Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens durante a
Expedição Geográfica Portuguesa à África Austral
Ao consultar a última montra da In-Libris não consegui deixar de
reparar nestas três obras, que são grandes clássicos na literatura de viagens
e exploração africanas conduzidas pelos portugueses – Hermenegildo Capelo,
Roberto Ivens e Serpa Pinto.
Hermenegildo Capelo
Hermenegildo
Carlos de Brito Capelo (Palmela, 4 de
Fevereiro de 1841 — Lisboa, 4 de Maio de 1917), oficial da Marinha portuguesa e
explorador do continente africano durante o último quartel do século XIX.
Participou com Roberto Ivens na célebre travessia entre Angola e a costa do
Índico.
Assentou praça na Marinha em 1855 terminando
o curso 4 anos depois. Em 1860 embarcou como guarda-marinha para Angola a bordo
da corveta D. Estefânia, comandada pelo príncipe D. Luís, mais tarde rei,
permanecendo durante três anos na estação naval de África Ocidental. Em 1863
regressa a Lisboa e no ano seguinte é promovido a segundo tenente. Nesse ano
voltou a África donde regressa em 1866 para voltar logo de seguida a Angola,
onde permanece até 1869, altura em que segue para Moçambique, regressando a
Lisboa em 1870 para logo partir em Direcção a Cabo Verde. Em 1871 é integrado
numa expedição enviada à Guiné e em 1872 vai para a China donde regressa a
Lisboa em 1876.
Explorando o continente africano
Brito Capelo, quando da sua permanência em
Angola fez o reconhecimento científico daquela zona, facto que o fez ser
escolhido, por Decreto de 11 de Maio de 1877, para dirigir uma expedição
científica à África Central da qual também faziam parte o oficial da marinha
Roberto Ivens e o major do exército Serpa Pinto. Segundo o decreto foram
nomeados «para comporem e dirigirem a expedição que há-de explorar, no
interesse da ciência e da civilização', os territórios compreendidos entre as
províncias de Angola e Moçambique, e estudar as relações entre as bacias
hidrográficas do Zaire e do Zambeze, segundo as instruções que receberem
autorizadas pelo meu Governo.»1 Sob os auspícios da Sociedade de Geografia,
esta expedição tinha por fim «…o estudo do
rio Cuango nas suas relações com o Zaire e com os territórios portugueses da
costa ocidental, assim como toda a região que compreende ao Sul e a sueste as
origens dos rios Zambeze e Cunene e se prolonga ao Norte, até entrar pelas
bacias hidrográficas do Cuanza e do Cuango…».
Este objectivo constituía uma vitória de José
Júlio Rodrigues sobre Luciano Cordeiro dado que este último tinha lutado por
uma travessia de costa a costa, passando pela região dos grandes lagos da
África Central.
Rei D. Manuel II
Hermenegildo Capelo foi ajudante-de-campo
dos reis D. Luís, D. Carlos e chefe da casa militar do rei D. Manuel II,
ministro plenipotenciário de Portugal junto do Sultão de Zanzibar, organizador
de uma carta geográfica da província de Angola, delegado do governo num
congresso de Bruxelas e presidente da comissão de cartografia. Hermenegildo
Capelo foi promovido a contra – almirante em 17 de Maio de 1902 e a vice –
almirante em 18 de Janeiro de 1906. Muito dedicado ao rei D. Manuel II,
acompanhou-o até à partida para o exílio, em 5 de Outubro de 1910. A 24 do
referido mês, tendo pedido a demissão deu por terminada a sua carreira militar.
Roberto Ivens em 1885
Roberto
Ivens (São Pedro, 12 de julho de 1850 —
Dafundo, 28 de janeiro de 1898), filho de pai inglês e de mãe açoriana, foi um
oficial da Armada, administrador colonial e explorador do continente africano,
português.
Concluiu o curso de Marinha em 1870, com
apenas 20 anos, com as mais elevadas classificações. Frequentou em 1871 a
Escola Prática de Artilharia Naval, partindo em Setembro desse ano para a
Índia, pelo Canal do Suez, integrado na guarnição da corveta Estefânia, onde é
feito guarda-marinha.
A partir de 1872 inicia contactos regulares
com Angola. A 10 de Outubro de 1874, completa os três anos de embarque nas
colónias: Regressando a Portugal, em Janeiro de 1875 faz exame para segundo
tenente fora da barra de Lisboa. Em Abril de 1875, segue na corveta Duque da Terceira
para São Tomé e Príncipe e daqui para os portos da América da Sul. Regressando
em Abril de 1876, parte no mesmo mês, no Índia, para Filadélfia, com produtos
portugueses para a Exposição Universal daquela cidade.
Após o regresso da grande viagem de
exploração, Roberto Ivens, por motivos de saúde, abandona o mar, passando a
prestar colaboração cartográfica na Sociedade de Geografia de Lisboa e na
execução de trabalhos relacionados com África, sobretudo Angola, no Ministério
da Marinha e Ultramar.
Foi nomeado, por Decreto de 8 de Maio de
1890, oficial às ordens da Casa Militar do rei D. Carlos. Em 1891 colabora na
constituição de um instituto ultramarino do qual viria a ser vogal da direcção.
Por Decreto de 20 de Dezembro 1892, foi colocado no quadro da Comissão de
Cartografia, como vogal permanente. Por Decreto de 27 de Abril de 1893, foi
transferido para o cargo de ajudante-de-campo do rei.
Em 1895 foi feito oficial da Real Ordem
Militar de S. Bento de Avis e por Decreto de 17 de Outubro nomeado secretário
da Comissão de Cartografia, cargo que manterá até ao ano seguinte. O topo da
sua carreira na Marinha foi alcançado a 7 de Dezembro de 1895, com a promoção a
capitão-de-fragata.
Roberto Ivens em traje de explorador africano
Por Decreto de 11 de Maio de 1877 foi nomeado para dirigir a expedição
aos territórios compreendidos entre as províncias de Angola e Moçambique e
estudar as relações entre as bacias hidrográficas do Zaire e do Zambeze. Na
mesma data foi promovido a primeiro-tenente.
De 1877 a 1880, ocupou-se com Hermenegildo Capelo e, em parte, com
Serpa Pinto, na exploração científica de Benguela às Terras de Iaca. No
regresso, recebe a Comenda da Ordem Militar de Santiago e é nomeado a 19 de
Agosto de 1880 vogal da Comissão Central de Geografia. Por Decreto de 19 de
Janeiro de 1882, foram-lhe concedidas honras de oficial às ordens e a 28 de
Julho foi nomeado para proceder à organização da carta geográfica de Angola.
Hermenegildo Capello e Roberto Ivens na ilha da Madeira
©Foto Arquivo Municipal de Mafra
Em 19 de Abril de 1883, é nomeado vogal da comissão encarregada de
elaborar e publicar uma colecção de cartas das possessões ultramarinas
portuguesas. Por portaria de 28 de Novembro do mesmo ano foi encarregado de
proceder a reconhecimentos e explorações necessários para se reunirem os
elementos e informações indispensáveis a fim de se reconstruir a carta
geográfica de Angola.
Face às mais que previsíveis decisões da Conferência de Berlim era
preciso demonstrar a presença portuguesa no interior da África austral, como
forma de sustentar as reivindicações constantes do mapa cor-de-rosa entretanto produzido. Para realizar tão grande
façanha, são nomeados Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens.
Mapa Cor-de-Rosa representando a pretensão à soberania
sobre os territórios entre Angola e Moçambique
Finda a viagem de exploração, Roberto Ivens
e Hermenegildo Capelo foram recebidos como heróis em Lisboa, a 16 de Setembro
de 1885. O próprio rei D. Luís dirigiu-se ao cais para os receber em pessoa e
os condecorar à chegada. O rio Tejo regurgitava de embarcações. Nunca se havia
visto tamanho cortejo fluvial. Acompanhados pelo rei foram conduzidos ao
Arsenal da Marinha para as boas vindas, com Lisboa a vestir-se das suas
melhores galas para os receber. Foram oito dias de festas constantes, com
colchas nas varandas, iluminação, fogos-de-artifício, recepções, almoços,
jantares e discursos sobre a heróica viagem.
Mais tarde, o Porto não quis ficar atrás,
excedendo-se em manifestações de regozijo e recepções. E no estrangeiro, Madrid
esmerou-se em festas, conferências, recepções e condecorações; em Paris é-lhes
conferida a Grande Medalha de Honra.
10397. CAPELLO (H.) &
IVENS. (R.).— DE ANGOLA Á CONTRA-COSTA. Descripção de uma viagem atravez do
Continente Africano, comprehendendo narrativas diversas, aventuras e
importantes descobertas entre as quaes figuram a das origens do Lualuba,
caminho entre as duas costas, visita às terras da Garanganja, Katanga e ao
curso do Luapula, bem como a descida do Zambêze, do Choa ao oceano. Lisboa.
Imprensa Nacional. 1886. 2 vols. 16x24 cm.
XXVII-448 e X-490. E. [Indisponível]
Das mais conceituadas e apreciadas obras de toda a nossa bibliografia
africana de viagens, numa esmerada e muito cuidada edição, impressa em
excelente papel e enriquecida com numerosas gravuras impressas nas páginas de
texto e em separado, além de diversos mapas desdobráveis, a cores.
Encadernações editoriais. As páginas de texto apresentam alguma acidez
ocasional e estando os mapas um pouco amarelecidos dada a qualidade do papel.
Muito invulgar quando inclui
todos os 6 mapas originais, como e o caso deste exemplar.
10395. CAPELLO (H.) & IVENS
(R.).— DE BENGUELLA ÁS TERRAS DE IÁCCA. Descripção de uma viagem na Africa
Central e Occidental. Comprehendendo narrações, aventuras e estudos importantes
sobre as cabeceiras dos rios Cu-nene, Cu-bango, Lu-ando, Cu-anza, e Cu-ango, e
de grande parte do curso dos dois ultimos; alem da descoberta dos rios Hamba,
Cauali, Sussa e Cu-gho, e larga noticia sobre as terras de Quinteca N’bungo,
Sosso, Futa e Iácca. Expedição organisada nos annos de 1877-1880. Edição
illustrada. Lisboa. Imprensa Nacional. 1881. 2 vols. 14x21 cm. XLV-379-I e XII-413-I págs. E. [Indisponível]
“(...) Perante a critica vae apparecer um livro, que tem por unico
intuito a narrativa succinta dos factos e peripecias succedidos n’uma
peregrinação de seiscentos dias, apresentando alguns resultados scientificos,
com os quaes, julgâmos, aproveitará a geographia e mesmo a história natural.
(...)
Das mais notáveis obras da bibliografia africana portuguesa.
Primeira edição desta notável obra, ilustrada com grande número de
gravuras impressas no texto e em separado, mapas em folhas desdobráveis, dois
deles de grandes dimensões.
Encadernação editorial gravada a ouro e negro nas pastas e lombadas,
denotando algum uso. Assinatura de posse, antiga, numa das páginas preliminares
e na folha de rosto dos dois volumes. Muito ligeiro vestígio de humidade nas
capas de ambos os volumes.
De raro aparecimento no mercado quando acompanhada dos dois mapas,
como é o caso.
Alexandre
Alberto da Rocha de Serpa Pinto
Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto herói nacional português,
foi militar explorador do continente africano sub-sahariano entre Angola e a
Costa leste de África (Africa do Sul)
e Governador de Cabo Verde na
altura colónia portuguesa.
Nasceu na freguesia e paróquia de Tendais,na quinta das Poldras,
concelho de Cinfães, no dia 20 de Abril de 1846, filho do miguelista José da
Rocha Miranda de Figueiredo, médico, e de D. Carlota Cacilda de Serpa Pinto.
Aos 9 anos frequentou o colégio da Lapa no Porto
Ingressou no Colégio Militar com 11 anos e aos dezassete tornou-se no
seu primeiro Comandante de Batalhão aluno.
Serpa Pinto viajou pela primeira vez até à África oriental em 1869
numa expedição ao rio Zambeze. Integrava uma coluna de quase mercenários, cujo
objectivo conhecido era o de enfrentar as milícias do Bonga, que já infligira
nas tropas portuguesas várias e humilhantes derrotas. Mas Serpa Pinto integra a
coluna como técnico, avaliando a rede hidrográfica e a topografia local, pelo
que podemos inferir ou suspeitar dos intuitos não apenas bélicos, mas de
interesse estratégico no reconhecimento e posterior controlo da região.
Serpa Pinto, explorador em África.
Em 12 de Novembro de 1877 inicia a travessia explora o sul de Angola,
integrando uma expedição que partiu de Benguela (Angola) e que contava com a
participação de Roberto Ivens e Hermenegildo Capelo. Por alturas do Bié houve
uma cisão no grupo e Serpa Pinto assumiu a travessia solitária do continente
Africano numa epopeia de 517 dias A sua
jornada terminou em 19 de Março de 1879
e atravessou as bacia do rio Congo ou Zaire e do Zambeze, Angola e partes das
actuais Zâmbia, Botswana, Zimbabwe e África do Sul.numa epopeia que durou 517
dias.
Foi nomeado cônsul-geral para o Zanzibar em 1885 e governador-geral de
Cabo Verde em 1894.
Alexandre
Alberto da Rocha de Serpa Pinto
A expedição de Serpa Pinto tinha como objectivo fazer o reconhecimento
do território e efectuar o mapeamento do interior do continente africano, para
preparar a entrada de Portugal na discussão pela ocupação dos territórios
africanos. A «ocupação efectiva», sobre a ocupação histórica, determinada pelas
actas da Conferência de Berlim (1884-1885) obrigou o Estado Português a agir no
sentido de reclamar para si uma vasta região do continente africano que uniria
as provincias de Angola e Moçambique (então embrionárias) através do chamado
"mapa cor-de-rosa"; esta intenção falhou após o ultimato britânico de
1890, o «incidente Serpa Pinto», já que nela interveio o explorador, ao arrear
as bandeiras inglesas, num espaço cobiçado e monitorizado pela rede de
espionagem do Reino Unido, junto ao lago do Niassa (guerra dos Makololos).
Rei D. Luís I
Tanto o Rei D. Luís I, como o seu filho Carlos I de Portugal,
nomearam-no seu Ajudante de Campo e o segundo concedeu-lhe, em duas vidas, o
título de Visconde de Serpa Pinto [1899].
A cidade de Menongue, no sudeste de Angola, foi chamada Serpa Pinto
até 1975 em alusão a este explorador.
10396. SERPA PINTO.— COMO EU
ATRAVESSEI ÁFRICA. Do Atlantico ao Mar Indico, viagem de Benguella á
Contra-Costa. Atravès Regiões desconhecidas; Determinações geographicas e
estudos ethnographicos. Contendo 15 mappas e facsimiles, e 133 gravuras feitas
dos desenhos do autor. Londres:
Sampson Low, Marston, Searle, e Rivington, Editores. 1881. 2 vols.
15x23cm. XXIX-336 e VI-340 págs.
E. [Indisponível]
Trata-se de uma das mais estimadas e notáveis obras existentes na
nossa vasta literatura de viagens em África. Excelente edição, com as gravuras impressas
nas folhas de texto e em separado.
Encadernações editoriais, gravadas a negro e a ouro, tendo o segundo
volume uma mancha desvanecida de tinta vermelha. Em falta, o mapa final,
desdobrável, que deveria estar no primeiro volume. Numa das folhas do primeiro
volume apresenta um pequeno rasgão nas margens da folha, não afectando o texto.
Aqui fica este modesto contributo para a memória destes exploradores e
sobretudo para a sua obra que trouxe vasto contributo para as ciências da
época.
Saudações bibliófilas
Fontes consultadas:
Alexandre de Serpa Pinto – Wikipédia
Associação Cultural Serpa Pinto
Hermenegildo Capelo – Wikipédia
Roberto Ivens – Wikipédia
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