Apresento hoje, para alguns poucos que ainda o desconhecem, um livro fundamental para a bibliografia e a bibliofilia em Portugal.
Pereira, João Figueiredo e Vicente, José Ferreira – O Valor do Livro Antigo em Portugal.
É a primeira publicação a nível mundial, bilingue, onde é apresentada a valorização do livro antigo de autores portugueses e estrangeiros com publicações de interesse para Portugal. Contém também a mais completa biografia dos mesmos autores, alguma vez publicada. Esta publicação, projectada em vários volumes, cada um dos quais abordará um século.
O Valor do Livro Antigo em Portugal será publicado em vários volumes, cada um dos quais abordará primeiramente um século. A selecção dos autores incluídos nos diversos volumes tem como critério base os livros e manuscritos leiloados em Portugal desde 1990 até aos nossos dias. O aparecimento de um autor em cuja primeira edição do seu primeiro livro tenha sido publicada num determinado século, faz com que a informação relativa a todos os seus livros leiloados e a biobibliografia do mesmo seja inserida no volume correspondente a esse século.
Foi publicado apenas o Volume I, mas aguarda-se com expectativa a publicação do volume II (em 2 tomos) correspondente ao século XVII (que deverá sair brevemente).
Este projecto é levado a efeito por um bibliófilo, João F. Pereira e por um livreiro antiquário, José F. Vicente.
Trata-se de:
Pereira, João Figueiredo e Vicente, José Ferreira – O Valor do Livro Antigo em Portugal. Volume I. Séculos XV e XVI, Forais e Manuscritos. Leiloados em Portugal. 1990 - 2003. Lisboa. 2006. Suporgest. In-4º de 814 págs. Prefácio de João José Alves Dias. Primeiro e único volume saído. Descrição de centenas de espécies leiloadas entre 1990 e 2003. Com reproduções a cores e p/b. Encadernação editorial em material sintético com sobrecapa de protecção. Edição bilingue: português / inglês.
Encadernação editorial
[Pereira, João Figueiredo et Vicente, José Ferreira – La valeur de la livre antique au Portugal. Volume i. XVe et XVIe siècles, des registres municipaux et des manuscrits. Mis aux enchères au Portugal. 1990-2003. Lisbonne. 2006. Suporgest. In-4 ° de 814 p. Préface de João José Alves jours. Premier et seul volume est sorti. Description des centaines d'espèces aux enchères entre 1990 et 2003. Avec des reproductions en couleur et n/b. lReliure éditorial en matériau synthétique avec jaquette protectrice. Édition bilingue: portugais et en anglais]
O volume I desta publicação apresenta os forais – os documentos mais importantes manuscritos ate ao final do século XVI – e os livros impressos dos autores cuja primeira edição foi realizada ate ao final do século XVI, leiloados em Portugal de 1990 a 2003, assim como a biografia e a bibliografia de cada autor.
Os documentos são apresentados incluindo a sua descrição, o preço estimado e o preço de venda, separados em duas áreas. A primeira corresponde aos autores portugueses. A segunda refere-se aos leilões de livros de autores estrangeiros corn interesse para Portugal. Ambos seguem a ordem alfabética do apelido do autor ou do autor do livro, quando o autor for desconhecido ou a publicação seja institucional (ex. Ordenações Manuelinas). São incluídos os diversos livros leiloados, com a descrição do respectivo frontispício, a caracterização do livro (encadernação, condições de conservação, etc.), o preço estimado do leilão e o preço de venda.
É apresentada uma pequena biografia de cada autor, nascido em Portugal, seguida da sua bibliografia, também por ordem alfabética. Quando a entrada é feito com um título, é incluído um enquadramento do livro ou uma pequena descrição, quando possível.
Não são apresentadas as biobibliografias dos autores estrangeiros.
BARREIROS, Gaspar, O.F.M. -1574 – Commentarius de Ophyra Regione apud diuinam scripturam co[m]memorata, vnde Salomoni Iudaeorum regi... Conimbricae, Per Ioannem Aluaru Typographum Regiu. Cum facultate Ordinarij & Inquisitoris. M.D.LXI
Para uma melhor compreensão do seu conteúdo, publico o Prefácio da autoria de João Alves Dias:
PREFÁCIO
O Valor do Livro Antigo em Portugal é um projecto interessante com diferentes vertentes e diferentes utilidades. Tentemos chamar a atenção para algumas delas, as que nos parecem mais importantes.
A priori, poderá dizer-se que a sua vertente principal é permitir – quer ao coleccionador quer ao bibliotecário quer ao comerciante quer ao investigador quer ao público em geral – saber o preço médio que determinado livro tem obtido no mercado ao longo dos últimos anos (1990-2003). Aparentemente seria essa a sua grande finalidade, o seu grande objectivo. Mas será assim, ou apenas assim? Certamente que não. Mas mesmo dentro deste aspecto mais "comercial", conhecer o valor do livro pode ser importante e chamar a atenção para o exemplar em apreço.
SOTOMAIOR, Luís de, 1526-1610, O.P. – Cantici canticorum Salomonis interpretatio… Vlysippone. apud Petrum Crasbeeck, M.D. XCIX (Data do colófon 1601)
Em primeiro lugar, temos de compreender que os preços apresentados são os que determinados exemplares alcançaram neste e naquele leilão. E ambas as condições (exemplar e leilão) são importantes. Existem exemplares de uma mesma obra que podem obter preços bastante diferentes de leilão para leilão. Basta pertencerem a uma tiragem especial, terem ou não terem as capas originais, serem ou não serem encadernados – e, neste caso, serem encadernações assinadas por um bom mestre do ofício, dado que há encadernações que valem mais do que o próprio livro que vestem –, estarem ou não estarem em bom estado de conservação... enfim, muitos são os factores que fazem com que um mesmo livro, de uma mesma edição, possa ter preços completamente diferentes. Por vezes, existem casos de livros de uma mesma edição, absolutamente iguais e com as mesmas características exteriores e interiores, atingirem preços completamente díspares num mesmo leilão, com o mesmo público. Basta estarem várias pessoas interessadas na mesma obra e que ela traduza alguma raridade. À medida que o preço vai subindo e se vai estabelecendo para o primeiro exemplar, a tentação pode ser de não deixar subir muito o valor do livro, dada a existência do outro exemplar, que poderemos arrematar por um preço idêntico ou próximo ao que deixámos arrematar por baixo. Mas podemos sofrer desilusões... Lá por um livro se ter vendido por um dado preço, não quer dizer que o outro exemplar se venda por idêntico. Basta que o público interessado continue a cobrir as ofertas para o seu valor poder ultrapassar, e por vezes em muito, o do exemplar anterior. É que o preço final só se fixa quando houver um único licitante. Mas também pode acontecer exactamente o inverso... haver mais disputa por um primeiro exemplar, do que por um segundo. A decisão e o comportamento a tomar dependem do conhecimento que se tiver do livro e do público do leilão.
BARREIROS, Gaspar, O.F.M. -1574 – Censuras de Gaspar Barreiros sobre quatro liuros intitulados em M. Portio Catam De Originibus, em...
Em Coimbra, Per Ioam Aluares, impressor da Universidade. Anno de M.D.LXI.
Impresso à sua custa
Para o conhecimento "material" do livro, também a presente obra se mostra importante, dado que permite saber se se trata de um exemplar que aparece com grande, pouca ou rara frequência. É, assim, um indicador para o bibliófilo e para a História em geral. Um livro que aparece com frequência, mesmo que não seja barato, é, por regra, mais fácil de obter do que um que raramente surja no mercado. E é neste aspecto, o da existência "física" de determinados exemplares, que o presente livro pode revelar uma mais valia. Têm aparecido à venda, em leilão, obras completamente desconhecidas e jamais descritas em qualquer dos instrumentos bibliográficos à disposição dos estudiosos ou dos coleccionadores. É certo que a primeira e grande novidade coube ao catálogo, realizado pelo leiloeiro, que serviu de base ao leilão, dado que neste se compilam, no que diz respeito aos exemplares vendidos, as informações neles constantes. Mas quantos dos investigadores do livro antigo têm hoje acesso a todos os catálogos dos diferentes leilões portugueses, realizados nos últimos anos? E, mesmo para aqueles que a eles eventualmente tenham acesso, a vida é-lhes facilitada por este novo instrumento de trabalho, dado que os apresentam de uma forma ordenada – que muitos e muitos dos catálogos de leilões não tem – e sistemática.
Para o conhecimento do público que frequenta os leilões é que não existem, com tantas garantias, instrumentos de trabalho. E é esse publico, com mais ou menos poder de compra, com mais ou menos conhecimentos, com mais ou menos preconceitos, que estabelece o valor, em leilão, do livro. Quantas vezes não iremos dizer, ao consultar a presente obra "que pena não termos estado presente neste leilão, pois esta obra que desejávamos foi vendida por um preço tão aliciante"... Fique o leitor com uma certeza: se estivesse estado presente, o preço final teria sido bastante mais caro, pois haveria mais um concorrente para a mesma obra ou para o mesmo exemplar. E qualquer coleccionador faz subir o preço de um livro, em leilão, pelo simples facto de desejar ardentemente ser seu possuidor. E só assim se justifica que um mesmo livro tenha atingido preços tão díspares em diferentes leilões. Não se julgue que o livro antigo está sempre em valorização. Encontrará ao longo da presente obra diferentes casos que comprovarão exactamente o oposto.
MENESES, Garcia de -1484 – Garsias Menesius Eborensis…
Conimbricaer, Apud Ioanem Aluarum Typographum Regii, M.D.LXL
[veja-se o pormenor da bela capitular nesta página]
A posteriori, poderá dizer-se que, afinal, a sua vertente principal se revela como complemento indispensável a uma nova Bibliografia da produção de autores portugueses, ou relacionados com Portugal, do século XV ao XX. E foi esse também o entender dos autores, dado que complementaram o projecto com uma resenha dos diferentes títulos conhecidos, impressos por cada um dos autores cuja obra foi objecto de leilão. Sabemos que é uma tarefa ingrata fazer o inventário da produção científica de cada um. Muitas e muitas vezes repetimos erros (gralhas?) e omissões que bibliógrafos anteriores produziram, convencidos como estamos de que se eles descreveram assim é porque tiveram conhecimento do livro tal e tal... Mas quantos exemplares não passam de meros fantasmas, pois resultam de uma má transcrição ou descrição, ou de uma nova gralha produzida sobre outra gralha anterior... Por mais esforços que os autores tenham tentado, resta-nos uma certeza que é ao mesmo tempo um lamento: existirão sempre novos dados que virão completar os agora compilados. Já Francisco Vindel, com a sua grande sabedoria, escreveu que em bibliografia nada é definitivo.
Colónia, Fevereiro de 2006.
João José Alves Dias
Para os mais interessados, o livro pode ser adqurido aqui:
Quem sabe senão será uma boa opção de compra natalícia?
Saudações bibliófilas.