"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 31 de maio de 2009

Conversa bibliófila: um passeio bibliófilo.



Vista de Lisboa tomada do Jardim de S. Pedro de Alcântara

Em continuação do meu último artigo, vou narrar um dos meus dias bibliófilos.

Desloquei-me a Lisboa para visitar a Exposição na Biblioteca Nacional “Estrelas de Papel”.
Excepcionalmente bem montada, num ambiente com música de fundo convidando à visualização calma dos exemplares, projecções de diaporamas das páginas mais emblemáticas dos livros expostos e a mostra, em microfilme, do texto de dois dos livros mais importantes.

Em minha opinião uma exposição a não perder!
O Catálogo da referida exposição é um precioso depósito de referência bibliográfica sobre as obras expostas, bem como sobre o tema da exposição...vale a pena comprar!

Livraria Artes e Letras

Depois dei um salto ao Chiado, para visitar algumas livrarias. Tive o prazer de conhecer mais um Livreiro Antiquário, o Sr. Luís Gomes, proprietário da Livraria Artes e Letras, que, durante uma breve conversa, me proporcionou preciosas informações sobre alguns temas bibliófilos e, me mostrou alguns exemplares, do seu vasto acervo.
Sempre o eterno, e inesquecível, prazer de sentir nas nossa mãos o livro, avaliá-lo, compará-lo com outros exemplares, que já tenham passado pelas nossas mãos. Tudo o que não se consegue sem a presença física do mesmo.
A Internet é excelente, em minha opinião, para nos orientar em relação aos locais de “caça” mais apetecíveis, mas não dispensa a visualização directa dos exemplares em questão, nem as trocas de impressões com o livreiro e, eventualmente, com outro bibliófilo que tenhamos o prazer de aí encontrar!

Livraria Artes e Letras

Felizmente não saí cabisbaixo, nem envergonhado, pois encontrei algo que me interessou, e, dos quais vos deixo aqui a visão deste pequeno opúsculo, de uma lote vasto que a Livraria possui, e que são indispensáveis na colecção de Antero de Quental, pois grande parte da sua produção literária foi publicada por este editor.


QUENTAL, Antero [Tarquinio] de, 1842-1891
Na sentida morte do meu condiscipulo e amigo Martinho José Raposo
Barcelos : Typographia da Aurora do Cavado : Editor - R.V. (Rodrigo Velloso), 1897.
Opúsculo. (168 mm) de 13-[3] pp. Br. Tiragem declarada de 100 exemplares.
(Um dos 20 exemplares em papel de linho, com o n.º 16)


Para terminar o dia, desloquei-me à mais antiga cervejaria de Portugal - “Cervejaria Trindade”, para refrescar a boca e saborear um bom petisco, com a minha fiel companheira de algumas das minhas andanças bibliófilas – a minha esposa!

Cervejaria Trindade - Lisboa

Não percam o hábito destas visitas, são sempre gratificantes...e se, ainda não o fizeram, experimentem, verão que vale a pena!

Saudações bibliófilas

Divulgação: Livraria Artes e Letras


No sentido de divulgação dos vários Livreiros, que se vão cruzando no meu caminho, aqui deixo referência a mais um.
Livraria, que nos pode assustar um pouco pela dispersão das obras, mas o seu proprietário, com a sua afabilidade e disponibilidade, está sempre pronto, para nos permitir um volta pelas prateleiras, ou para nos ajudar nas nossas pesquisas, com a ajuda do seu registo informático das obras em acervo.



Aqui fica o endereço da sua página na Internet
http://www.livrariaarteseletras.pt

sábado, 30 de maio de 2009

Conversa bibliófila: Bibliófilos e Livreiros-Antiquários


Fotografia da capa do “Catálogo de Junho 2009"
Bauman Rare Books
Proponho abordar hoje um tema que levará certamente a diversas interpretações e opiniões (pelo menos assim o espero!)
Vamos falar da relação bibliófilo / livreiro-antiquário nos nossos dias.
Com os meios informáticos actualmente disponíveis, nomeadamente a Internet com os seus grandes monopólios de vendedores de livros como a eBay e Abebooks, com a facilidade de acesso a Livrarias com página na Internet que disponibilizam catálogos on-line e com verdadeiras lojas virtuais, o que moverá um bibliófilo a deslocar-se a uma Livraria Alfarrabista para procurar o “seu” livro, quando o pode fazer tranquilamente, sentado em frente do seu computador?
"Boletim Bibliográfico" n.º 41
da Livraria Luis Burnay
Um outro aspecto desta mesma questão: porquê comprar um livro em papel, brochado ou encadernado, que quanto mais raro e estimado esteja o seu preço dispara para valores nem sempre acessíveis a todos os bibliófilos, quando podemos obter alguns, gratuitamente, em versão pdf ou e-book?

Fotografia da Livraria Luis Burnay

Porquê o prazer de retirar um livro duma prateleira de o manusear para o folhear, sentir o seu papel e a sonoridade do mesmo, a sua textura, o seu cheiro, a qualidade tipográfica do mesmo, a beleza das suas ilustrações.
Avaliar o estado da brochura ou a qualidade da encadernação: pergaminho, de época, posterior ou mesmo moderna.

MOUHY (Charles de FIEUX, Chevalier de) -
MEMOIRES D'ANNE-MARIE DE MORAS, COMTESSE DE COURBON ;écrits par elle-même, et adressés
à Mademoiselle de *** pensionnaire au couvent du Cherche-midi.
Première, deuxième, troisième et quatrième partie (complet). [E.O.]
A La Haye, Pierre de Hondt. 1740. 4 partes encadernadas em 2 volumes
in-12 (15,5 x 9,5 cm) de 9 ff. n. n., 79, (2)-112, (2)-107 et (2)-135-(1) pags.
Analisar a qualidade das suas decorações. Tentar descobrir quem o possa ter encadernado, caso não seja uma encadernação assinada.
São estes pormenores que podem levar, e levam felizmente ainda, um bibliófilo a deslocar-se e a visitar um Livreiro-Antiquário.
Nada mais aprazível do que entrar numa Livraria e olhar, com deleite, para as várias obras expostas, sentir o seu coração a bater mais acelerado, (será desta que encontro o “tal” livro?). Mesmo que a visita seja infrutífera, e não encontrámos nada que nos interessasse, ainda que cabisbaixos e um pouco envergonhados em relação ao livreiro, ficaram duas coisas, que nos irão marcar: aprendemos de certeza mais qualquer coisa com a conversa, que possamos ter estabelecido com o livreiro, que nos tentou ajudar, e vimos obras interessantes, ainda que não as que procurávamos. (Habitualmente cada bibliófilo tem os seus autores, ou temas, pré-seleccionados)

Bauman Rare Books
(Las Vegas gallery at the Palazzo)
É precisamente neste ponto que eu pretendo sublinhar esta relação, por vezes, carregada de simbolismos, entre o livreiro que cativa e tenta fidelizar um bibliófilo e o prazer da visita deste à Livraria, mais que não seja para “dar dois dedos de prosa” com o proprietário.
Um, senão o mais importante, caminho para se conseguir ir desbravando os múltiplos enigmas da bibliofilia, pois não se consegue aprender tudo só na leitura de catálogos ou outros dicionários bibliográficos, ainda que indispensáveis.
Facilmente se percebe que cada um deve saber desempenhar o seu papel, que muitas vezes, nem sempre é correcto de alguma ou mesmo de ambas as partes.
Quem nos pode pôr ao corrente das modas do mercado, o que se procura mais actualmente, ou o que perdeu interesse, e a este propósito cito um amigo livreiro que me disse: “A bibliofilia portuguesa em voga adquire hoje padrões que fogem aos clássicos. Falo da minha experiência e constatação das flutuações do mercado. Assistimos a uma procura de livros em brochura de autores do século XX, menosprezando os tipos de papel empregues e a encadernação, para não falar de outras características que mimam o bibliófilo clássico como o cheiro do papel e a sua sonoridade” (M. de Carvalho)
Obrigado pela vossa leitura e espero os vossos comentários e opiniões.
Saudações bibliófilas

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Livraria Castro e Silva: VII Catálogo de Livros Raros


A Livraria Castro e Silva publicou mais um dos seus excelentes catálogos : "VII Catálogo de Livros Raros", para The 52nd Antiquarian Book Fair, London, Thursday 4th to Saturday 6th June 2009 - Olympia 2009, e, como já vem sendo hábito, com obras raras e de excelente qualidade.
Para despertar a vossa curiosidade aqui fica a sua capa:



Para a sua consulta aqui fica o link:
http://www.castroesilva.com/Catalogos/CatrarosVII.pdf

Saudações bibliófilas, com votos de boa leitura do mesmo...e porque não? talvez aí esteja o tal livro tão procurado!

terça-feira, 26 de maio de 2009

Exposições bibliográficas na Biblioteca Nacional de Portugal



Estrelas de papel: livros de astronomia dos séculos XIV a XVIII


Integrada nas comemorações do Ano Internacional da Astronomia, que se celebra em 2009, a Biblioteca Nacional de Portugal organiza uma exposição em que pela primeira vez será apresentado um conjunto fundamental das obras mais emblemáticas da história da astronomia, manuscritas e impressas. Uma oportunidade rara para conhecer um património cultural que revela a evolução da mais antiga das ciências exactas – a Astronomia – e testemunhar o fascínio que o espectáculo da abóbada celeste exerceu em todos os povos e culturas, nas suas expressões tanto científicas como estéticas.


Constituída por quatro núcleos documentais, complementados por alguns instrumentos astronómicos de época, a Exposição começa por apresentar os Antecedentes da Revolução Astronómica, com obras de Ptolemeu, Sacro Bosco, Afonso X, Regiomontano e Pedro Apiano, entre outros, mostrados através de manuscritos de Alcobaça, códices árabes, incunábulos e edições do século XVI. Em A Revolução Astronómica mostram-se raras edições de autores célebres como Copérnico, Tycho Brahe, Galileu, Kepler, Riccioli, Hevelius e Newton. Um núcleo dedicado aos Atlas Celestes reúne os exemplares mais significativos da evolução da representação das constelações, estrelas, planetas e cometas desde o século XV, com a sua enorme riqueza iconográfica. Como último núcleo, A Astronomia em Portugal exibe impressos e manuscritos de autores portugueses entre os quais Pedro Nunes, Sardinha de Araújo, Manuel Bocarro, Castro Sarmento, Eusébio da Veiga e Monteiro da Rocha, assim como edições portuguesas de autores estrangeiros.
EXPOSIÇÃO Comissariada por Henrique Leitão 29 de Abri a 31 de Julho


Nos 300 anos da fundação do Mosteiro de Clarissas do Louriçal (1709-2009)

A Biblioteca Nacional de Portugal associa-se, com uma mostra bibliográfica, aos 300 anos da fundação do Mosteiro do Santíssimo Sacramento do Louriçal.


Estarão patentes antigas Regras e Constituições das Clarissas, Oratória Sagrada e biografias sobre Santa Clara, alguma produção literária de autoras clarissas portuguesas (Sóror Violante do Céu, Marina Clemência, Madalena da Glória, entre outras) e títulos vários sobre as fundações e vicissitudes dos mosteiros que as abrigaram. Destaque será dado ao do Louriçal, fundado no reinado de D. Pedro II, pela Madre Maria do Lado (1605-1632), cuja devoção se estendeu à Corte e ao povo.
A mostra é enriquecida por uma Cronologia do Mosteiro e por um hábito das Clarissas
MOSTRA BIBLIOGRÁFICA 14 a 30 de Maio Sala de Referência Entrada livre

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Bibliofilia e a valorização do livro




BARBOSAE, Augustini (I.V.D. Lusitani, Pronotarii Apostolici, olim s. congregationis indicis consultoris, & insignis Ecclesiae Vimaranensis Thesaurarii majoris, nunc vero episcopi ugentini, et a consiliis D. Philippi IV, Hispaniarum Regis Catholici). PRAXIS EXIGENDI PENSIONES, adversus CALUMNIANTES, et DIFFERENTES ILLAS SOLVERE, cui accesserunt vota plurima decisiva, et consultiva canonica. (Tome II : VOTORUM DECISIVORUM et CONSULTIORUM CANONICORUM). Ultima Edition, aucta et emendata.
Lugduni, Sumptib. Philippi Borde, Laurentii Arnaud, Petri Borde, & Gulilielmi Barbier, MDCLXIII-MDCLXIV (1663-1664), 2 volumes (23,5 X 35,5 cm), Encadernação de época.


Convido-vos hoje a ler um texto dum amigo Miguel de Carvalho, pleno de actualidade, ainda que datado de 2005, o qual nos dá, em minha opinião, a visão simultânea do livreiro-antiquário e bibliófilo.
Permiti-me ilustrar com algumas imagens, que me parecem pertinentes, e tornam a sua leitura mais apelativa.
Quem tem conhecimento, como eu, deste tipo de personagem, sabe bem os dilemas que se lhe põem ao ter de se separar de obras das sua colecção, para reinvestir noutras: Quais escolher ? Será que não me vou arrepender? Voltarei a encontrar um outro exemplar?...
Como sempre a bibliofilia é uma questão de amor, e como tal, cada um vive a paixão à sua maneira.

Deixo-vos a sua leitura.





FRANQUESNAY, Jacques (de La Sarraz du) - LE MINISTRE PUBLIC DANS LES COURS ETRANGERES, ses fonctions et ses prérogatives. Par le sieur J. de La Sarraz du Franquesnay.
A Paris, chez Etienne Ganeau, libraire rue St-Jacques, aux armes de Dombes, 1731
1 volume in-12 (17 x 10 cm) de xxiv-293-(5) pags.




Por definição à BIBLIOFILIA associa-se o que de civilizador representa, e sempre representará, o livro de qualidade. É uma actividade lúcida feita à custa de apreciações inteligentes e à custa do culto dum complexo de sentimentos que vão desde a sensibilidade sublime, o carinho, o amor e o respeito pelo livro, não só pelo seu conteúdo, mas também pelo conjunto das suas características físicas tais como: o tipo de papel empregado, a ilustração, o aspecto gráfico, um autógrafo ou uma dedicatória autógrafa, a magnificência da encadernação e os materiais empregados, o historial & anteriores pertences, o estado de conservação, o número de edições, a edição limitada e numerada, entre muitos outros. Muitas outras sensações únicas estão relacionadas à bibliofilia e indirectamente às características do livro. Imagine-se a alegria quando se localiza ou descobre o livro que há tantos anos se ansiava e nunca se teve a oportunidade de o observar. Defronta-nos então aquilo que os espanhóis chamam de "taquicardia del abordaje". Quererá então, e acima de tudo, passar umas horas de solidão, para ler, folhear, abraçar e cheirar esse livro que veio enriquecer a sua vida. E o livro raro e precioso tem odor bem característico, inefável - regalo dos bons apreciadores.



UZANNE, Octave - Physiologie des QUAIS DE PARIS, du pont Royal au pont de Sully [E.O]
Illustrations d'Emile MAS.
Paris, Ancienne Maison Quantin ; Librairies-imprimeries réunies, Bouquinistes et bouquineurs, 1893 (achevé d'imprimer le 20 décembre 1892), grand in-8° (258x170mm.) ; 3ff. XI, 318pp, 1f.



Um bibliófilo não é só um leitor de livros. É também um amador e coleccionador de obras raras e preciosas. O que faz nascer um bibliófilo? É uma pergunta que só cada bibliófilo poderá responder. Não existem semelhanças nas respostas. É uma pergunta que se pode fazer a todos os que sofrem de "bibliofilia", verdadeira doença aos olhos dos não iniciados, incompreensível e incompreendida de quem não foi atacado do mesmo "mal". Ao bibliófilo com todas as suas idiossincrasias só outro bibliófilo pode verdadeiramente compreender. No entanto, entre os coleccionadores há talvez um tipo mais compreensível, mais acessível, é aquele que só adquire obras, que, para além da sua raridade e qualidade, o interessem também o asunto. Os livros são posse tão pessoal que dificilmente se encontrará quem tenha exactamente e na totalidade os mesmos gostos. O desfazer de uma biblioteca não é a morte mas o renascimento. Outras colecções serão enriquecidas com espécies que nela faltavam, uma geração de bibliófilos entrará na apaixonante luta pelo livro desejado.





HUGO, Victor - Torquemada
Calmann-Lévy, Paris 1882, 15 x 25 cm.
[
E.O.]
Encadernaçao assinada por Raparlier.



De regresso ao VALOR DO LIVRO, para além de todos os factores de valorização acima referidos, existe um essencial e inalterável à escala humana: o TEMPO. São essenciais as extraordinárias atitudes da preservação desde que se toma posse de um livro. O tempo tratará então de o enriquecer. O tempo respeita quem toma tempo, quem actua nas suas decisões de forma serena, quem impõe plácidamente a sua vontade de forma suave e constante. O tempo melhora tudo o que tem de melhor. Perceba-se a razão pela qual o vulgo "tem mais de cem anos" não tem qualquer peso na valorização. Até poderá ter duzentos anos ... A qualidade literária, histórica ou filosófica e o estado de conservação são valores intrínsecos capitais.




Catalogue des livres rares et précieux composant la bibliothèque de feu M. Jacques-Charles Brunet
Première partie : Livres rares et précieux - Belles reliures anciennes et modernes
Édité chez Potier, Labitte et Boone en 1868. in-8 16x25 cm de XLVI-143 pages.
713 titres répertoriés, avec une notice sur la vie et les travaux de Brunet par Le Roux de Lincy. Br


Por fim resta-nos o parâmetro referencial PREÇO ou COTAÇÃO DE MERCADO que é ditado pelos livreiros antiquários profissionais nos seus estabelecimentos e nos seus catálogos. Assim a cotação de um livro, embora oscilante entre dois patamares rígidos e bem definidos relacionados com o seu estado de conservação, é aquele cujo valor é muito semelhante entre todos aqueles livreiros antiquários. Nos Leilões e ao contrário da cotação da pintura e outros objectos de arte, pois estes artigos são exemplares únicos, o preço final de um livro antigo leiloado constitui meramente um valor indicativo do seu interesse uma vez que, salvo raras excepções, o livro não é exemplar único. Esta cotação atingida em leilão é também, e na maioria dos casos, resultado de uma disputa levada entre pelo menos duas pessoas e pela sua teimosia da aquisição a qualquer custo, para não falar nas atitudes exibicionistas dos tecnocratas dos livros (de cheques).



Œuvres de LOUISE LABÉ, Lyonnaise,
Edition de L. Boitel, Lyon, Savy, 1845. 1 volume in-12, 17 x 10 cm.
Encadernação assinada por Trautz-Bauzonnet
Reedição muito rara das obras de Louise Labé (tiragem de apenas 200 exemplares)
Com um tipografia extremamente cuidada.
Com um ex-libris de da Biblioteca de Robert Samuel Turner


A paixão dos bibliófilos é na maioria dos casos a TIRAGEM ESPECIAL. É uma espécie de culto pelo livro e uma forma do leitor mostrar o seu apego à obra que aprecia e estima. Toda a história do livro conhece a existência de uma edição especial. Elaborado sobre papel diferente, normalmente mais encorpado ou com uma textura diferenciadamente valorizada, o que move os autores e editores a realizar tiragens em papel especial, com uma apresentação mais rica, é o desejo de agradar a este ou àquele, e de assim salvar as edições. Não é um culto à vaidade mas sim à bibliofilia e ao desejo de uma maior beleza, de mais harmonia e, sobretudo, o de uma maior perenidade dos livros que se compram.

© Miguel de Carvalho - livreiro antiquário 2005 :: Powered by MagicBrain

Obrigado pela vossa leitura e, estou seguro, que esta constituirá um ponto de reflexão para todos nós.

domingo, 24 de maio de 2009

Encadernação: Gravadores esses desconhecidos.

Proponho-vos hoje uma análise diferente sobre a encadernação. Vamos ver o grupo de artesões, mais esquecidos, mas não menos importantes, envolvidos na sua confecção.


Quando se olha para um conjunto de livros como este somos forçados a admirar a sua diversidade de tipos e estilos de encadernação.
Primeiramente, analisamos os materiais: temos encadernações em tecido, percalina e, evidentemente, em pele.
Depois, com mais cuidado, interrogamo-nos sobre os seus encadernadores: serão encadernações assinadas?
E, perante esta análise, ressalta-nos logo outra dúvida, de que época são estas mesmas encadernações, em face da diversidade de tipos presente?

Curiosamente, ninguém se vai interrogar sobre um dos pontos fundamentais para a estética deste conjunto...quem fez os ferros de dourar?
Os gravadores, são os verdadeiros herdeiros dos primeiros encadernadores, feitas pelos ourives, quando estas eram feitas em marfim cinzelado ou prata lavrada e com incrustações de pedras preciosas.

Antes da invenção da técnica de impressão, os manuscritos, livros das horas, e missais, eram enriquecidos por coberturas em marfim esculpido, ou de prata com incrustações de gemas minerais. Mesmo após a invenção da impressão, esta ocupava-se somente das folhas do livro, toda a decoração adicional era privilégio do ourives.
Por exemplo, Benvenuto Cellini recebeu seis mil coroas para realizar a capa dourada, gravada e enriquecia com pedras preciosas, que fez para um livro que o de Cardial de Medici quis oferecer a Carlos V.


Florão do Século XVII
Em França, onde a encadernação teve grande expansão e desenvolvimento, depois das experiências italianas, os ourives reivindicaram o monopólio de encadernar, e também de negociar nos materiais mais finos para esse efeito.
O ferro de dourar, ou matriz de impressão a quente, igualmente nomeado ferro “para imprimir” (porque não há ainda a adição da folha de ouro), aparece no século XII, na Europa da Idade Média.
Florão de canto do Século XVIII

Os ferros na sua origem todos eram gravados em partes côncavas. Nomeia-se hoje em dia este estilo “monástico”, porque a utilização deste instrumento era feita, na época, pelos monges encadernadores que viviam em mosteiros

Florão em forma de borboleta romântico

É necessário igualmente precisar que “Ferro” não é, no seu início, uma peça de bronze ou de latão gravado, mas uma placa de madeira, que era posta sob impressão a frio com moldagem no couro. Seguidamente foram placas de ferro macio ou cobre que se aquecia, antes de chegarmos aos ferros com cabos, em cobre ou ferro macio, já no meio da Idade Média, e que se denominavam punções. Os ferros em bronze são bastante mais tardios.

Florão decoração de folhagem romântico

O ferro a dourar desenvolve-se muito rapidamente e espalha-se em toda a Europa. Mas vai sobretudo conhecer o seu momento decisivo ao século XV.
Só uma certeza, é que o ferro de dourar e a aplicação da folha de ouro aparecem na Europa com a chegada de artesões Persas à Itália e Veneza.
Em França, onde a encadernação teve grande expansão e desenvolvimento, depois das experiências italianas, os ourives reivindicaram o monopólio de encadernar, e também de negociar nos materiais mais finos para esse efeito.

Florão em forma de cesto


No que respeita aos gravadores, chamavam-se no início em França, "Maîtres Tailleurs Graveurs de Sceaux et Cachets sur Métaux", que obtiveram estatuto por cartas de patente de Luís XI, em Junho de 1467. Seguidamente, em 1751, outras corporações adquiriram a possibilidade de gravar ferros na condição de terem uma profissão que tivesse a ver com os metais.
Só no século XIX, é que gravar ferros se tornou um ofício específico com o desaparecimento das corporações.

Florão romântico

Há dois documentos legais: a "Loi Le Chapelier" e o "Décret d'Allarde" que determinam o termo das corporações, publicados em 2 e 17 de Março de 1791.
Em França existiram grandes gravadores, como ADAM, BEAREL, DAMY, HAARHAUS, LECLERC, LONGIEN, MORAND, SOUZE… Infelizmente já todos desaparecidos....


Florão com assinatura de R. Haarhaus

Obrigado por me acompanharem nesta divagação e desejos de um bom domingo.

Saudações bibliófilas

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Conversa bibliófila: bibliofilia e bibliomania


LARGUIER, Leo – “Petites Histoires pour Bibliophiles”
Paris, Editions Fournier, 1944
Brochado. In 8, 58 (3 fls.). Com Frontispício de Roger Parry.
Uma dos 840 exemplares em papel Velin (n.º 463) (1)


Proponho-vos hoje mais um momento de reflexão sobre a bibliofilia e a bibliomania, e para isso vou servir-me dum pequeno livro. LARGUIER, Leo – “Petites Histoires pour Bibliophiles”, que li e reli, sempre com agrado, e onde encontrei alguns apontamentos que me fizeram meditar neste problema complexo.
Propositadamente não traduzi os trechos referidos, porque, pessoalmente, gosto mais de ler sempre que possível na língua original, e, em segundo lugar, em atenção para com os leitores franceses, para os quais o “Google Traduction” dá uma tradução extremamente bizarra do português para o francês (experimentem...)

O autor, depois de explicar o significado etimológico destes dois termos, começa por fazer a destrinça entre bibliómano e bibliófilo::

La différence est énorme!
Le bibliophile aime les livres à sa façon et il n’aime pas tous les livres.
Celui-ci n’admet que les Romantiques sur ses rayons, et celui-là ne tolère que les illustrés du XVIII siècle. Tel se croirait déshonoré si ses livres modernes sur grand papier étaient reliés. Il lui faut des ouvrages brochés dans des cartonnages et des boites.
Cet autre ne s’attache qu’à certains auteurs. Il en a rassemblé toutes, les éditions depuis la première, mais, si une seul lui manque, sa vie est empoisonnée.
Le bibliophile n’a point l’amour généreux. Il me fait penser à l’ami des chats qui déteste les chiens, car les amis des bêtes ne chérissent qu’une espèce ou deux.
Amateurs de livres et amateurs de curiosités se ressemble !
*******
Quand un vieux bouquin lui échappe, raflé par un ennemi, la vie ne vaut pas d’être vécue.
Il se retourne sur son grabat. L’insomnie le tient, déformant toutes ses pensées.
*******
Un ami me parlait dernièrement d’un bonhomme qu’il avait aperçu seulement chez les plus modestes bouquinistes. Il était rugueux et distant. On ne savait pas grand’ chose de lui. Il vivait dans une villa de la proche banlieue où il rapportait chaque soir deux ou trois paquets de livres.
Lorsqu’il mourut, ses héritiers trouvèrent presque tous les paquets intacts.
Il n’en avait pas coupé les ficelles. La chasse seule le passionnait et il m remisait les pièces abattues, se réservant sans doute de les classer un jour. Il y en avait dix mille.
Le bibliophile – et, depuis 1920, cela arrive souvent – peut ne collectionner que des livres modernes mais pour le bibliomane l’imprimerie commence à Gutenberg et finit vers 1878.

Gravura da Capa

Mais adiante conta um episódio, que nos aconteceu a quase todos nós, infelizmente sem termos a sorte do preço pago pelo felizardo!:

Avec beaucoup de savoir, de ténacité et de goût. Il faut un peu d’argent et un peu de chance.
Je soupe à un ami, le médecin général Lascoutx dont la bibliothèque est parmi les plus belles que l’on connaisse.
Un soir, il s’entretenait avec un libraire d’’un introuvable bouquin qu’aucun des deux n’avait vu : «La Sonde de la Conscience ».
Le lendemain, le docteur Lascoutx, passant par hasard devant la boutique de Gougy, entra, regarda quelques volumes jetés les uns sur les autres et dont on ne lisait pas les titres.
Le premier qu’il tira et qu’il emporta pour une trentaine de francs était la « Sonde de la Conscience » !


Frontispício de Roger Parry


Como já referi num artigo anterior, também a bibliofilia tem as suas modas: o que já foi muito procurado, pode já não o ser e, inversamente, aquilo que se podia comprar a preços quase simbólicos valorizou-se muito pela sua procura actual.

Il faut en bibliophilie, come en peinture, se méfier des modes, et l’amateur qui s’offre la première édition de la « Dame aux Camélias », sur petit papier, en demi-reliure de cabinet de lecture, pour 18.000 francs n’en aura peut-être pas dans quelques années pour son argent.
Il faut se méfier des valeurs cotées, du baromètre des Bourses et se dire que la baisse peut suivre la hausse !


E para terminar este último, mas interessante, epigrama :

Je connais des gens qui croient avoir mis tout au point quand ils ont cette basse plaisanterie de commis-voyageur, l’épigramme de Pons de Verdun sur les amis des livres :
« C’est elle…Dieux que je suis aise !
Oui... c’est…la bonne édition,
Voilà bien, pages neuf et seize,
Les deux fautes d’impression
Qui ne sont pas dans la mauvaise »

*******

(1)Table de matières

Bibliophiles et bibliomanes
Les Notes effacées
La Boite vide
La Trouvaille
Cuisine, Musique et Littérature
En flânant le long des quais
La Tombe
La bibliothèque du cordonnier de village

Obrigado pela vossa leitura paciente e pelos comentários.
Boas reflexões para o fim-de-semana (mas desfrutem-no primeiro...)
Saudações bibliófilas.


quinta-feira, 21 de maio de 2009

António Nobre e o seu livro "Só"




Raro retrato fotográfico (Photo Universal – Porto)


Quero-vos apresentar hoje, um dos escritores portugueses que mais admiro e que sempre me fascinou, António Nobre, e falar um pouco do seu livro mais famoso o “Só”, que é simultaneamente uma das grandes raridades bibliófilas portuguesas (No início do meu percurso bibliófilo tive o prazer de ter tido nas minhas mãos um exemplar desta mesma obra... já lá vão quase trinta anos!) Hoje falaremos mais do homem que dos seus livros, prometo voltar, mais tarde, com a apresentação e descrição das suas principais obras.

António Pereira Nobre, mais conhecido por António Nobre, nasceu na cidade do Porto a 16 de Agosto de 1867, numa família abastada.

Passou a sua infância em Trás-os-Montes e na Póvoa de Varzim. Em 1888 matriculou-se no curso de Direito da Universidade de Coimbra, mas não se inseriu na vida estudantil coimbrã, reprovando por duas vezes. Optou então por partir, em 1890, para Paris onde frequentou a Escola Livre de Ciências Políticas (École Libre des Sciences Politiques, de Émile Boutmy), licenciando-se em Ciências Políticas no ano de 1895. Durante a sua permanência em França familiarizou-se com as novas tendências da poesia do seu tempo, aderindo ao simbolismo. Foi também em Paris que contactou com Eça de Queirós (um dos grandes vultos da escrita portuguesa) na altura cônsul de Portugal naquela cidade, e escreveu a maior parte dos poemas que viriam a constituir a colectânea "Só", que publicaria naquela cidade em 1892.

O livro de poesia "", que seria a sua única obra publicada em vida, constitui um dos marcos da poesia portuguesa do século XIX. António Nobre referindo-se ao seu único livro publicado em vida, "" (1892), declara: "que é o livro mais triste que há em Portugal". Apesar disso, e de ser real o sentimento de tristeza e de exílio que perpassa em toda a sua obra, ela aparece marcada pela memória de uma infância feliz no norte de Portugal e pelo relembrar das paisagens e das gentes que conheceu no Douro interior e no litoral português a norte do Porto, onde passou na infância e juventude, e em Coimbra, onde começou estudos de Direito.

Esta obra seria, ainda em sua vida, reeditada em Lisboa, com variantes e ilustrada, lançando definitivamente o poeta no meio cultural português. Aparecida num período em que o simbolismo era a corrente dominante na poesia portuguesa coeva, "" diferencia-se dos cânones dominantes desta corrente, o que poderá explicar as críticas pouco lisonjeiras com que a obra foi inicialmente recebida em Portugal. Apesar desse acolhimento, a obra de António Nobre teve como mérito, juntamente com Cesário Verde, Guerra Junqueiro, Antero de Quental, entre outros, de influenciar decisivamente o modernismo português e tornar a escrita simbolista mais coloquial e leve.


António Nobre

No seu regresso a Portugal decidiu enveredar pela carreira diplomática, tendo participado, sem sucesso, num concurso para cônsul. Entretanto adoece com tuberculose pulmonar, doença que o obriga a ocupar o resto dos seus dias em viagens entre sanatórios na Suíça, na Madeira, passando por Nova Iorque, pelos arredores de Lisboa e pela casa da família no Seixo, procurando em vão na mudança de clima o remédio para o seu mal.

Vítima da tuberculose pulmonar, faleceu na Foz do Douro, a 18 de Março de 1900, com apenas 33 anos de idade, em casa de seu irmão Augusto Nobre, reputado biólogo e professor da Universidade do Porto, e que será o responsável pela edição póstuma de "Despedidas "e "Primeiros versos".

Deixou inédita a maioria da sua obra poética. Apesar da morte prematura, e de só ter publicado em vida uma obra, a colectânea "", António Nobre influenciou os grandes nomes do modernismo português, como Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, deixando uma marca indelével na literatura lusófona.


"". 2ª edição, revista e aumentada:  
Lisboa, Guillard, Aillaud e Cª, 1898 (Ilustrada)

Para uma primeira apreciação da obra aqui fica um soneto de:

SONETO

Meus dias de rapaz, de adolescente,
Abrem a boca a bocejar, sombrios:
Deslizam vagarosos, como os Rios,
Sucedem-se uns aos outros, igualmente.

Nunca desperto de manhã, contente.
Pálido sempre com os lábios frios,
Ora, desfiando os meus rosários pios...
Fora melhor dormir, eternamente!

Mas não ter eu aspirações vivazes,
E não ter como têm os mais rapazes,
Olhos boiados em sol, lábio vermelho!

Quero viver, eu sinto-o, mas não posso:
E não sei, sendo assim enquanto moço,
O que serei, então, depois de velho.

Belos Ares, 1889.


Na sua poesia concede grande atenção ao real, descrito com minúcia e afecto, mesmo se à distância da memória e do sentimento de exílio que entretanto o invadira. Este sentimento, só aparentemente resultado da sua ida para Paris, estará presente em toda a sua obra, mesmo naquela que foi escrita após o seu regresso a Portugal.

Estas circunstâncias não importam apenas pelo seu teor biográfico, que conduziu a leituras erróneas (nomeadamente, ler o "" à luz da doença, a qual só se viria a manifestar depois de publicada a 1ª edição do livro), em toda a obra de António Nobre está presente a procura de um regresso a um passado feliz, que transfigura a realidade, poetizando-a e aproximando-a da intimidade do poeta. Estas características da sua obra, que reflectem as influências simbolistas e decadentistas que recebeu em Coimbra e Paris, são acompanhadas de alguma ironia amarga perante o que achava ser a agonia de Portugal e a sua própria, particularmente na fase final da sua vida na qual as circunstâncias críticas do seu estado de saúde contribuíram em muito para as características da sua obra.

Em todos os seus livros ("" e os póstumos "Primeiros versos" e "Despedidas"), bem como no seu abundante epistolário, está presente um sentimentalismo aparentemente simples, reflectido nos temas recorrentes da sua obra: a saudade, o exílio, a pátria e a poesia. Este sentimentalismo ganha uma dimensão mítica, por vezes visionária, na procura de um passado pessoal entretanto perdido pelo desenraizamento da sua pátria ou pelo sentimento de amargura a sua estagnação lhe causa.


Santa Cecilia : [soneto] / Antonio Nobre.
[1885?]. — [1] p. ; 27,4 x 21,2 cm 
Autógrafo a tinta preta, assinado.
(BNP Esp. A/797)

Na sua obra poética, António Nobre procurou recuperar um pitoresco português ligado à vida dos simples, ao seu vigor e à sua tragédia, pelos quais sentia uma ternura ingénua e pueril. Nessa tentativa assume uma atitude romântica e saudosista que marcaria profundamente a literatura portuguesa posterior, aproximando-o de figuras literárias como Guerra Junqueiro e Almeida Garrett.

O escasso número de volumes da obra não exclui que ela constitua um marco de referência da Literatura Portuguesa (à semelhança de outros autores de obra quase única, como são Cesário Verde e Camilo Pessanha).
É considerado por alguns, como Mário Cláudio, juntamente com Cesário Verde e Antero de Quental, um dos três maiores poetas portugueses do século XIX.

Principais obras e referência às suas mais raras edições:

"Só", 1ª edição. Léon Vanier Editeur, Paris, 1892; (raríssima)
"". 2ª edição, revista e aumentada: Lisboa, Guillard, Aillaud e Cª, 1898 (Ilustrada)
"Despedidas" (1895 - 1899), 1 ª edição. Porto, 1902. prefácio de José Pereira de Sampaio (Bruno). Com o raro retrato fotográfico (Photo Universal – Porto)(Editado pelo irmão Augusto Nobre) (Tiragem de 2.000 exemplares)
"Primeiros versos (1882-1889)", 1 ª edição. Porto, Tipografia A Tribuna, 108, Rua Duque de Loulé,124 - Porto, 1921 (Editado pelo irmão Augusto Nobre) (Tiragem de 1.500 exemplares)
Obrigado pela vossa leitura e comentários

Saudações bibliófilas

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Livraria Luís Burnay

Continuando na divulgação de alguns livreiros antiquários que, de acordo com os meus contactos pessoais, são de um grande profissionalismo e competência, e possuem um acervo de obras que poderão interessar aos bibliófilos, quer nacionais, quer mesmo estrangeiros. faço hoje referência à “Livraria Luís Burnay” a qual edita regularmente o “ Boletim Bibliográfico”, de venda a preço fixo, do qual lançou recentemente o n.º 41.
Este Boletim tem um Suplemento dedicado ao livro infantil, e cito o autor:
"Foi com grande prazer que recebemos para pôr à venda nesta lista, uma importante colecção de Revistas Infantis Potuguesas Ilustradas, reunidas pacientemente ao longo de muitos anos por um coleccionador amigo."
Realiza igualmente Leilões com livros de grande qualidade e raridade, ficando-se o Boletim, em minha opinião, por livros escassos , mas menos raros, mas sempre com algum exemplar que nos chama atenção, para enriquecer as prateleiras das nossas bibliotecas.


Deixo aqui o link para o pdf do mesmo:

Podem também dar uma olhadela à Livraria pelo que deixo aqui o endereço da sua página web

Obrigado pela vossa leitura e espero que descubram uma obra do vosso interesse (...eu já descobri!)
Saudações bibliófilas

terça-feira, 19 de maio de 2009

Inocêncio Francisco da Silva - Bibliógrafo

Antes de mais, quero apresentar desculpas aos meus leitores portugueses, pois o tema de hoje é incontornável na bibliofilia lusitana, e, como tal. pouco poderei acrescentar a tudo aquilo que já foi dito e escrito sobre tão insigne personagem.

A nenhum bibliófilo, ou simples curioso da bibliografia portuguesa, poderá ter passado despercebido o nome de Inocêncio ou do seu “Dicionário Bibliográfico Português”; no entanto, como pretendo, ainda que de uma maneira simples mas objectiva, divulgar as nossas preciosidades, autores e suas obras, além fronteiras, ser-me-ia difícil deixar de referir tão ilustre bibliógrafo.



Inocêncio Francisco da Silva
(Retrato na colecção da Academia das Ciências de Lisboa)

Inocêncio Francisco da Silva, nasceu na cidade de Lisboa em 1810, oriundo de uma família de fracos recursos económicos.
É vulgarmente conhecido, nos meios literários, por Inocêncio.
Teve como habilitações literárias formais o Curso de Comércio e o de Matemática. Os seus conhecimentos em línguas e humanidades adquiriu-os como autodidacta, enquanto desempenhava as funções de amanuense.

Lutou nas Guerras Liberais (1828-1834) ao lado do Duque da Terceira, que ocorreram no quadro da Crise de Sucessão ao Trono Português (1826-1834) que opôs o partido cartista, constitucionalista, ou liberal, liderado pelo ex-imperador D. Pedro I do Brasil, e ex-rei D. Pedro IV de Portugal, auto-proclamado regente do Reino em nome de sua filha a princesa do Grão-Pará, D. Maria da Glória de Bragança, depois D. Maria II, rainha de Portugal e o partido tradicionalista, legitimista, ou absolutista, encabeçado por D. Miguel I, rei de Portugal.

1.º duque da Terceira
António José de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha



Reconhecida a sua capacidade intelectual e saber como bibliógrafo, foi encarregado de organizar o "Dicionário Bibliográfico Português".
A obra pretendia ser uma continuação da “Biblioteca Lusitana”, elaborada por Diogo Barbosa Machado e publicada entre 1741 e 1758.

Considerado o maior bibliógrafo lusófono. reuniu toda a informação disponível sobre autores de língua portuguesa até meados do século XIX, é uma obra monumental que foi continuada por Brito Aranha, seu testamentário, que lhe acrescentou vários volumes.

O "Dicionário Bibliográfico Português" de Inocêncio, muitas vezes referido apenas pelo Dicionário de Inocêncio, é constituído por 23 volumes e completado por um "Guia Bibliográfico" de Ernesto Soares e um "Aditamento" de Martinho da Fonseca.



Capa de um dos volumes

Faleceu em Lisboa, em 1876, na mesma casa onde nasceu na Rua São Filipe Nery, 26, que hoje ostenta uma lápide comemorativa.

Ficaram célebres as suas últimas palavras: "Adeus. Acabou o martírio! "


Busto de Pedro Wenceslau de Brito Aranha

Pedro Wenceslau de Brito Aranha (1833 - 1914), foi um escritor, jornalista e bibliógrafo português.
Brito Aranha começou a ganhar a vida aos 16 anos, como aprendiz de tipógrafo. Foi como autodidacta que conseguiu alcançar uma sólida cultura.

Inocêncio Francisco da Silva tanto confiava na sua capacidade e escrúpulo intelectual que o nomeou seu testamentário, deixando-lhe numerosas notas que lhe permitiram continuar o "Dicionário Bibliográfico Português".

Ganhou fama pelas colaborações em jornais e revistas e por ter dirigido, juntamente com Vilhena Barbosa, os últimos números do "Arquivo Pitoresco". Quando em 1889 faleceu Eduardo Coelho, fundador do "Diário de Notícias", foi convidado para redactor principal do jornal.

Foi membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e sócio efectivo da Academia das Ciências de Lisboa, para a qual foi eleito em 1 de Julho de 1886.

Obrigado pela vossa leitura e os vossos comentários.
Saudações bibliófilas

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Livreiros-Antiquários: Divulgação

Interior da Liraria de Manuel Ferreira no Porto
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Continuando na divulgação de alguns livreiros antiquários que, de acordo com os meus contactos pessoais, são de um grande profissionalismo e competência, e possuem um acervo de obras que poderão interessar aos bibliófilos, quer nacionais, quer mesmo estrangeiros. faço hoje referência a duas Livrarias.
A primeira situa-se em Coimbra, Livraria Alfarrabista de Miguel Carvalho
que recomendo uma visita à sua excelente página na web (não esquecer a visita virtual à mesma...) e que deixo aqui o seu endereço:

a outra situa-se no Porto, a Livraria Manuel Ferreira, que curiosamente comemora este ano o seu 50º aniversário...
Não posso deixar de mencionar o “Leilão da Biblioteca do Dr. Laureano Barros – I Parte”, que vai decorrer na Junta de Freguesia do Bonfim (Porto) nos dias 21-23 e 28-30 de Maio.
Trata-se de um magnífico leilão repleto de excelentes obras em edições raras e procuradas... a não perder.
Para estimular o apetite deixo aqui as versões pdf:

http://www.livrariaferreira.pt/catalogo/leilaomaio09-vol2.pdf

Boa leitura e boa pesquisa...estou certo de que encontrarão, pelo menos um “livrinho”, que os tentará.
Saudações bibliófilas.