A Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho apresentou as últimas novidades bibliográficas adquiridas de Maio.
Relembro que está a decorrer a Feira do Livro em Coimbra, integrada
num certame que incluirá programas de música, artes plásticas e gastronomia, de
23 de Maio e 1 de Junho, no Parque Dr. Manuel Braga, e onde esta Livraria está presente
com um stand de venda de livros antigos e seleccionados.
Feira Cultural de Coimbra
Afonso Lopes Vieira nasceu a 26 de Janeiro de 1878, em Leiria, e
morreu a 25 de Janeiro de 1946, em Lisboa. Foi um poeta e ficcionista.
Afonso Lopes Vieira em criança
Frequentou a Universidade de
Coimbra onde concluiu o curso de Direito em 1900. Nesse mesmo ano radicou-se em
Lisboa, onde exerceria a função de redactor na Câmara dos Deputados, até 1916 e
foi a partir deste ano que se dedicaria exclusivamente à literatura e à acção
cultural.
Em 1902 casa com Helena Aboim e vai viver para S.Pedro de
Moel.
Durante a juventude participou na
redacção alguns jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante.
Com a publicação do livro Para Quê?
(1897) estreia-se poética, iniciando um período de intensa actividade literária.
Ainda que se possa considerar um
cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira nunca esqueceu as suas origens,
conservando as imagens de Leiria como uma paisagem bucólica e romântica, mas,
sobretudo, de São Pedro de Moel, onde se fixa por largos períodos, e é uma paisagem
de eleição para a inspiração e génese da sua obra. O mar e o pinhal são os
principais motivos da sua poética.
Na sua casa de São Pedro de Moel
recebeu vários amigos, também escritores, e viajou por Espanha, França, Itália,
Bélgica, Norte de África e Brasil, tendo decidido "reaportuguesar
Portugal, tornando-se europeu".
Em Lisboa residiu no antigo
Convento da Rosa, no Largo da Rosa, nº 6, que foi sua propriedade e residência
entre 1927 e 1942.
Afonso Lopes Vieira
Quadro a óleo de Columbano Bordalo Pinheiro (1910)
Levou a cabo inúmeras tentativas de reabilitação junto do grande
público (inclusivamente infantil) de um património nacional, nomeadamente clássico
e medieval, esquecido.
Este seu carácter activo e
multifacetado manifestou-se, nomeadamente, na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação
de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais,
recolhidas nos volumes Em demanda do
Graal (1922) e Nova demanda do
Graal (1942).
Também se empenhou noutras formas
de “renascimento” destes valores seja pela tradução (Romance
de Amadis) ou divulgação de obras de autores basilares da cultura
nacional (edição de Os Lusíadas).
A sua dedicação à causa infantil
iniciou-se com a publicação de Animais Nossos
Amigos (1911).
Integrado no grupo da Renascença Portuguesa, colaborou em publicações como A Águia, Nação
Portuguesa ou Contemporânea.
Ex-libris da Renascença Portuguesa,
da autoria de António Carneiro
A sua poesia, próxima do
saudosismo, faz a transição entre a poesia neorromântica de fim-de-século e as correntes
nacionalistas e sebastianistas do início do século XX, recuperando métricas,
formas e temas tanto inspirados na literatura clássica como nos romanceiros ou
na literatura popular.
Com uma faceta de anarquista, que
inspirará, por exemplo, a obra ficcional Marques
(História de um Perseguido), as inúmeras acções de renascimento
cultural de Portugal que promoveu mantiveram-se num plano da consciência
individual, sem aderirem a programas com ideais em parte coincidentes, como o
integralismo, representando, antes, no início do século, a persistência de um
neorromantismo que fora encetado com o neogarrettismo de Alberto de Oliveira.
Assinatura de Afonso Lopes Vieira
©Biblioteca Municipal Afonso Lopes Vieira
Em face do despontar do Salazarismo,
demarcar-se-ia deste, embora sob a égide e em defesa do Integralismo lusitano,
como o expressaria no texto Éclogas de Agora
(1935). Este livro esteve proibido até ao 25 de Abril de 1974.
Destacam-se na sua produção: Para quê?, Náufragos:
Versos Lusitanos, O Encoberto,
Bartolomeu Marinheiro, Arte Portuguesa, Ilhas
de Bruma e Onde a Terra
Acaba e o Mar Começa.
Tem ainda colaboração em
publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave zul (1899-1900), Serões
(1915-1920), Arte
& vida (1904-1906) A republica portugueza (1910-1911) Alma Nova
(1914-1930), Atlântida
(1915-1920), Contemporânea (1915-1926), e Ordem
Nova
(1926-1927).
©Hemeroteca digital da Câmara Municipal de Lisboa
Pinto, Manuel de Sousa, 1880-1934, dir. publ.; Barros, João
de, 1881-1960, dir. publ.
©Hemeroteca digital da Câmara Municipal de Lisboa
Nestas Novidades Bibliográficas de Maio a Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho apresenta um excelente
lote de obras deste poeta hoje um pouco esquecido.
10456. VIEIRA, Afonso Lopes – ILHAS
DE BRUMA. F. França Amado impressor & livreiro, Coimbra, 1917. In. 8.º
de 133-(2) págs. Br.
Primeira edição. Nítida impressão a duas cores sobre papel de
qualidade superior.
"... Afonso Lopes Vieira é ideologicamente um moderado e a sua
obra apresenta-se globalmente com um cariz conservador, apontando para um
nacionalismo tradicionalista, que lhe valeu os elogios de um António Sardinha e
o epíteto de "neo-Garrett" por parte de Alberto de Oliveira" in
Dicionário de Literatura Portuguesa
10457. VIEIRA, Afonso Lopes – A
DIANA de Jorge de Montemor. Lisboa, 1924. In-8.º de XXXVII-246-LXXII-(4)
págs. Encadernação meia inglesa com lombada em pele, na qual se inscrevem
dizeres dourados. Conserva capas de brochura. Apresenta um ex-libris no
ante-rosto.
Primeira edição desta primeira versão portuguesa de "Diana",
originalmente escrita em Castelhano.
10458. VIEIRA, Afonso Lopes –
SANTO ANTÓNIO. Sociedade Editora Portugal-Brasil, Lisboa, 1932. In-8.º de
236-XLII-(8) págs. Encadernação meia inglesa com cantos e lombada em pele,
apresentando-se a lombada decorada com dizeres dourados. Encadernação
ligeiramente cansada.
“...diário de viagem espiritual, (...) escrevi-o, sobretudo por
devoçao nacional (...) no centenário do Santo nacional.”
10459. VIEIRA, Afonso Lopes –
OS VERSOS de ... Sociedade Editora Portugal-Brasil, Lisboa, 1927. In-8º de
319-(5) págs. Encadernação moderna meia inglesa em pele castanha com cantos e
rótulo verde na lombada. Sem capas de brochura. Apenas aparado à cabeça.
Primeira edição.
Inclui as poesias publicadas em Romanceiro, O Pão e as Rosas, Ilhas de
Bruma, País Lilás, Para os Piquenos, Scenas Infantis, Ao Sodado Desconhecido e
Cancioneiro.
Unicamente se incluiram neste volume duas composições Para os Piquenos
Portugueses por esses versos pertencerem a edições especiais, ilustradas.
10460. VIEIRA, Afonso Lopes – O
PÃO E AS ROSAS. Livraria Ferreira Editora, Lisboa, 1908. In-8º de 169 págs.
Enc. nova meia francesa com cantos em pele vermelha e rótulos de pele azul na
lombada. Apenas aparado á cabeça. Conserva capas de brochura. Ocasionais picos
de humidade ao longo do texto. Rubrica de posse do poeta GARCIA PULIDO.
PRIMEIRA EDIÇÃO
10461. VIEIRA, Afonso Lopes –
ROSAS BRAVAS - acto em verso. "Editora", Lisboa, s/d. In-8.º de
41(1) págs. Encadernação meia inglesa com cantos e lombada em pele. Conserva
capas de brochura, as quais se encontram em execelente estado de conservação. O
miolo apresenta acidez generalizada. Dedicatória não autógrafa no ante-rosto.
Ilustrado em separado com uma gravura, a cores, de Thomás Bordalo
Pinheiro do projecto do Cenário Original de Raul Lino, executado no teatro por
Augusto Pina.
Muito invulgar.
10462. VIEIRA, Afonso Lopes – A
FÉ E O IMPÉRIO. Tipografia Inglesa Lda, Lisboa, 1933. In-8.º de 26(2) págs.
Br. Exemplar com ocasionais picos de acidez.
Publicação de uma "Conferência feita em Luanda aos 28 de Junho de
1932". Edição limitada a 200 exemplares.
10463. VIEIRA, Afonso Lopes –
CANÇÕES DO VENTO E DO SOL. Edições Ulmeiro, Lisboa, 1983. In-8.º de 138(4)
págs. Encadernação editorial.
Livro de poesia com influências marcadamente simbolistas.
(...)E os poetas, que são poetas
porque têm
nos olhos a recôndita agudeza
que vem de fitar o além,
e de amorosamente comtenplarem
nas coisas, que ainda são, o que
elas eram,
---saberão ver, com tristeza,
na graça das que voarem,
a sombra das que morreram...
10464. VIEIRA, Afonso Lopes –"MARQUES"
(história d'um perseguido). Livraria Editora Tavares Cardoso & Irmão,
Lisboa, 1904. In-8.º de 164 págs. Br. Apresenta uma rubrica de posse no
frontispício.
Referindo-se a esta obra disse Gaspar Simões: "Raúl Brandão,
Patrício, Mário de Sá-Carneiro, Almada, o próprio Almada da Engomadeira,
mestres da ficção portuguesa da primeira metade do século, foragidos do
realismo, avatares da ficção em que o real se torna poético, como que foram
beber a esta fonte oculta da novelística nacional. O "Marques", de
Afonso Lopes Vieira, é uma obra-prima do género".
10465. VIEIRA, Afonso Lopes –
PAÍS LILÁS, DESTERRO AZUL. Sociedade Editora Portugal-Brasil, Lisboa, 1922.
In-8º de 183-(7)-VIII págs. Br. Magnífica impressão de esmerado apuro gráfico
sobre papel de linho. Apresenta ocasionais picos de acidez.
O livro de poemas termina com um artigo de Julio Brandão sobre o livro
“Em Demanda do Graal”. O mesmo crítico no periódico “Primeiro de Janeiro” em
Maio de 1922 diz que “... Há em ALV as mesmas afinidades étnicas que criaram
Garrett, a quem tanto devemos, tam nosso pelo sangue e pelo espírito, e a quem
a maior parte dos críticos viram quási sempre deturpado pela intriga política
ou amorosa, sem cuidarem da essência luminosa e eterna da sua obra e do seu génio...
O novo livro de ALV é todo em redondilha maior - a mais popular, a mais
portuguesa das formas poéticas…”
10466. VIEIRA, Afonso Lopes – AUTO
DA SEBENTA. Typ. França Amado, Coimbra, 1899. In. 8.º de 40 págs. Br.
Peça comemorativa editada pela comissão académica do centenário da
"Sebenta". Primeira edição. "...Afonso Lopes Vieira é
ideologicamente um moderado e a sua obra apresenta-se globalmente com um cariz
conservador, apontando para um nacionalismo tradicionalista, que lhe valeu os
elogios de um António Sardinha e o epíteto de "neo-Garrett" por parte
de Alberto de Oliveira" in Dicionário de Literatura Portuguesa.
10467. VIEIRA, Afonso Lopes –
AR LIVRE. Livraria Editora Viuva Tavares Cardoso. Lisboa. 1906. In-8º de
216 págs. Brochado.
RARA Primeira edição e cremos que única. Capa de brochura ilustrada e
assinada como monograma LF. Apresenta rubrica de posse no frontispício.
Agostinho de Campos em “Antologia Portuguesa” sobre este título
regista a seguinte opinião: “... Ar
Livre, saídos das leituras de Haeckel, tem ao menos uma grande significação e
merecimento na vida literária de Lopes Vieira. Este livro marca o ponto de
bifurcação em que o poeta enveredou decidido para o mundo da natureza exterior,
deixando de rodar apenas em torno da sua própria alma embebida de história,
tradição e leituras, e preparando-se assim para enriquecer imperecivelmente as
letras portuguesas com as obras-primas que iluminam “O Pão e as Rosas” e as
“Canções do Vento e do Sol”. Mas Alberto Pimental no jornal “Novidades” em 1906
diz que este livro conserva do princípio ao fim “... a unidade de uma nobre
concepção filosófica: reclama justiça, igualdade e amor, repele todas as
escravidões, amaldiçoa todos os despotismos e vai procurar a fraternidade universal
À sua origem divina... ”.
10468. VIEIRA, Afonso Lopes – A
ÚLTIMA OBRA DO POETA AFONSO LOPES VIEIRA. Bertrand Lda, Lisboa, 1948.
In-8.º de 76(1) págs. Br. Ilustrado com um retrato de Afonso Lopes
Vieira por Columbano.
Publicam-se neste livrinho os textos escolhidos para os bilhetes
postais das colecções que Afonso Lopes Vieira ideou e às quais deu os nomes de
"Conheça a sua poesia" e "Conheça os seus Prosadores".
10469. VIEIRA, Afonso Lopes – O
POETA SAUDADE. França Amado Editor, Coimbra, 1901. In-4º de 132 págs.
Encadernação meia francesa em pele vermelha com cantos e dourados na lombada.
Conserva capas de brochura, com alguns picos de humidade. No entanto miolo,
aparado e muito limpo.
Nítida impressão de esmerado apuro gráfico. PRIMEIRA EDIÇÃO já de
muito difícil aparecimento no mercado.
10470. VIEIRA, Afonso Lopes – O
CONTO DE AMADIZ DE PORTUGAL para os rapazes portugueses. Imprensa
Portugal-Brasil, s.l., 1938. In-4.º de 44-(1) págs. Br.
Ilustrado com desenhos de Lino António. Apresenta dedicatória não
autógrafa no ante-rosto.
O bibliófilo
(Norman Rockwell, Bookworm, 1926)
Não é um nome muito sonante nas letras portuguesas nem um poeta com
grande procura (e, como tal, com preços elevados) no mercado bibliófilo, embora
esteja quase sempre presente nos catálogos da maioria dos leilões e tenha um
grupo de bibliófilos coleccionadores bem definido.
Pretendi apenas mostrar o que se pode encontrar no mercado bibliófilo,
tendo como amostragem as obras disponibilizadas pelo Miguel de Carvalho, e
tentar chamar a atenção para a leitura da sua obra, pois que reflecte bem o
estado de “encruzilhada ideológica” em que se encontrava a intelectualidade
portuguesa nos inícios do séc. XX (o que acontecia igualmente na politica …).
Saudações bibliófilas.