"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Livraria Manuel Ferreira: Catálogo 91





O livreiro-antiquário Herculano Ferreira, proprietário da Livraria Manuel Ferreira, sediada no Porto, acaba de editar, em formato digital e em brochura, mais um dos seus apreciados catálogos, neste caso o Catálogo 91.


Catálogo 91

Como já vem sendo hábito, o Catálogo em formato digital facilita a pesquisa de livros e temas de acordo com as preferências dos leitores, sobretudo para aqueles que ainda não tenham acesso a versão impressa do mesmo, esta sempre de grande utilidade como objecto de consulta posterior.

Destaco, do seu vasto acervo que engloba uma temática bastante variada, alguns exemplos, meramente ilustrativos, como sugestão para uma consulta mais atenta do mesmo.



10176 - HELDER (Herberto). - O AMOR EM VISITA. Contraponto. [Gráfica Sintrense, Lda. S.d. - 1958?]. In-4.º de 14-II págs. B.
Edição original da primeira e muito rara publicação poética independente do autor, em rara tiragem numerada e assinada pelo poeta. Na opinião de Fernanda Frazão e Maria Filomena Boavida no seu «Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa», Herberto Helder “é, sem dúvida, o poeta mais importante da sua geração e a mais curiosa e intrigante personalidade do nosso experimentalismo.”
COM DEDICATÓRIA DE HERBERTO HELDER A TOMÁS RIBAS “COM ADMIRAÇÃO PELOS SEUS MÚLTIPLOS TALENTOS”. Com um risco na capa da brochura a circundar a chancela do editor.



16140 - D. PEDRO - CONDE DE BARCELOS.- «(...) Liuro das Linhagens que escreveo o Conde Dom Pedro Filho DelRey Dom Dinis o qual Dom pedro faleçeu na era de MCCCXCII que he de Ch[r]isto de MCCCLIIII como se conthem em hum liuro de Anniuersarios do mosteiro de Carquere, na Beira do Bispado de Lamego». III ff. inums., 296 nums. (aliás 285, por salto de numeração de 189 para 200). Tít. da lombada: «[No]biliai[ro] M.S. Conde d[e] B[arce]llos [cont]inuado por Antoni[o] de Lima». Dim. 20x29 cm.
Na f. [3] inicial as seguintes anotações: «Este liuro he de An.t[onio] Teixeira Borges que o mercou a conta de huma diuida»; No fim da folha, a assinatura de António Teixeira Borges e: «Este liuro comprey na feira de Lixª no anno de 1707, com outros manuscriptos o que declaro por que algum dia se não entenda que eu o tenho uzurpado em algum emprestimo como muito costumão. He hum treslado [séc. XVII] do Nobiliario do Conde D. Pedro acrecentado por D. Antonio de Lima, e tem algumas cosas com noticias mais modernas da mesma letra de quem o tresladou e eu lhe tenho acrecentado varias notas que alguns autores lhe fizerão falando contra algumas couzas que tratasem averiguaçaõ; e dezejava eu formar huma crize (?) contra elle para mostrar o grande numero de couzas que nelle conta o Conde que repugnaõ a verdade tendoo muitos Genealogistas cegamente por texto sem controversia; e não sera obraindigna de se ver se eu tiver vida e tempo para o conseguir. J. Fr.e de Monter.º M.as [José Freire de Montarroio Mascarenhas].
Contém índice nas 2 f. finais. Foram cortados os f. 10-11, (brancas?); estão soltas as ff. 291-296.
Trata-se de uma cópia do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, não integral, mas acrescentada pelo célebre genealogista do séc. XVII, António de Lima e com anotações e acrescentos de José Freire de Montarroio Mascarenhas, o conhecido redactor da «Gazeta de Lisboa» e da «Gazeta de Lisboa Ocidental» que dá continuidade à anterior, de 1715-1741 e também importante genealogista que deixou manuscrita a obra «Genealogias das familias de Portugal, comprovadas com documentos», 24 tomos.
A primeira edição do «Nobiliário de D. Pedro, Conde de Barcelos» foi impressa em Roma, no ano de 1640.
Peça única e de altíssimo valor. Encadernação em pergaminho.



30961 - PRADT (Abate de).- GARANTIES // A DEMANDER // A L’ESPAGNE. // PAR M. DE PRADT, // ANCIEN ARCHEVÊQUE DE MALINES. // PARIS, // BÉCHET AINÉ, LIBRAIRE-ÉDITEUR, // QUAI DES AUGUSTINS Nº 47. // 1827. In-4º de II-207 págs. E.
Com referência às relações de Espanha com a Inglaterra, França, Portugal, Filipinas e América.
Palau regista numerosas obras de Pradt, de seu nome Dominique Georges de Riom de Prolhiac de Fourt de Pradt, transcrevendo a seu respeito o seguinte de Jaime del Burgo: «El Abate de Pradt nació en el castillo de Pradt el 23 de abril de 1759 y murió en Paris el 18 de marzo de 1837. Ordenado de sacerdote en 1783, se manifestó ultrarrealista durante la Revolución y emigró en 1791. Después servió a napoleón cerca de los Reyes de España y de su hijo Fernando, lo cual le valió el obispado de Malinas. Caído en desgracia, secundó a Talleyrand y adhirióse a la Restauración. Más tarde se unió a Luis Felipe y publicó varios folletos de tendencia liberal». O primeiro capítulo trata da «Cause véritable de la querelle de l’Espagne avec le Portugal».
Além de Palau referem-se-lhe circunstanciadamente, além de outras fontes, o Grand Larousse Encyclopédique e a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Manuscrito perfeitamente legível, copiado da edição impressa ou o próprio original pronto para a tipografia.
Cartonagem da época.



10125 - QUEIROZ (Eça de). - A RELIQUIA. Porto. Typ. de A. J. da Silva Teixeira. 1887. In-8º de XX-441-I págs. B. € 600
A. Campos Matos, «Dicionário de Eça de Queiroz»: “Escrito em plena maturidade do escritor e publicado quando os Maias se encontravam praticamente concluídos, A Relíquia é a história de Teodorico Raposo, mais conhecido pelo «Raposão», e da sua viagem ao Egito e à Terra Santa, contada por esta mesma personagem, em estilo de pura farsa.” Primeira edição de uma das mais interessantes obras do grande romancista. Rara.
Primeiro caderno desconjuntado, mantendo no entanto preservada a lombada da capa da brochura.



6760 - RELATIONE // DELL’AMBASCIATA // ESTRAORDINARIA D’VBBIDIENZA // Inuiata dal Sereniss. Prencipe // DON PIETRO // SVCCESSORE, GOVERNATORE, // E REGENTE DE I REGNI DI // PORTOGALLO, E DEGL’ALGARBI, &c. // Alla Santità di N. Signore // PAPA CLEMENTE X. // Prestata dall’Illustriss. & Eccellentiss. Sig. // D. FRANCESCO DI SOVSA // Conte del Prado, Marchese delle Mine, dei Consegli // di Stato, e di Guerra, dell’Assemblea de i trè Stati, // Signore delle Ville di Biringel, e Prado, Alcaide Mag- // giore della Città di Begia, Commendatore nell’Or- // dine di N. Sig. Giesù Christo delle Commende di No- // stra Signora dell’Azeuo, Penna verde, e S. Martha di // Viana, e nell’Ordine di S. Giacomo della Commenda // de Sinis; Gouernatore dell’Armi, e Capitano Generale // dell’Esercito, e Prouincia Interamnense, & Ambascia- // tore estraordinario d Obbedienza alla Santità di Papa // CLEMENTE X. // (vinheta) // IN ROMA, per il Mancini. 1670. Con licenza de’Super. In-8º gr. de 40 págs.
Relação extraordinariamente rara, relativa à Embaixada enviada por D. Pedro II a Clemente X, Embaixada importante por ser a primeira enviada a um Pontífice depois dos sessenta anos de domínio castelhano e mais aqueles em que estiveram interrompidas as nossas relações com a Santa Sé. Foi nosso Embaixador D. Francisco de Sousa, sendo a correspondente Oração de Obediência proferida por António Vellez Caldeira. A págs. 3 vem a dedicatória a D. António Luís de Sousa, filho do Embaixador D. Francisco de Sousa. Personagem de relevante importância, D. Francisco de Sousa foi um dos fidalgos que esteve na aclamação de D. João IV, tendo tido actuação determinante em muitas das lutas que se sucederam a este acontecimento, especialmente no Minho e no Alentejo. Esta e muitas outras notícias podem ser colhidas na extensa rubrica que lhe foi dedicada por Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues na sempre utilíssima obra «Portugal - Diccionario Historico, Chorographico, Biographico, Heraldico, Numismatico e Artistico».
DESTA EDIÇÃO APENAS SE CONHECIAM DOIS EXEMPLARES, como declarava o Visconde da Trindade a págs. 192 do 3º vol. dos seus «Ensaios Bio-Bibliográficos», onde se lê: «Desta Embaixada se fez em Roma uma Relação em italiano, que não só a descreve, como também alude à Oração de Vellez Caldeira que foi feita com tanta elegância de frase e viveza de representação que deixou suspensos todos os espectadores, como se lê na Biblioteca Lusitana, Tomo I, pág. 413.
«Esta relação em italiano é muito rara, só sendo conhecidos os exemplares existentes na Biblioteca Cornisiana em Roma e na Marciana, de Veneza.
«Há também, em português, uma Relação dessa embaixada, também da maior raridade, publicada em Lisboa em 1670, na oficina de António Craesbeeck de Mello».
Acrescente-se a existência de um exemplar na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, registado sob o nº 7843 do «Catálogo da Colecção de Miscelâneas».
Bela encadernação da época, em pele, (algo danificada) tendo em ambas as pastas um grande super-libros heráldico dos Sousas do Prado, gravado a ouro, o que pode indiciar que o exemplar pertenceu ao próprio Embaixador D. Francisco de Sousa, «Conte del Prado», como do frontispício ficou transcrito. Com a seguinte marca de posse manuscrita ao alto do frontispício: Ex Libris Congregationis Missionie Domus Crucis Vimaranensis.



622 - SILHON (Jean de).- ESCLAIRCISSEMENT // DE QVELQVES DIFFICVLTEZ // TOVCHANT L’ADMINISTRATION // DV // CARDINAL MAZARIN. // PREMIERE PARTIE. // Par le Sieur DE SILHON. // (Bela gravura de grandes dimensões, aberta em chapa de cobre, com as armas de Luís XIV) // A PARIS, // DE L’IMPRIMERIE ROYALE. // M.DC.L. In-fólio de XX-295 págs.
Obra importante de Jean de Silhon, considerado moralista francês, secretário de Richelieu e depois Conselheiro de Estado que defendeu o conceito de razão de Estado, como justificação da utilização de meios não legais ou éticos, na obtenção das finalidades políticas do Estado.
«Ses ouvrages le font voir un de nos meilleurs écrivains en matières politiques… Son style est beau et soutenu, orné même, et s’il était moins étendu et un peu plus pur, il n’y aurait rien à souhaiter. Il a de l’éloquence et du savoir, peu de lettres humaines, assez de théologie.» (Jean Chapelain, 1595-1674).
Obra rara, de que apenas se publicou este volume, sendo esta a primeira das três edições registadas por Brunet.
Boa encadernação inteira de pele, à antiga, tendo encastoado na pasta da frente o super-libros a ouro com as armas de Abreus e Soares de Albergaria, proveniente da encadernação primitiva.



2471 - TORGA (Miguel).- CONTOS DA MONTANHA. 2ª edição refundida e aumentada. 1955. Irmãos Pongetti - Editores. Rio de Janeiro. In-8.º de 197-III págs. B.
É a primeira edição brasileira deste famoso livro de contos, em tiragem limitada a 2000 exemplares numerados, obra de que em Portugal, ao tempo, havia uma única edição intitulada «Montanha», cuja selecção de contos não é rigorosamente a mesma. (1)



Agora resta a vossa leitura e consulta deste Catálogo. que como se pode concluir pelo ilustrativo é bem variado.


Saudações bibliófilas.


Nota:
(1) A 1ª edição desta obra é uma das mais raras da bibliografia de Miguel Torga, exceptuando-se aquelas que editou com o seu verdadeiro nome de Adolfo Rocha. (não confundir com Novos Contos da Montanha).



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