"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 31 de janeiro de 2010

Bibliofilia – uma reflexão


No decurso de uma pesquisa em Catálogos de Livrarias e Leilões, para um estudo que estou a efectuar, deparou-se-me este texto no «Catálogo do Leilão de Parte da Biblioteca do Dr. Guilherme Goldegel de Oliveira Santos - Escritor e Bibliófilo» realizado em 16 e 17 de Junho de 2008:


«Catálogo do Leilão de Parte da Biblioteca do
Dr. Guilherme Goldegel de Oliveira Santos - Escritor e Bibliófilo»
http://renascimento-sa.pt/uploads/Catalogos/catalogo_Jun_08.pdf (1)


“Parafraseando Roberto Browning: O que é difícil
não é escrever um livro; é saber ler um livro.

Por um livro único, o bibliómano “rejeitaria a coroa das Índias,
o Papado, todos os museus da Itália e da Holanda, se os
houvesse de trocar por esse único exemplar”.
Machado de Assis

DUAS PALAVRAS

Estou muito velho e já não tenho espaço para os livros.
Resolvi, por isso desfazer-me de parte da minha biblioteca.

(...)

Quando vi levarem os livros, acudiu-me ao espírito o episódio d’A Morgadinha dos Canaviais em que o herbanário assiste com o coração apertado ao corte das suas árvores.

É com uma saudade imensa que me despeço de amigos de todas as minhas horas, mas espero que quem adquirir as obras - sejam ou não as mais cotadas comercialmente - as estimem tanto como eu as estimei.


Lisboa, Fevereiro de 2008
Guilherme Goldegel de Oliveira Santos


Este, pelo seu sentido bibliófilo, fez-me meditar pelo que decidi publicá-lo aqui como objecto de reflexão para todos nós.


Alegoria da Imprensa. Gravura a buril,
«Bibliotèque des Artistes et des Amateurs», por Abbé Petity, 1766

Como já se disse, mas é sobretudo bem demonstrado nos Blogs de bibliofilia franceses, a leitura dos escritos dos grandes bibliófilos é sempre uma fonte inesgotável de informação para todos nós, mas também uma forma de se fazer um historial da própria evolução da bibliofilia. Pelo seu testemunho, podemos avaliar toda uma estrutura e concepção de coleccionismo bem como da cotação das obras ao longo do tempo e, evidentemente, das suas flutuações.

Espero que esta reflexão seja do vosso agrado.

Saudações bibliófilas


(1) Ainda que já se tenha realizado coloquei o link para a sua consulta, pois reúne uma colecção “Cervantina fora do comum e que conta espécimes preciosos e raríssimos - por exemplo, uma edição do D. Quixote publicada em Lisboa em 1605 e saída da oficina de Pedro Crasbeeck e que é, talvez, exemplar único.”


3 comentários:

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Estimado Rui.

Las frases que nos haces favor de compartir, solamente pueden salir de muy adentro.
¡Sobre todo para valorar el ejemplar único!

Aunque por otra parte creo que mientras más viejo me sienta, me costará mayor trabajo desprenderme de mis libros.

Saludos bibliófilos.

Galderich disse...

Rui,

Gracias por traernos este texto lleno de sensibilidad bibliófila... y además ¡tan reciente!

Me quedo con esta frase que parece un contrasentido pero que guarda toda una gran sabiduría:
"O que é difícil
não é escrever um livro; é saber ler um livro".

Un fuerte abrazo

Rui Martins disse...

Estimados amigos
A leitura de catálogos que vamos guardando, às vezes depois de uma consulta um pouco apressada, escondem muitas vezes pequenas anotações e alguns textos que nos fazem reflectir nesta nossa paixão pelos livros.
Com tu, Marco Fabrizio, vou envelhecendo, mas quando olho para os meus livros sinto uma ternura e um carinho muito especial, sinto-os como um prolongamento de mim mesmo e uma afirmação daquilo que julgo ser (será que nos conhecemos realmente bem, ou será que nos vamos descobrindo pouco a pouco?), e não me consigo imaginar sem eles!
Ainda sinto aquela “fogosidade de rapaz” que nos levou a percorrer tantos caminhos para tentar encontrar o tal livro e, muitas vezes, em vão. Mas a caça ... que prazer!
Concordo plenamente contigo, Galderich, pois foi essa mesma frase – “O que é difícil não é escrever um livro; é saber ler um livro!” – que me alertou para o texto.
Espero que tenham apreciado os livros de Cervantes.
Um forte abraço de amizade