Mario Vargas Llosa
Quero deixar aqui o meu comentário sobre a atribuição do Nobel da Literatura a este escritor, que na minha opinião, constitui mais um reconhecimento do valor da literatura ibero-americana e atribuído a um autor que o merece de facto.
O escritor peruano, de 74 anos, foi distinguido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos", justifica a Academia em comunicado divulgado poucos minutos após o anúncio do Nobel. (1)
“Muito comovido e entusiasmado.” Assim se sentiu Vargas Llosa ao saber que era seu o Nobel da Literatura deste ano. Foram as primeiras declarações do escritor, feitas à agência de notícias peruana Andina e citadas pela Lusa.
Medalha do Nobel
O escritor peruano - cujo nome figurou entre os mais apontados como candidatos sérios ao Prémio Nobel da Literatura deste ano - não descarta a possibilidade de a literatura "se converter nalguma coisa de marginal, relegada cada vez mais como actividade minoritária, e desenvolvida em catacumbas". Se assim acontecer, "haverá um grande empobrecimento da Humanidade", preveniu. "E será por nossa causa, porque a literatura deve fazer parte da vida das famílias e dos programas de ensino a todos os níveis".
Mario Vargas Llosa
Mesmo aceitando a sua função de entretenimento, avisou que a literatura não pode ser só divertimento. "Se o fosse, seria ultrapassada por outras formas mais eficazes. Não pode competir com a televisão e o cinema", disse. "A riqueza não são as imagens. São ideias materializadas em palavras que se dizem nos livros". O livro de literatura, prosseguiu o escritor, é imprescindível para ensinar a falar as pessoas. "O vocabulário, os matizes, as subtilezas dão-nos a boa literatura, que é aquela que mantém um alto nível de criatividade, daquilo que é diferente, do que não temos e com que sonhamos". Uma das superioridades da literatura, concluiu, é a "vocação crítica, que os audiovisuais não têm ou têm domesticada".
Mario Vargas LLosa – O Paraíso na Outra Esquina.
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2003. 328 pp. Brochado.
No centro da trama de O Paraíso na Outra Esquina, as utopias artística e política de Paul Gaugin, pintor, e da avó Flora Tristan, feminista "avant la lettre", foram pretexto para uma digressão crítica pela história do século XX. "Todas as tentativas de criar a sociedade perfeita traduziram-se em verdadeiros apocalipses", disse Vargas Llosa. "O nazismo foi isso; o comunismo foi isso; todas as grandes utopias levaram a Humanidade à beira do precipício". O escritor adverte que não se pode renunciar à utopia. "É um motor que empurra o desenvolvimento: os grandes cientistas, os exploradores, os santos representam de algum modo a materialização desse sonho utópico". Faz, contudo, uma distinção entre a utopia política e a utopia individual. "As utopias políticas trouxeram mais prejuízos do que benefícios à Humanidade. A felicidade nunca se pode encontrar num projecto colectivo".
Vargas Llosa, que demorou três anos a escrever O Paraíso na Outra Esquina, serve-se das duas personagens do livro - Flora Tristan e Paul Gauguin - para estabelecer a distinção entre os dois tipos de sonho: o do pintor que foi para o Taiti e as ilhas Marquesas em busca do homem primitivo que mantivesse a riqueza e o prazer sexual como património e valor de todos; e a da "feminista revolucionária" que quis construir uma sociedade igualitária num tempo em que os operários trabalhavam 20 horas por dia e às mulheres poucos ou nenhuns direitos eram reconhecidos.
Trata-se do 11.º autor de língua espanhola a receber esta distinção, depois de Camilo Jose Cela (1989), Gabriel Garcia Marquez (1982), Pablo Neruda (1971) Miguel Angel Asturias (1967), Juan Ramón Jiménez (1956) e Gabriela Mistral (1945) entre outros. O autor de língua espanhola que mais recentemente venceu o Nobel literário foi o mexicano Octavio Paz, em 1990.
Mario Vargas Llosa – Conversación En La Catedral.
Barcelona, Seix Barral, 1969. Colecção "Nueva Narrativa Hispánica".
Brochura com sobrecapa. 1ª edição. 2 volumes in 8º pequeno. 368pp + Índice + (1) e 308pp + Índice + (1).
Foto: Librería 101Poe (Barcelona, BCN, Spain)
Caberá finalmente referir a sua vasta bibliografia, que se estende por vários géneros literários.
Ficção
Os Chefes (1959)
A cidade e os cachorros ("La ciudad y los perros") (1963)
A casa verde (1966) (Premio Rómulo Gallegos)
Conversa na catedral (1969)
Pantaleão e as visitadoras (1973)
Tia Júlia e o escrevinhador (1977)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
História de Mayta (1984)
Quem matou Palomino Molero? (1986)
O falador (1987)
Elogio da madrasta (1988)
Lituma nos Andes (1993). (Premio Planeta)
Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)
A festa do bode (2000) - novela sobre a ditadura do general da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo
O Paraíso na Outra Esquina (2003) - novela histórica sobre Paul Gauguin y Flora Tristán.
Travessuras da Menina Má (2006)
Mario Vargas Llosa – La Casa Verde.
Barcelona, Seix Barral, 1965. 1ª edição. Capa dura editorial com sobrecapa.
Ilustracição da capa de Antoni Tapies. In 8º. 430pp + 1 Mapa.
Teatro
A menina de Tacna (1981)
Kathie e o hipopótamo (1983)
La Chunga (1986)
El loco de los balcones (1993)
Olhos bonitos, quadros feios (1996)
Ensaio
García Márquez: historia de un deicidio (1971)
Historia secreta de una novela (1971)
La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
Contra viento y marea. Volúmen I (1962-1982) (1983)
Contra viento y marea. Volumen II (1972-1983) (1986)
La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
Desafíos a la libertad (1994)
La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
Cartas a un novelista (1997)
El lenguaje de la pasión (2001)
La tentación de lo imposible (2004) - ensayo
Saudações bibliófilas
(1) Leia-se este apontamento publicado no jornal “Publico”: Reacções ao Prémio Nobel para Mário Vargas Llosa
Fontes: Texto baseado em artigos publicados na imprensa, nomeadamente no jornal ”Público” e pela IberLibro.com
4 comentários:
Un buen resumen sobre el actual Premio Nobel de Literatura. El de la paz este año vuelve a ser acertado, cosa que no pasó en años anteriores.
En fin, los nóbeles muchas veces son discutidos pero siempre nos los tomamos como referencia.
Caro Fluzão,
Visitei os seus blogues: Curiosidades e Mensagens que têm postagens com interesse. Gostei.
Apesar de saírem um pouco fora da linha dos blogues que sigo parece-me mais adequado o segundo.
Um abraço
Galderich,
Claro que um Nobel da Literatura, que é aquele que nos chama mais a atenção por estar mas perto dos nossos interesses bibliómanos, é sempre polémico … até pela forma de nomeação, mas convenhamos que existem escolhas por demais “obscuras” enquanto esta merece a minha simpatia.
Estou plenamente de acordo contigo quanto ao Nobel da Paz.
Rui,
Parabéns pelo seu texto. A mim também agradou a escolha de Vargas Llosa para o Nobel de Literatura.
Abraços de além-mar,
Angelo
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