"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 29 de novembro de 2009

António Lobo Antunes no Casino da Figueira da Foz






Conforme já aqui tinha sido anunciado e de acordo com a notícia de «O Figueirense» (1):

“António Lobo Antunes – que esteve no Casino Figueira no passado dia 21, para a gala de entrega dos prémios da Academia Pedro Hispano, que integra – fez o lançamento nacional da sua obra anterior “Arquipélago da Insónia” precisamente no Casino Figueira.
Um ano depois, é com "Que Cavalos São Aqueles que Fazem Sombra no Mar?", o seu 24.º romance, escrito entre 2008 e 2009, que regressa.
O título surgiu durante um almoço com os irmãos e músicos Vitorino e Janita Salomé – também membros da Academia Pedro Hispano e presentes no Casino Figueira no último sábado – em que estes cantaram uma canção que continha em verso este título, que Lobo Antunes diz tê-lo tocado profundamente. "Estes dois versos não me largam (...) Gostava de usá-los como título de um livro: tocaram não sei onde, no mais fundo de mim, e eu comovido como tudo, com lágrimas dentro", escreveu numa crónica na revista "Visão" no ano passado.
A história deste romance gira em volta de uma mãe de uma família alentejana que, à beira da morte, tem a sua vida narrada através de cada um dos seus filhos. Para conhecer amanhã, frente-a-frente com o autor.
A apresentação do livro, de entrada livre, é feita por António Bettencourt, o revisor filológico da obra, na presença do autor. A partir das 17h00. (27-11-2009)



António Lobo Antunes

desloquei-me ao Casino da Figueira da Foz para assistir ao lançamento deste seu último romance, cuja apresentação esteve a cargo do meu prezado amigo António Bettencourt.

Deixo aqui o resumo da apresentação de António Bettencourt (2):

“A memória
O romance desenvolve-se a partir da morte da mãe que suscita a memória dos filhos, marido e criada. Todo o romance é construído a partir destas memória familiares.

A distância
Distância da mãe em relação aos filhos, colmatada em parte por Mercília mas recusada por todos.
Distância dos irmãos uns com os outros, num universo de tensão, repulsa e raiva.

A alienação e busca de afecto
De Ana, pelas droga e degradação.
De João. pela pedofilia e homossexualidade.
De Francisco, pela obsessão de vingança e apropriação dos bens materiais.
Do pai, no jogo.

Um discurso marcado pelo espaço
A quinta como espaço matricial do romance que contamina o discurso de alusões e elementos telúricos.
A presença dos animais como metáfora e metonímia de fantasmas individuais.

A escrita
Polifónica: várias vozes que se entrelaçam numa dominante.
Politópica;: onde os espaços se sobrepõem.
Policrónica: onde vários tempos se diluem.
Emergência do auto-narrador.

O fascínio da escrita de António Lobo Antunes
Escrita ambígua e aparentemente desestruturada a obrigar o leitor a reconstruir interiormente toda a narrativa.”


"Que Cavalos São Aqueles que Fazem Sombra no Mar?"

Terminada a alocução, Lobo Antunes fez uma intervenção, seguida atentamente pela plateia, a que se seguiu uma interessante troca de impressões com a assistência. No final, a tradicional sessão de autógrafos.

Proponho que, para os mais "distraídos" ou para todos aqueles que na altura não poderam acompanhar, e que queiram conhecer um pouco melhor este autor – um dos maiores nomes das letras portuguesas – vejam a entrevista que concedeu a 22 de Outubro na RTP1 a Judite de Sousa em Grande Entrevista com António Lobo Antunes por ocasião do lançamento deste livro. (3)

Saudações bibliófilas.


(1) «O Figueirense» – Director: Joaquim Gil / 27/11/2009 / Ano 91º / Edição N.º 5641
(2) Texto, gentilmente oferecido e assinado pelo autor, com permissão de publicação.
(3) Como curiosidade, refira-se que este livro já vai na 6ª edição.

1 comentário:

António Bettencourt disse...

Caro Rui,

muito obrigado pela referência e pela sua presença no evento.

Foi um prazer conhecê-lo pessoalmente e, ainda que breve, foi muito interessante o nosso diálogo.

Um abraço amigo.