António Lobo Antunes
Na minha volta de fim-de-semana pela Livraria que fica mais perto da minha residência descobri dois títulos que me atrevo a saudar: Sôbolos Rios Que Vão e 1910 a duas vozes.
É claro que o lançamento de mais um romance de António Lobo Antunes é sempre um acontecimento de saudar, ou não seja ele, e muito justamente, considerado o maior autor português vivo.
Foi com evidente alegria que desencantei no escaparate da referida Livraria o seu último livro: Sôbolos Rios Que Vão.
António Lobo Antunes – Sôbolos Rios Que Vão
Trata-se de um romance cujo título é inspirado no poema de Luís de Camões com o mesmo nome (1), e do qual deixo aqui alguns excertos.
Ali, o rio corrente
Sôbolos rios que vão
por Babilónia, me achei,
Onde sentado chorei
as lembranças de Sião
e quanto nela passei.
Ali, o rio corrente
de meus olhos foi manado,
e, tudo bem comparado,
Babilónia ao mal presente,
Sião ao tempo passado.
as lembranças de Sião
Ali, lembranças contentes
n'alma se representaram,
e minhas cousas ausentes
se fizeram tão presentes
como se nunca passaram.
Ali, depois de acordado,
co rosto banhado em água,
deste sonho imaginado,
vi que todo o bem passado
não é gosto, mas é mágoa.
co rosto banhado em água
E vi que todos os danos
se causavam das mudanças
e as mudanças dos anos;
onde vi quantos enganos
faz o tempo às esperanças.
Ali vi o maior bem
quão pouco espaço que dura,
o mal quão depressa vem,
e quão triste estado tem
quem se fia da ventura.
tristes palavras ao vento.
Vi aquilo que mais val,
que então se entende milhor
quanto mais perdido for;
vi o bem suceder o mal,
e o mal, muito pior,
E vi com muito trabalho
comprar arrependimento;
vi nenhum contentamento,
e vejo-me a mim, que espalho
tristes palavras ao vento.
Luís de Camões
O romance gira em torno dos acontecimentos entre os últimos dias de Março e os primeiros de Abril de 2007, em que depois de uma operação grave, o narrador, entre as dores e a confusão provocada pela anestesia e pelos medicamentos, recupera fragmentos da sua vida e das pessoas que a atravessaram: os pais e os avós, a vila da sua infância, a natureza da serra os amores e desamores. Como um rio que corre, vamos vivendo com ele as humilhações da doença, a proximidade da morte, e o chamamento da vida, conforme se lê na sua sinopse.
Este novo livro, que já está à venda, só será oficialmente lançado no próximo dia 28 de Outubro, pelas 19H00 no Museu da Água em Lisboa. A apresentação vai estar a cargo do Professor José Gil.
Mas melhor que ninguém convido-vos a ler a opinião de Maria Alzira Seixo sobre este livro disponibilizado em: http://alawebpage.blogspot.com/, o blogue do site António Lobo Antunes.
Convite para o lançamento de 1910 a duas vozes
Sobre 1910 a duas vozes, lançado nas Livrarias a 4 de Outubro, digo que se trata de um livro - ou serão dois? – que reúne dois estudos: um de Fernando Rosas – 1910 a duas vozes: Porque venceu e porque se perdeu a I República? eoutro de Mendo Henriques – 1910 a duas vozes: A Grande Ilusão – Um ensaio sobre 1910.
São de facto, “duas vozes” distintas - Fernando Rosas, republicano, e Mendo de Castro Henriques, monárquico - mostram as duas faces da implantação da República em Portugal, a queda da Monarquia e as repercussões desse momento histórico durante o último século.
ROSAS, Fernando José Mendes e HENRIQUES, Mendo Castro - 1910 a Duas Vozes.
Dois textos independentes reunidos num único livro.
Lisboa, Bertrand Editora, 2010. 1ª edição.
Brochado com badanas. (128 (1) + 141 pp.)
Bem aqui deixo estas duas propostas de leitura bem distintas e, pelo meio, fica outra de Camões … quem sabe senão uma das melhores leituras de sempre!
Saudações bibliómanas.
(1) Também conhecido por Redondilhas de Babel e Sião e Super flumina.
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