"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

terça-feira, 30 de março de 2010

IN MEMORIAM JOSÉ MINDLIN


"A gente passa, os livros ficam"
José Ephim Mindlin




Jose Ephim Mindlin

Não quero deixar passar em claro este acontecimento triste para o mundo da bibliofilia de língua portuguesa e não só.

Embora com algum atraso, pois só há pouco tomei conhecimento da ocorrência, quero expressar aqui as minhas condolências pelo falecimento na manhã de domingo, 28 de Fevereiro, em São Paulo, do bibliófilo José Ephim Mindlin. Era o mais notável bibliófilo de língua portuguesa.

Tinha 95 anos e estava internado há cerca de um mês no Hospital Albert Einstein.

Formado em Direito pela Universidade de São Paulo era um apaixonado por livros. Em junho de 2009, ele doou a sua biblioteca, a maior colecção particular de livros do Brasil, para a USP, criando “A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin”.

Era membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Viúvo de Guita Mindlin, uma das fundadoras da ABER (Associação Brasileira de Encadernação e Restauro)


Jose Mindlin na sua Biblioteca

Na entrevista à Folha de S. Paulo, em 2004, época em que lançava o livro "Memórias Esparsas de uma Biblioteca", Mindlin definiu-se como um "compulsivo patológico" na arte de coleccionar livros.

Aos 13 anos, começou a formar a biblioteca que reuniu mais de 35 mil títulos ao longo dos anos em sua casa. Proponho que se veja este vídeo sobre José Mindlin (1914-2010) e a sua biblioteca,

Questionado sobre se existia um livro preferido em meio a tantos que coleccionava, Mindlin disse que uma das características da bibliofilia era a poligamia. "Não há como dizer prefiro este ou aquele", afirmou.


 José Mindlin exibe na sua casa, em 2006
o exemplar de "Grande Sertão: Veredas"

Entre os destaques da sua colecção particular estavam a versão original de "Grande Sertão: Veredas", de João Guimarães Rosa, a primeira edição de "Os Lusíadas", de Camões, e outras primeiras edições, como as de "O Guarani", de José de Alencar, e "A Moreninha", de Joaquim Manuel de Macedo.


Ex-libris de José Mindlin

"Eu passei 15 anos atrás de um exemplar de 'O Guarani'. Soube que estava com um grego, mandei muitas cartas a ele, que nunca respondia. Estava em Paris quando um livreiro me disse que estava com esse grego. Depois de muitas idas e vindas, o livro está comigo", disse em 2004.

Que o seu exemplo seja um guia para todos nós.

4 comentários:

Galderich disse...

Por tus comentarios y por el vídeo se nota que ha sido una gran pérdida para la bibliofília portuguesa. Me gustó el comentario sobre la poligamia de la bibliofília, concepto que utilizaré cuando alguien me vuelva a preguntar por mi libro favorito...

R. disse...

Belíssima e merecida homenagem.

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui.
Sentida entrada, justo homenaje.

Rui Martins disse...

Parafraseando um pouco José Mindlin, eu diria que só algumas pessoas passam, enquanto que os grandes bibliófilos perdurarão para sempre nosso memorial.

São um património de todos e a sua obra, quer coleccionistica quer escrita, é uma fonte onde muitos de nós bebem os seus primeiros conhecimentos.

Claro que os livros ficam, mas sem estes grandes bibliófilos que seria deles?

Apetece-me citar Samodães e mais recentemente o Dr. Laureano Barros, entre nós, e os inesquecíveis Octave Uzanne e Paul Lacroix (dito bibliófilo Jacob) e essa figura impar de Pierre Berés.

O meu obrigado pelos vossos comentários.