"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 16 de outubro de 2010

Apontamento de leitura: o novo romance de António Lobo Antunes e um livro sobre o 5 de Outubro de 1910




António Lobo Antunes

Na minha volta de fim-de-semana pela Livraria que fica mais perto da minha residência descobri dois títulos que me atrevo a saudar: Sôbolos Rios Que Vão e 1910 a duas vozes.

É claro que o lançamento de mais um romance de António Lobo Antunes é sempre um acontecimento de saudar, ou não seja ele, e muito justamente, considerado o maior autor português vivo.

Foi com evidente alegria que desencantei no escaparate da referida Livraria o seu último livro: Sôbolos Rios Que Vão.


António Lobo Antunes – Sôbolos Rios Que Vão

Trata-se de um romance cujo título é inspirado no poema de Luís de Camões com o mesmo nome (1), e do qual deixo aqui alguns excertos.


Ali, o rio corrente

Sôbolos rios que vão
por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
de meus olhos foi manado,
e, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.


as lembranças de Sião

Ali, lembranças contentes
n'alma se representaram,
e minhas cousas ausentes
se fizeram tão presentes
como se nunca passaram.
Ali, depois de acordado,
co rosto banhado em água,
deste sonho imaginado,
vi que todo o bem passado
não é gosto, mas é mágoa.


co rosto banhado em água

E vi que todos os danos
se causavam das mudanças
e as mudanças dos anos;
onde vi quantos enganos
faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
quão pouco espaço que dura,
o mal quão depressa vem,
e quão triste estado tem
quem se fia da ventura.


tristes palavras ao vento.


Vi aquilo que mais val,
que então se entende milhor
quanto mais perdido for;
vi o bem suceder o mal,
e o mal, muito pior,
E vi com muito trabalho
comprar arrependimento;
vi nenhum contentamento,
e vejo-me a mim, que espalho
tristes palavras ao vento.


Luís de Camões

O romance gira em torno dos acontecimentos entre os últimos dias de Março e os primeiros de Abril de 2007, em que depois de uma operação grave, o narrador, entre as dores e a confusão provocada pela anestesia e pelos medicamentos, recupera fragmentos da sua vida e das pessoas que a atravessaram: os pais e os avós, a vila da sua infância, a natureza da serra os amores e desamores. Como um rio que corre, vamos vivendo com ele as humilhações da doença, a proximidade da morte, e o chamamento da vida, conforme se lê na sua sinopse.

Este novo livro, que já está à venda, só será oficialmente lançado no próximo dia 28 de Outubro, pelas 19H00 no Museu da Água em Lisboa. A apresentação vai estar a cargo do Professor José Gil.

Mas melhor que ninguém convido-vos a ler a opinião de Maria Alzira Seixo sobre este livro disponibilizado em: http://alawebpage.blogspot.com/, o blogue do site António Lobo Antunes.



Convite para o lançamento de 1910 a duas vozes

Sobre 1910 a duas vozes, lançado nas Livrarias a 4 de Outubro, digo que se trata de um livro - ou serão dois? – que reúne dois estudos: um de Fernando Rosas – 1910 a duas vozes: Porque venceu e porque se perdeu a I República? eoutro de Mendo Henriques – 1910 a duas vozes: A Grande Ilusão – Um ensaio sobre 1910.

São de facto, “duas vozes” distintas - Fernando Rosas, republicano, e Mendo de Castro Henriques, monárquico - mostram as duas faces da implantação da República em Portugal, a queda da Monarquia e as repercussões desse momento histórico durante o último século.


ROSAS, Fernando José Mendes e HENRIQUES, Mendo Castro - 1910 a Duas Vozes.
Dois textos independentes reunidos num único livro.
Lisboa, Bertrand Editora, 2010. 1ª edição.
Brochado com badanas. (128 (1) + 141 pp.)

Bem aqui deixo estas duas propostas de leitura bem distintas e, pelo meio, fica outra de Camões … quem sabe senão uma das melhores leituras de sempre!

Saudações bibliómanas.

(1) Também conhecido por Redondilhas de Babel e Sião e Super flumina.

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