"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Les mazarinades – algumas notas a propósito de um opúsculo




Cardeal Mazarino
Quadro a óleo de Pierre Louis Bouchart

Sob esta designação agrupam-se todos os folhetos e panfletos impressos e distribuídos em França durante o período turbulento da Fronda (1648-1653) (1) da nobreza, liderada pelo príncipe Luis II de Bourbon-Condé, o grande Condé, e Armand de Bourbon-Conti, príncipe de Conti, contra o Cardeal Mazarino e o poder real – no período da menoridade de Luís XIV e regência de Ana de Áustria.


Le Grand Condé
Quadro a óleo de Justus van Egmont

No sentido estrito, uma “mazarinade” significa um panfleto contra o cardeal Jules Mazarin (ou Giulio Mazarini ou Mazzarini pela sua origem italiana) (2), ainda que por detrás desta mesma designação se inclua uma grande diversidade de publicações.

Esta designação aparece, pela primeira vez em 1651, num poema satírico de Paul Scarron, intitulado precisamente “Mazarinade”.


Paul Scarron

Uma pequena parte destas publicações, defende a política do cardeal. A mais célebre intitula-se Jugement de tout ce qui a esté imprimé contre le cardinal Mazarin, depuis le sixième janvier jusques à la déclaration du 1er avril 1650 escrita por Gabriel Naudé. Este opúsculo é uma apologia do Cardeal na forma de diálogo entre Saint-Ange (Naudé) et Mascurat (o editor Camusat).

 
Gabriel Naudé
(estampa do século XIX, baseada na de Claude Mellan)

Todavia na sua grande maioria atacam tanto o cardeal Mazarino como todas as outras personalidades envolvidas na Fronda.

Compreendem discursos, cartas (autênticas, falsas ou desviadas), poemas, diálogos, histórias, documentos oficiais, canções, tratados políticos…


Mazarinade sous forme de placard illustré.
©Bibliothèque Mazarine (M. 15042)

 
Mazarin (désigné par les initiales C.M.: Cardinal Mazarin),
banni par la Justice et la Fronde, quitte le roi.
(M. 1542, bois gravé n. º 1)
©Bibliothèque Mazarine (M. 15042)

Podem assumir a forma de cartaz panfletário para ser colado nas paredes, impressos para serem distribuídos nas ruas, panfletos, de poucas ou várias páginas, ou mesmo cópias manuscritas. Todas estas formas tinham por objectivo defender, contar ou comentar os acontecimentos que se desenrolavam.

Ainda que a maioria seja anónima, ou escritas sob a cobertura dum pseudónimo, algumas “mazarinades” são subscritas por grandes escritores da época como Marc-Antoine Girard de Saint-Amant, Jean Loret, Jean-François Sarrasin, Guy Patin, Barthélemy de Laffemas, Olivier Patru, Cyrano de Bergerac, Jean-François Paul de Gondy, cardeal de Retz, ou François duque de la Rochefoucauld entre outros.


François duque de la Rochefoucauld

Refira-se que Cyrano de Bergerac começou por escrever sete “mazarinades” contra Mazarino, como o Ministre flambé, antes de tomar o seu partido na Lettre contre Les Frondeurs de 1651.

A produção destes impressos acompanhava a intensidade do momento, mas, longe de serem produções de ocasião eram muito frequentemente impressas por profissionais.

Apesar da conjuntura económica lhes ser desfavorável, estas publicações, que não necessitavam de grandes exigências na qualidade de impressão e, como tal, de baixo custo, associadas ao facto de serem impressas e distribuídas com grande rapidez, representavam um lucro fácil e garantido para os impressores-livreiros.


Cyrano de Bergerac
Museu Carnavalet – Paris

Nove em cada dez “mazarinades” foram impressas em Paris. Outros lugares tiveram alguma importância na sua impressão como Bordéus, Aix-en-Provence e Rouen. Existem algumas edições impressas no estrangeiro (caso da Holanda por exemplo).

Os vendedores ambulantes desempenharam um papel muito importante na sua difusão, pois foram o elo entre o impressor e o público, permitindo deste modo que elas se espalhassem por todo o reino de França.

Apesar do seu carácter efémero, os estudiosos admitem que grande parte da produção foi preservada, exceptuando-se as folhas volantes e cartazes.

A relativa ausência de perseguição contra os panfletários permitiu coligirem-se várias publicações em forma de livro habitualmente in 4º pequeno. Muitas destas obras têm como indicação de local de impressão Antuérpia (Anvers) ou Bruxelas (Bruxelles), na maioria muito incorrectas, sob o ponto de vista tipográfico, apesar de algumas estarem ornamentadas com gravuras.


Recueil de plusieurs pièces curieuses,
contre le Cardinal Mazarin (1649)

Apesar do aparecimento, na forma de colectâneas em livro, ser muito precoce, como já se viu, continuaram a publicar-se várias destas colectâneas posteriormente.

 
Choix de mazarinades (3)
Société de l'histoire de France; C. (Célestin) Moreau
Paris, Chez Jules Renouard et C.e, 1853

A Biblioteca Nacional de França, as Bibliotecas do Arsenal e de Sainte-Geneviève possuem significativos acervos. A Biblioteca Mazarino possui a maior colecção do mundo, com mais de 12.000 espécimes, dos quais grande número em duplicado. Faltam-lhe, no entanto, as “mazarinades” publicadas na província, nomeadamente em Bordéus. A Biblioteca de S. Petersburgo possui 137 grossos volumes de “mazarinades” contendo perto de 6.000 espécimes.

Ainda que os exemplares avulsos, sobretudo bem conservados, sejam documentos com grande interesse bibliófilo e histórico; são as colectâneas de várias “mazarinades”, em livro,  aquelas que têm maior procura.

Claro que estes conjuntos são bastante raros e cobiçados pelos coleccionadores.

Vem tudo isto a propósito dum exemplar que possuo e que vos quero apresentar, não tanto pelo seu valor, mas sobretudo por se inserir nos esboços de estudo dos tipógrafos portugueses do século XVII que delineei, onde a influência francesa é grande, e por alguns dos elementos presentes neste opúsculo serem muito semelhantes aos usados entre nós.

Já se disse que muitos dos cunhos foram importados, nomeadamente de França, pelo que este facto não será de espantar.

Repare-se tanto na vinheta tipográfica – em forma de vaso de flores – na página de título e no cabeção que surge no início do texto e poder-se-á constatar as já referidas similaridades.






Vejamos então este exemplar:



LE PASSEPORT// ET// L’ADIEU// DE MAZARIN.//EN VERS BURLESQUES.//A Paris// Chez Claude Huot, ruë Saint Iacques,// Proche les Iacobins, au pied de Biche.// MDCXLIX [1649]// AVEC PERMISSION. Opúsculo completo in 4º de 12 pags. Pequena anotação manuscrita na página de título. Manchas de água desvanecidas. Nunca encadernado (folhas sem sinais de corte).



















Espero que esta minha incursão pela bibliofilia francesa – pela qual tenho uma paixão bem assumida – tenha trazido alguns elementos que vos possam ser úteis e de interesse.

Esta temática das publicações, editadas durante os  períodos de crises políticas, é fascinante e de pesquisa inesgotável para o bibliófilo. E se esse bibliófilo também for um apaixonado pela temática histórica, então terá toda uma vida de procura garantida … mas nunca terminada!

Saudações bibliófilas.


Notas :

(1) Consulte-se em Wikipedia – Fronde (histoire):

(2) Consulte-se em Wikipedia – Jules Mazarin :

(3) Texto disponível em:


Fontes consultadas:

Bibliothèque Mazarine – Les mazarinades

Wikipedia – Mazarinade


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Jean de la Coste de Lesné ou João da Costa o Velho? – Um tipógrafo português do Século XVII




 
Practica Medica
(Vinheta tipográfica)

Jean de la Coste de Lesné e Charlotte Charlier tiveram dois filhos: Jean de la Coste (ou João da Costa como ficou conhecido em Portugal) e a filha Charlotte de la Coste, que pelo seu casamento tomou o nome de Charlotte de la Caille. (O facto de os primeiros nomes serem idênticos aos dos pais era muito comum nessa época).

O Dr. António Ribeiro Santos (1), para distingui-los, visto usarem o mesmo nome, chamou ao pai “João da Costa o Velho” e ao filho “João da Costa o Novo”, no entanto e na opinião de Xavier da Cunha, isso seria um aportuguesamento de Lesné (ou l’Aisné como também aparece referência).

Este que veio para Portugal em 1666, por convite do filho, onde acabaria por morrer em Lisboa em 1671. (2)

Da sua estadia em Portugal atesta a sua assinatura num registo manuscrito pertencente ao Arquivo da “Irmandade do Bemaventurado S. Luís Rei de França”, datado de 22 de Julho de 1668. (3)


Cópia do manuscrito


Assinatura de Jean de la Coste

Poderá perguntar-se se este impressor, neste curto período de estadia, terá exercido a sua actividade em Portugal. Xavier da Cunha refere a existência de, pelo menos duas obras, que embora impressas em latim, terão saído dos seus prelos: uma em 1667 e a outra em 1668.

A questão que se coloca, é se teria estabelecido uma oficina própria em Lisboa, pois que deste facto não há qualquer referência, pelo que estes dois livros poderão representar apenas, na sua actividade, um acidente esporádico.

É mesmo possível que estes mesmos livros representem “uma galante deferência do filho para com o pai, um delicado sentimento de cordialidade filial, um requinte de respeito e amor, um pretexto para bibliograficamente ficar um testemunho da colaboração do pai na tipografia lisbonense, um desejo enfim de vincular ostensivamente o nome dói pai à oficina do filho.” (4)

Atente-se agora nas obras sobre as quais tenho escrito:


Controvérsias Philosophicas
(Descritivo)
 
Practica Medica
(Descritivo)

Estas duas obras, aparentemente impressas pelo velho João de la Coste, têm um ponto em comum, pois que ambas representam um testemunho de consideração pelo Dr. Tomas Rodrigues da Veiga.

A Practica Medica é uma obra póstuma que o impressor quis salvaguardar do esquecimento e a segunda – Controversias Philosophicas – é uma apologia escrita por Manuel Reis Tavares, seu grande admirador, contra as impugnações que lhe fizera o Dr. Bento Vasquez Matamoros, Professor catedrático de Osasuna.

Perante este dados, Xavier da Cunha aventa a hipótese, apesar de nas Controversias Philosophicas não existir referência de editor, mas na Practica Medica aparecer claramente o nome do livreiro José Ferreira, “de que em poder do Dr. Manuel dos Reis Tavares (admirador de Tomas Rodrigues da Veiga) existisse porventura o manuscrito inédito de Practica Médica.
Editor das duas obras poderia ter então sido o próprio Dr. Tavares, que na mesma oficina as fizesse ambas estampar.” (4)

Mas perante a designação do impressor Ex Typographia Ioannis A Costa Senioris, talvez não seja esta a verdadeira chave de resolução do problema.


Ex Typographia Ioannis A Costa Senioris

De referir que a vinheta ornamental que figura no frontispício da Practica Médica (e que representa uma elegante jarra com flores) é exactamente a mesma que se observa no rosto das Controvérsias Philosophicas.


Practica Medica
(Frontispício)

Resumindo toda esta argumentação poderemos afirmar, sem grande margem para erro, que as duas obras referidas, ainda que sejam referidas como impressas na Ex Typographia Ioannis a Costa Senioris, foram compostas e estampadas na oficina do seu filho João da Costa.

Todos os elementos tipográficos e decorativos, nelas patentes, são absolutamente os mesmos utilizados por este nas impressões daquele período.

Veja-se apenas esta obra como comprovativo desta argumentação – Notícias Curiosas, e Necessárias do Brasil pelo Padre Simão de Vasconcelos

 

Notícias Curiosas, e Necessarias do Brasil
pelo Padre Simão de Vasconcelos

 

Notícias Curiosas, e Necessarias do Brasil
pelo Padre Simão de Vasconcelos
(Descritivo)

Pode-se afirmar que João de la Coste terá auxiliado o filho, com os seus conselhos de conhecedor da arte de impressor, e que tenho sido ele próprio a compor e a imprimir na oficina deste as Controversias Philosophicas e a Practica Medica, e que a designação de Typographia Ioannis a Costa Senioris signifique apenas o prelo que o velho impressor superintendia ou que por suas próprias mãos trabalhava na oficina do filho, prelo que poderia ter trazido da sua actividade em França, mas seguramente hão teve oficina própria em Lisboa.

Por outro lado, em face destas duas impressões, em que figura o nome de João de la Coste, deve-se concluir perante a uniformidade de assinaturas, já referida na “Irmandade do Bemaventurado S. Luís Rei de França”, que a designação de João da Costa o Velho é errónea, pois que este nunca aportuguesou a sua assinatura, quando muito tal designação justifica-se apenas para os diferenciar.

Espero que estes breves apontamentos sirvam como estímulo, para que após a consulta deste tipo de obras, possamos tirar algumas conclusões, ou apresentar as nossas dúvidas, de modo a partilhar estas mesmas com os nossos leitores para que estes  possam trazer mais elementos ao seu esclarecimento… eu tive apenas este propósito.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1) in Memória da Typographia Portugueza do Seculo XVI, incluída no Tomo VIII (Parte I) das Memórias de Literatura Portugueza, publicada pela Academia Real das Sciências de Lisboa. Lisboa, Na Officina da mesma Academia, M.DCCC.XII. in 4º, com o apêndice “Lista dos Impressores do Século XVI”

(2) Jean de la Caille afirma: “Jean qui fut s’établir à Lisbonne … où il attira son père qui y mourut en 1671"

(3) Xavier da Cunha – Impressões deslandesianas : divulgações bibliographicas / Xavier da Cunha. - Lisboa: na Imprensa Nacional, [1895], (1896). - 2 vols. Volume I pág. 324.

(4) Xavier da Cunha – Impressões deslandesianas : divulgações bibliographicas / Xavier da Cunha. - Lisboa: na Imprensa Nacional, [1895], (1896). - 2 vols. Volume I pág. 330.



Fonte consultada:

Xavier da Cunha – Impressões deslandesianas : divulgações bibliographicas / Xavier da Cunha. - Lisboa: na Imprensa Nacional, [1895], (1896). - 2 vols. Volume I, Capítulo VII, pág. 320-337.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Livraria Manuel Ferreira: Catálogo 91





O livreiro-antiquário Herculano Ferreira, proprietário da Livraria Manuel Ferreira, sediada no Porto, acaba de editar, em formato digital e em brochura, mais um dos seus apreciados catálogos, neste caso o Catálogo 91.


Catálogo 91

Como já vem sendo hábito, o Catálogo em formato digital facilita a pesquisa de livros e temas de acordo com as preferências dos leitores, sobretudo para aqueles que ainda não tenham acesso a versão impressa do mesmo, esta sempre de grande utilidade como objecto de consulta posterior.

Destaco, do seu vasto acervo que engloba uma temática bastante variada, alguns exemplos, meramente ilustrativos, como sugestão para uma consulta mais atenta do mesmo.



10176 - HELDER (Herberto). - O AMOR EM VISITA. Contraponto. [Gráfica Sintrense, Lda. S.d. - 1958?]. In-4.º de 14-II págs. B.
Edição original da primeira e muito rara publicação poética independente do autor, em rara tiragem numerada e assinada pelo poeta. Na opinião de Fernanda Frazão e Maria Filomena Boavida no seu «Pequeno Dicionário de Autores de Língua Portuguesa», Herberto Helder “é, sem dúvida, o poeta mais importante da sua geração e a mais curiosa e intrigante personalidade do nosso experimentalismo.”
COM DEDICATÓRIA DE HERBERTO HELDER A TOMÁS RIBAS “COM ADMIRAÇÃO PELOS SEUS MÚLTIPLOS TALENTOS”. Com um risco na capa da brochura a circundar a chancela do editor.



16140 - D. PEDRO - CONDE DE BARCELOS.- «(...) Liuro das Linhagens que escreveo o Conde Dom Pedro Filho DelRey Dom Dinis o qual Dom pedro faleçeu na era de MCCCXCII que he de Ch[r]isto de MCCCLIIII como se conthem em hum liuro de Anniuersarios do mosteiro de Carquere, na Beira do Bispado de Lamego». III ff. inums., 296 nums. (aliás 285, por salto de numeração de 189 para 200). Tít. da lombada: «[No]biliai[ro] M.S. Conde d[e] B[arce]llos [cont]inuado por Antoni[o] de Lima». Dim. 20x29 cm.
Na f. [3] inicial as seguintes anotações: «Este liuro he de An.t[onio] Teixeira Borges que o mercou a conta de huma diuida»; No fim da folha, a assinatura de António Teixeira Borges e: «Este liuro comprey na feira de Lixª no anno de 1707, com outros manuscriptos o que declaro por que algum dia se não entenda que eu o tenho uzurpado em algum emprestimo como muito costumão. He hum treslado [séc. XVII] do Nobiliario do Conde D. Pedro acrecentado por D. Antonio de Lima, e tem algumas cosas com noticias mais modernas da mesma letra de quem o tresladou e eu lhe tenho acrecentado varias notas que alguns autores lhe fizerão falando contra algumas couzas que tratasem averiguaçaõ; e dezejava eu formar huma crize (?) contra elle para mostrar o grande numero de couzas que nelle conta o Conde que repugnaõ a verdade tendoo muitos Genealogistas cegamente por texto sem controversia; e não sera obraindigna de se ver se eu tiver vida e tempo para o conseguir. J. Fr.e de Monter.º M.as [José Freire de Montarroio Mascarenhas].
Contém índice nas 2 f. finais. Foram cortados os f. 10-11, (brancas?); estão soltas as ff. 291-296.
Trata-se de uma cópia do Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, não integral, mas acrescentada pelo célebre genealogista do séc. XVII, António de Lima e com anotações e acrescentos de José Freire de Montarroio Mascarenhas, o conhecido redactor da «Gazeta de Lisboa» e da «Gazeta de Lisboa Ocidental» que dá continuidade à anterior, de 1715-1741 e também importante genealogista que deixou manuscrita a obra «Genealogias das familias de Portugal, comprovadas com documentos», 24 tomos.
A primeira edição do «Nobiliário de D. Pedro, Conde de Barcelos» foi impressa em Roma, no ano de 1640.
Peça única e de altíssimo valor. Encadernação em pergaminho.



30961 - PRADT (Abate de).- GARANTIES // A DEMANDER // A L’ESPAGNE. // PAR M. DE PRADT, // ANCIEN ARCHEVÊQUE DE MALINES. // PARIS, // BÉCHET AINÉ, LIBRAIRE-ÉDITEUR, // QUAI DES AUGUSTINS Nº 47. // 1827. In-4º de II-207 págs. E.
Com referência às relações de Espanha com a Inglaterra, França, Portugal, Filipinas e América.
Palau regista numerosas obras de Pradt, de seu nome Dominique Georges de Riom de Prolhiac de Fourt de Pradt, transcrevendo a seu respeito o seguinte de Jaime del Burgo: «El Abate de Pradt nació en el castillo de Pradt el 23 de abril de 1759 y murió en Paris el 18 de marzo de 1837. Ordenado de sacerdote en 1783, se manifestó ultrarrealista durante la Revolución y emigró en 1791. Después servió a napoleón cerca de los Reyes de España y de su hijo Fernando, lo cual le valió el obispado de Malinas. Caído en desgracia, secundó a Talleyrand y adhirióse a la Restauración. Más tarde se unió a Luis Felipe y publicó varios folletos de tendencia liberal». O primeiro capítulo trata da «Cause véritable de la querelle de l’Espagne avec le Portugal».
Além de Palau referem-se-lhe circunstanciadamente, além de outras fontes, o Grand Larousse Encyclopédique e a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira.
Manuscrito perfeitamente legível, copiado da edição impressa ou o próprio original pronto para a tipografia.
Cartonagem da época.



10125 - QUEIROZ (Eça de). - A RELIQUIA. Porto. Typ. de A. J. da Silva Teixeira. 1887. In-8º de XX-441-I págs. B. € 600
A. Campos Matos, «Dicionário de Eça de Queiroz»: “Escrito em plena maturidade do escritor e publicado quando os Maias se encontravam praticamente concluídos, A Relíquia é a história de Teodorico Raposo, mais conhecido pelo «Raposão», e da sua viagem ao Egito e à Terra Santa, contada por esta mesma personagem, em estilo de pura farsa.” Primeira edição de uma das mais interessantes obras do grande romancista. Rara.
Primeiro caderno desconjuntado, mantendo no entanto preservada a lombada da capa da brochura.



6760 - RELATIONE // DELL’AMBASCIATA // ESTRAORDINARIA D’VBBIDIENZA // Inuiata dal Sereniss. Prencipe // DON PIETRO // SVCCESSORE, GOVERNATORE, // E REGENTE DE I REGNI DI // PORTOGALLO, E DEGL’ALGARBI, &c. // Alla Santità di N. Signore // PAPA CLEMENTE X. // Prestata dall’Illustriss. & Eccellentiss. Sig. // D. FRANCESCO DI SOVSA // Conte del Prado, Marchese delle Mine, dei Consegli // di Stato, e di Guerra, dell’Assemblea de i trè Stati, // Signore delle Ville di Biringel, e Prado, Alcaide Mag- // giore della Città di Begia, Commendatore nell’Or- // dine di N. Sig. Giesù Christo delle Commende di No- // stra Signora dell’Azeuo, Penna verde, e S. Martha di // Viana, e nell’Ordine di S. Giacomo della Commenda // de Sinis; Gouernatore dell’Armi, e Capitano Generale // dell’Esercito, e Prouincia Interamnense, & Ambascia- // tore estraordinario d Obbedienza alla Santità di Papa // CLEMENTE X. // (vinheta) // IN ROMA, per il Mancini. 1670. Con licenza de’Super. In-8º gr. de 40 págs.
Relação extraordinariamente rara, relativa à Embaixada enviada por D. Pedro II a Clemente X, Embaixada importante por ser a primeira enviada a um Pontífice depois dos sessenta anos de domínio castelhano e mais aqueles em que estiveram interrompidas as nossas relações com a Santa Sé. Foi nosso Embaixador D. Francisco de Sousa, sendo a correspondente Oração de Obediência proferida por António Vellez Caldeira. A págs. 3 vem a dedicatória a D. António Luís de Sousa, filho do Embaixador D. Francisco de Sousa. Personagem de relevante importância, D. Francisco de Sousa foi um dos fidalgos que esteve na aclamação de D. João IV, tendo tido actuação determinante em muitas das lutas que se sucederam a este acontecimento, especialmente no Minho e no Alentejo. Esta e muitas outras notícias podem ser colhidas na extensa rubrica que lhe foi dedicada por Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues na sempre utilíssima obra «Portugal - Diccionario Historico, Chorographico, Biographico, Heraldico, Numismatico e Artistico».
DESTA EDIÇÃO APENAS SE CONHECIAM DOIS EXEMPLARES, como declarava o Visconde da Trindade a págs. 192 do 3º vol. dos seus «Ensaios Bio-Bibliográficos», onde se lê: «Desta Embaixada se fez em Roma uma Relação em italiano, que não só a descreve, como também alude à Oração de Vellez Caldeira que foi feita com tanta elegância de frase e viveza de representação que deixou suspensos todos os espectadores, como se lê na Biblioteca Lusitana, Tomo I, pág. 413.
«Esta relação em italiano é muito rara, só sendo conhecidos os exemplares existentes na Biblioteca Cornisiana em Roma e na Marciana, de Veneza.
«Há também, em português, uma Relação dessa embaixada, também da maior raridade, publicada em Lisboa em 1670, na oficina de António Craesbeeck de Mello».
Acrescente-se a existência de um exemplar na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, registado sob o nº 7843 do «Catálogo da Colecção de Miscelâneas».
Bela encadernação da época, em pele, (algo danificada) tendo em ambas as pastas um grande super-libros heráldico dos Sousas do Prado, gravado a ouro, o que pode indiciar que o exemplar pertenceu ao próprio Embaixador D. Francisco de Sousa, «Conte del Prado», como do frontispício ficou transcrito. Com a seguinte marca de posse manuscrita ao alto do frontispício: Ex Libris Congregationis Missionie Domus Crucis Vimaranensis.



622 - SILHON (Jean de).- ESCLAIRCISSEMENT // DE QVELQVES DIFFICVLTEZ // TOVCHANT L’ADMINISTRATION // DV // CARDINAL MAZARIN. // PREMIERE PARTIE. // Par le Sieur DE SILHON. // (Bela gravura de grandes dimensões, aberta em chapa de cobre, com as armas de Luís XIV) // A PARIS, // DE L’IMPRIMERIE ROYALE. // M.DC.L. In-fólio de XX-295 págs.
Obra importante de Jean de Silhon, considerado moralista francês, secretário de Richelieu e depois Conselheiro de Estado que defendeu o conceito de razão de Estado, como justificação da utilização de meios não legais ou éticos, na obtenção das finalidades políticas do Estado.
«Ses ouvrages le font voir un de nos meilleurs écrivains en matières politiques… Son style est beau et soutenu, orné même, et s’il était moins étendu et un peu plus pur, il n’y aurait rien à souhaiter. Il a de l’éloquence et du savoir, peu de lettres humaines, assez de théologie.» (Jean Chapelain, 1595-1674).
Obra rara, de que apenas se publicou este volume, sendo esta a primeira das três edições registadas por Brunet.
Boa encadernação inteira de pele, à antiga, tendo encastoado na pasta da frente o super-libros a ouro com as armas de Abreus e Soares de Albergaria, proveniente da encadernação primitiva.



2471 - TORGA (Miguel).- CONTOS DA MONTANHA. 2ª edição refundida e aumentada. 1955. Irmãos Pongetti - Editores. Rio de Janeiro. In-8.º de 197-III págs. B.
É a primeira edição brasileira deste famoso livro de contos, em tiragem limitada a 2000 exemplares numerados, obra de que em Portugal, ao tempo, havia uma única edição intitulada «Montanha», cuja selecção de contos não é rigorosamente a mesma. (1)



Agora resta a vossa leitura e consulta deste Catálogo. que como se pode concluir pelo ilustrativo é bem variado.


Saudações bibliófilas.


Nota:
(1) A 1ª edição desta obra é uma das mais raras da bibliografia de Miguel Torga, exceptuando-se aquelas que editou com o seu verdadeiro nome de Adolfo Rocha. (não confundir com Novos Contos da Montanha).



sábado, 19 de fevereiro de 2011

Miguel Deslandes: impressor régio – breve esboço biográfico





Em face do interesse que o artigo anterior despertou por este impressor português, vou deixar aqui um breve esboço sobre a sua vida e trabalho tipográfico.

Miguel Deslandes, natural de Thouars, cidade de França no Poitou, filho de Michel Deslandes, negociante, e de Marie Laurenco, sua mulher, ambos naturais e residentes naquela cidade, veio para Portugal em 1669, estabelecendo domicilio em Lisboa, em casa própria na rua antigamente denominada da Figueira, da paroquia de Nossa Senhora dos Mártires.

Era já impressor de livros "com varias imprensas", quando casou com Luísa Maria da Costa, filha do impressor francês João da Costa e de D.ª Archangela de Sousa, sua mulher.

Do seu sogro, livreiro e editor Jean de la Coste (João da Costa) também estabelecido em Portugal, Miguel Deslandes herdará o material tipográfico, que este tinha adquirido ao tipógrafo Augustin Courbé, com que imprimiu muitos livros em português, latim, espanhol, francês e italiano. (1)


Obras espirituaes do espiritual, e veneravel padre Frey Antonio das Chagas ...;
primeyra, e segunda parte.
Lisboa: Na officina de Miguel Deslandes ...;
& à sua custa impresso. 1701 (2)

Deste matrimónio houve três filhos, Manuel Pedro da Costa Deslandes, Valentim da Costa Deslandes e D.ª Maria Madalena da Costa Deslandes, todos nascidos e criados na freguesia de Nossa Senhora dos Mártires. Os dois filhos, foram graduados na Universidade de Coimbra e foram cavalheiros professos da Ordem de Cristo, hábito que lhes foi concedido em retribuição pelos serviços próprios e em memória dos que às letras portuguesas prestara o seu pai.

Por despacho de 14 de Novembro de 1684, precedendo consulta do Desembargo do Paço, foi-lhe concedida a carta de naturalização para poder gozar de todas as honras, privilégios, liberdades e isenções, que tinham e gozavam os naturais do reino.

A Miguel Deslandes foi concedido o título e honra do ofício de impressor régio a 6 de Outubro de 1687, por morte de António Craesbeck de Mello.


Panegyrico al-Rey Nuestro Señor Don Pedro II de Portugal
/ Marquez de Arronches.
 Lisboa : en la officina de Miguel Deslandes 1685. - 1 v. ; in-fol (3)

O primogénito Manuel Pedro seguiu a magistratura, e, entre outros lugares, serviu em Lisboa o de Corregedor do bairro de Alfama; o segundo filho, Valentim da Costa Deslandes, tomou a direcção da régia oficina em 1703, ano em que faleceu o seu pai, sucedendo-lhe no ofício de impressor da Casa Real a 26 de Junho do mesmo ano, cargo de que apresentou desistência em Dezembro de 1715, para servir vários ofícios públicos.

D.ª Maria Magdalena da Costa Deslandes (que depois tomou o "apelido" de sua avó), nascida em 1689, casou aos vinte anos de idade com Bento de Matos Mexia, cavalheiro professo na ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real, e Capitão de Cavalos em Olivença, sendo já falecidos sua mãe e seu avô materno.

Para aqueles que pretendam debruçar-se sobre os trabalhos tipográficos de Miguel Deslandes deixo aqui o Capítulo IX [Ornamentação tipográfica nas impressões de Miguel Deslandes] (pág´711-715) da obra já aqui várias vezes referida CUNHA, Xavier da, 1840-1920 – Impressões deslandesianas : divulgações bibliographicas / Xavier da Cunha. - Lisboa: na Imprensa Nacional, [1895], (1896). - 2 v. http://purl.pt/254












Nas páginas 710 a-g podemos encontrar a riqueza de pormenores dos seus trabalhos que ficaram especialmente famosos pelo seu grafismo, como vinhetas e floreados (como as capitulares) a partir de gravuras em cobre.













Espero que este modesto contributo vos tenha despertado o interesse para a obra deste imopressor português.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1) No que diz respeito à obra do Padre António Vieira, recomendo a leitura deste post no Arquivo Histórico da Madeira: Lista das obras publicadas de Vieira
(2) Obras espirituaes do espiritual, e veneravel padre Frey Antonio das Chagas ...; primeyra, e segunda parte. Lisboa: Na officina de Miguel Deslandes ...; & à sua custa impresso. 1701.

(3) ARRONCHES, Marquês de – Panegyrico al-Rey Nuestro Señor Don Pedro II de Portugal / Marquez de Arronches. - Lisboa : en la officina de Miguel Deslandes 1685. - 1 v. ; in-fol  http://purl.pt/13978



Fontes consultadas:

Saber sapo:

Tipografia.net:

Wikipedia – Miguel Deslandes: