"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Francisco Moita Flores – «Mataram o Sidónio!»



“A Vida fê-lo herói, e a Morte
O sagrou Rei!”
Fernando Pessoa



“Mataram o Sidónio!”


Estou a ler!

No ano em que se comemora o I Centenário da República têm saído alguns títulos com inegável interesse.

Com se trata de um autor de que já li, por exemplo: “A Fúria das Vinhas” (1) , o qual me despertou grande interesse, decidi ler também o seu último romance.

Trata-se de “Um romance que vem da história. Uma história única para um romance inquietante e arrebatador.” como vem, e bem, anunciado na contracapa.


“A Fúria das Vinhas”

O assassínio do Presidente da República Sidónio Pais, ocorrido em 14 de Dezembro de 1918, é um mistério. Apesar de a polícia ter prendido um suspeito, este nunca foi julgado.

Nesse dia, após jantar no Restaurante Silva, localizado no Chiado, José Júlio da Costa dirigiu-se para a Estação do Rossio, onde aguardou a chegada do Chefe de Estado que devia partir rumo ao Porto no intento de resolver os problemas levantados pelas Juntas Militares. Quando Sidónio Pais se preparava para o embarque, no primeiro-andar da Estação, furou o duplo e compacto cordão policial que o protegia, ao mesmo tempo que disparava uma pistola, dissimulada pelo seu capote alentejano. O primeiro projéctil alojou-se junto do braço direito do Presidente, e o segundo, fatalmente, no ventre, fazendo com que a vítima caísse de imediato por terra.


José Júlio da Costa
(presumível assassino de Sidónio)

Apesar da enorme confusão que de imediato se instalou, e de resultaram quatro mortos, não tentou fugir, deixando-se capturar. Faleceu depois de 28 anos de prisão sem direito a julgamento.


Sidónio Pais:
“ Morro, mas morro bem.
Salvem a Pátria!”

A tragédia ocorreu quando Lisboa estava a braços com a pneumónica, a mais mortífera epidemia que atravessou o séc. XX e, ainda, na ressaca da Primeira Guerra Mundial. A cidade estava exaurida de fome e sofrimento. É neste ambiente magoado e receoso que Sidónio Pais é assassinado na estação do Rossio em Dezembro de 1918.

“A Polícia confundira todos aqueles que odiavam Sidónio e a sua política cesariana com assassinos em potência. A Maçonaria queria vê-lo destituído, a Carbonária talvez o quisesse desfeito em migalhas, os católicos queriam mais do o espavento das missas em que o Presidente participava, os integralistas exigiam uma política de ruptura, os democratas odiavam-no e por aí fora.

É neste quadroo de ódios, os resultados a que chegara apontavam para um miúdo de 22 anos, fascinado pelo turbilhão das sucessivas rebeliões sindicais, vaidoso da arma que mostrara a Ana Rosa, qu, num momento fortuíto da sua vida, conseguira estar próximo do objecto detodos os ódios e disoparar fortuitamente. E Asdrubal vivia com essa angústia dilacerante. Nem a arma fora recuperada, nem o rapaz, abatido como um cão, poderia ser interrogado”

 

Francisco Moita Flores

Francisco Moita Flores constrói um romance de amor e morte. Fundamentado em documentos da época, reconstrói o homicídio do Presidente-Rei, utilizando as técnicas forenses.

Os resultados são inesperados e "Mataram o Sidonio!" (2) é um verdadeiro confronto com esse tempo e as verdades históricas que ao longo de décadas foram divulgadas, onde o leitor percorre os medos e as esperanças mais fascinantes dessa Lisboa republicana que despertava para a cidade que hoje vivemos. E sendo polémico, é terno, protagonizado por personagens que poucos escritores sabem criar.

Não sendo um escritor de recorte estilístico elaborado; no entanto, como um dos mestres da técnica de diálogo, Moita Flores compensa largamente esse facto, e consegue provocar no leitor as mais desencontradas emoções que vão da gargalhada hilariante ao intenso sofrimento.

Para todos aqueles que gostam de uma boa prosa, num fundo histórico, é um romance que não devem deixar de ler.

Boa leitura!
Saudações bibliómanas.

 
(1) FLORES, Francisco Moita – “A Fúria das Vinhas”. Cruz Quebrada, Casa das Letras, 2007. 318 (3) pp. 1 ª edição. Brochado. Capa cartonada com badanas.
 
(2) FLORES, Francisco Moita – “Mataram o Sidónio!”. Alfragide, Casa das Letras, 2010. 295 (2) pp. 1ª edição. Brochado. Capa cartonada com badanas.

1 comentário:

Tiago Franco disse...

Adorei a reconstituição histórica da época. O livro é sobretudo um policial á boa maneira de Hollywood. De fácil leitura, constatamos que já na altura nem tudo o que os medias dizem é verdade.