"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 30 de maio de 2009

Conversa bibliófila: Bibliófilos e Livreiros-Antiquários


Fotografia da capa do “Catálogo de Junho 2009"
Bauman Rare Books
Proponho abordar hoje um tema que levará certamente a diversas interpretações e opiniões (pelo menos assim o espero!)
Vamos falar da relação bibliófilo / livreiro-antiquário nos nossos dias.
Com os meios informáticos actualmente disponíveis, nomeadamente a Internet com os seus grandes monopólios de vendedores de livros como a eBay e Abebooks, com a facilidade de acesso a Livrarias com página na Internet que disponibilizam catálogos on-line e com verdadeiras lojas virtuais, o que moverá um bibliófilo a deslocar-se a uma Livraria Alfarrabista para procurar o “seu” livro, quando o pode fazer tranquilamente, sentado em frente do seu computador?
"Boletim Bibliográfico" n.º 41
da Livraria Luis Burnay
Um outro aspecto desta mesma questão: porquê comprar um livro em papel, brochado ou encadernado, que quanto mais raro e estimado esteja o seu preço dispara para valores nem sempre acessíveis a todos os bibliófilos, quando podemos obter alguns, gratuitamente, em versão pdf ou e-book?

Fotografia da Livraria Luis Burnay

Porquê o prazer de retirar um livro duma prateleira de o manusear para o folhear, sentir o seu papel e a sonoridade do mesmo, a sua textura, o seu cheiro, a qualidade tipográfica do mesmo, a beleza das suas ilustrações.
Avaliar o estado da brochura ou a qualidade da encadernação: pergaminho, de época, posterior ou mesmo moderna.

MOUHY (Charles de FIEUX, Chevalier de) -
MEMOIRES D'ANNE-MARIE DE MORAS, COMTESSE DE COURBON ;écrits par elle-même, et adressés
à Mademoiselle de *** pensionnaire au couvent du Cherche-midi.
Première, deuxième, troisième et quatrième partie (complet). [E.O.]
A La Haye, Pierre de Hondt. 1740. 4 partes encadernadas em 2 volumes
in-12 (15,5 x 9,5 cm) de 9 ff. n. n., 79, (2)-112, (2)-107 et (2)-135-(1) pags.
Analisar a qualidade das suas decorações. Tentar descobrir quem o possa ter encadernado, caso não seja uma encadernação assinada.
São estes pormenores que podem levar, e levam felizmente ainda, um bibliófilo a deslocar-se e a visitar um Livreiro-Antiquário.
Nada mais aprazível do que entrar numa Livraria e olhar, com deleite, para as várias obras expostas, sentir o seu coração a bater mais acelerado, (será desta que encontro o “tal” livro?). Mesmo que a visita seja infrutífera, e não encontrámos nada que nos interessasse, ainda que cabisbaixos e um pouco envergonhados em relação ao livreiro, ficaram duas coisas, que nos irão marcar: aprendemos de certeza mais qualquer coisa com a conversa, que possamos ter estabelecido com o livreiro, que nos tentou ajudar, e vimos obras interessantes, ainda que não as que procurávamos. (Habitualmente cada bibliófilo tem os seus autores, ou temas, pré-seleccionados)

Bauman Rare Books
(Las Vegas gallery at the Palazzo)
É precisamente neste ponto que eu pretendo sublinhar esta relação, por vezes, carregada de simbolismos, entre o livreiro que cativa e tenta fidelizar um bibliófilo e o prazer da visita deste à Livraria, mais que não seja para “dar dois dedos de prosa” com o proprietário.
Um, senão o mais importante, caminho para se conseguir ir desbravando os múltiplos enigmas da bibliofilia, pois não se consegue aprender tudo só na leitura de catálogos ou outros dicionários bibliográficos, ainda que indispensáveis.
Facilmente se percebe que cada um deve saber desempenhar o seu papel, que muitas vezes, nem sempre é correcto de alguma ou mesmo de ambas as partes.
Quem nos pode pôr ao corrente das modas do mercado, o que se procura mais actualmente, ou o que perdeu interesse, e a este propósito cito um amigo livreiro que me disse: “A bibliofilia portuguesa em voga adquire hoje padrões que fogem aos clássicos. Falo da minha experiência e constatação das flutuações do mercado. Assistimos a uma procura de livros em brochura de autores do século XX, menosprezando os tipos de papel empregues e a encadernação, para não falar de outras características que mimam o bibliófilo clássico como o cheiro do papel e a sua sonoridade” (M. de Carvalho)
Obrigado pela vossa leitura e espero os vossos comentários e opiniões.
Saudações bibliófilas

5 comentários:

{anita} disse...

...é sempre um prazer ler o seu blog :)

Rui Martins disse...

Obrigado Anita!
Escrevo, pelo prazer da escrita, e da divulgação da minha paixão bibliófila, tentando cativar mais alguns...só tenho pena, que outros leiam, mas náo se manifestem!

Galderich disse...

La bibliofília es un arte hermético del que nadie sabe las llaves para encontrar esta piedra filosofal que nos atrae tanto.
Felicidades por el artículo.

Rui Martins disse...

Galderich
Te agradezco tu comentario y que tienes gustado de leer el artículo
Lo que escribo, como dice a Anita, es por el placer de escribir y divulgar la mía pasión por el libro.
A pesar de como tu dices “La bibliofília es un arte hermético”, porque no intentar cambiar un poquito esta idea y mostrar como se puede caminar en esta pasión con alguna simplicidad. (es eso que yo intento mostrar…es muy claro que yo no hablo de los libros de los siglos XV a XVII, eso es solamente para vosotros, pero hay grandes autores, libros y encuadernadores de los siglos XVIII y XIX, más accesibles para los nuevos bibliófilos)
Saludos bibliófilos

Galderich disse...

Rui,
En esto coincidimos. Cuando hablo de "arte hermético" me refiero a que no tiene lógica apreciar primeras ediciones si hay más nuevas y baratas, o ediciones antiguas si estan escaneades en bibliotecas virtuales, por ejemplo.
No hace falta remontarse a los siglos XV y XVIII para disfrutar de un buen libro y sobretodo de una buena lectura. Por esto creo que todos nosotros intentamos a través de internet acercar los libros y su mundo a otras personas. Intentar contagiar un poco el gusto por el papel, sus olores, sus impresines, ilustraciones, tactos... de todos los tiempos.
Un abrazo y mucha tertúlia bibiófila!