"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mario Vargas LLosa: Nobel da Literatura 2010




Mario Vargas Llosa

Quero deixar aqui o meu comentário sobre a atribuição do Nobel da Literatura a este escritor, que na minha opinião, constitui mais um reconhecimento do valor da literatura ibero-americana e atribuído a um autor que o merece de facto.

O escritor peruano, de 74 anos, foi distinguido "pela sua cartografia das estruturas de poder e pelas suas imagens mordazes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos", justifica a Academia em comunicado divulgado poucos minutos após o anúncio do Nobel. (1)

“Muito comovido e entusiasmado.” Assim se sentiu Vargas Llosa ao saber que era seu o Nobel da Literatura deste ano. Foram as primeiras declarações do escritor, feitas à agência de notícias peruana Andina e citadas pela Lusa.

 
Medalha do Nobel

O escritor peruano - cujo nome figurou entre os mais apontados como candidatos sérios ao Prémio Nobel da Literatura deste ano - não descarta a possibilidade de a literatura "se converter nalguma coisa de marginal, relegada cada vez mais como actividade minoritária, e desenvolvida em catacumbas". Se assim acontecer, "haverá um grande empobrecimento da Humanidade", preveniu. "E será por nossa causa, porque a literatura deve fazer parte da vida das famílias e dos programas de ensino a todos os níveis".


Mario Vargas Llosa

Mesmo aceitando a sua função de entretenimento, avisou que a literatura não pode ser só divertimento. "Se o fosse, seria ultrapassada por outras formas mais eficazes. Não pode competir com a televisão e o cinema", disse. "A riqueza não são as imagens. São ideias materializadas em palavras que se dizem nos livros". O livro de literatura, prosseguiu o escritor, é imprescindível para ensinar a falar as pessoas. "O vocabulário, os matizes, as subtilezas dão-nos a boa literatura, que é aquela que mantém um alto nível de criatividade, daquilo que é diferente, do que não temos e com que sonhamos". Uma das superioridades da literatura, concluiu, é a "vocação crítica, que os audiovisuais não têm ou têm domesticada".


Mario Vargas LLosa – O Paraíso na Outra Esquina.
Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2003. 328 pp. Brochado.

No centro da trama de O Paraíso na Outra Esquina, as utopias artística e política de Paul Gaugin, pintor, e da avó Flora Tristan, feminista "avant la lettre", foram pretexto para uma digressão crítica pela história do século XX. "Todas as tentativas de criar a sociedade perfeita traduziram-se em verdadeiros apocalipses", disse Vargas Llosa. "O nazismo foi isso; o comunismo foi isso; todas as grandes utopias levaram a Humanidade à beira do precipício". O escritor adverte que não se pode renunciar à utopia. "É um motor que empurra o desenvolvimento: os grandes cientistas, os exploradores, os santos representam de algum modo a materialização desse sonho utópico". Faz, contudo, uma distinção entre a utopia política e a utopia individual. "As utopias políticas trouxeram mais prejuízos do que benefícios à Humanidade. A felicidade nunca se pode encontrar num projecto colectivo".

Vargas Llosa, que demorou três anos a escrever O Paraíso na Outra Esquina, serve-se das duas personagens do livro - Flora Tristan e Paul Gauguin - para estabelecer a distinção entre os dois tipos de sonho: o do pintor que foi para o Taiti e as ilhas Marquesas em busca do homem primitivo que mantivesse a riqueza e o prazer sexual como património e valor de todos; e a da "feminista revolucionária" que quis construir uma sociedade igualitária num tempo em que os operários trabalhavam 20 horas por dia e às mulheres poucos ou nenhuns direitos eram reconhecidos.

Trata-se do 11.º autor de língua espanhola a receber esta distinção, depois de Camilo Jose Cela (1989), Gabriel Garcia Marquez (1982), Pablo Neruda (1971) Miguel Angel Asturias (1967), Juan Ramón Jiménez (1956) e Gabriela Mistral (1945) entre outros. O autor de língua espanhola que mais recentemente venceu o Nobel literário foi o mexicano Octavio Paz, em 1990.


Mario Vargas Llosa – Conversación En La Catedral.
Barcelona, Seix Barral, 1969. Colecção "Nueva Narrativa Hispánica".
Brochura com sobrecapa. 1ª edição. 2 volumes  in 8º pequeno. 368pp + Índice + (1) e 308pp + Índice + (1).
Foto: Librería 101Poe (Barcelona, BCN, Spain)

Caberá finalmente referir a sua vasta bibliografia, que se estende por vários géneros literários.

Ficção

Os Chefes (1959)
A cidade e os cachorros ("La ciudad y los perros") (1963)
A casa verde (1966) (Premio Rómulo Gallegos)
Conversa na catedral (1969)
Pantaleão e as visitadoras (1973)
Tia Júlia e o escrevinhador (1977)
A Guerra do Fim do Mundo (1981)
História de Mayta (1984)
Quem matou Palomino Molero? (1986)
O falador (1987)
Elogio da madrasta (1988)
Lituma nos Andes (1993). (Premio Planeta)
Os cadernos de Dom Rigoberto (1997)
A festa do bode (2000) - novela sobre a ditadura do general da República Dominicana, Rafael Leónidas Trujillo
O Paraíso na Outra Esquina (2003) - novela histórica sobre Paul Gauguin y Flora Tristán.
Travessuras da Menina Má (2006)


Mario Vargas Llosa – La Casa Verde.
Barcelona, Seix Barral, 1965. 1ª edição. Capa dura editorial com sobrecapa.
Ilustracição da capa de Antoni Tapies. In 8º. 430pp + 1 Mapa.

Teatro

A menina de Tacna (1981)
Kathie e o hipopótamo (1983)
La Chunga (1986)
El loco de los balcones (1993)
Olhos bonitos, quadros feios (1996)

Ensaio

García Márquez: historia de un deicidio (1971)
Historia secreta de una novela (1971)
La orgía perpetua: Flaubert y «Madame Bovary» (1975)
Contra viento y marea. Volúmen I (1962-1982) (1983)
Contra viento y marea. Volumen II (1972-1983) (1986)
La verdad de las mentiras: Ensayos sobre la novela moderna (1990)
Contra viento y marea. Volumen III (1964-1988) (1990)
Carta de batalla por Tirant lo Blanc (1991)
Desafíos a la libertad (1994)
La utopía arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo (1996)
Cartas a un novelista (1997)
El lenguaje de la pasión (2001)
La tentación de lo imposible (2004) - ensayo


Saudações bibliófilas

(1) Leia-se este apontamento publicado no jornal “Publico”: Reacções ao Prémio Nobel para Mário Vargas Llosa

Fontes: Texto baseado em artigos publicados na imprensa, nomeadamente no jornal ”Público” e pela IberLibro.com

 

4 comentários:

Galderich disse...

Un buen resumen sobre el actual Premio Nobel de Literatura. El de la paz este año vuelve a ser acertado, cosa que no pasó en años anteriores.

En fin, los nóbeles muchas veces son discutidos pero siempre nos los tomamos como referencia.

Rui Martins disse...

Caro Fluzão,

Visitei os seus blogues: Curiosidades e Mensagens que têm postagens com interesse. Gostei.

Apesar de saírem um pouco fora da linha dos blogues que sigo parece-me mais adequado o segundo.

Um abraço

Rui Martins disse...

Galderich,

Claro que um Nobel da Literatura, que é aquele que nos chama mais a atenção por estar mas perto dos nossos interesses bibliómanos, é sempre polémico … até pela forma de nomeação, mas convenhamos que existem escolhas por demais “obscuras” enquanto esta merece a minha simpatia.

Estou plenamente de acordo contigo quanto ao Nobel da Paz.

Angelo disse...

Rui,

Parabéns pelo seu texto. A mim também agradou a escolha de Vargas Llosa para o Nobel de Literatura.

Abraços de além-mar,

Angelo