"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 20 de março de 2011

Mamert Patisson – alguns apontamentos a propósito do folheto BLASPHÉMATEUR de 1599





Arrest de la cour//de Parlement//contre les bla-//sphémateurs du sainct//nom de Dieu.// Avec un arrest de ladicte Cour contre//Nicolas le Mesle blasphémateur. Paris, Mamert Patisson, 1599, in 12º petit, de 8pp., marque des Estienne au titre, en feuilles. Rarissime plaquette imprimée par Mamert Patisson.

Célèbre arrêt du Parlement de Paris contre le blasphémateur manceau Nicolas Le Mesle, du 26 janvier 1599. Il sera condamné à faire amende honorable devant la porte de l'Eglise de Paris, pieds nus en chemise avec la corde au cou tenant en ses mains une torche de cire ardente d'un poids de deux livres, et à genou de déclarer qu'il a proféré des blasphèmes exécrables contre le Saint Nom de Dieu en demandant pardon au Roy et à la justice; puis la langue lui sera percée d'un fer chaud et les deux lèvres fendues; et enfin sera banni du Royaume à perpétuité, sous peine d'être pendu sans autre forme de procès.

¶ 1 seul exemplaire au cat. CCFR - aucun ex. au cat. KVK. - Manque à Renouard annales Estienne - Pas dans Fr. Schreiber the Estiennes - Lindsay & Neu french political pamphlets n°2108 1 seul ex. (Univ. of Wisconsin) (1)

Na posse deste exemplar comecei por me interrogar quem era este Mamert Patisson (que me era desconhecido) e sobretudo qual a sua ligação com os famosos impressores franceses Estienne.

Em bibliofilia este é também um dos objectivos da análise de um livro: o conhecimento do seu impressor (e nos livros posteriores a este período do seu editor).

Este campo abre-nos um vasto leque de opções que nos poderão conduzir a outros conhecimentos sempre úteis para uma avaliação do panorama editorial de cada época bem como dos escritores que a este impressor/editor se encontram associados.

É o objecto deste estudo que quero compartilhar convosco.


Prensa tipográfica

Mamert Patisson foi um importante impressor francês nascido em Orleães no século XVI (desconhece-se a data exacta) e que faleceu em Paris em 1600.

Alguns biógrafos fixam a sua morte em 1606, mas isso é um erro. Morreu com efeito em 1600, como se pode inferir de uma carta de Casaubon data de 13 de Julho de 1602, onde ele escreve sobre Patisson: “qui ante biennium transiit.”

Fixou-se como impressor em Paris no ano de 1568.

Em 1574 casou-se com Denyse Barbé, viúva de Robert Estienne, pai de Henri, falecido em 1571. Deste modo, e segundo Yves Renouard, «il était mis par ce mariage en possession de la demeure et des ateliers du défunt ».

Com efeito, foi aqui, na casa deste Estienne, que ele desenvolveu toda a sua actividade e do qual manteve a oficina e utilizou a marca. Tal facto, estará eventualmente ligada ao contrato que obrigava a utilização deste nome: «au long bail de 1533 qui assurait seulement une location minimum sur la maison Estienne aussi longtemps qu’il restait sous le nom de Robert Estienne».


Marca de impressor de Mamert Patisson

«II ne choisit que de bonnes copies, et composées par hommes doctes, lesquelles il imprime fort correctes, de beaux caractères, sur bon papier et de belles marges, qui sont toutes les perfections de l’imprimerie ; en quoi il ne dégénère de MM. les Estienne, en la maison desquels il a pris alliance, ayant épousé la veuve du fils de Robert Estienne, père de Henri.»

Tornou-se impressor régio em 1578.

Deixou igualmente notas sobre Petrónio, que foram publicadas na edição de 1629 realizada por Lotichius.


Gravura de Petrus Lotichius Secundus

Patisson distinguiu-se de tal modo na sua arte que, apesar de não ter escrito nenhuma obra, La Croix du Maine, atribui-lhe um lugar na sua Bibliothèque française.

Régnier, na sua quarta sátira, dirigida a Motin, mostra ao seu amigo o desejo de que as suas obras: «Soient imprimés des mains de Patisson.»

Mamert Patisson é um impressor bastante procurado pela correcção, elegância dos caracteres, a largura das margens e a solidez do papel dos seus trabalhos. Saliente-se que era tanto um hábil impressor  como um grande conhecedor do grego e do latim, que dominava correctamente.


Joseph Scaliger - Opus novum de emendatione temporum


Joseph Juste Scaliger
Gravura de Theodor de Bry (1528-1598)

Entre as suas melhores impressões citam-se: os quatro livros de Florent ChrestienLa Vénerie d'Oppian poète grec d'Anazarbe. (1575, in-4°), Discours sur Medailles & Graveurs antiques principalement Romaines, par Ant. Le Pois. (1579, in 4º), Les Œuvres (2) de Scévole de Sainte-Marthe. (1579, in 4º) (3) , Joseph Juste ScaligerOpus novum de emendatione temporum (1583, in-fol.) (4), Michaëlis Hopitalis Epistola Seu Sermones (1583 e 1585), Iacobi Augusti Thuani ou Jacques-Auguste de Thou (5) Hieracosophiou, sive De Re Accipitraria Libri Tres (1584), De Canonica absolutione Henrici IV. (1594, in 8º), Iacobi Augusti Thuani ou Jacques-Auguste de Thou  (1553-1617)) – Historiae sui temporis pars prima. (1604, in folio). (6)


Scévole de Sainte-Marthe


Jacques-Auguste de Thou

Esta Historiae sui temporis pars prima contem algumas particularidades, que não aparecem nas edições posteriores.

Por exemplo, aparece um elogio de D. Isidore Clarius, bispo de Foligni, que tinha morrido com auréola de santidade, escrito por Jacques-Auguste de Thou: “Quadraginta horis ad deoscullationem patuit, quod minime voluisset”.

Precisamente estas palavras, assim como muitas outras, não serão publicadas nas impressões posteriores, muito provavelmente porque estes termos náo tivessem sido muito bem aceites em Roma.

Mesmo sem Inquisição, o braço da cúria romana era bem longo e fazia-se sentir, mesmo que veladamente, na sua actividade censória.

E já que se fala no poder de Roma no campo censório, parece-me que este pequeno folheto nos mostra, com toda a frieza que encerra, a sua forma de actuar.

Vejamos então o texto deste:











Espero ter contribuído com alguns apontamentos que vos possam ser úteis de alguma maneira, como sempre os meus conhecimentos ficaram bastante mais enriquecidos.

Saudações bibliófilas

 

Bibliografia:

La Caille, Jean de (1645-1723) – Histoire de l'imprimerie et de la librairie ([Reproduction en fac-similé]). Genève, Slatkine Reprints, 1971 [Réimpression de l’édition de Paris, 1689] 1971. 1 vol. 308 + 108 pág. ; 23 cm. (págs. 161-162)

Wikipédia – Mamert Patisson : http://fr.wikipedia.org/wiki/Mamert_Patisson


Notas :

(1) Descritivo de Alain Marchiset.

(2) Les Œuvres (1re édition, 1569, 1571). Paris, Mamert Patisson, 1579. Première édition collective en partie originale, dédiée à la maréchale de Retz, contenant près de 80 pièces de plus que l'édition précédente. Les pièces qui figuraient dans l'édition de 1569 sont modifiées, l'auteur ayant simplifié son style. Les différentes éditions des œuvres de Scévole de Sainte-Marthe offrent un grand intérêt de comparaison, l'auteur ayant toujours cherché à s'améliorer et ayant très souvent varié dans ses textes. Le recueil est divisé en cinq livres : Les poèmes; Le Palingene; L'amour et les épigrammes; Divers sonnets et Metamorphoses chrestiennes. Le premier poème est le très bel épithalame Avant-mariage du Roy Charles IX. Le feuillet 94 est blanc, dans certains exemplaires il contient une poésie de Rémi Belleau, imprimée deux fois. Sans doute l'imprimeur a-t-il remplacé le feuillet imprimé par le feuillet blanc pendant le tirage. Ce feuillet manque d'ailleurs le plus souvent. On retrouve l'amitié qui unissait le poète à l'historien Bernard de Girard par un vers dédié à ce dernier par Sainte-Marthe, publié dans ses œuvres (Poitiers, 1600, feuillet 81). (in Wikipédia)

(3) Sobre Scévole de Sainte-Marthe consulte-se na Wikipédia:

(4) Sobre Joseph Justus Scaliger consulte-se-se em Summa Gallicana – Lessico: http://www.summagallicana.it/lessico/s/Scaligero%20Giuseppe%20Giusto.htm

(6) Sobre Jacques-Auguste de Thou consulte-se na Wikipédia:

(6) Historiae sui temporis: Principale œuvre de l'historien Jacques Auguste de Thou. Écrite en latin pour un public lettré, son histoire est celle d'une période de grand déchirement et fut commencée en 1593. Henri IV exprima le déplaisir que ce volume lui causait et déclara en avoir commande « d'arrêter le cours de la vente ». L'œuvre fut mise à l'Index le 14 novembre 1609. Les 12 derniers livres furent écrits entre 1612 et 1614. Son historia sui temporis est un vaste panorama de l'histoire européenne de 1543 à 1607. De Thou y parle avec une sévère liberté du clergé et y montre à l'égard des protestants une indulgence qui fit mettre le livre à l'Index dès 1609. Après la mort de Henri IV, il se vit refuser par Marie de Médicis la place de premier Président qui lui avait été promise. Son histoire fut traduite en français en 1734. Il avait en outre écrit les mémoires de sa vie de 1553 à 1601, traduits dès 1711. (in Wikipédia)


4 comentários:

Galderich disse...

Rui,
Poco a poco vamos tejiendo más conocimientos para conocer la historia de nuestra pasión: la imprenta.
Gracias por compartir con nosotros tu investigación.

Rui Martins disse...

Galderich,

Muito gostaria de ter os teus conhecimentos!
Por isso tenho de estudar /investigar para aprender.
Gosto de compartilhar os meus estudos, pois sempre poderão ser úteis a outros, mas sobretudo encontrar alguém mais conhecedor que me corrija ou me ensine sempre um pouco mais sobre o tema.

Um abraço

Librairie L'amour qui bouquine Livres Rares | Rare Books disse...

Excellent article ! Merci Rui.

Amitiés, Bertrand

Rui Martins disse...

Bertrand,

Merci de ton commentaire.
Est-ce que tu peux ajouter quelque chose en plus sur ce genre d’«Arrest»?
J’ai cherché mais ici au Portugal c’est très difficile de trouver information précise.
Je te remercie d’avance

Avec amitié