"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

terça-feira, 19 de maio de 2009

Inocêncio Francisco da Silva - Bibliógrafo

Antes de mais, quero apresentar desculpas aos meus leitores portugueses, pois o tema de hoje é incontornável na bibliofilia lusitana, e, como tal. pouco poderei acrescentar a tudo aquilo que já foi dito e escrito sobre tão insigne personagem.

A nenhum bibliófilo, ou simples curioso da bibliografia portuguesa, poderá ter passado despercebido o nome de Inocêncio ou do seu “Dicionário Bibliográfico Português”; no entanto, como pretendo, ainda que de uma maneira simples mas objectiva, divulgar as nossas preciosidades, autores e suas obras, além fronteiras, ser-me-ia difícil deixar de referir tão ilustre bibliógrafo.



Inocêncio Francisco da Silva
(Retrato na colecção da Academia das Ciências de Lisboa)

Inocêncio Francisco da Silva, nasceu na cidade de Lisboa em 1810, oriundo de uma família de fracos recursos económicos.
É vulgarmente conhecido, nos meios literários, por Inocêncio.
Teve como habilitações literárias formais o Curso de Comércio e o de Matemática. Os seus conhecimentos em línguas e humanidades adquiriu-os como autodidacta, enquanto desempenhava as funções de amanuense.

Lutou nas Guerras Liberais (1828-1834) ao lado do Duque da Terceira, que ocorreram no quadro da Crise de Sucessão ao Trono Português (1826-1834) que opôs o partido cartista, constitucionalista, ou liberal, liderado pelo ex-imperador D. Pedro I do Brasil, e ex-rei D. Pedro IV de Portugal, auto-proclamado regente do Reino em nome de sua filha a princesa do Grão-Pará, D. Maria da Glória de Bragança, depois D. Maria II, rainha de Portugal e o partido tradicionalista, legitimista, ou absolutista, encabeçado por D. Miguel I, rei de Portugal.

1.º duque da Terceira
António José de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha



Reconhecida a sua capacidade intelectual e saber como bibliógrafo, foi encarregado de organizar o "Dicionário Bibliográfico Português".
A obra pretendia ser uma continuação da “Biblioteca Lusitana”, elaborada por Diogo Barbosa Machado e publicada entre 1741 e 1758.

Considerado o maior bibliógrafo lusófono. reuniu toda a informação disponível sobre autores de língua portuguesa até meados do século XIX, é uma obra monumental que foi continuada por Brito Aranha, seu testamentário, que lhe acrescentou vários volumes.

O "Dicionário Bibliográfico Português" de Inocêncio, muitas vezes referido apenas pelo Dicionário de Inocêncio, é constituído por 23 volumes e completado por um "Guia Bibliográfico" de Ernesto Soares e um "Aditamento" de Martinho da Fonseca.



Capa de um dos volumes

Faleceu em Lisboa, em 1876, na mesma casa onde nasceu na Rua São Filipe Nery, 26, que hoje ostenta uma lápide comemorativa.

Ficaram célebres as suas últimas palavras: "Adeus. Acabou o martírio! "


Busto de Pedro Wenceslau de Brito Aranha

Pedro Wenceslau de Brito Aranha (1833 - 1914), foi um escritor, jornalista e bibliógrafo português.
Brito Aranha começou a ganhar a vida aos 16 anos, como aprendiz de tipógrafo. Foi como autodidacta que conseguiu alcançar uma sólida cultura.

Inocêncio Francisco da Silva tanto confiava na sua capacidade e escrúpulo intelectual que o nomeou seu testamentário, deixando-lhe numerosas notas que lhe permitiram continuar o "Dicionário Bibliográfico Português".

Ganhou fama pelas colaborações em jornais e revistas e por ter dirigido, juntamente com Vilhena Barbosa, os últimos números do "Arquivo Pitoresco". Quando em 1889 faleceu Eduardo Coelho, fundador do "Diário de Notícias", foi convidado para redactor principal do jornal.

Foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, para a qual foi eleito em 1 de Julho de 1886.

Obrigado pela vossa leitura e os vossos comentários.
Saudações bibliófilas

1 comentário:

Galderich disse...

Por lo que veo las luchas y gueras del s. XIX entre liberales y absolutitas tambien afecaron a Portugal y a la bibliofilia!

Esto es lo que debe unir Europa...