"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ana Augusta Vieira Plácido


Trago-vos hoje o retrato de Ana Plácido, que todos identificarão, de imediato, como a grande paixão de Camilo Castelo Branco, mas só alguns associarão o seu nome a uma escritora portuguesa.

Ana Augusta Vieira Plácido, mais conhecida por Ana Plácido, era filha de António José Plácido Braga e de Ana Augusta Vieira, nasceu a 28 de Setembro de 1832 no Porto e faleceu em 1895 em S. Miguel de Seide.
Com dezanove anos casou-se com o capitalista brasileiro, e rico negociante do Porto, Manuel Pinheiro Alves, de quarenta e três anos.


 
Raquel, neta de Ana Plácido

Em 1856 iniciou um relacionamento amoroso com Camilo Castelo Branco.
Abandonou o marido para viver com Camilo, A história destes amores tumultuosos abalou a sociedade puritana da época, dividindo a opinião pública entre os valores burgueses tacitamente aceites e os ideais e fantasias românticas que o episódio suscitava.
Após queixa do marido contra a mulher e o amante, Ana Plácido é presa, por adultério, em 6 de Junho de 1860 na Cadeia da Relação do Porto.
Camilo foge à justiça durante algum tempo, mas acaba por entregar-se em Outubro. Fica detido na mesma Cadeia da Relação, no Porto.

Depois de absolvidos do crime de adultério em 16 de Outubro de 1861, Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos. Dessa relação resultaram três filhos (embora o primeiro seja oficialmente filho do primeiro marido de Ana): Manuel Plácido Alves, nascido em 1859, Jorge Camilo Castelo Branco, nascido a 28 de Junho de 1863, em Lisboa e Nuno Plácido Castelo Branco, nascido a 15 de Setembro de 1864 em São Miguel de Seide
Com a morte do primeiro marido em 1863, a herança passa para o primeiro filho do casal, sendo Ana a administradora dos bens. Passam a viver na propriedade do primeiro marido em São Miguel de Seide, que mais tarde ficaria conhecida como Casa de Camilo Castelo Branco.

Em 9 de Março de 1888 finalmente casam-se. Faleceu em 1895 com o título de Viscondessa de Correia Botelho.


Senhora de espírito e com alguns dotes literários, colaborou em numerosos jornais e revistas (Gazeta Literária, Revista Contemporânea, O Nacional, O Futuro, A Revolução de Setembro, etc.), com artigos e romances em folhetins, que assinava com os pseudónimos de Lopo de Sousa, Gastão Vital de Negreiros ou, simplesmente, A. A.
Foi abandonando, pouco a pouco, os seus sonhos de glória literária, transformando-se de “mulher fatal” em esposa e mãe dedicada. Colaborou diligentemente com Camilo, a quem ajudava, investigando manuscritos que lhe serviam de base a muitos romances ou fornecendo-lhe enredos da vida aldeã, colhidos da sua convivência com os camponeses.
“D.ª Ana Plácido continuou a ser (...) uma sombra de si própria, a visão fugitiva do passado diluída prosaicamente aos cuidados e canseiras de uma dona de casa” Alberto Pimentel (amigo do casal) in “Os Amores de Camilo”
O seu primeiro texto, na Revista Contemporânea, foi “Martírios obscuros”, enviado ainda da prisão.
A sua obra mais importante é “A Luz Coada por Ferros”, que reúne, além dos artigos publicados em periódicos, algumas novelas originais e divagações em prosa, a maior parte dos quais escrita na prisão, publicado em 1863.Publicou ainda: “Regina” em 1868 e “Herança de Lágrimas” em 1871
Traduziu de Amédée Achard e Benjamin Constant alguns romances, como, por exemplo: “Como as Mulheres se Perdem”, “Vergonha Que Mata”, “Aprender na Desgraça Alheia”.

Para complemento, veja-se:
Camilo Castelo Branco

Saudações bibliófilas.



 Ana Plácido



Carta de Ana Plácido, 188?, s.l.,
a Bernardina Amélia Castelo Branco de Carvalho, Porto
da Biblioteca Nacional de Portugal



Casa onde viveu Ana Plácido e Camilo Castelo Branco
(Actual Casa Museu de Camilo Castelo Branco)



Ana Plácido e Camilo Castelo Branco


10 comentários:

Galderich disse...

Es curioso como el espíritu romántico nos transporta siempre hacía la misma dirección y nos ponemos al lado del amor...!
Una historia que en su época debió revolucionarlo todo y un final que no me esperaba disfrutando los dos amantes de los bienes del exmarido...
Lástima que Ana Augusta degara la literatura y siempre sea la mujer la sacrificada en el camino del arte.

Rui Martins disse...

Galderich
Gracias por tu comentario.
Éstos artículos tienen como objetivo llamar la atención y divulgar un poco la historia de nuestros escritores del siglo XIX, muy conturbado en la política, varias guerras internas y levantamientos populares, y el desarrollo de nuevos grupos y clases sociales, con el cambio de antiguas tradiciones y actitudes, (lo mismo ocurrió en España), para vosotros pudieren comprehender un poco mejor el contenido de los libros que yo vos quiero presentar.
Ana no hay sido una grande escritora, pero como siempre ocurre en nuestros países, lo habitual sea la mujer la sacrificada en el camino del arte y no solamente...

Diego Mallén disse...

¡Historia romántica con bastante final feliz!

La fotografía de Ana, joven, es de una modernidad tremenda. Parece tomada ahora y tiene un cierto aire a Audrey H. Comprendo a Camilo... Y lo siento por el pobre marido rico. (Parece un libreto de opereta).

Saludos bibliófilos.

Rui Martins disse...

Diego
Gracias por tu comentario.

Estoy de acuerdo sobre lo que dices sobre ésta “historia romántica”, pero el artículo tiene como idea lo que expresé en lo mío comentario a Galderich.

Saludos bibliófilos.

Anónimo disse...

Foto: Raquel Castelo Branco, a neta

Anónimo disse...

A moça de chapéu é a neta de Ana Plácido, Raquel.

Rui Martins disse...

Muito lhe agradeço a sua preciosa correcção, pelo que já efectuei a respectiva emenda na legenda.

Anónimo disse...

Ninguém perceberá bem Camilo e a sua ligação com Ana Plácido sem ler a obra de Aquilino Ribeiro «O Romance de Camilo». E verá que,para além de ter sido um grande escritor,era um homem cheio de defeitos,um psicótico,e Ana um mulher despudorada,que teve um primeiro filho,dentro do matromónio de P Alves,de um peralvilho.E que Camilo e Ana já não se podiam ver muitos anos antes do casamento,a que foram obrigados.Desculpem,mas a vida é assim

Anónimo disse...

Aquilino Ribeiro em sua narrativa é perverso. Aponta erros e defeitos de Ana e Camilo, como se fotógrafo fosse e se divertisse em mostrar as deformidades ampliadas por sua lente. Parece o raio x de uma inveja mórbida do grande escritor que apesar de grande tinha uma dor interior maior que seu talento. A vida é assim!

Anónimo disse...

Algumas observações: O pseudônimo usado por Ana Plácido era Gastão Vidal de Negreiros, homenagem ao brasileiro André Vidal de Negreiros, grande nome da expulsão dos holandeses do Brasil, no século XVII . Regina, por sua vez foi um romance publicado em periódico,de Ana Augusta houve apenas a publicação de dois livros: Luz coada por ferros e Herança de lágrimas.