"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 21 de agosto de 2016

Notas de leitura: André Breton – Manifestos do Surrealismo.


Na sequência do que escrevi na semana passada proponho a leitura de Manifestos do Surrealismo de André Breton, editados recentemente entre nós, (será uma leitura de férias bem proveitosa para os que se querem iniciar no tema e um revisão para todos aqueles já familiarizados com o mesmo – até porque o livro reúne todos os Manifestos.



BRETON, André – Manifestos do Surrealismo. Lisboa, Livraria Letra Livre, 2016. 358 págs. Brochura. Tradução de Pedro Tamen. Revisão: Andreia Baleiras. Concepção gráfica: Pedro Motta. Capa: Luís Henriques.

Com efeito, a Letra Livre acaba de editar os Manifestos do Surrealismo de André Breton.


Letra Livre – logo

Neste livro, Breton reúne um conjunto de textos; desde o Primeiro Manifesto, publicado originalmente em 1924, até aos textos sobre a posição política do surrealismo, passando pelo incrível «Peixe Solúvel», uma compilação de textos automáticos.

«O homem põe e dispõe. Só a ele cabe pertencer-se todo inteiro, isto é, manter em estado anárquico a faixa cada vez mais temível dos seus desejos. A poesia ensina-lho. Ela traz consigo a compensação perfeita das misérias que suportamos. Ela pode ser uma ordenadora, também, se sob o efeito de uma decepção menos íntima nos lembrarmos de a tomar ao trágico. Venha o tempo em que ela decrete o fim do dinheiro e só ela parta o pão do céu para a terra! Haverá ainda assembleias nas praças públicas, e movimentos em que não esperastes tomar parte. Adeus, selecções absurdas, sonhos de abismos, rivalidades, longas paciências, fuga das estações, ordem artificial das ideias, rampa do perigo, tempo para tudo! Dêmo­-nos apenas ao trabalho de praticar a poesia. Não nos caberá a nós, que já vivemos dela, procurarmos fazer prevalecer o que temos para nossa mais ampla informação?»

E, sobre este assunto, vem a propósito relembrar aquilo que escrevi no meu último post – o principiante deverá adquirir exemplares a preço acessível (traduções, edições de bolso, ou outras) para se documentar e só depois mergulhar na busca bibliófila das raridades que lhe interessem (…e que tenha posses para isso!).


Público – logo

Senão leia-se esta noticia publicada no jornal Público on-line de 22/05/2008 escrito por Luís Miguel Queirós (que pode ser lido na integra aqui):

O manuscrito do Manifesto do Surrealismo, de André Breton, foi ontem vendido num leilão da delegação da Sotheby"s em Paris por 1,917 milhões de euros, ultrapassando largamente as estimativas da leiloeira, que pediu uma licitação mínima de 300 mil euros e previa que o documento pudesse chegar ao meio milhão. Materialmente, o que o comprador - o coleccionador francês Gérard L"héritier, que fundou em Paris um museu privado de cartas e manuscritos - levou para casa foi um conjunto de umas vinte páginas escritas à mão, precedidas por uma folha de título, na qual se lêem, impressas em letras maiúsculas numa etiqueta cor-de-laranja, estas palavras: "André Breton / Manifeste du Surréalisme / Poisson Soluble".

Quando começou a escrever o Manifesto, em 1924, Breton pretendia apenas redigir uma introdução ao volume de textos de escrita automática Poisson Soluble, cuja edição estava a preparar, e daí que, no topo deste manuscrito, surja a palavra Prefácio com um risco por cima. Os dois textos acabaram por ser publicados em conjunto, mas com títulos autónomos, em Outubro de 1924, na editora Simon Kra, de Paris. Essa edição original também esteve à venda no leilão da Sotheby"s e foi arrematada por pouco menos de 80 mil euros. Já o principal dos vários manuscritos que Breton deixou de Poisson Soluble - aquele que terá sido usado para a impressão em livro - foi ontem vendido por 917 mil euros. O conjunto dos manuscritos de Breton, que estavam na posse da família da sua primeira mulher, Simone Collinet, renderam mais de três milhões e setecentos mil euros.”


Salvador Dalí – The Disintegration of the Persistence of Memory - (1952 – 1954)

No ano de 1924, em Paris, foi publicado o Manifesto surrealista – André Breton (1896 – 1966). Praticamente, foi neste movimento que o Dadaísmo se desfez. A pintura surrealista tornou-se mais famosa.
A visão mágica da realidade, a exaltação da irracionalidade, do imaginário, a volta ao mundo dos sonhos e o fascínio pelo ocultismo são características dominantes nessa corrente. No surrealismo, podemos dizer que foi usado o método do automatismo psíquico, que caracterizava para uma livre manifestação da imaginação e do inconsciente.


Pintura surrealista Vladimir Kush

O surrealismo trabalhou e introduziu muitas técnicas, entre elas a fotomontagem e a colagem fotográfica.
Artistas em destaque: Max Ernst (1891 – 1976); René Magritte (1898 – 1967); Joan Miró (1893 – 1983); Salvador Dalí (1904 - 1984).

Para aquelres que ainda estejam indecisos na compra do livro deixo aqui o primeiro Manifesto do Surrealismo (1924) para leitura:



Espero que esta proposta tenha sido do vosso agrado.

Votos de um bom domingo – com ou sem livros (se são companheiros indispensáveis convirá não esquecer que existem outros prazeres que não só a leitura… em especial nesta estação do ano) –  pois também temos as belezas da natureza, o convívio familiar ou com os amigos e um bom dia com Sol para ir à praia!


Saudações bibliófilas.

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