"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Miguel Deslandes: impressor régio – breve esboço biográfico





Em face do interesse que o artigo anterior despertou por este impressor português, vou deixar aqui um breve esboço sobre a sua vida e trabalho tipográfico.

Miguel Deslandes, natural de Thouars, cidade de França no Poitou, filho de Michel Deslandes, negociante, e de Marie Laurenco, sua mulher, ambos naturais e residentes naquela cidade, veio para Portugal em 1669, estabelecendo domicilio em Lisboa, em casa própria na rua antigamente denominada da Figueira, da paroquia de Nossa Senhora dos Mártires.

Era já impressor de livros "com varias imprensas", quando casou com Luísa Maria da Costa, filha do impressor francês João da Costa e de D.ª Archangela de Sousa, sua mulher.

Do seu sogro, livreiro e editor Jean de la Coste (João da Costa) também estabelecido em Portugal, Miguel Deslandes herdará o material tipográfico, que este tinha adquirido ao tipógrafo Augustin Courbé, com que imprimiu muitos livros em português, latim, espanhol, francês e italiano. (1)


Obras espirituaes do espiritual, e veneravel padre Frey Antonio das Chagas ...;
primeyra, e segunda parte.
Lisboa: Na officina de Miguel Deslandes ...;
& à sua custa impresso. 1701 (2)

Deste matrimónio houve três filhos, Manuel Pedro da Costa Deslandes, Valentim da Costa Deslandes e D.ª Maria Madalena da Costa Deslandes, todos nascidos e criados na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires. Os dois filhos, foram graduados na Universidade de Coimbra e foram cavalheiros professos da Ordem de Cristo, hábito que lhes foi concedido em retribuição pelos serviços próprios e em memória dos que às letras portuguesas prestara o seu pai.

Por despacho de 14 de Novembro de 1684, precedendo consulta do Desembargo do Paço, foi-lhe concedida a carta de naturalização para poder gozar de todas as honras, privilégios, liberdades e isenções, que tinham e gozavam os naturais do reino.

A Miguel Deslandes foi concedido o título e honra do ofício de impressor régio a 6 de Outubro de 1687, por morte de António Craesbeck de Mello.


Panegyrico al-Rey Nuestro Señor Don Pedro II de Portugal
/ Marquez de Arronches.
 Lisboa : en la officina de Miguel Deslandes 1685. - 1 v. ; in-fol (3)

O primogénito Manuel Pedro seguiu a magistratura, e, entre outros lugares, serviu em Lisboa o de Corregedor do bairro de Alfama; o segundo filho, Valentim da Costa Deslandes, tomou a direcção da régia oficina em 1703, ano em que faleceu o seu pai, sucedendo-lhe no ofício de impressor da Casa Real a 26 de Junho do mesmo ano, cargo de que apresentou desistência em Dezembro de 1715, para servir vários ofícios públicos.

D.ª Maria Magdalena da Costa Deslandes (que depois tomou o "apelido" de sua avó), nascida em 1689, casou aos vinte anos de idade com Bento de Matos Mexia, cavalheiro professo na ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real, e Capitão de Cavalos em Olivença, sendo já falecidos sua mãe e seu avô materno.

Para aqueles que pretendam debruçar-se sobre os trabalhos tipográficos de Miguel Deslandes deixo aqui o Capítulo IX [Ornamentação tipográfica nas impressões de Miguel Deslandes] (pág´711-715) da obra já aqui várias vezes referida CUNHA, Xavier da, 1840-1920 – Impressões deslandesianas : divulgações bibliographicas / Xavier da Cunha. - Lisboa: na Imprensa Nacional, [1895], (1896). - 2 v. http://purl.pt/254












Nas páginas 710 a-g podemos encontrar a riqueza de pormenores dos seus trabalhos que ficaram especialmente famosos pelo seu grafismo, como vinhetas e floreados (como as capitulares) a partir de gravuras em cobre.













Espero que este modesto contributo vos tenha despertado o interesse para a obra deste imopressor português.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1) No que diz respeito à obra do Padre António Vieira, recomendo a leitura deste post no Arquivo Histórico da Madeira: Lista das obras publicadas de Vieira
(2) Obras espirituaes do espiritual, e veneravel padre Frey Antonio das Chagas ...; primeyra, e segunda parte. Lisboa: Na officina de Miguel Deslandes ...; & à sua custa impresso. 1701.

(3) ARRONCHES, Marquês de – Panegyrico al-Rey Nuestro Señor Don Pedro II de Portugal / Marquez de Arronches. - Lisboa : en la officina de Miguel Deslandes 1685. - 1 v. ; in-fol  http://purl.pt/13978



Fontes consultadas:

Saber sapo:

Tipografia.net:

Wikipedia – Miguel Deslandes:


2 comentários:

Galderich disse...

Rui,

La lectura y visión de tu apunte me lleva a reflexionar sobre la importancia de las decoraciones xilográficas de los libros y como un corpus bien hecho nos podría llevar a conclusiones sobre qué imprentas compraron los hierros, las xilografias, los tipos... a qué otras empresas desaparecidas. Sería divertido ver como estas decoraciones de repertorio nos aportan més información de lo que podríamos esperar.

NOTA: Por cierto, tienes dos párrafos de filiaciones duplicados.

Rui Martins disse...

Galderich,

De facto o estudo da venda do material tipográfico (ferros, xilografias e tipos de letras), e do seu percurso, pelas várias casas impressoras que foram desaparecendo, por diversas razões, constitui um campo de estudo curioso e importante para uma clarificação da evolução da própria tipografia na Europa.

Repare-se que os primeiros cunhos utilizados em Portugal foram importados do Norte da Europa (caso dos começos dos Craesbeck – uma verdadeira “dinastia” de impressores da Casa Real em Portugal), pois só mais tarde a sua cunhagem começou a ser feita no país.

Para isso o contributo do Carlos Fernandez é de grande utilidade, pois parece-me ser uma área dos seus estudos e investigação …aqui fica o desafio.

Obrigado pelo teu reparo sobre a repetição dos parágrafos.

Um abraço.