Manuel Ferreira
Nada melhor do que para comemorar
a 500º postagem do blogue do que me associar a outro evento de elevada
importância o lançamento do 100º Catálogo
de livros raros e esgotados pela Livraria Manuel Ferreira |R. Dr. Alves da veiga, 89 | 4000-073
Porto | Portugal.
Na sua apresentação escreve-se:
“Há 50 anos Manuel Ferreira distribuiu entre
os seus clientes aquele que foi o primeiro CATALOGO DE LIVROS RAROS E ESGOTADOS
publicados pela sua livraria, fundada no Porto em 1958. Os seus verbetes, ainda
hoje preservados em papel, ultrapassam em larga medida os publicados nos
catálogos da nossa livraria, uma vez que a par destas publicações se dedicou
também à organização de catálogos de bibliotecas particulares destinadas a
leilão. Verdadeiramente foi assim que nosso pai e avô começou a sua actividade
como bibliógrafo. Em 1951 organizou o seu primeiro catálogo de uma biblioteca
particular, sem que nunca mais tenha interrompido esta actividade que afinal
foi uma das suas grandes paixões. Conscientes do contributo que o seu trabalho
empresta ao património bibliográfico português, com a publicação do nosso 100.º
catálogo e sensibilizados com o seu exemplo, estamos empenhados em continuar e
desenvolver esta actividade. Julgamos assim prestar a merecida homenagem ao
grande bibliógrafo que foi Manuel Ferreira.”
"Tesouros de capa e lombada" in Guia
Porto 2001 - Público
Vejamos alguns dos destaques
seleccionados pelos autores deste muito interessante catálogo.
13688 - A ÁGUIA. Revista
Quinzenal. Director e Proprietário, Álvaro Pinto. Porto. [a partir da 2.ª
série, conheceu diversos directores: Teixeira de Pascoaes, António Carneiro,
José de Magalhães, Leonardo Coimbra, Hernâni Cidade, Teixeira Rêgo, Sant’Anna
Dionísio, Delfim Santos e Aarão de Lacerda]. 1910-1932. In-4.º e In-8.º gr. E.
e B.
5.000 €
«A Águia», orgão da “Renascença Portuguesa” publicado na sequência da
Implantação da República, foi das revistas que maior influência exerceram na
cultura nacional, a mais importante do seu tempo e uma das mais notáveis de
toda a bibliografia periódica portuguesa. Daniel Pires no «Diccionário da
Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX» faz pormenorizada
descrição deste periódico, de onde destacamos o seguinte texto: “A luta contra
o obscurantismo, contra as trevas da ignorância, foi efectivamente a pedra de
toque da Renascença Portuguesa: fundou cinco Universidades Populares, agitou
culturalmente o país, editou profusamente, contando com os melhores autores da
época: Afonso Duarte, António Baião, António Sérgio, Jaime Cortesão, Leonardo
Coimbra, Raul Brandão, Teófilo Braga, Wenceslau de Moraes, entre muitos outros.
“De uma cisão na Renascença Portuguesa, formou-se o grupo da Seara Nova, que só
se constituiu em revista em 1921. Colaboração em prosa e verso da maior parte
dos grandes vultos da literatura portuguesa da época, dos quais se destacam,
entre muitos outros, Fernando Pessoa, Antero de Figueiredo, Augusto Casimiro,
Afonso Duarte, Afonso Lopes Vieira, Alfredo Guimarães, António Carneiro,
António Corrêa de Oliveira, António Nobre, António Patrício, António Sérgio,
Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Mário Beirão, Raul Brandão e Teixeira de
Pascoaes. Revista ilustrada com numerosas estampas impressas em separado, cuja colaboração
plástica se deve a António Carneiro, Cervantes de Haro, Correia Dias, Cristiano
Cruz, Cristiano de Carvalho, Jaime Cortesão, J. Augusto Ribeiro, João de Deus,
Júlio Ramos, Luís Filipe, Miguel de Unamuno, Raul Lino, Sanches de Castro e
Virgílio Ferreira. Para mais desenvolvida informação acerca desta importante
revista ainda Daniel Pires a leitura de «A Renascença Portuguesa - um movimento
cultura portuense» de Alfredo Ri- beiro dos Santos ou, de Paulo Samuel «A
Renascença Portuguesa - um perfil documental». Colecção constituída pelas
seguintes séries: 1.ª série (de maior formato), 10 números; 2.ª série, 120
números; 3.ª série, 60 números; 4.ª série, 12 números (com o raríssimo 10-11);
5.ª série, 3 números. Colecção bastante rara e valiosa, especialmente quando
acompanhada pelo raríssimo número 10-11 da 4.ª série na sua tiragem original,
então apreendido pela serviços de censura. A primeira série encontra-se
encadernada, estando os restantes números em brochura.
19727 - CERVANTES SAAVEDRA (D.
Miguel de) – O ENGENHOSO FIDALGO DOM
QUICHOTE DE LA MANCHA. Traductores Viscondes de Castilho e de Azevedo
[e M. Pinheiro Chagas]. Com os desenhos de Gustavo Doré gravados por H. Pisan.
Porto. Imprensa da Companhia Litteraria. MDCCCLXXVI-M DCCC LXXVIII. 2 vols. In-fólio
máx. de XXXIV-II-415-I e IV-502-II págs. E.
800 €
Edição verdadeiramente monumental e primeira portuguesa com as
admiráveis ilustrações do genial artista que foi Gustavo Doré, ilustrações que
se apresentam estampadas à parte em muito branco e encorpado papel,
apresentando ainda muitas outras gravuras e vinhetas do mesmo artista
disseminadas pelas páginas do texto. Frontispícios estampados a negro e
vermelho.
“Se Lisboa foi a primeira terra
do mundo que reimprimiu D. Quixote, seria o Porto a que o reimprimiria em mais
esplêndida e mais honrosa edição”, são palavras de Manuel Pinheiro Chagas no
muito importante e erudito prefácio a esta edição.
Belas encadernações editoriais,
cuidadosamente decoradas a negro, prata e ouro.
11384 - COCTEAU (Jean) – JEAN
MARAIS.
Calmann-Lévy, Éditeurs. Paris. [1951]. In-8.º de 121-VII págs. B.
100 €
Primeira edição deste trabalho sobre o grande actor, pintor e
escultor, Jean Marais, amante e grande amigo de Jean Cocteau que colaborou em
muitos dos filmes por ele dirigidos, entre os quais se destacam L’Eternel
Retour, La Belle et la Bête, L’Aigle à deux têtes, Les Parents terribles, ou
Orphée.
Livro integrado na «Collection
Masques et Visages» dirigida por Roger Gaillard.
Edição cuidada, ilustrada com um
retrato fotográfico de Marais, assinado por Roger Corbeau e com um desenho de
Cocteau na sobrecapa.
EDIÇÃO LIMITADA A 112 EXEMPLARES
NUMERADOS, IMPRESSOS SOBRE PAPEL VERGÉ DES PAPETERIES DE RUYSSCHER.
35184 - CORREIA (Natália) – PASSAPORTE. Poemas de Natália
Correia. Lisboa. 1958. [Editora Gráfica Portuguesa, Lda]. In-8.º de 60-IV págs.
B.
200 €
Um dos primeiros e mais raros livros de poesia de Natália Correia,
ligado à “tendência surrealista da poesia portuguesa”, como assinala M. Helena
Ribeiro da Cunha na rubrica que lhe dedicou na «Enciclopédia Verbo das
Literatura de Língua Portuguesa».
Boa encadernação inteira de pele
negra, com nervuras e ferros a ouro na lombada. Com um filete gravado também
ouro nos topos das pastas. Com as margens intactas, as capas da brochura e a
respectiva lombada conservadas.
33273 - FORTE (António José) – UMA
FACA NOS DENTES. [Edição & etc produzida por Publicações Culturais
Engrenagem, Lda. Lisboa. 1983]. In-8.º quadrado de 64-IV págs. B.
75 €
Uma das muito estimadas edições
dirigidas por Vitor Silva Tavares — fundador das edições «&etc.». Com um
prefácio intitulado «Nota Inútil» de Herberto Helder.
Capa da brochura ilustrada com um
desenho de Carlos Ferreiro e desenhos nas páginas do texto de Aldina.
EXEMPLAR PERSONALIZADO COM
DEDICATÓRIA DO AUTOR A VITOR SILVA TAVARES.
10177 - HELDER (Herberto) – COBRA.
[Coovaforme - Cooperativa Operária Gráfica de Antero de Quental. Porto. 1977].
In-8.º de 79-V págs. B.
400 €
Primeira edição de que se
imprimiram apenas 1200 exemplares. Uma das originais edições “& etc” de
Vitor Silva Tavares. Com um desenho impresso à parte de Carlos Ferreiro.
113 - HELDER (Herberto) – PHOTOMATON & VOX. Assírio e
Alvim. [Lisboa. 1979]. In-8.º de 185-III págs. B.
125 €
Primeira e muito invulgar edição de um dos mais representativos livros
do poeta e ficcionista, por muitos considerado uma das mais marcantes e
originais figuras da poesia portuguesa do séc. XX.
34803 - KADERNOS. [Tip.
Bélita. 3-57]. In-8.º gr.
de IV págs. inums. B.
300 €
Publicação tão curiosa quanto difícil de descrever, em papel azul, de
influência surrealista, sem nome de autor ou autores, integralmente reproduzida
a págs. 143 a 146 do volume IV da importante e útil obra de Pedro Veiga
intitulada «Os Modernistas Portugueses». Conserva a “Cinta de Garantia Da
Verdade Existencialista”. Publicação muito frágil, intacta [os cantos são
picotados tendo impressas as palavras “bem-me-quere, mal-me-quere, muito
pouco”]. Declarada tiragem de 501 exemplares, hoje raríssimos.
32090 - MEURSIUS (Joannes) – NOUVELLE TRADUCTION // DU // MURSIUS //
connu sous le nom // d’ALOÏSIA // ou de // L’ACADÉMIE DES DAMES; // Revûe,
corrigée & augmentée de près de moi- // tié, par la restitution de tout ce
qui en avoit // été tronqué dans toutes les Editions qui ont // paru jusqu’à
présent; & aussi délicatement // renduë qu’elle l’avoit mal été dans toutes
// les précédentes: purgée des termes obscê- // nes dont elles fourmilloient,
sans cependant // avoir énervé en rien la force des pensées. // Le tout orné de
quantité de jolies figures en // taille-douce sur des desseins nouveaux. //
DIVISÉE EN DEUX PARTIES. // (...) // A CYTHÉRE, // Dans l’Imprimerie de
la Volupté. // — // M. DCCXLIX. 2 vols. In-8.º de VIII-XX-191-I; IV-XII-312 págs.
E.
1250 €
Rara tradução deste clássico da literatura erótica, ilustrada com 11
gravuras alegóricas, lavradas em chapa de metal.
Frontispícios impressos a negro e vermelho.
Da descrição feita de um exemplar vendido pela Leiloeira «CHRISTIE’S»
a 11 de Maio de 2011 transcrevemos: “Bien que l’on ait attribué cette
traduction à l’abbé Terrasson, en raison de la lettre à l’abbé T.... qui figure
en tête de l’ouvrage, l’auteur de cette “refonte” de l’Aloisia Sigeae reste ce
jour inconnu. Selon Jacques Duprilot, cette édition aurait été commanditée par
Xavier d’Arles de Montigny et imprimée à Auxerre, par Fournier, en 1749.
Encadernações de pele inteira, da época, gravadas a ouro na lombada e
com pequenos defeitos. Com vestígios de humidade de pequena gravidade.
5550 - SÁ-CARNEIRO (Mário de) –
A CONFISSÃO DE LÚCIO. Narrativa.
1914. Em casa do autor. 1, Travessa do Carmo. Lisboa. [No fim: Acabado de
imprimir para o Autor nos prelos da Tipografia do Comercio em 1 de Novembro de
1913]. In-8.º gr. de 206-II págs. E.
750 €
É a primeira edição desta obra notável de Mário de Sá-Carneiro, obra
que marca um lugar de grande destaque no movimento modernista da literatura
portuguesa. Edição de muito restrito número de exemplares.
Boa encadernação inteira de pele, com nervuras e ferros a ouro na
lombada, tendo na pasta da frente, também gravado a ouro, o nome do autor, o
respectivo título e uma gravura [flor] decorativa, tudo circundado por um fino
fio de ouro que se repete na pasta posterior. Exemplar com as margens intactas
mas com falta da capa da brochura.
34495 - SETE POEMAS PARA JULIO.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny, António Ramos Rosa, Alberto
de Lacerda, Eugénio Lisboa, Pedro Tamen, Bernardo Frey. [JÚLIO. Um Álbum
Poético]. [Composto e impresso por Soc. Gráfica Telles da Silva, Lda. 1988].
In-fólio E.
1500 €
Edição de magnífica qualidade e extraordinário bom gosto de sete
serigrafias de belos desenhos de Júlio reproduzidos a cores e a negro, medindo
50 x 82 cm., cuja tiragem foi confinada a 230 exemplares numerados e assinados
pelo serígrafo António Inverno e autenticados com o selo branco de Júlio. As
poesias dos autores acima referidos vêm num elegante volume, com a justificação
da tiragem assinada por Maria Augusta Reis Pereira.
O conjunto está conservado num portfólio em tela azul, com atilhos,
especialmente concebido para a edição.
35150 - VERNEY (Luís António) –
PARECER // DO DOUTOR // APOLONIO
PHILOMUSO // LISBONENSE, // Dirigido a um grande PRELADO do Reino // de
Portugal, // Àcerca de um papel intitulado Retrato de Mortecor, seo // Autor D.
Alethophilo Candido de Lacerda. [No fim: SALAMANCA // Na Officina de
Garcia Onorato 1750. Com Licensa dos Superiores.]. In-4.º peq. de 102 págs. E.
500 €
Publicação muito rara, com interesse para a bibliografia da importante
polémica criada ao redor da publicação do Verdadeiro Método de Estudar, onde
Verney, sob anonimato, de forma respeitosa mas implacável analisa os livros e
os métodos de ensino da Companhia de Jesus, confrontando a situação do ensino
em Portugal com o conhecimento Europeu iluminista.
António Alberto Banha de Andrade no seu monumental trabalho «Vernei e
a Cultura do seu Tempo», acerca do Parecer do Doutor Apolonio Philomuso Lisboense
(...) confirma a existência de duas distintas edições supostamente publicadas
em 1750, ambas com 102 páginas, mas que facilmente se distinguem uma vez que
uma — a que agora apresentamos — tem registo tipográfico no cólofon [SALAMANCA
// Na Officina de Garcia Onorato 1750// Com Licensa dos Superiores] e a outra
termina com uma ADVERTENCIA, sem qualquer registo tipográfico.
A págs. 456 do seu importantíssimo trabalho, Banha de Andrade recolhe
alguns elementos respeitantes aos verdadeiros editores que imprimiram de forma
recatada com receio das perseguições e castigos do Santo Ofício, onde atribui a
Generoso Salomão, que nas sua oficina em Roma, terá dado à luz da imprensa o
opúsculo supostamente impresso em Salamanca. Já relativamente à impressão que
termina com uma ADVERTÊNCIA e sem qualquer indicação de registo tipográfico,
reporta a impressão para o Convento dos Lóios, considerando-a 2.ª edição. Diz
ainda o Prof. Banha de Andrade crer que a indicação do ano não seja exacta e
que o folheto se não terá estampado antes de 1751, confirmando ainda a
informação dada por Barbosa Machado e Inocêncio no que diz respeito à revelação
do verdadeiro autor deste opúsculo publicado sob pseudónimo. Atribui assim, e
de forma inequívoca, a autoria deste Parecer a Luis António Vernei. Refere, no
entanto, os «Subsídios para um Diccionário de Pseudónimos» de Martinho da
Fonseca, onde diz que, talvez influenciado por Téofilo Braga [no texto
preliminar dos Subsídios intitulado «Poucas Palavras], inventa um pseudónimo
que julgamos não ter existido.
Banha de Andrade continua, dizendo que Martinho “Atribui o Parecer a
Apolónio Filomeno, que identifica com Luis Vernei, mas que a seguir se refere a
Apolonio Philomuso Lisbonense [Lisboense ?] imaginando tratar-se de Alexandre
de Gusmão (...)”. Conclui assim Banha de Andrade: “Ora, nos próprios Subsídios
para um Dicionário de Pseudónimos, se encontram elementos para deslindar o
equívoco — no título das «Advertências criticas sobre o juizo (...) que formou
o Dr. Apolónio Filomuso e comunicou ao público em a resposta ao «Retrato de
Morte-Còr (pág. 9). Esta resposta é o Parecer. Ficamos, pois, sem saber se
Martinho da Fonseca pretende atribuir este panfleto a Vernei, se a Alexandre de
Gusmão.”
De seguida transcrevemos as primeiras linhas do opúsculo que
apresentamos, onde o autor começa por justificar as motivações que o levaram a
redigir este opúsculo ou, de forma encoberta, procura desviar as atenções do
Santo Ofício, sem deixar de entrar na contenda criada com a publicação do
Verdadeiro Método de Estudar:
“Excelentisimo, e Reverendisimo Senhor. Manda-me V. E. dizer o meo
parecer sobre o papel composto por *** debaixo do nome de D. Alethophilo
Candido de Lacerda, [Joaquim Rebelo, autor do Retrato de mortecor], em que
pertende impugnar o Autor do Verdadeiro Metodo e me-ordena lhe diga, 1. que fim
se-propoz este autor: 2. que doutrina e metodo tem: 3. que utilidade pode
rezultar a quem o-ler. (...)”.
Encadernação inteira de pele, da época.
Gravura
Aqui fica esta minha singela homenagem a uma das grandes figuras da
nossa bibliofilia – Manuel Ferreira.
Saudações bibliófilas
Livraria Manuel Ferreira – logótipo
Os
descritivos e as fotografias são da inteira responsabilidade do livreiro e seu
copyrigth.
Sem comentários:
Enviar um comentário