João Maria de Araújo Correia
A propósito deste livro inserto
na lista de livros da semana que Francisco Brito da Colofon Livros prepara cuidadosamente,
encontrei este livro que me era desconhecido, apesar do meu fascínio pelo Douro:
151 – Correia, João de Araújo –
FOLHAS DE XISTO. Régua. Imprensa do Douro. 1959. 187 págs. 19 cm. B.
Uma das mais belas obras escritas tendo por
cenário a região duriense por um “prosador de raça, prosador – poeta e com
espírito por vezes tão subtil como o francês, de acordo com as palavras de Abel
Salazar.
“Parece que foi sobre folhas de
xisto, lâminas de alvenaria da minha região que escrevi estes contos”, diz-nos
o autor, um duriense de gema, natural do Peso da Régua.
Exemplar em bom estado. Valorizado
pela assinatura autógrafa de João Araújo Correia.
Preço: 30 euros.
João Maria de Araújo Correia
"Não é o mestre da Régua, como
se dizia da pintura, no obscuro século de Quinhentos, o mestre de Ferreirim ou
de Linhares.
Mas o mestre de nós todos, que
andamos há cinquenta anos a lavrar nesta ingrata e improba seara branca do
papel almaço, e somos velhos, gloriosos ou ingloriosos, pouco importa; mestre
dos que vieram no intermezo da arte literária com três dimensões para a arte
literária sem gramática, sem sintaxe, sem bom senso, sem pés nem cabeça; e
mestre para aqueles que terão de libertar-se da acrobacia insustentável e
queiram construir obra séria e duradoura".
(Palavra proferidas por
Aquilino Ribeiro na homenagem ao
autor da Sociedade Portuguesa de Escritores)
Aquilino Ribeiro
João Maria de Araújo Correia
nasceu a 1 de Janeiro de 1899 na Casa da Fonte, freguesia de Canelas do Douro,
município de Peso da Régua, no seio de uma família modesta.
Era filho de António da Silva Correia, solicitador, e da sua segunda
mulher, Maria Emília de Araújo, e irmão de Amélia e Maria Ana.
Com cerca de três anos de idade foi viver para a Régua com a família;
contudo, em 1913 regressou a Canelas após a morte da tia Maria Soledade.
Adquiriu com o pai o gosto pelas obras de Camilo, autor de Mistérios de Fafe, o primeiro livro
que leu por volta dos oito anos.
Paisagem duriense
Em 1910 terminou o ensino primário na vila de Peso da Régua, tendo
sido aprovado no exame final realizado na Escola Normal de Vila Real. Em 1912,
na quinta classe, fez exames às disciplinas de Inglês e Francês no Liceu de
Vila Real. Em 1915 concluiu o curso dos liceus na Escola Académica do Porto.
Com 16 anos matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto,
assim fazendo a vontade ao pai, que sempre lhe manifestara este desejo. Durante
o terceiro ano da licenciatura foi obrigado a interromper os estudos por motivo
de doença. Nesse interregno, que durou seis anos, foi publicando versos e
crónicas nos jornais da Régua.
Entre 1938 e 1980 foi autor de mais de 40 títulos, para além de
artigos e conferências publicados em jornais (locais, regionais e nacionais),
tais como O Primeiro de Janeiro, O Comércio do Porto, ou o Jornal
de Notícias.
Publicou crónicas, contos e romances. Soube retratar como ninguém a
região do Alto Douro, criando personagens típicos.
Paisagem duriense
Considerado um dos mais exímios contistas contemporâneos - e, por
isso, presença imprescindível nas antologias do conto contemporâneo -, a ficção
de Aráujo Correia nutre-se de um realismo sem intuito pedagógico imediato ou
intenção crítica, retratando, numa viva economia narrativa, uma galeria de
personagens rústicas que surgem diante do leitor toscas, maníacas, egoístas,
animadas pela manha, pela vaidade, pelo orgulho, pela ignorância.
Sofreu influências de Júlio
Dinis, Camilo Castelo Branco e Trindade Coelho. A sua obra,
pertencente ao Realismo, soube aliar a prosa elegante ao regionalismo do século
XIX, mormente o relacionado com a sua terra natal, Peso da Régua.
Peso da Régua
© Cida Garcia
Além de ficcionista, desenvolveu, nas páginas de publicações como Colóquio/Letras,
O
Comércio do Porto, Diário Ilustrado, Diário
Popular, Jornal de Notícias, Nova Renascença, A
Pátria, Portucale, Prometeu, entre outras, uma carreira
como cronista, reflectindo assiduamente, com humor e num estilo que integra a
melhor prosa vernácula, sobre questões ligadas à cultura e língua portuguesas.
Destacam-se na sua vasta produção de contos, novelas, crónicas, ensaios e
discursos: Contos
Bárbaros, Contos Durienses, Folhas de Xisto
(contos),
Em 1969 recebeu o Prémio
Nacional de Novelística e em 1984 viu o seu conto Miguel servir de
inspiração ao filme "Azul,
azul", de Sá Caetano, exibido no Festival de Cinema da
Figueira da Foz.
As circunstâncias da vida não lhe permitiram ser um eterno viajante
mas, no entanto, conheceu profundamente Portugal e visitou Espanha e parte da
França.
Bibliografia (sumária):
Linguagem Médica Popular usada no
Alto Douro (1936)
Sem Método (1938)
Contos Bárbaros (1939)
Contos Durienses (1941)
Terra Ingrata (1946)
Três Meses de Inferno
(1947)
Cinza do Lar (1951)
Cartas da Montanha (1955)
Folhas de Xisto (1959)
Manta de Farrapos (1962)
Montes Pintados (1964)
Horas Mortas (1968)
Ecos do País (1969)
Enfermaria do Idioma
(1971)
Palavras Fora da Boca
(1972)
Uma Sombra Picada das Bexigas
(1973)
Tempo Revolvido (1974)
Pó Levantado (1974)
Linguagem da Minha Terra
(postumamente 1986)
Espero ter despertado a vossa curiosidade para a descoberta deste
autor.
Saudações bibliófilas e boas leituras.
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