"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 7 de junho de 2009

Conversa bibliófila: uma reflexão em torno do blog



Após fazer uma análise estatística das visitas ao meu blog, posso constatar, com alguma tristeza, que a maioria dos visitantes não é nacional, ronda os 25%, mas sim estrangeiro (e sobretudo dos E.U.A), não faço referência a Espanha, dado os laços de amizade, que me ligam a alguns bibliófilos, que têm a gentileza de o visitarem, e deixarem comentários no mesmo.
Esta baixa estatística de visitas a sites da especialidade por parte da nossa geração bibliofílica cibernauta, deve-se em parte, ao desconhecimento da definição de bibliofilia e das suas implicações práticas no património cultural.
Em conversa com um amigo livreiro antiquário, ele apontou-me alguns pontos, com os quais estou de acordo, pelo que os passo a referir para que nós portugueses, possamos avaliar de uma forma mais interessada a riqueza da nossa bibliofilia tão cobiçada por outros, e, para os quais deixamos escapar muitas vezes obras bem preciosas!


1) O universo norte-americano é muito maior do que o português no que diz respeito aos livros (e claro a tudo o resto na vida...)

2) Os livros portugueses são um “produto” apetecível aos americanos pela sua raridade quando comparados com as suas tiragens.
Repare-se que as nossas edições comuns de livros antigos até o século XVIII eram da ordem das poucas centenas de exemplares. Em casos excepcionais eram de dezenas. “Os Lusíadas” na sua edição “princeps” teve uma tiragem que ultrapassou a centena, dos quais chegaram aos nossos dias apenas alguns exemplares. Quando entramos nos livros de tiragens reduzidas, os que chegaram aos nossos dias, contam-se pelos dedos de uma mão.
E, mesmo obras dos século XIX, como, por exemplo “Sonetos de Anthero” Editor Sténio. Coimbra, Imprensa Litteraria, 1861, In 8º de XII e 23 pags., da qual só se conhecem entre 4 a 6 exemplares!
A raridade faz a procura!



3) O facto de o meu blog não está inserido num motor de busca de livros antigos, o que dificulta o seu conhecimento no universo bibliófilo português.
Foi o que o meu amigo já fez, e de um dia (média de 20 visitantes diários) deu um salto de cerca de 4 vezes superior, a partir do momento em que foi indexado num motor de busca de livros antigos portugueses.

4) O bibliófilo português “da pesada” ou vinda da geração de 60/70 (automaticamente hoje com uma posição familiar e económica estável) desconhece as ferramentas (porque já não quer nem tem paciência para pegar nelas) que são exemplo a Internet.
Prefere aplicar o dinheiro do valor de um computador em adquirir livros nos livreiros ou em feiras de livro antigo.
(Os seus clientes mais assíduos, não sabem utilizar a Internet. Consultam-no para os ajudar a localizar um livro por esta via!).

5) Para os jovens bibliófilos portugueses cibernautas, que ainda não apresentam uma saúde económica e uma maturidade bibliofílica que lhes permita adquirir obras de maior valor, compram livros de menor valor pela Internet, por razões de segurança e grande disponibilidade da oferta.
Como tal, adquirem livros de consumo imediato e de veloz e definitivo arrumo na estante.
Perdendo-se aqui um pouco o habito de consultar regularmente, este ou aquele livro, e de o manusear, e, evidentemente o contacto e a conversa com o livreiro antiquário, que, quando bom profissional, é um dos motores, e talvez o mais importante, para atrair a nova geração para a paixão bibliofílica!...




6) A bibliofilia portuguesa em voga adquire hoje padrões que fogem aos clássicos. E pela sua experiência e constatação das flutuações do mercado, refere que se assiste a uma procura de livros em brochura de autores do século XX, menosprezando os tipos de papel empregues e a encadernação, para não falar de outras características que deliciam o bibliófilo clássico: o cheiro e a sonoridade do papel utilizado e, evidentemente, toda a beleza de uma encadernação de época!.

Obrigado pela vossa leitura e espero que me acompanhem na reflexão sobre estes pontos, cuja ultrapassagem se torna bastante importante, para uma maior divulgação daquilo que é a bibliofilia e o que é ser um bibliófilo, que, como já disse muitas vezes, é um pessoa como qualquer outra, apenas tem a paixão pelos livros antigos...mas está no meio de nós e connosco convive!


Saudações bibliófilas.

7 comentários:

{anita} disse...

que maravilha, esta última ilustração!

Diego Mallén disse...

Amigo Rui: acertadas reflexiones que tan aplicables son a la bibliofilia portuguesa como a la española.

Para mí, simplemente saber que compartimos esta afición por los libros algunos amigos y mantener esta tertulia bibliófila ya me satisface enormemente.

Pero es cierto que el interés por el mundo del libro antiguo en la penísula ibérica es muy reducido. Y cuando vemos el desarrollo que tiene en otros países como Francia o UK o en algunos hermanos, como Argentina, no deja de ser algo desolador.

¿Sería imaginable un Salón del Libro Antiguo como el próximo de París en Madrid o en Lisboa? Me refiero, no a los libreros que hoy en día acuden de todo el mundo, sino a los visitantes. En París, por ejemplo, se forman largas colas de acceso al Grand Palais el día de la inauguración y cada día del Salón son cientos los visitantes... En fin, nuestro panorama es algo desolador. Al menos, disfrutemos con nuestra tertulia.

Saludos bibliófilos.

Galderich disse...

Las causas son multiples y compatibles. Como insinua Diego poco importa la cantidad de visitantes sinó su calidad. No escribimos para tener un spónsor que nos pague a tanto la visita sino para disfrute propio y de los amigos internautas.
Adelante que el tiempo da sus recompensas.

Rui Martins disse...

Anita
Obrigado pelo elogio da ilustração.
Tive, no entanto, o cuidado de seleccionar imagens que se pudessem relacionar com o tema: desde um ambiente faustoso de um salão de leitura do séc. XVIII, passando por imagens de livrarias e bancas de venda de alfarrábios, e uma fotografia de uma estante repleta de belas e variadas encadernações.
Tive também um outro propósito, nenhuma destas imagens pertence a objectos da minha colecção!
Funcionam como estímulo de uma meta a atingir e para lembrar o convívio que estes encontros bibliófilos podem proporcionar.
(Quando entramos num livreiro antiquário quantas pessoas se encontram habitualmente lá?)
...sinto-me cada vez mais em dívida consigo!

Rui Martins disse...

Amigo Diego
No es por acaso que puse en el mío Blog el poema de A. Gedeão así como la frase de Miguel Sousa Tavares.
Yo creo que si no soñamos un poco y no idealizamos un proyecto la vida no tiene cualquier significado…hay que construir algo de nuevo siempre, mismo si nuestra edad no es la mejor para eso. Se dice en Portugal: “Parar es morir!”
La frase me recuerda como, al menos en el mío blog, yo soy totalmente libre, solo estoy dependiente de las mías ideas y del mío pensamiento!
Cual sueño? Intentar reunir, al menos en un simples encuentro de uno o dos días, los bibliófilos ibéricos, tenemos tanta cosa en común pero lo olvidamos fácilmente!
Eso sería el pago mayor y mas gratificante de “nuestra tertulia"!

Rui Martins disse...

Galderich
Como tu muy bien sabes yo escribo simplemente por el placer de escribir, no logro obtener cualquier pago, o mejor, el pago es la grande satisfacción de poder comunicar con vosotros y cambiar nuestras ideas!
Pero mi gustaría mucho de cambiar opiniones con otros bibliófilos portugueses…lo que no ocurre!

Galderich disse...

Rui,
Tiempo al tiempo. Todo llega y ya veras como conseguirás en un futuro no muy lejano este noble propósito. De momento los no portugueses vamos disfrutando de tu blog y de las librerias y catálogos que nos presentas.