"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sexta-feira, 28 de abril de 2017

No 8º Aniversário da Tertúlia – Cartucho


Celebra-se hoje o oitavo aniversário do primeiro artigo publicado por mim neste espaço que foi baptizado de “Tertúlia Bibliófila”.



RÉGIO, José – A Chaga do Lado. Sátiras e epigramas. Portugália, Lisboa, 1954, In-8º gr. de 92-(2) págs. Encadernação luxuosa em pele com dizeres e florões a ouro na lombada e nas pastas. Conserva capas de brochura. Ostenta uma assinatura autógrafa. 1.ª edição. Invulgar.



Esta colectânea de poemas foi publicada pela primeira vez em Lisboa, em Setembro de 1954, pela Portugália Editora, quando José Régio era já considerado um dos maiores poetas da sua época.



Sobre o processo de formação do livro o autor, numa carta endereçada a Alberto Serpa, dirá: "creio que me está nascendo um novo livro de versos, – bastante prosaico e bruto – nos rápidos intervalos da Velha Casa e dos sonhos de teatro. Ser-me-ia bom financeiramente". Mais tarde, numa outra carta, Régio explicará: "Assim me vieram, incompletos, uns três ou quatro poemas, aos quais aludi numa carta em que te dizia julgar estar a nascer-me um novo livro. Entre essa carta e a que te escrevi falando-te já no propósito de publicação do livro (isto é: uma semana) o livro fez-se! Poderá ser pouco verosímil; mas é verdadeiro. Claro que se não fez o livro completo, organizado, definitivo: Fizeram-se, apenas, uns sete ou oito poemas que vieram pegados uns aos outros […] nem seriam sete ou oito poemas que dariam um livro. Simplesmente, existia um núcleo, um fulcro (o essencial do livro) em volta do qual reuniria, completando-os, alguns fragmentos deixados aí pelas gavetas além dum longo poema já antigo – Um poeta ainda canta – (...) e outros que haviam sido publicados em revistas, três dos sonetos novos da 3ª edição da Biografia etc."
©Colecção privada

Muito escrevi desde essa data procurando realçar a beleza do livro enquanto objecto de divulgação cultural e objecto de arte, claro que como bibliófilo, a vertente coleccionista teve um papel muito importante.

Por aqui se deixou notícia de vários eventos ligados ao livro (ou não seja o subtítulo do blogue “conversas em torno dos livros”!) – exposições, feiras, leilões ou simplesmente catálogos editados pelas várias livrarias que têm a gentileza de mos fazer chegar (tanto nacionais como estrangeiras).

A impressão, os impressores e editores têm igualmente aqui um lugar importante, pois é assim que nasce um livro!

A encadernação, que sempre me fascinou, tem também o seu espaço e sobre ela muitas notas aqui ficaram.



07292-L1. A LABAREDA. Revista mensal de Literatura e Arte. Directores: Narciso de Azevedo e Soares Lopes. Proprietarios: Armando Cruz, Narciso de Azevedo e Soares Lopes. Porto. (Typgraphia Costa Carregal). 1914. 2 números 17,5x26 cm. 32 págs. E.
350,00 €



Rara revista literária e artística com colaboração de Eugénio de Castro, Camilo Castelo Branco, António Patrício, Teixeira de Pascoaes, Afonso Duarte, Mário Beirão, Guilherme Braga, Fialho de Almeida, Conde de Monsaraz, Carlos Parreira e Teixeira de Carvalho.

Colaboração artística de excelência, com desenhos, impressos em folhas à parte, da autoria de António Carneiro, Domingos Sequeira, Vieira Portuense e Soares Lopes, este último autor das capas.
Refira-se ainda que foram publicadas cartas inéditas: de Eça de Queiroz a Maria, cartas de Camilo e de Manuel Laranjeira. Colecção completa.



Luxuosa encadernação em inteira de chagrin, com embutidos em pele na pasta da frente, reproduzindo a capa da brochura. Conserva as capas das brochuras embora as do primeiro número possuam restauro. Assinatura de posse e data na folha de rosto do primeiro número. No verso da última folha do número um, encontram-se desenhos a lápis.
©In-Libris

Obviamente que, não sou alheio sobre aquilo que os leitores mais apreciam, e as estatísticas servem para isso mesmo, mas tento deixar um certo cunho pessoal e pedagógico (nem sempre bem entendidos inicialmente), com apontamentos sobre movimentos/escolas literárias, particularidades de algumas edições, escritores menos conhecidos e divulgar sempre mais qualquer pormenor que não tenha ainda sido referido aqui.

Vem isto a propósito de que nem sempre o que escrevo corresponder às minhas preferências literárias ou posturas que defendo (que aliás são bem conhecidas, pois nunca as escondi), mas dar uma visão de outras perspectivas o mais imparcialmente possível, pois transmitir conhecimentos é isso mesmo… e se o tiver conseguido fico muito orgulhoso!



04488-L1. FERREIRA (Vergílio). — ESTRELA POLAR. Romance. Portugália Editora. [Lisboa. 1962]. 13x19 cm. 316-IV págs. B.
150,00 €



“Dois temas se cruzam neste novo livro de Vergílio Ferreira: o da verdade  e o da comunhão  humana. Pelo primeiro, este romance associa-se a Mudança; pelo segundo, continua Aparição.”

Edição original. Capa ilustrada por Câmara Leme.

Valorizado pela assinatura do autor. Por abrir.
©In-Libris

Apesar de os meus conhecimentos serem bastante limitados, estes têm-se enriquecido com o aprofundar do estudo necessário à escrita dos artigos, pelo contributo de algumas das vossas críticas e comentários, assim como pela colaboração solicitada por mim a alguns dos meus amigos, que se disponibilizam a esclarecer, com os seus conhecimentos mais profundos na matéria, o prazer de coleccionar, mas muito mais do que isso, o de estudar um livro (aqui considere-se o livro como objecto de arte no seu todo e não como uma das formas de impressão para leitura).



08815-L1. CORTEZ (Alfredo). — ZILDA. Peça em 4 actos. Porto. Companhia Portugueza Editora. 1921. 12,5x18 cm. 255-I págs. B.
85,00 €


Primeira edição muito cuidada, “(...) onde se dão, com o texto, os scenarios da Zilda, através as reproduções das maquettes, nas cores dos proprios originaes, tendo assim a honra de dar à estampa os trabalhos de artistas como as exmas. sras. D. Alice Rey Collaço, D. Milly Possoz e Jorge Barradas (...)”.



Capa “original de D. Alice Rey Collaço, que é, se nos permittem ter aqui opinião, uma obra d’arte”.

As ilustrações apresentam-se em folhas à parte.

De muito raro aparecimento no mercado.
©In-Libris

A leitura de um qualquer livro é o fundamental, mas uma vez esta terminada, no espírito do bibliófilo devem colocar-se sempre várias questões: qual a importância da edição que tem entre mãos, em que tipo de papel está impresso, que caracteres foram utilizados, que sabemos sobre o impressor ou o editor, se for ilustrado, qual o tipo de ilustrações, quem as desenhou e quem as imprimiu, quem desenhou a capa da brochura – muitas vezes pequenas obras de arte – e se estiver encadernado, em que estilo está e, se possível, identificar o encadernador (isto se esta não estiver assinada); deste modo se estabelece a principal diferença entre leitor, bibliómano e bibliófilo.



04654-L1. QUENTAL (Antero de). — CARTAS DE ANTHERO DE QUENTAL. Coimbra. Imprensa da Universidade. 1915. 16x24 cm. de 320-IVpágs. E.
100,00 €

“Ao Exmo. Sr. Candido Augusto Nazareth, de Coimbra, admirador e colleccionador da obra do meu illustre patrício Anthero de Quental é que devo hoje poder reproduzir em volume as cartas dispersas em jornaes e livros difficeis senão impossíveis de obter actualmente, prestando assim esta pequena homenagem de veneração ao meu infeliz patricio que tanto honrou as lettras patrias. (...)”.

PRIMEIRA EDIÇÃO. Encadernação com lombada e cantos em pele, conservando as capas da brochura. Apenas parado e carminado à cabeça. 
©In-Libris

Julgo ter deixado vários apontamentos que vos permitam responder às questões acima enunciados…se não o conseguirem fazer, então terei falhado nos meus intentos!

No entanto, o meu entusiasmo e empenho, que vai renascendo com o apoio que se manifesta pelas vossas leituras e consultas das muitas páginas que aqui vão ficando suspensas no mundo virtual e etéreo da Internet, mas acessíveis para todos, e em qualquer parte deste nosso pequeno mas belo planeta, dão-me coragem para continuar na mesma direcção – a divulgação do livro!

É para vós que este espaço existe pelo que só me resta agradecer todo o apoio e carinho que me têm transmitido…o meu muito obrigado a todos!


O Livro Antigo

Como hoje é dia de festa (pelo menos para mim é, pois comunicar convosco é sempre um grande prazer) trago-vos um exemplo bem ilustrativo daquilo que escrevi.


In-Libris

Da In-Libris | Rua do Carvalhido, 194 | 4250-101 Porto | Portugal recebi uma Newsletter: Conheça o acervo deHistória na estante da In-Libris, onde encontrei uma das obras mais curiosas editadas em Portugal – CARTUCHO.

(Aliás a maioria das imagens e descritivos deste artigo foram retiradas daqui, tentando ilustrar as ideias expressas no texto, pelo que apresento, mais uma vez, o meu agradecimento à In-Libris)



ALEXANDRE (António Franco) & PEREIRA (Helder Moura) & JORGE (João Miguel Fernandes) & MAGALHÃES (Joaquim Manuel). — CARTUCHO. Edição dos autores. Lisboa, 1976, 10x10x9 cm. 21ff. (Indisponível)



Edição muito restrita desta original obra, de manufactura artesanal composta por  20 poemas “amarrotados”, cinco de cada um dos autores, inseridos num cartucho de papel.

(...) O meu pai deu-nos os cartuchos, o cordel e os chumbos que os fechavam. Lá dentro ficaram poemas bem amarrotados. Mandámos imprimir um rótulo com os nossos nomes na tipografia «Proletariado Vermelho», que ficava no meu bairro. Não esquecer que corriam os gloriosos dias de 76! De resto, quando eu e o Joaquim vínhamos da Consolação com a mala do carro cheia de cartuchos acabados de fazer, fomos interceptados por uma operação stop das vigilâncias populares, à entrada da Calçada de Carriche. Ao mandarem abrir a mala do carro e ao verem os cartuchos perguntaram: — «O que é isto?» O Joaquim respondeu-lhes: — «São livros!» Como se de rosas se tratasse! Acharam coisa acertada para a revolução em curso. (Seria este o motivo para o seu poema «28 de Setembro» de Os dias, pequenos charcos) (...)”. — retirado de  Obra Poética, 3.º Volume — Meridional, Vinte e Nove Poemas, Direito de Mentir  de João Miguel Fernandes Jorge.



Não sendo o que normalmente  se designa por livro, este objecto ficou conhecido pela atribuição, dada na altura pela poetisa Fiama Hasse Pais Brandão, – de  “aquilo”.

João Barrento, na Revista Semear 4, no seu artigo Um quarto de século na Poesia Portuguesa, diz o seguinte: “(...) Com a apresentação — de “publicação” dificilmente se poderá falar neste caso — do Cartucho (1976), uma colecção de poemas soltos de quatro poetas (Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, António Franco Alexandre e Helder Moura Pereira) empacotados num cartucho de mercearia e assim vendidos, estamos perante um gesto provocatório e dum desafio — no espírito da “Pop” americana ou da chamada “poesia de consumo” —, e assistimos ao fim da tradição de grupos e das profissões de fé programáticas. 



Os anos sessenta tinham estado ainda totalmente subordinados ao espírito dos Modernismos e das vanguardas históricas. Com este gesto radical (que, na sua espectacularidade neo-dadaísta, é ainda um programa, talvez o último, depois formulado com ira e nostalgia, agora entre as capas de um livro, por Joaquim M. Magalhães no poema de abertura de Os Dias Pequenos Charcos, em 1981), com esse gesto abre-se, em meados da década de setenta, uma nova fase que já se poderia considerar pós-moderna, pelo seu lado lúdico, provocatório e descomplexado (lembremos que o pós-moderno já vem sendo teorizado no Estados Unidos por Leslie Fiedler desde finais da década anterior, e que precisamente esta “geração do Cartucho” tem uma forte ligação ao mundo e à poesia anglo-americanos, nomeadamente à cena Pop). Num certo sentido, os quatro autores do Cartucho já eram então quatro vozes difenciadas, já tinham publicado separadamente e enveredaram depois por caminhos que não se podem dizer coincidentes. 



Esta nova orientação da poesia portuguesa, que se anuncia em simultâneo com a Revolução (“uma pirueta sobre o real demoníaco”, na visão de Vasco Graça Moura em 1976), mas sem com ela ter a ver directamente, é visível também na obra de outros autores que por esses anos ganham maior projecção, com destaque para Nuno Júdice e Vasco Graça Moura. Trata-se de dois poetas cuja obra ficcionaliza progressivamente o espaço lírico, rompe (tal como os poetas do Cartucho) com os registos emocionais e ideológicos e com o pathos lírico anteriores, cultiva uma abertura consciente a novas dicções poéticas e uma ironia por vezes dissolvente em relação a formas e discursos antes sacralizados, com o(s) do próprio Fernando Pessoa, para Vasco Graça Moura, ou, para Nuno Júdice, nas muitas “Poéticas” que enchem os seus livros, a linguagem hierática de sessenta, que um poeta sem escola, mas muito influente, como Ruy Belo, ainda definia nos seguintes termos: “poesia é complicação, é doença da linguagem, é desvio da sua principal função, que será comunicar. Só o poeta fica na linguagem, os outros passam por ela, servem-se dela...” (“Da espontaneidade em poesia”). 



Com os novos poetas inventa-se um novo discursivismo e uma nova retórica que levam, ou à encenação fictícia, no poema, das experiências mais pessoais e mais quotidianas (em Nuno Júdice, Diogo Pires Aurélio), ou ainda, com recurso a um largo espectro de linguagem das formas e de formas de linguagem, ao cruzamento dos grandes temas da tradição ocidental (o tempo e a morte, o amor e a arte) com o registo, em parlando, da circunstancialidade mais comezinha e dos interstícios de uma realidade “demoníaca” intensamente vivida, no caso de Vasco Graça Moura (com David Mourão-Ferreira, ele será o grande poeta doctus de uma época e de uma poesia que, com excepção de João Miguel Fernandes Jorge, irá cada vez mais perdendo as ligações à tradição cultural, para as recuperar hoje), um poeta de grande virtuosismo que assimila heranças que vão de Camões e Cesário Verde a Jorge de Sena, Vitorino Nemésio e Alexandre O’Neill. (...)”.

Aliás este mesmo espécime bibliófilo já tinha sido referido aqui aquando do Leilão da Livraria «Otium Cum Dignitate» a 21 de Novembro de 2009 e que determinou o reparo de um leitor – Edgar Pereira Reis em 17 de Março de 2017 autor do livro: Portugal, poetas do fim do milênio, Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999, onde este faz referência a esta obra nas pp.34-39.


 REIS, Edgar Pereira – Portugal, poetas do fim do milênio

Livro que pode ser acedido aqui e do qual recomendo a leitura, pelo menos em suporte virtual.


Ecléctica – Livraria Alfarrabista

E já que se fala na Otium Cum Dignitate refira-se que o Nuno Gonçalves está agora  integrado na livraria da família – Ecléctica – Livraria Alfarrabista | Calçada do Combro, 50 | 1200-115 Lisboa | Portugal  – onde é o responsável pela realização dos catálogos e lançou recentemente o Catálogo XVI.


Catálogo XVI

Sobre este o Nuno Gonçalves escreveu:

“Está disponível para consulta e download o novo catálogo com uma selecção de livros disponíveis para venda na Livraria Ecléctica. De entre as peças apresentadas destacam-se obras como a obra de Nicolau Godinho De Abassinorum Rebus [...], de 1615, primeira edição raríssima de uma das mais importantes descrições daquele reino (lote 124); a revista Graal dirigida por Manuel Couto Viana (lote 129); um muitíssimo curioso relatório publicado em Paris sobre a produção de café ilustrado com dois mapas desdobráveis (lote 144); uma colecção completa do Ciclo Port Wine de Alves Redol (lote 249); ou um bonito exemplar de um dos livros mais importantes publicados no final do século XVII sobre botânica intitulado Élémens de Botanique ou M´ethode pour Connoitre les Plates de Pitton de Tournefort, ilustrado com quase 5 centenas de gravuras (lote 306) ”.


Cólofon – livros antigos edições

E, antes de terminar, já que estamos em maré de poesia, de referir que o bom amigo Francisco Brito da Cólofon  livros antigos edições | Largo Condessa do Juncal, nº 57 |4800-159 Guimarães | Portugal editou um catálogo on-lineÚltimas Novidades de Abril de 2017 - Literatura, poesia, curiosidades de que destaco estes dois volumes de poesia:



1265 - Alegre, Manuel – UM BARCO PARA ITACA. Águeda. Edição de autor. 1971. 62 págs. 16,6 cm. B.

 Primeira edição desta obra de Manuel Alegre, que se tinha estreado como autor anos antes com “O Canto e as Armas”.

Exemplar em bom estado de conservação.

VENDIDO.



294 - Junqueiro, Guerra – O SÉCULO. I. BAPTISMO DE AMOR. Porto. Livraria Cruz Coutinho. 1885. 23.5cm. B.

De 1868 é a primeira edição deste trabalho de Junqueiro, a última das suas produções de juventude depois de Duas páginas dos quatorze anos, 1864 e Mysticae nuptiae, reproduzida com alterações em Vozes sem eco, 1866-67 – raríssimas todas.

No prefácio, encorajante, “no verdor da vida e sem experiência de grandes dores”, Camilo atesta-lhe “duplo talento”, o de sentir e exprimir.

A obrinha traduz a ânsia, dolorosa, do divino, do eterno, uma das vertentes de Junqueiro, pela oratória, em prosa ou verso - a par da atitude política e social, que foi o Junqueiro polemista e panfletário. Aqui – no Baptismo de amor – é a regeneração pela Fé, mas o final é bem diferente n’ A morte de D. João, que publicará em 1874, já em outro período da sua evolução literária, brado de indignação contra o vício, que acaba em aviltosa agonia.

Segunda edição. Prefácio de Camilo Castelo Branco.

Exemplar brochado. Com alguns defeitos nas capas de brochura. Miolo em bom estado. 

Preço: 60 euros.



E assim acabam os “festejos” deste ano, foi com muita alegria que partilhei este momento convosco, espero que nos encontremos todos de novo no próximo ano!

Saudações bibliófilas e boas leituras.

terça-feira, 25 de abril de 2017

A propósito de Xabregas…



Ponte de Xabregas em 1857

Uma boa amiga perguntou-me o que lhe poderia dizer sobre Xabregas. Fiquei a pensar, pois é um lugar que me é querido na memória.

Morei lá perto durante muitos anos e era a “terra” do meu pai, embora só já “crescidinho” o viesse a descobrir.


Palácio de Xabregas

Sempre me tinha feito uma certa confusão irmos de viagem à terra da minha mãe – Ovar –  viagem épica na altura,  e falamos dos anos 60, mas ainda não conhecera a terra do meu pai…

Um dia ele convidou-me a conhecer a “sua terra”, entrámos no carro e passado muito pouco tempo já tínhamos chegado!

Foi só descer a Avenida Afonso III, passar pelo Asilo Maria Pia, a Igreja da Madre Deus e lá estávamos no Beato…


Rua de Xabregas em 2009
©Luís Maria Antunes

Xabregas fazia parte do meu imaginário de infância que nunca me decidira indagar da sua importância, história ou monumentos…era a terra do meu pai “que ficava ali mesmo ao virar da esquina”, onde eu e os meus primos, levados pelo nosso avô que tanto gostava de passear, por vezes íamos.


Igreja da Madre de Deus

Foi com um certo sobressalto que recebi esta pergunta. Afinal eu não conhecia a terra do meu pai! (ainda que muito mais distante, conhecia muito melhor a história de Ovar: monumentos, cultura, história e até uma das suas figuras mais emblemáticas – o nosso escritor Júlio Dinis, que tem lá uma Casa - Museu (…e que me perdoem todos os outros, pois não é por maldade que os não refiro), do que esta aqui tão perto.


Convento de Santa Maria de Jesus de Xabregas

Claro que teria de procurar alguma resposta para lhe dar, pelo que comecei a indagar, e como apaixonado pelos livros, fui “cair” na Livraria Castro e Silva onde encontrei estes exemplares que vos apresento, onde se encontram referências a Xabregas (mas muitos mais há…)



EVANGELISTA, Fr. Manuel – Amores do Amado. EPITOME SELECTO DAS ESCRITURAS NAS EXCELLENCIAS, grandezas, e irregularidades do Querubim de Deos, Benjamin de Christo, Apice dos Profetas, Timbre dos Apostolos, aguia dos Euangelistas, Martyr sem morte, Mestre dos Doutores, Virgem sem macula, Secretario do Verbo Eterno, e Thesoureiro dos maiores segredos, o sempre venerado, e nunca bem conhecido, ainda que entre os mais mimoso SÃO JOÃO EUANGELISTA, Dedicado, e oferecido AO SENHOR JOSE? MACHADO PINTO, Cavaleiro professo da Ordem de Christo, e Fidalgo da Casa de S. Magestade, PELO M. R. PADRE MESTRE Fr. MANOEL EUANGELISTA, Doutor em Theologia na Universidade de Coimbra, Qualificador do Santo Officio, Examinador das Trez Ordens Militares, Consultor da Bulla da Cruzada, e Lente em o Convento de Xabregas. LISBOA, Na Officina de Miguel Manescal da Costa, Impressor do Santo Officio. Anno 1754. In 8º (de 17x10 cm) com [46], 119 pags. 1800.00€



Encadernação artística da época em inteira de marroquin com finos ferros a ouro rolados na lombada e nas esquadrias das pastas. Guardas originais em papel decorativo da época, apresentando o ex-libris eclesiástico armoriado de ?John Jebb. Bishop of Limerick, Ardfert and Aghadoe? [1775-1833]. 



Obra não existente na BNP e totalmente desconhecida dos bibliógrafos portugueses, contendo textos referentes a descrições emblemáticas de inspiração rosacruciana. Inocêncio (V, 413) refere apenas o autor e um impresso do mesmo: 'Fr. Manuel Evangelista (2.º), Franciscano da provincia dos Algarves, Doutor em Theologia pela Universidade de Coimbra, incognito a Barbosa, que d"elle não fez menção. - E. 486) Á exaltação do ex.mo e rev.mo sr. D. Fr. José do Menino Jesus, novamente eleito bispo de Angola. Elogio. Lisboa, na Offic. de Domingos Gonçalves 1760. 4.º de 23 pag'. Location/localizacao: 2-1-D-16. Bookseller Inventory # 1407JC037
©Livraria Castro e Silva (Lisboa, Portugal)



RIBADANEYRA. (Pedro de) – FLOS SANCTORUM. HISTORIA DAS VIDAS, E OBRAS INSIGNES DOS SANTOS. PELO M. R. P. PEDRO DE RIBADENEYRA, Religioso da Companhia de Jesus, e outros Autores. PRIMEYRA PARTE. [E SEGUNDA PARTE] TRADUSIDA DA LINGUA CASTELHANA EM A NOSSA PORTUGUESA PELO LICENCIADO JOAÕ FRANCO BARRETO. OFFERECIDA A? SACRATISSIMA VIRGEM MARIA VENERADA NA SUA ANGELICA IMAGEM DA MADRE DE DEOS, A QUEM A PIEDADE CHRISTÃ SOLENNIZA NO SEU REAL Convento das Religiosas de Xabregas. LISBOA OCCIDENTAL. NA OFFICINA FERREYRIANA. M.DCC.XXVIII [1728]. 2 volumes encadernados num 1 volume. In fólio (de 28,5x20 cm) com [xii]-646 ; [vi]-481-[i] págs. 1500.00€



Encadernação da época em pergaminho flexível, um pouco cansada. Folha de rosto impressa a duas cores (preto e vermelho). Texto a duas colunas ornamentado com cabeções, florões de remate e iniciais decoradas. Exemplar com assinatura de posse coeva no interior da pasta anterior. Nas 12 folhas preliminares inumeradas: Dedicatória do impressor Manuel Lopes Ferreira à Virgem Maria, índice das vidas dos santos, licenças e nas 6 folhas inumeradas do 2º volume índice das vidas dos santos e licenças. O Padre Pedro de Ribadeneira é um dos mais importantes historiadores jesuítas da primeira fase da Companhia. As suas obras tiveram uma grande divulgação, em todo o mundo com numerosas edições e traduções. João Franco Barreto foi um polígrafo, poeta, historiador, tradutor e um dos mais importantes críticos e historiadores literários do século XVII, que editou e estudou aprofundadamente a obra de Camões. Tradução de grande fidelidade e qualidade. Franco Barreto distinguiu-se pela excelência das suas traduções entre elas a Eneida de Virgílio e esta célebre obra de Ribadeneira. Terceira edição muito rara da qual Inocêncio não viu nenhum exemplar, referindo-a só por informações de terceiros, como se pode ver pela transcrição que se segue. Inocêncio. III, 379-379. JOÃO FRANCO BARRETO, Licenceado em Direito Canonico pela Universidade de Coimbra. Depois de seguir por algum tempo a vida militar, foi Secretario da embaixada mandada a França por el-rei D. João IV; e ultimamente, depois de enviuvar, tomou ordens ecclesiasticas, e exerceu as funcções de Vigario da vara no Barreiro, sendo nomeado para este cargo em 1648. N. em Lisboa no anno de 1600; os seus biographos não apontam a data do obito, porém sabe-se que ainda vivia em 1674. V. a seu respeito o Ensaio Biogr. Crit. de Costa e Silva, no tomo V, pag. 267 a 297. 828) (C) Flos Sanctorum, Historia das vidas e obras insignes dos Sanctos. Parte 1.ª pelo P. Pedro de Ribadeneyra, da Companhia de Jesus, e outros auctores. 



Traduzido de castelhano em portuguez. Lisboa, por Antonio Craesbeeck de Mello 1674. fol. Ibi, por Manuel Lopes Ferreira 1704. fol. 2 tomos. (Advirta-se que n"esta edição estão errados os numeros das pag. de 221 em diante, porque a seguinte que devia ter 222, tem 242, e assim prosegue na continuação do volume.) Inocêncio. X, 264-265. O visconde de Azevedo, na serie de informações e additamentos com que obsequiou o auctor d?este Dicc., escrevia a respeito do Flos Sanctorum, de Ribadeneyra (n.º 828): - «O Barbosa Machado, e o Salgado, e Farinha, quando nomeiam a edição do Flos Sanctorum, traduzido por Franco Barreto, de 1674, dizem que é impressa por Antonio Craesbeck de Mello, e isto mesmo se lê no seu Dicc.; mas eu tenho aquella edição de 1674 em dois volumes, ou partes, quando todos a dão em um só volume, ou em um só tomo ou parte. Demais, o impressor não é Antonio Craesbeck, mas sim Antonio Rodrigues de Abreu, e á custa de Francisco de Sousa, mercador de livros. Acrescenta v. ex.ª uma edição de 1704 em dois tomos, de que os primeiros auctores citados não fallam, e diz que de pag. 221 passa a pag. 242, em logar de 222, como devia ser. Ora, é justamente o que no 2.º tomo d?esta minha edição de 1674 se vê, mas não salta de pag. 221 a 242, e sim de pag. 220 a pag. 241». Não posso assegurar, se o fallecido visconde de Azevedo, na sua informação sobre o exemplar que possuia, tambem se equivocou com respei. Bookseller Inventory # 1603PG067
©Livraria Castro e Silva (Lisboa, Portugal)



ALBERTO, Frei Francisco de Santo – ESTRAGOS DO TERREMOTO VATECINIO DE FELICIDADES. Sobre os habitadores da nobilissima Villa de Setuval na justificada affliçaõ em que se viraõ no primeiro de Novembro de 1755. OFFERECIDO AO ILL.mo E EXmo. SENHOR D. ANTONIO LUIZ CAETANO DE SOUSA MARQUEZ DAS MINAS Comcelheiro de Guerra, Gentil-Homem da Camera de Sua Magestade Fidelissima &c. POR Fr. FRANCISCO DE SANTO ALBERTO LEYRIENSE Fundador do Seminario de N. Senhora da Encarnaçaõ, na Villa de Vinhaes, Provincia de Tras os montes, Missionario Apostolico, e Mestre de Noviços do Real Seminario de N. Senhora dos Anjos de Brancannes, junto a Setuval, fundaçaõ do Veneravel Padre Fr. Antonio das Chagas. LISBOA: Na Offic. junto a S. Bento de Xabregas. Anno de 1757. In 4º (de 20x15 cm) com [11], 53 págs. Brochado, com os cadernos soltos, no entanto não deve ser encadernado uma vez que se trata do exemplar original levado aos despachos das licenças necessárias para ser autorizada a sua publicação. Exemplar com importância particular por motivo de, em cólofon, se encontrarem os despachos originais da edição: 'Pode Correr' e 'Está conforme com o original' e com 7 licenças e as respectivas assinaturas dos censores. 900.00€



O autor atribui o Terramoto de 1755 a causas não naturais, tal como foi corrente na época e contestado por humanistas como Voltaire. No entanto, o texto ao estilo prosa epopeica retrata bem o maremoto (tsunami): a sua aproximação e os locais principais da destruição: 'rebentando a água neste vistoso campo do Bonfim'; 'verde negro das ondas'; 'nas tuas ruas os barcos, os batéis, e os hiates atravessados com o ímpeto'; etc. Existe exemplar nos reservados da BNP. Inocêncio 9, 246: «Tanto o autor como o escrito (que em verdade pouco vale) foram desconhecidos a Barbosa Machado. Entretanto é mais um opusculo para reunir às colecções dos muitos que se publicaram, relativamente aos estragos daquele desastroso fenómeno». A LBERTO, Frei Francisco de Santo. ESTRAGOS DO TERREMOTO VATECINIO DE FELICIDADES [Damages of the Earthquake Wishes of Good Luck] In 4º (20 x 15 cm) with [11], 53 pps. 



Soft cover, with loose folios. It should not be bound, since it is the original sent to the Holly Office to get the licenses needed to be distributed. A unique copy presenting in the colophon the original authorisations for the edition: 'Pode Correr' [can be distributed], and 'Está conforme com o original' [it is in accordance with the original], and also 7 licenses and the respective signatures of the censors. The author states that the 1755 earthquake was not due to natural causes, as was usual at the time and disputed by humanists like Voltaire. Nevertheless, the text in epic prose depicts well the tsunami, its approach and the main places of destruction: 'rebentando a água neste vistoso campo do Bonfim' [the waves hitting this beautiful field of Bonfim]; 'verde negro das ondas' [the greenish black of the waves]; 'nas tuas ruas os barcos, os batéis, e os hiates atravessados com o ímpeto' [on your streets the boats, barges and the yachts dragged by the force of the waves]; etc. Location/localizacao: 4-6-D-59. Bookseller Inventory # 1601JC015
©Livraria Castro e Silva (Lisboa, Portugal)



Index Geral da Livraria do Convento de S. Francisco De Xabregas
onde se achão os Livros pelos nomes, ou cognomes mais conhecidos,
dos seus Autores.
Redigido pelo bibliotecário Frei Inácio de Santa Maria dos Anjos Quintanilha.
©BNP

Espero que gostem das obras e porque não uma visita a Xabregas, pois tem muito para ver e nem só de livros se enriquece o espírito e o conhecimento.

É um excelente passeio, com bons restaurantes, para retemperar forças entre as várias visitas a fazer…

Saudações bibliófilas.

domingo, 23 de abril de 2017

Dia Mundial do Livro 2017 – Leilão da Biblioteca Dr. Augusto Guimarães Amora




058. ANDRADA, Jacinto Freire de. - VIDA // DE // DOM JOÃO // DE // CASTRO // QVARTO VISO -REY // DA INDIA, // Escrita por //... // Impressa por ordem de seu Neto o Bispo // DOM FRANCISCO DE CASTRO, //... // EM LISBOA, // Na Officina Craesbeeckiana, // Anno 1651. In -4º de [8], 490 págs. Enc.

Celebra-se hoje o Dia Mundial do Livro, pelo que não quero deixar de me associar à sua celebração, mas desta vez fá-lo-ei de um modo um pouco diferente.

Com o desaparecimento de José Ferreira Vicente fundador da Livraria Olisipo, no passado mês de Janeiro e de quem tanto aqui se falou por ocasião de muitos leilões que organizou, o mundo do livro antigo e a bibliofilia perderam precocemente um dos seus maiores nomes dos nossos tempos.

No entanto, o seu filho – Bruno Vicente – decidiu continuar a obra do pai e é o rosto actual da Livraria Olisipo.


Aqueduto – Avaliadores & Leiloeiros

O Leilão que a Aqueduto – Avaliadores & Leiloeiros | Rua do Arco a São Mamede, 11 | 1250 -026 Lisboa | Portugal, da Biblioteca Dr. Augusto Guimarães Amora, começou ainda a ser organizado pelo José Vicente, quer nos primeiros contactos que foram feitos com a família, quer na selecção dos livros que compõem este catálogo, ficando a cargo do seu filho o trabalho de inventariação, catalogação e avaliação, configurando uma honrosa e verdadeira passagem de testemunho.



O Leilão decorrerá nos dias 2, 3 e 4 de Maio de 2017 às 21h

1ª Sessão | 3ª feira, 2 de Maio às 21h | Lotes 1 a 600
2ª Sessão | 4ª feira, 3 de Maio às 21h | Lotes 601 a 1200
3ª Sessão | 5ª feira, 4 de Maio às 21h | Lotes 1201 a 1704

E a Exposição dos respectivos lotes decorrerá nos dias:

6ª feira, Sábado e Domingo | 28, 29 e 30 de Abril, das 15h às 20h
2ª feira | 1 de Maio, das 15h às 20h



340. CASSIOPEIA. Antologia de Poesia e Ensaio. Orientação e edição de António Carlos, António Ramos Rosa, João Rui de Sousa, José Bento e José Terra. 1º fasciculo. Lisboa. Março de1955. In -4º de 48 págs. Br.

Na continuação da singela, mas sentida, homenagem que aqui lhe prestei – Morreu um livreiro-antiquário…perdium amigo.


José Ferreira Vicente

Vou referir o referido leilão salientando essas duas figuras que exemplificam o mundo da bibliofilia e que se completam reciprocamente – o livreiro-antiquário e o bibliófilo – e deixo a análise do referido catálogo de propósito para os meus leitores, pois já conhecem muitas destas obras, porque hoje o que interessa é a leitura e todos os livros (e não só alguns…).


Ex-líbris do Dr. Augusto Guimarães Amora

Começando pelo bibliófilo vejamos como ele é retratado pela pena de José Veiga Maltez:

“Ars longa,vita brevis”
É sempre ingrato traçar um breve perfil, em jeito de homenagem, de uma personalidade multifacetada, como era a do Médico Torrejano, Dr. Augusto Guimarães Amora, pois teve um percurso que não se circunscreveu à Medicina.
Nunca a forma abnegada e o modo preocupado, mesmo nos piores momentos, nas horas mais terríveis dos seus doentes, Lhe fizeram esvanecer o optimismo e a boa disposição, que eram Seu apanágio. Era de uma exigência e pontualidade marcantes, atributos que terão permitido ao Ilustre Cardiologista, o brilhantismo e o espaço do Seu tempo, que emprestava às diversas vertentes, nomeadamente culturais, nas quais se implicava. Porque era um humanista, um homem de cultura e de múltiplos saberes, que desde cedo começou a apreender pela leitura, através da Sua grande paixão, os Livros, que Lhe satisfaziam a curiosidade permanente, os quais motivam agora, pela Biblioteca que granjeou e foi compondo ao longo da vida, recordá-Lo. Porque hoje e aqui relembramos também, o estudante de Coimbra, depois do Liceu de Santarém, que era aplicado mas, sabendo entremear as horas “sérias” de aprendizagem, para a futura praxis, com as horas alegres, próprias das farras tão típicas e tradicionais da mais antiga lusitana cidade universitária, na qual, nesse período começou a apresentar a célebre “Serenata Monumental”, pela Queima das Fitas, tendo ainda presidido à Associação Académica e a colaborar com as então Emissora Nacional e o Rádio Clube de Coimbra, ficando-Lhe o gosto pela Rádio, pela “telefonia”, intervindo mais tarde, já médico, na Rádio Renascença e Rádio Clube Português, em Lisboa, com programas de Sua autoria, tais como, “À Esquina do Tempo” e “Histórias da Vida de um Médico”. Do Médico que gostava de ler, que coleccionava além dos livros, outros hábitos e costumes, como o de ir regularmente à Ópera e aos “Ballets”, entre outras manifestações culturais musicais, gosto que O terá feito primeiro sócio do conhecido torrejano “Choral Phydellius”, assim como, Presidente da Assembleia Geral do Cine Clube de Torres Novas, pelo cinéfilo que era.
Aqui, hoje, rememoramos o insigne e brilhante Médico, com uma clínica fulgurante, nomeadamente como cultor do Livro e da Leitura, pela Sua Biblioteca. Evocamos a quem a Cidade de Torres Novas ficou devedora porque nunca há tributo suficiente para o empenho, afinco e interesse com que tratou o corpo e a alma dos seus cidadãos, como olhou, cuidou e protegeu o seu associativismo cultural, entre outras acções.
Que se invoque para sempre o Seu nome, que esta folha não seja esquecida pelo que nela se recapitulou, que se dedica à Sua Família, aos Filhos e aos Netos, tal e qual como o Dr. Augusto Guimarães Amora, dedicou o Seu Ensaio de 1938, “Folhas Esquecidas”: «A meus pais e a minha irmã humildemente».
José Veiga Maltez
aos 16 de Novembro, 2016”



1227. PESSOA, Fernando. - MENSAGEM. Lisboa. Parceria António Maria Pereira. 1934. In -8º de 100, [2] págs. Br.

Quanto ao livreiro, pouco mais posso acrescentar, pelo que aqui fica este homenagem dos continuadores da sua obra:

In memoriam José Ferreira Vicente (1947 -2017)

No passado mês de Janeiro, o mundo do livro antigo perdeu precocemente um dos seus maiores: o José Ferreira Vicente, fundador da Livraria Olisipo.
Livreiro autodidata, amante das belas artes e apaixonado por literatura, os leilões que organizou, como os da Biblioteca Ernesto de Vilhena, entre outros, foram dos mais importantes leilões de livros desde a década de 1990.
O Valor do Livro Antigo, obra de que foi co-autor, é, indubitavelmente, um dos principais contributos para a valorização do mercado livreiro.
O Leilão que apresentamos, da Biblioteca Dr. Augusto Guimarães Amora, começou a ser organizado pelo José Vicente, quer nos primeiros contactos que foram feitos com a família, quer na selecção dos livros que compõem este catálogo, ficando a cargo do seu filho Bruno Vicente o trabalho de inventariação, catalogação e avaliação, numa verdadeira passagem de testemunho.

Resquiat in pace

José Pedro Rosa      Pedro Ataíde
Abril de 2017



1483. SARAMAGO, José. - OS POEMAS POSSÍVEIS. Lisboa. Portugália Editora. 1966. In -8º de 188, [4] págs. Br.

Agora cabe-vos a consulta do catálogo, que inclui obras de várias temáticas e algumas de grande raridade, mas esse prazer não vos quero tirar.

Só é pena que a leitura seja virtual (para alguns) e que não o possam folhear e sentir o gosto pela descoberta de todos os pequenos detalhes que a sua confecção nos oferece – um catálogo também é um livro com design, paginação, ilustração próprias e com lombada, como muito bem disse hoje o nosso bem conhecido Miguel de Carvalho.

Boa leitura com as minhas saudações bibliófilas.



1593. TORGA, Miguel. - RAMPA. Poema de Adolpho Rocha. Coimbra. Edições Presença. 1930. In -4º de [2], 76, [2] págs. Enc.

Os textos citados e as fotografias são da responsabilidade e copyrigth de Aqueduto – Avaliadores & Leiloeiros, Lda.