"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

terça-feira, 25 de abril de 2017

A propósito de Xabregas…



Ponte de Xabregas em 1857

Uma boa amiga perguntou-me o que lhe poderia dizer sobre Xabregas. Fiquei a pensar, pois é um lugar que me é querido na memória.

Morei lá perto durante muitos anos e era a “terra” do meu pai, embora só já “crescidinho” o viesse a descobrir.


Palácio de Xabregas

Sempre me tinha feito uma certa confusão irmos de viagem à terra da minha mãe – Ovar –  viagem épica na altura,  e falamos dos anos 60, mas ainda não conhecera a terra do meu pai…

Um dia ele convidou-me a conhecer a “sua terra”, entrámos no carro e passado muito pouco tempo já tínhamos chegado!

Foi só descer a Avenida Afonso III, passar pelo Asilo Maria Pia, a Igreja da Madre Deus e lá estávamos no Beato…


Rua de Xabregas em 2009
©Luís Maria Antunes

Xabregas fazia parte do meu imaginário de infância que nunca me decidira indagar da sua importância, história ou monumentos…era a terra do meu pai “que ficava ali mesmo ao virar da esquina”, onde eu e os meus primos, levados pelo nosso avô que tanto gostava de passear, por vezes íamos.


Igreja da Madre de Deus

Foi com um certo sobressalto que recebi esta pergunta. Afinal eu não conhecia a terra do meu pai! (ainda que muito mais distante, conhecia muito melhor a história de Ovar: monumentos, cultura, história e até uma das suas figuras mais emblemáticas – o nosso escritor Júlio Dinis, que tem lá uma Casa - Museu (…e que me perdoem todos os outros, pois não é por maldade que os não refiro), do que esta aqui tão perto.


Convento de Santa Maria de Jesus de Xabregas

Claro que teria de procurar alguma resposta para lhe dar, pelo que comecei a indagar, e como apaixonado pelos livros, fui “cair” na Livraria Castro e Silva onde encontrei estes exemplares que vos apresento, onde se encontram referências a Xabregas (mas muitos mais há…)



EVANGELISTA, Fr. Manuel – Amores do Amado. EPITOME SELECTO DAS ESCRITURAS NAS EXCELLENCIAS, grandezas, e irregularidades do Querubim de Deos, Benjamin de Christo, Apice dos Profetas, Timbre dos Apostolos, aguia dos Euangelistas, Martyr sem morte, Mestre dos Doutores, Virgem sem macula, Secretario do Verbo Eterno, e Thesoureiro dos maiores segredos, o sempre venerado, e nunca bem conhecido, ainda que entre os mais mimoso SÃO JOÃO EUANGELISTA, Dedicado, e oferecido AO SENHOR JOSE? MACHADO PINTO, Cavaleiro professo da Ordem de Christo, e Fidalgo da Casa de S. Magestade, PELO M. R. PADRE MESTRE Fr. MANOEL EUANGELISTA, Doutor em Theologia na Universidade de Coimbra, Qualificador do Santo Officio, Examinador das Trez Ordens Militares, Consultor da Bulla da Cruzada, e Lente em o Convento de Xabregas. LISBOA, Na Officina de Miguel Manescal da Costa, Impressor do Santo Officio. Anno 1754. In 8º (de 17x10 cm) com [46], 119 pags. 1800.00€



Encadernação artística da época em inteira de marroquin com finos ferros a ouro rolados na lombada e nas esquadrias das pastas. Guardas originais em papel decorativo da época, apresentando o ex-libris eclesiástico armoriado de ?John Jebb. Bishop of Limerick, Ardfert and Aghadoe? [1775-1833]. 



Obra não existente na BNP e totalmente desconhecida dos bibliógrafos portugueses, contendo textos referentes a descrições emblemáticas de inspiração rosacruciana. Inocêncio (V, 413) refere apenas o autor e um impresso do mesmo: 'Fr. Manuel Evangelista (2.º), Franciscano da provincia dos Algarves, Doutor em Theologia pela Universidade de Coimbra, incognito a Barbosa, que d"elle não fez menção. - E. 486) Á exaltação do ex.mo e rev.mo sr. D. Fr. José do Menino Jesus, novamente eleito bispo de Angola. Elogio. Lisboa, na Offic. de Domingos Gonçalves 1760. 4.º de 23 pag'. Location/localizacao: 2-1-D-16. Bookseller Inventory # 1407JC037
©Livraria Castro e Silva (Lisboa, Portugal)



RIBADANEYRA. (Pedro de) – FLOS SANCTORUM. HISTORIA DAS VIDAS, E OBRAS INSIGNES DOS SANTOS. PELO M. R. P. PEDRO DE RIBADENEYRA, Religioso da Companhia de Jesus, e outros Autores. PRIMEYRA PARTE. [E SEGUNDA PARTE] TRADUSIDA DA LINGUA CASTELHANA EM A NOSSA PORTUGUESA PELO LICENCIADO JOAÕ FRANCO BARRETO. OFFERECIDA A? SACRATISSIMA VIRGEM MARIA VENERADA NA SUA ANGELICA IMAGEM DA MADRE DE DEOS, A QUEM A PIEDADE CHRISTÃ SOLENNIZA NO SEU REAL Convento das Religiosas de Xabregas. LISBOA OCCIDENTAL. NA OFFICINA FERREYRIANA. M.DCC.XXVIII [1728]. 2 volumes encadernados num 1 volume. In fólio (de 28,5x20 cm) com [xii]-646 ; [vi]-481-[i] págs. 1500.00€



Encadernação da época em pergaminho flexível, um pouco cansada. Folha de rosto impressa a duas cores (preto e vermelho). Texto a duas colunas ornamentado com cabeções, florões de remate e iniciais decoradas. Exemplar com assinatura de posse coeva no interior da pasta anterior. Nas 12 folhas preliminares inumeradas: Dedicatória do impressor Manuel Lopes Ferreira à Virgem Maria, índice das vidas dos santos, licenças e nas 6 folhas inumeradas do 2º volume índice das vidas dos santos e licenças. O Padre Pedro de Ribadeneira é um dos mais importantes historiadores jesuítas da primeira fase da Companhia. As suas obras tiveram uma grande divulgação, em todo o mundo com numerosas edições e traduções. João Franco Barreto foi um polígrafo, poeta, historiador, tradutor e um dos mais importantes críticos e historiadores literários do século XVII, que editou e estudou aprofundadamente a obra de Camões. Tradução de grande fidelidade e qualidade. Franco Barreto distinguiu-se pela excelência das suas traduções entre elas a Eneida de Virgílio e esta célebre obra de Ribadeneira. Terceira edição muito rara da qual Inocêncio não viu nenhum exemplar, referindo-a só por informações de terceiros, como se pode ver pela transcrição que se segue. Inocêncio. III, 379-379. JOÃO FRANCO BARRETO, Licenceado em Direito Canonico pela Universidade de Coimbra. Depois de seguir por algum tempo a vida militar, foi Secretario da embaixada mandada a França por el-rei D. João IV; e ultimamente, depois de enviuvar, tomou ordens ecclesiasticas, e exerceu as funcções de Vigario da vara no Barreiro, sendo nomeado para este cargo em 1648. N. em Lisboa no anno de 1600; os seus biographos não apontam a data do obito, porém sabe-se que ainda vivia em 1674. V. a seu respeito o Ensaio Biogr. Crit. de Costa e Silva, no tomo V, pag. 267 a 297. 828) (C) Flos Sanctorum, Historia das vidas e obras insignes dos Sanctos. Parte 1.ª pelo P. Pedro de Ribadeneyra, da Companhia de Jesus, e outros auctores. 



Traduzido de castelhano em portuguez. Lisboa, por Antonio Craesbeeck de Mello 1674. fol. Ibi, por Manuel Lopes Ferreira 1704. fol. 2 tomos. (Advirta-se que n"esta edição estão errados os numeros das pag. de 221 em diante, porque a seguinte que devia ter 222, tem 242, e assim prosegue na continuação do volume.) Inocêncio. X, 264-265. O visconde de Azevedo, na serie de informações e additamentos com que obsequiou o auctor d?este Dicc., escrevia a respeito do Flos Sanctorum, de Ribadeneyra (n.º 828): - «O Barbosa Machado, e o Salgado, e Farinha, quando nomeiam a edição do Flos Sanctorum, traduzido por Franco Barreto, de 1674, dizem que é impressa por Antonio Craesbeck de Mello, e isto mesmo se lê no seu Dicc.; mas eu tenho aquella edição de 1674 em dois volumes, ou partes, quando todos a dão em um só volume, ou em um só tomo ou parte. Demais, o impressor não é Antonio Craesbeck, mas sim Antonio Rodrigues de Abreu, e á custa de Francisco de Sousa, mercador de livros. Acrescenta v. ex.ª uma edição de 1704 em dois tomos, de que os primeiros auctores citados não fallam, e diz que de pag. 221 passa a pag. 242, em logar de 222, como devia ser. Ora, é justamente o que no 2.º tomo d?esta minha edição de 1674 se vê, mas não salta de pag. 221 a 242, e sim de pag. 220 a pag. 241». Não posso assegurar, se o fallecido visconde de Azevedo, na sua informação sobre o exemplar que possuia, tambem se equivocou com respei. Bookseller Inventory # 1603PG067
©Livraria Castro e Silva (Lisboa, Portugal)



ALBERTO, Frei Francisco de Santo – ESTRAGOS DO TERREMOTO VATECINIO DE FELICIDADES. Sobre os habitadores da nobilissima Villa de Setuval na justificada affliçaõ em que se viraõ no primeiro de Novembro de 1755. OFFERECIDO AO ILL.mo E EXmo. SENHOR D. ANTONIO LUIZ CAETANO DE SOUSA MARQUEZ DAS MINAS Comcelheiro de Guerra, Gentil-Homem da Camera de Sua Magestade Fidelissima &c. POR Fr. FRANCISCO DE SANTO ALBERTO LEYRIENSE Fundador do Seminario de N. Senhora da Encarnaçaõ, na Villa de Vinhaes, Provincia de Tras os montes, Missionario Apostolico, e Mestre de Noviços do Real Seminario de N. Senhora dos Anjos de Brancannes, junto a Setuval, fundaçaõ do Veneravel Padre Fr. Antonio das Chagas. LISBOA: Na Offic. junto a S. Bento de Xabregas. Anno de 1757. In 4º (de 20x15 cm) com [11], 53 págs. Brochado, com os cadernos soltos, no entanto não deve ser encadernado uma vez que se trata do exemplar original levado aos despachos das licenças necessárias para ser autorizada a sua publicação. Exemplar com importância particular por motivo de, em cólofon, se encontrarem os despachos originais da edição: 'Pode Correr' e 'Está conforme com o original' e com 7 licenças e as respectivas assinaturas dos censores. 900.00€



O autor atribui o Terramoto de 1755 a causas não naturais, tal como foi corrente na época e contestado por humanistas como Voltaire. No entanto, o texto ao estilo prosa epopeica retrata bem o maremoto (tsunami): a sua aproximação e os locais principais da destruição: 'rebentando a água neste vistoso campo do Bonfim'; 'verde negro das ondas'; 'nas tuas ruas os barcos, os batéis, e os hiates atravessados com o ímpeto'; etc. Existe exemplar nos reservados da BNP. Inocêncio 9, 246: «Tanto o autor como o escrito (que em verdade pouco vale) foram desconhecidos a Barbosa Machado. Entretanto é mais um opusculo para reunir às colecções dos muitos que se publicaram, relativamente aos estragos daquele desastroso fenómeno». A LBERTO, Frei Francisco de Santo. ESTRAGOS DO TERREMOTO VATECINIO DE FELICIDADES [Damages of the Earthquake Wishes of Good Luck] In 4º (20 x 15 cm) with [11], 53 pps. 



Soft cover, with loose folios. It should not be bound, since it is the original sent to the Holly Office to get the licenses needed to be distributed. A unique copy presenting in the colophon the original authorisations for the edition: 'Pode Correr' [can be distributed], and 'Está conforme com o original' [it is in accordance with the original], and also 7 licenses and the respective signatures of the censors. The author states that the 1755 earthquake was not due to natural causes, as was usual at the time and disputed by humanists like Voltaire. Nevertheless, the text in epic prose depicts well the tsunami, its approach and the main places of destruction: 'rebentando a água neste vistoso campo do Bonfim' [the waves hitting this beautiful field of Bonfim]; 'verde negro das ondas' [the greenish black of the waves]; 'nas tuas ruas os barcos, os batéis, e os hiates atravessados com o ímpeto' [on your streets the boats, barges and the yachts dragged by the force of the waves]; etc. Location/localizacao: 4-6-D-59. Bookseller Inventory # 1601JC015
©Livraria Castro e Silva (Lisboa, Portugal)



Index Geral da Livraria do Convento de S. Francisco De Xabregas
onde se achão os Livros pelos nomes, ou cognomes mais conhecidos,
dos seus Autores.
Redigido pelo bibliotecário Frei Inácio de Santa Maria dos Anjos Quintanilha.
©BNP

Espero que gostem das obras e porque não uma visita a Xabregas, pois tem muito para ver e nem só de livros se enriquece o espírito e o conhecimento.

É um excelente passeio, com bons restaurantes, para retemperar forças entre as várias visitas a fazer…

Saudações bibliófilas.

Sem comentários: