Republica Portuguesa
Ler um livro faz-nos frequentemente
recordar factos e personagens que, por vezes, já estão um pouco esquecidos nas
nossas memórias.
Vem isto a propósito de duas
situações que se interligam – um livro que estou as ler e um catálogo que recebi
de uma livraria.
O livro é um estudo sobre a
primeira república portuguesa da autoria de Jaime Nogueira Pinto – Nobre Povo - Os
anos da República.
PINTO, Jaime Nogueira – Nobre
Povo - Os anos da República. (Colaboração de Inês Pinto Basto). Lisboa: Esfera dos Livros, 2010. Colecção
História Divulgativa | Ciência Política. 544 + 32 págs. Livro de capa mole com sobre-capa.
Livro que se lê com bastante
agrado, evidenciando uma pesquisa bem estruturada, que nos traça todo o percurso
da 1ª República desde o 5 de Outubro até ao 28 de Maio.
Claro que como qualquer livro de
história (em especial da história recente) transmite uma interpretação pessoal
dos factos que diverge por vezes da nossa visão dos mesmos, formada tanto no
seu conhecimento directo como de outras leituras já feitas.
Mas, se calhar, escrever história
é estar sujeito a estas mesmas críticas…embora, em minha opinião, este livro
mereça mesmo ser lido, sobretudo por aqueles que se queiram iniciar nesta
temática.
Proclamação da Republica Portuguesa
E a propósito leia-se a sua
sinopse que é bem esclarecedora do seu conteúdo:
Na manhã de 5 de Outubro de
1910, em Lisboa, um movimento revolucionário derrubou a Monarquia e proclamou a
República Democrática. Jaime Nogueira Pinto faz a crónica de um dos tempos mais
agitados, apaixonantes e trágicos da História de Portugal. Um tempo dominado
por líderes fortes, polémicos e carismáticos, como o democrático Afonso Costa
ou o popular Sidónio Pais, e por idealistas determinados, como Machado Santos
ou Paiva Couceiro.
Um tempo de costumes pouco
brandos, mas muito português, animado por uma luta política e ideológica de
razões e convicções fortes, entre livres-pensadores e católicos, republicanos e
monárquicos, moderados e radicais, e marcado por conspirações, «intentonas»,
pronunciamentos militares, golpes de Estado, revoltas e revoluções – com
marinheiros nas ruas, militares na política, povo nas trincheiras, padres
combatentes e civis armados.
1º Aniversário da República Portuguesa
Um tempo entre dois tempos, com
carros de cavalos e automóveis, caciques e sindicalistas, lanças e canhões,
eleições e bombas, conspirações de quartel e de café, mensageiros e telefones,
jornalismo político e fraudes financeiras, «acacianos» e futuristas, «talassas»
e carbonários. 16 anos, 8 presidentes e 45 governos depois, numa manhã de Maio,
um outro movimento revolucionário marchava sobre a capital para lhe pôr fim.
No decurso da leitura encontrei
várias citações de obras de Rocha
Martins, de que já lera alguns textos na minha juventude (como bom
bibliómano que sou…), pelo que me fez reavivar a curiosidade pela sua obra.
Rocha Martins
Francisco José da Rocha Martins,
mais conhecido por Rocha Martins
(Lisboa, 1879 — Sintra, 1952), foi um jornalista, historiador e activista
político português, um dos mais prolíficos escritores da primeira metade do
século XX, publicando uma vasta obra de divulgação histórica. Foi também autor
de um notável conjunto de biografias e ainda de algumas novelas e romances
históricos.
Conselheiro João Franco
Ideologicamente flexível ao longo
da sua vida, identificou-se, nos últimos anos da monarquia, com o Partido Regenerador Liberal de João Franco, tendo, nos anos seguintes oscilado
entre um republicanismo moderado e o monarquismo liberal.
Zé Povinho expulsa João Franco do país. [Postal]
Segundo João Bénard da Costa, “foi o
regicídio que o impeliu de vez para a causa monárquica sem abandonar o seu
culto pela liberdade”. Ainda segundo este autor, foi uma personalidade que,
em 1945, então com sessenta e seis anos, “fazia
as delícias da oposição, como antes fizera a de tantas outras oposições”.
Nos últimos anos da sua vida,
tornou-se um destacado oposicionista do salazarismo, tendo-se celebrizado os
artigos que assinava no jornal A República.
Quem recorda a sua participação na vida política portuguesa da primeira metade
do século XX, cita imediatamente a frase que anunciava as suas intervenções: “fala o Rocha, o Salazar está à brocha”.
Jornalista profissional,
trabalhou em diversos jornais e revistas de Lisboa, entre os quais a revista Fantoches, iniciada em 1914, da qual foi
diretor e editor. Também colaborou nas revistas Serões
(1901-1911), Illustração portugueza (1903-1923), Feira
da Ladra (1929-1943) e na Revista
municipal da Câmara Municipal de Lisboa (1939-1973).
Como escrevi no início, o outro
facto que me levou a recordar este escritor foi o conjunto de livros proposto
pela Candelabro – Livrara Alfarrabista
no seu “Catálogo” da segunda quinzena de Maio.
Candelabro – Livrara Alfarrabista
Vejamos então essas propostas:
4634. MARTINS (ROCHA) - A MONARQUIA DO NORTE. [Composto e impresso
nas Oficinas Gráficas do "ABC"]. Lisboa. 1922. In-8º gr. de 190 págs.
Enc.
Obra de referência, profusamente
ilustrada com várias fotografias a negro ao longo do texto.
Bela encadernação com lombada e
cantos em pele, estando aquela decorada com nervuras e dizeres a ouro inscritos
sobre rótulos em pele. Conserva as capas da brocura e está apenas ligeiramente
aparado à cabeça.
Bonito exemplar. Tem pequena e
antiga assinatura de posse no verso do frontispício. INVULGAR.
2346. MARTINS (ROCHA) - GOMES FREIRE. Romance Histórico. João
Romano Torres - Editor. S/d. 2 vols. In-8º gr. de 897-VI + 625-IV págs. Enc.
Trata-se de uma das obras mais
apreciadas de Rocha Martins.
Ilustrada com várias dezenas de
estampas em folhas à parte, incluindo uma, a cores, de Gomes Freire.
Encadernação antiga com lombada
em sintético.
Em bom estado de conservação.
4632. MARTINS (ROCHA) - JOÃO FRANCO E O SEU TEMPO. Comentários livres
às cartas d'el-rei D. Carlos. Edição do auctor. [Composto e impresso nas
Oficinas Gráficas do "ABC"]. Lisboa. In-8º gr. de 523 págs. Enc.
Obra de referência, profusamente
ilustrada com várias fotografias a negro ao longo do texto.
Bela encadernação com lombada e
cantos em pele, estando aquela decorada com nervuras e dizeres a ouro inscritos
sobre rótulos em pele. Conserva as capas da brocura e está apenas ligeiramente
aparado à cabeça.
Bonito exemplar.
2169. MARTINS (ROCHA) - MEMORIAS SOBRE SIDONIO PAES. 1921. Edição
da Sociedade Editorial ABC Limitada. Lisboa. In-8º de 352 págs. Enc.
Apreciado estudo sobre Sidónio
Paes.
Ilustrado com numerosas
fotografias de personalidades da época, reproduções de documentos, etc.
Encadernação antiga com bonita
lombada em pele decorada com elegantes ferros e dizeres a ouro. Conserva apenas
a capa de brochura posterior e tem alguns picos de acidez ao longo do texto.
Obra pouco vulgar.
4633. MARTINS (ROCHA) - MEMORIAS SOBRE SIDONIO PAES. 1921. Edição
da Sociedade Editorial A B C Limitada. Lisboa. In-8º gr. de 352 págs. Enc.
Obra de referência, profusamente
ilustrada com várias fotografias a negro ao longo do texto.
Bela encadernação com lombada e
cantos em pele, estando aquela decorada com nervuras e dizeres a ouro inscritos
sobre rótulos em pele. Conserva as capas da brocura e está apenas ligeiramente
aparado à cabeça.
Bonito exemplar.
4640. MARTINS (ROCHA) - OS GRANDES VULTOS DA RESTAURAÇÃO DE PORTUGAL.
Obra comemorativa do Tricentenário da Independência. Edição da Emprêsa
Nacional de Publicidade. 1940. In-4º
gr. de 483-I págs. Enc.
Monumental obra de Rocha Martins,
esmeradamente impressa em bom papel e profusamente ilustrada ao longo do texto
e em estampas a cores extra-texto.
Boa encadernação com lombada e
cantos em pele, conservando as capas da brochura (as capas são do 1º fascículo,
já que a obra foi publicada em fascículos, com capas sempre iguais).
Exemplar em bom estado de
conservação: tem alguma normal acidez sobretudo nas primeiras folhas e erro de
paginação nas duas últimas folhas referentes ao índice (estando, no entanto,
completo).
Trata-se de uma parcela muito
pequena da vastíssima obra deste prolífico escritor, mas de grande interesse
para a temática da 1ª República e da nossa História em geral.
Aliás, desta vasta bibliografia,
ainda se pode encontrar no acervo desta livraria-alfarrabista este outro
exemplar:
4507. MARTINS (ROCHA) - A PAIXÃO DE CAMILO (Ana Plácido). 5º
milhar. Edição do auctor. Composto e impresso nas Oficinas Gráficas do
"ABC". Lisboa. S/d. In-4º de 357-III págs. Enc.
Capa da autoria de Stuart
Carvalhaes.
Ilustrado com 20 estampas coladas
em folhas à parte.
Encadernação recente com lombada
e cantos em pele. Conserva as capas da brochura e está inteiramente por aparar.
Exemplar em bom estado de
conservação: apenas a capa anterior da brochura tem pequenas imperfeições
resultantes do seu manuseamento. Com pequena assinatura de posse no canto
superior esquerdo da primeira página.
Primeiro Governo da Republica Portuguesa
Bem e aqui deixo mais estas notas
sobre um escritor, nem sempre muito falado, mas cuja leitura me pasrece
aliciante para um melhor conhecimento da nossa história.
Saudações bibliófilas.
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