorial com sobrecapa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro


A propósito de um comentário que fiz ao meu amigo Marco Fabrizio, onde referia o interesse e o estudo que os brasileiros dedicam ao livro impresso em Portugal bem como à história das suas impressões deixo aqui uma informação sobre a Biblioteca Nacional do Brasil, que poderá explicar em parte esse mesmo interesse.
Outros factos podem, e devem, ser equacionados, mas esses deixo para uma discussão posterior se ninguém se quiser pronunciar sobre eles ...
Que me desculpem os leitores brasileiros por, ao trazer a público uma das suas preciosidades culturais tão bem conhecida, cometer algum erro de informação.


A Biblioteca Nacional, também chamada de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, é a depositária do património bibliográfico e documental do Brasil, considerada pela UNESCO como a oitava biblioteca nacional do mundo e, também, é a maior biblioteca de língua portuguesa e da América Latina.

A história da Biblioteca Nacional inicia-se antes de sua fundação propriamente dita, pois em 1 de Novembro de 1755, Lisboa sofreu um violento terremoto, que marcou a sua história, e que deu origem a um grande incêndio que atingiu, entre outros edifícios, o da Real Biblioteca, também conhecida como Real Livraria, considerada uma das mais importantes bibliotecas da Europa, àquela época. A esta perda quase irreparável para os portugueses seguiu-se um movimento para sua recomposição, que foi prevista entre as tarefas principais e mais urgentes para reconstruir Lisboa após o incidente de 1755.

Para levar a cabo essa missão, o rei D. José I de Portugal e o ministro Marquês de Pombal empenharam-se em juntar o pouco que sobrara da Real Livraria e a organizar, no Palácio da Ajuda, uma nova biblioteca, que se tornou importante pela composição de seu acervo que, em 1807 reunia cerca de sessenta mil peças, entre livros, manuscritos, incunábulos, gravuras, mapas, moedas e medalhas.

Este acervo foi aquele trazido ao Brasil após a vinda da família real em 1808, em consequência da invasão de Portugal pelas tropas francesas comandadas por Junot.

O acervo, na mudança para o Rio de Janeiro, foi trazido em três etapas, sendo a primeira em 1810 e as outras duas em 1811. A biblioteca foi acomodada, inicialmente, nas salas do andar superior do Hospital da Ordem Terceira do Carmo (de acordo com o Alvará de 27 de julho de 1810), localizado na antiga rua de trás do Carmo, actual rua do Carmo, próximo ao Paço Imperial. As instalações, no entanto, foram consideradas inadequadas e poderiam por em risco tão valioso acervo assim, em 29 de Outubro de 1810, data que ficou atribuída à fundação oficial da Biblioteca Nacional, o príncipe regente editou um decreto que determinava que, no lugar que havia servido de catacumbas aos religiosos do Carmo, se erigisse e acomodasse a "minha Real Biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Real Fazenda toda a despesa conducente ao arranjamento e manutenção do referido estabelecimento".


Vista aérea da Biblioteca

As obras para nova edificação da Biblioteca só terminaram em 1813, quando foi transferido o acervo. Enquanto se efectuava o processo de instalação dos livros, que se iniciou em 1810, a consulta ao acervo da Biblioteca já podia ser realizada por estudiosos, mediante consentimento régio e, em 1814, após o término da organização do acervo, a consulta foi franqueada ao público.

Oficialmente estabelecida, a Biblioteca continuou a ter o seu acervo ampliado de maneira significativa, através de compras, doações, principalmente, e de "propinas", ou seja, pela entrega obrigatória de um exemplar de todo material impresso nas oficinas tipográficas de Portugal (Alvará de 12 de Setembro de 1805) e na Impressão Régia, instalada no Rio de Janeiro.
Essa legislação relativa às propinas foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos e culminou no Decreto n.º 1.825, de 20 de Dezembro de 1907, chamado vulgarmente Decreto de Depósito Legal, ainda em vigor.

Com a morte de D.ª Maria I, em Março de 1816, teve início o reinado de D. João VI, que permaneceu no Brasil até 1821, quando circunstâncias políticas o fizeram retornar a Lisboa com a Família Real, à excepção de seu filho primogénito. Aqui também permaneceu a Real Biblioteca. Nessa época ela já crescera muito e, após a Independência, em 1822, passou a ser propriedade do Império do Brasil, pois sua compra consta da Convenção Adicional ao Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal, em 29 de Agosto de 1825. Pelos bens deixados no Brasil a Família Real foi indemnizada em dois milhões de libras esterlinas, desse valor, oitocentos contos de réis destinavam-se ao pagamento da Real Biblioteca, que passou, então, a chamar-se Biblioteca Imperial e Pública da Corte.

Em 1858, a Biblioteca foi transferida para a rua do Passeio, número 60, no Largo da Lapa, e instalada no prédio que tinha por finalidade abrigar de forma melhor o seu acervo. (Actualmente, com algumas modificações, esse edifício abriga a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Como seu acervo continuava a ampliar-se com as doações, aquisições e através de contribuição legal, compra de colecções de obras raras em leilões e em centros livreiros de todo o mundo, em breve tornou-se necessária a sua mudança para outro edifício, mais adequado às suas necessidades presentes.

Escadaria interior

O crescimento constante e permanente do seu acervo foi fundamental para a realização deste projecto de construção de uma nova sede que atendesse a todas as necessidades da biblioteca, para poder acomodar de forma adequada as suas colecções.
Com base neste pressuposto, foi projectado o seu actual edifício, que teve a sua primeira pedra lançada em 15 de Agosto de 1905, durante o governo de Rodrigues Alves. A inauguração realizou-se em 29 de Outubro de 1910, durante o governo Nilo Peçanha.

O edifício da Biblioteca Nacional, cujo projecto é assinado pelo engenheiro Sousa Aguiar, tem um estilo ecléctico, no qual se misturam elementos neoclássicos e "art nouveau", e contém ornamentos de artistas como Eliseu Visconti, Henrique e Rodolfo Bernardelli, Modesto Brocos e Rodolfo Amoedo. Fica situado na Avenida Rio Branco, número 219, praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, e compondo com o Museu Nacional de Belas Artes e o Teatro Municipal um conjunto arquitectónico e cultural de grande valor.


Em 23.05.2007 foi publicado no «PORTUGAL DIGITAL» um artigo sobre o riquíssimo acervo da Biblioteca Nacional Brasileira, no Rio de Janeiro, o qual deixo aqui, na sua integra, para leitura:

“Brasília - A Fundação Biblioteca Nacional (BN) é uma das mais antigas instituições públicas brasileiras. Foi instalada oficialmente no Rio de Janeiro em 1810, a partir do acervo da Real Biblioteca de Portugal, trazido pela corte do príncipe regente Dom João, em 1808. É hoje a maior fonte de pesquisa em livros, jornais e periódicos do país e tem a função de ser a depositária da memória bibliográfica e documental do Brasil.

Toda obra publicada no país precisa ter pelo menos um exemplar arquivado na BN. Com um património superior a 9 milhões de itens foi considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como a 8ª maior biblioteca do mundo.

Instalada em um imponente prédio estilo ecléctico (onde se misturam elementos neoclássicos), na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, abriga verdadeiras raridades da literatura. Obras impressas nos primórdios da invenção da imprensa, como a Bíblia Mongúncia (Bíblia Latina), publicada por Gutenberg e seus sócios, em 1462, é considerada pela chefe da Divisão de Obras Raras (Diora), a bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, como uma das peças mais raras da divisão. Existem apenas outros 60 exemplares conhecidos desta bíblia em todo o mundo.

Há na Biblioteca Nacional obras ainda mais antigas, escritas a mão sobre pergaminho, como O Livro dos Evangelhos, do século XI, escrito em grego e considerado o livro mais antigo na América Latina. O conjunto de obras impressas mais antigas datam do século XV, são os 'incunábulos', livros publicados nos primeiros 50 anos da invenção da tipografia por Gutenberg, e publicados até o ano de 1500.

A maior parte deles está depositada na Diora, onde podem ser consultados por pesquisadores especializados. “A Biblioteca não estimula visitas às colecções especiais (Obras Raras, Manuscritos, Cartografia, Iconografia e Música). Recebe o pesquisador que tem interesses de pesquisa bem definidos e que traga carta de apresentação assinada pela instituição onde desenvolve a pesquisa ou de próprio punho, a título de declaração de idoneidade para consulta a acervo tão precioso”, informou Ana Virgínia.

Obras raras

A Divisão de Obras Raras guarda livros publicados entre os séculos XV e XVII e tem a missão de salvaguardar o acervo precioso da Biblioteca Nacional. Calcula-se que existam hoje mais de 70 mil obras na secção, em dois quilómetros de prateleiras. Na apreciação do acervo realizada em 1946, foram identificados 18 mil volumes na Diora. Os livros, alguns em pergaminho, são escritos em grego, latim, árabe, hebraico e línguas arcaicas ou mortas.

O acesso restrito ao acervo da Diora se explica pela necessidade de proteger e preservar documentos únicos, datados, alguns deles, antes mesmo do descobrimento do Brasil. Os estudos são feitos através de microfilmes e material digitalizado, na falta destes, a consulta é directo no original.

O Depósito Legal é a principal fonte de captação de obras para a BN, mas as peças mais antigas e de grande valor histórico foram obtidas por meio de doações. A maior delas foi a colecção Dona Tereza Cristina Maria doada pelo imperador Dom Pedro II, quando estava no exílio em Portugal, em 1891. São mais de 48 mil peças, entre livros, manuscritos, partituras, gravuras, desenhos, fotografias e mapas. As colecções doadas à BN são privilegiados instrumentos de pesquisa sobre a história do Brasil.

Colecções

Na colecção Barbosa Machado é possível encontrar folhetos raros sobre as relações entre Brasil e Portugal, no período da colónia.

A colecção De Angelis é uma grande fonte de informação sobre a Província Jesuíta do Paraguai e sobre os limites dos países na região do Prata.

A colecção Salvador de Mendonça destaca-se como o conjunto de material referente ao domínio holandês no país, com peças impressas no século XVII.

Na colecção José António Marques formada por livros e manuscritos da época colonial estão incluídos 323 volumes de obras de Luís de Camões, entre elas a primeira edição de “Os Lusíadas”, de 1584, considerada raríssima.

A colecção Wallenstein possui um importante acervo sobre a história económica, política e social do Brasil do século XIX, sobretudo no período da Regência.

A colecção Casa dos Contos contém documentos sobre a administração de Minas no Brasil do século XVIII e XIX, com material para estudo sobre a história da mineração, quintos, contrabando de ouro e diamantes, bandeiras e a inconfidência mineira.

A colecção Alexandre Rodrigues Ferreira possui farta documentação (ilustrada com desenhos aquarelados) sobre a fauna e a flora do país, realizada pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, durante sua expedição pelas capitanias de Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, nos anos de 1783 e 1792. Entre outras.”


Saudações bibliófilas.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

«Anima Vegetalis, Imaginário Botânico do Mosteiro de Tibães»


Proponho hoje uma temática um pouco diferente do habitual.

A edição de um livro pela «in-libris» leva-me a falar-vos de um dos mais importantes, e dos mais belos, mosteiros de Portugal: o Mosteiro de São Martinho de Tibães.

No fim, fica a proposta para uma visita virtual.


Mosteiro de Tibães

No dia 12 de Setembro foi inaugurada uma Exposição fotográfica subordinada ao tema: «Anima Vegetalis, Imaginário Botânico do Mosteiro de Tibães» da autoria de Paulo Gaspar Ferreira, no total de 84 fotografias e de excertos de autoria do Padre Theodoro de Almeida recolhidos da sua obra «Recreação Filosófica ou Diálogo sobre a Filosofia Natural, para instrucção de pessoas curiosas que não frequentárão as aulas», de 1786.


Mosteiro de Tibães
Interior da Igreja

Neste mesmo dia foi apresentado o livro, com o mesmo nome, com um texto de apresentação de Fernando Guimarães.
A publicação que reúne este trabalho constituída por 160 páginas preservadas em estojo próprio feito à mão, em madeira de choupo gravado manualmente a negro na pasta da frente. A tiragem da presente publicação limita-se a 300 exemplares.



O Mosteiro de Tibães ou Mosteiro de São Martinho de Tibães, englobando a Igreja de Tibães e o Cruzeiro de Tibães, situa-se em Mire de Tibães, concelho de Braga e foi fundado no século XI.

A partir do século XII foi ocupado pela congregação Beneditina. No século XVI, tornou-se a casa mãe da ordem para Portugal e Brasil. Os edifícios principais actualmente existentes foram construídos nos séculos XVII e XVIII.

Um dos arquitectos que neles trabalhou foi André Soares.



Com a extinção das ordens religiosas masculinas ocorrida em 1834, é vendido em hasta pública, com excepção da Igreja, Sacristia e Claustro do Cemitério.

Ficou nas mãos de privados até 1986.

Foi classificado como Imóvel de Interesse Público em 1944.

Aqui fica o link para uma visita virtual:


Estou certo de terem apreciado esta “visita”.

Saudações bibliófilas ... e culturais.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

«Librairie Le Feu Follet» – Catalogue Septembre 2009



Para os amantes de literatura francesa, na sua língua original, a “Librairie Le Feu Follet”, de Paris, apresenta o seu catálogo de Livros antigos e modernos para a reentrada de 2009.

A primeira parte é consagrada aos livros antigos: Moncrif, Meares, Platão, Rabelais, Thomassin

A segunda parte propõe mais de 250 referências de edições originais raras, das quais um exemplar de «Paradis artificiels» de Baudelaire, com uma preciosa dedicatória deste para François Buloz, fundador e director da «Revue des Deux Mondes» na qual apareceram, em edição pré-original, 18 poemas de «Fleurs du mal».



Para a consulta do Catálogo, em versão pdf, deixo aqui o link:


Boa consulta e, porque não, dêem uma espreitada pelo acervo desta Livraria ... vale a pena!

Saudações bibliófilas

in-libris – Catálogo especial "Saberes da Terra"




Esta Livraria, situada no Porto, apresenta uma selecção, com um bom lote de livros antigos, subordinada ao título "SABERES DA TERRA".
Trata-se de uma selecção temática ligada a áreas como a Agricultura, a Botânica, a Silvicultura, a Etnografia, a Antropologia, Culinária, a História Regional, a Arte Popular, o Artesanato, a Linguística, a Medicina Tradicional, etc.
Deixo aqui o link para consulta:



Destaco um dos livros pelo seu evidente interesse nesta temática:

Agricultura*
DALLA-BELLA (João Antonio) – TRATADO // D’AGRICULTURA //THEORICO-PRATICA// OBBRA DO DR. // JOÃO ANTONIO DALLA-BELLA. Lisboa. Na Impressão Régia. 1805. 13,5x21 cm. 2 vols. 181-II e 203-II págs. E.

“(...) Depois de ter reflectido seriamente, e examinado quanto observárão outros neste ponto, creio ear no caso d’expôr os motivos, ao menos os principaes, que servem de grande impedimento, para melhorar o estado da gente campestre, a qual, cooperando para o bem estar universal das Provincias e dos Reinos, deveria ser considerada como a parte mais nobre do Povo, e como aquelle que fórma força principal dos Estados(...)”.
Tratado que se divide da seguinte forma: Livro I - Parte I Da variedade das Plantas; Parte II - Dos elementos das Plantas; Parte III - Dos adubos; Parte IV - Da preparação dos terrenos com as lavoiras; Livro II - Parte I- Do Trigo; Parte II - Das batatas; Parte III - Do linho.
Tem ainda um indice das cousas notaveis e VI belíssimas gravuras em chapa de cobre impressas em folha desdobrável.
Encadernação antiga com lombada em pele.




Espero que gostem da sua leitura.

Saudações bibliófilas

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Um manuscrito árabe



Na sequência dos artigos anteriores, e para ilustrar a produção islâmica, apresento um manuscrito de um texto importante sobre a ciência da tradição profética árabe. Trata-se de «Al-Khulasa fi Usul Ma`rifat `Ilm al-Hadith» por Abu Muhammad al-Husayn b. `Abdallah b. Muhammad al-Tibi.





Escrito, no estilo nasta (1), sobre papel oriental indígena, com 34 ff. não numeradas, 21 linhas por página, 24,8x17 cm, encadernação moderna em pele verde escuro, no estilo árabe, com gravações nas pastas a seco.


O trabalho foi compilado principalmente com base nas obras de Ibn al-Salah, al-Nawawi e Badr al-Din Ibn Gama'a.


O manuscrito tem diversas variantes do título: « Al-Khulasa fi Ma`rifat `Ilm al-Hadith » (f. 1b), no colófon (f. 34b) tornou-se ainda mais curto o título: «Al-Khulasa fi `Ilm al-Hadith», e na página de título (f. 1a) é chamado «Al-Khulasa fi Usul al-Hadith».


O texto foi editado por Subhi al-Badri al-Samarra'i em Bagdade em 1423/2002, mas para esta edição não foi utilizado o manuscrito presente. Subhi al-Badri al-Samarra'i, usou para sua edição três manuscritos: um anterior a 771 (1369-1370), Istambul, Aya Sofia n. 435; um outro datado de 821 (1418), Cairo, National Library No. 239; e finalmente um de 1137 (1724-1725), Cairo, National Library n.º 175


O manuscrito não é datado, mas de acordo com uma nota marginal do colófon, f. 34b, ele foi recopiado de uma cópia em mãos de al-Sayyid al-Sharif, ou seja. Ali b. Muhammad al-Sayyid al-Sharif al-Gurgani (d. 816/1413), GAL G II, 216.



O manuscrito é uma boa impressão antiga podendo-se muito bem datar do século XV.


(1) Sobre os estilos da escrita árabe consulte-se «Caligrafia Árabe» por Mónica Muniz de que deixo aqui o link: http://caligrafiaarabe.no.sapo.pt/

Como leitura para os mais interessados deixo uma bibliografia sumária:

1. “L'art du livre arabe”
2. Al-Andalus. The art of Islamic Spain.
3. Islamic bookbindings. Haldane
4. The Ottoman World. The sepic. E. Attabey collection.
5. Empire of the Sultans Ottoman art from the collection of Nasser d.Khalili.
6. A history of writing.
7. The Alphabet David Diringer.
8. Paper before print The history and impact of paper in the Islamic world. Jonathan M.Bloom.
9. «Manuscripts of the Middle East» revista editada pelo Prof. Jan Just Witkam há cerca de 20 anos. Só foram publicados 6 números, ainda que estes sejam bastante procurados.
10. O Catálogo Smitskamp-Leiden n.º 635 contem bastante informação, assim como o Catalogo, mais antigo, Brill-Leiden n.º 400.

Saudações bibliófilas

sábado, 5 de setembro de 2009

Conversa bibliófila: uma divagação sentimental



Porta-manuscritos indiano (séc. XIX, Rajasthan) feito em papel-mache.
Pintura bonita e delicada. 285x148 mm.
Como habitualmente, neste tipo de objectos, tem na face anterior pintados os 14 sonhos de Trishala
e na face posterior os 8 símbolos da sorte.

Recentemente, tive um problema de saúde, que me obrigou a um curto período de internamento hospitalar e do qual ainda me encontro em fase de convalescença.

Nada melhor do que sentirmos que a vida nos pode escapar por entre os dedos, como grãos de areia, para reflectirmos um pouco sobre o significado dessa mesma vida e das marcas que nela deixámos para a nossa posteridade.
Será que fizemos algo de que nos possamos orgulhar, ou passámos apenas ao lado dela sem que tivéssemos deixado qualquer testemunho da nossa passagem.
É certo, que nestas ocasiões, sentimos sempre o calor humano dos nossos amigos e familiares, que nos visitam, telefonam e se disponibilizam para nos ajudar ... mas se a situação tivesse seguido outro rumo, ao fim de algum tempo, cairíamos no esquecimento – a vida não pode parar! – e aí, por-se-ia de novo a mesma questão: “Que marca deixei da minha passagem?”

Tudo isto, para vos dizer que me orgulho de ter começado a escrever este Blog há cerca de seis meses.
Ao contrário do idealismo “romântico” inicial, vejo-o agora com outros olhos muito mais pragmáticos.
Não pretendo escrever um “best-seller” (aliás nem para isso tenho habilidade) e, para mais, o tema é extremamente árido para a maioria dos cibernautas e, com a agravante, de nem todos os bibliófilos o serem.
Ainda que se encontrem livros de Harry Potter em Catálogos de Livrarias conceituadas isso não significa nada para mim.
O comércio do livro antigo é um negócio como qualquer outro e, para mais, tem nuances e gostos de época, de que os seus intervenientes tem de se saber aproveitar ... o negócio obriga!


Mas, é sempre com alegria e um certo orgulho que vejo, que um pouco por todo o lado, lêem as minhas simples e modesta reflexões e exposições ... é certo que poucos comentam, mas se calhar o erro é meu, pois não digo nada assim de tão importante que se justifique estar a retorquir.

Perdoem-me os outros leitores, mas quero aqui fazer duas referências: “Anita” seguidora quase desde a primeira hora e um leitor anónimo de Álvaro, quase desde a mesma altura igualmente, por ser a terra de origem dos meus familiares paternos ... cheguei a uma das minhas origens!
Também nunca imaginei que António Nobre e o seu livro «Só» fossem tão procurados no Brasil assim como Camilo Castelo Branco.

Curiosamente, tenho aprendido muito com o que tenho publicado – as pesquisas que faço, os contactos que estabeleço, os novos dados que encontro são elementos que enriquecem bastante os meus modestos conhecimentos – mas também pelo que é ou não lido, o que despertou mais interesse assim como com o que recolho dos vossos comentários.

Chamei-lhe «Tertúlia Bibliófila» exactamente para isso, para que cada um se sinta à vontade para deixar aquilo que pensa sem ter o receio que isso melindre alguém ou que denote ignorância – não estamos num clube de sábios, mas sim de pessoas normais que têm em comum um grande amor por livros antigos e pela sua divulgação!

De facto não ensinei nada – nem era esse o meu propósito, pois eu «Só sei que nada sei!» - mas em contrapartida aprendi muito.


Deixo-vos hoje como ilustrativo desta minha reflexão / divagação um porta-manuscritos indiano do século XIX. (Rajasthan) que se insere na divulgação da bibliofilia oriental e do simbolismo que muitas vezes encerra (como é o caso deste objecto).

Espero compartilhar convosco outros documentos e, sobretudo, ideias para que “esta coisa de bibliofilia” seja “tão concreta e definida como outra coisa qualquer” como diz o poeta (A. Gedeão)

Saudações bibliófilas.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

«Livraria Alfarrabista de Miguel de Carvalho»




Deixo aqui uma breve referência às novidades introduzidas, na sua lista mensal, da “livraria virtual” de livros seleccionados, antigos e raros.

No entanto, esta não dispensa uma visita à Livraria ... o que se esconde naquelas prateleiras! ... bem como a sempre agradável troca de opiniões, e uma boa “cavaqueira”, com o seu proprietário.

Fica aqui o link:


Boa “visita” e, já agora, procurem na lista temática, quem sabe se descobrem algo de interessante.

Saudações bibliófilas.

«Bauman Rare Books» - Catálogo de Setembro: "New Acquisitions"




Esta Livraria lançou recentemente, mais um belo Catálogo “New Acquisitions” referente a Setembro.
Deste destaco a colecção em sete volumes, com uma boa encadernação, de «Birds of America» de Audubon (de 1856) com 500 ilustrações de uma rara beleza, a 1ª edição completa dos “Ensaios” de Francis Bacon – «The Essayes or Counsels, Civill and Morall… Newly enlarged». Londres, 1625, e a 1ª edição de «My African Journey» de Winston Churchill com a sua assinatura.


Aqui fica o respectivo link:

http://www.baumanrarebooks.com/catalogues/sept-new-acquisitions.pdf?utm_source=Bauman+Rare+Books+News+and+Announcements&utm_campaign=85a697fa27-More_Summer_New_Acquisitions9_1_2009&utm_medium=email&mc_cid=85a697fa27&mc_eid=d5502950b1

Boa consulta… estou certo de que só as imagens são bastante apetecíveis!

Saudações bibliófilas