"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 6 de março de 2010

Ao sabor da escrita ou Crónica de uma viagem



 
apenas sabia que ia partir para sul
/(clique para ampliar)

Sentei-me no carro, estava enevoado ia partir
escapar às rotinas diárias com regras e horários bem definidos e pre-estabelecidos
liguei a ignição ia começar a aventura apenas sabia que ia partir para sul o acaso iria ditar as próximas regras.

(o relógio parara mas os ponteiros moviam-se o carro acelerou o olhar perdeu-se na paisagem perscrutando as imagens que pudesse registar)


só existe uma ponte no meu consciente a Vasco da Gama

Passei a Ponte
só existe uma ponte no meu consciente a Vasco da Gama
que me leva ao outro lado do rio
só existe um rio no meu imaginário o Tejo
afloravam como jangadas montículos arrancadas às suas entranhas pelas chuvadas
mesmo agora choveu
jangadas encalhadas no rio que parecia não se mexer.

Passei a planície debaixo dum azul escondido pelas nuvens acinzentadas
retive a imagem da cegonha que vigiava do alta do seu ninho.


 a serra do Caldeirão a serra algarvia que demarca o sentir e o viver

Cheguei à Serra
a serra do Caldeirão a serra algarvia que demarca o sentir e o viver
da gente da serra do prazer de se ser apenas para a gente da costa vida de betão que o sol requeima nas franjas das ondas que morrem na praia
– English spoken!
rostos vermelhos, agora um pouco amedrontados, mas sempre omnipresentes.


a imagem de exaustão da cor do vigor do verde e do peso do céu

(da serra retive a imagem de exaustão da cor do vigor do verde e do peso do céu que fazia desaguar o seu descontentamento como chuva refreando o meu passo)

Cheguei
sentei-me à varanda olhei Marina, a de Lagos que das outras não gosto tanto, os barcos ancorados balançavam o céu cinzento deslizava
ou seria as nuvens que por ele iam passando
o sol lutava para se fazer sentir ao menos vislumbrar a sua cor vermelha da morte sempre adiada e repetida

(os carros passavam, buzinas soavam, passos subiam, vozes ecoavam)


olhei Marina, a de Lagos que das outras não gosto tanto

Talvez ser livre seja simplesmente conseguir-se ser tudo o que se ambicionou alguma vez ainda que em momentos fugazes.

Peguei no livro e li .

“Memória Descritiva da Fixação do Texto Para a Edição Ne Varietur da Obra Completa de António Lobo Antunes” (1) de Maria Alzira Seixo e a sua equipa


SEIXO, Maria Alzira – “Memória Descritiva. Da fixação do texto para a edição ne varietur da obra de António Lobo Antunes”. Alfragide, Publicações Dom Quixote, 2010. 1ª edição. 179 (2) pp. Brochado

Foi este, mas não importava qual fosse, apenas o prazer de ler de se ouvir uma voz diferente de se aprender o gosto pela escrita
pois ler é sempre uma aventura quando se percorre todo o intrincado de um texto

(a escrita é um prazer mas saber escrever é uma arte que não se aprende é como um dom que só alguns conseguem cultivar e ir aperfeiçoando para fazerem desabrochar com esplendor)


“Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena”
                                                            Fernando Pessoa

A noite caiu e o silêncio foi-se restabelecendo com a escuridão da noite
a lua não conseguiu romper
a minha memória das memórias desta viagem com ela se extinguiu.

Saudações bibliómanas (2)



(2) Não é engano. Sou um leitor compulsivo e também um mau aprendiz de “escrevinhador”.

2 comentários:

Galderich disse...

Una buena salida, con libro incluido i un final con Fernando Pessoa... ¿qué más podemos pedir?

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui.

Muy bellas fotografías.. Que por supuesto valen la pena.
Saludos