José Lins do Rego em 1918
"Não gosto de trabalhar, não fumo, durmo com muitos sonos e já escrevi 11 romances. Se chove, tenho saudades do sol; se faz calor, tenho saudades da chuva. Temo os poderes de Deus, e fui devoto de Nossa Senhora da Conceição. Enfim, literato da cabeça aos pés, amigo dos meus amigos e capaz de tudo se me pisarem nos calos. Perco então a cabeça e fico ridículo. Afinal de contas, sou um homem como os outros e Deus permita que assim continue." Esta é a auto-descrição de José Lins do Rego, considerado um dos maiores ficcionistas da língua portuguesa.
Mapa do Estado doa Paraíba
Filho do fazendeiro João do Rego Cavalcanti e de Amélia Lins Cavalcanti. Com a morte da mãe, passou a ser criado pelo avô, num engenho de açúcar. Aos oito anos ingressou no Internato Nossa Senhora do Carmo, de Itabaiana, PB, onde estudou durante três anos. Em 1912 passou a estudar em João Pessoa. Nesse mesmo ano, publicou seu primeiro artigo em jornal. Três anos depois mudou-se para o Recife, onde conclui seus estudos secundários. Estudou primeiro no Colégio Carneiro Leão e, depois, no Osvaldo Cruz.
O Engenho de José Lins do Rego
Já nesta altura se revelaram os seus pendores literários. É de 1916, por exemplo, o primeiro contacto com “O Ateneu”, de Raul Pompéia. Em 1918, aos 17 anos portanto, José Lins travou conhecimento com Machado de Assis, através do "Dom Casmurro". Desde a infância, já trazia consigo outras raízes, do sangue e da terra, que vinham de seus pais, passando de geração em geração por outros homens e mulheres sempre ligados ao mundo rural do Nordeste açucareiro, às senzalas e aos negros rebanhos humanos que a escravidão foi formando.
Área de clima semi-árido na Paraíba
Em 1919 ingressou na faculdade de direito do Recife. No ano seguinte, passou a escrever uma coluna literária para o jornal "Diário do Estado da Paraíba". Em 1924 formou-se e, no ano seguinte, casou-se com Filomena Masa Lins do Rego, com quem teve três filhas. Em 1925, Lins do Rego assumiu o posto de promotor público na cidade de Manhuaçu, em Minas Gerais, mas no ano seguinte mudou-se para Maceió, onde começou a trabalhar como fiscal de bancos, cargo que ocupou até 1930.
José Lins do Rego
(Fotografia da Fundação Joaquim Nabuco)
Dois anos depois, José Lins do Rego publicou o seu primeiro livro, "Menino de Engenho". Custeado com os seus próprios recursos, o livro recebeu críticas favoráveis e tornou-se um grande sucesso. No ano seguinte, publicou um segundo romance, "Doidinho". A partir daí, o editor José Olympio propôs-lhe uma edição de dez mil exemplares para o terceiro romance. José Lins do Rego tornou-se um escritor de prestígio, estimado pelo público.
Passou a publicar um romance por ano: em 1934, "Bangüê"; em 1935, "O Moleque Ricardo"; em 1936, "Usina"; em 1937, "Pureza"; em 1938, "Pedra Bonita" e em 1939, "Riacho Doce".
Nomeado fiscal do imposto de consumo, em 1935, transferiu-se para o Rio de Janeiro. Voltou a escrever para jornais. Além de grande participação na vida literária, revelou-se um fanático futebolista, tanto é que exerceu vários e importantes cargos no Clube de Regatas Flamengo e na Confederação Brasileira de Desportos. Em pouco tempo, tornou-se uma notável personalidade da vida carioca.
Em 1936, publicou o seu único livro infantil, "Estórias da Velha Totonia", em edição ilustrada pelo artista plástico Santa Rosa.
A partir de então, passou a destacar-se também como cronista. Realizou diversas viagens e viu as suas obras publicadas em vários idiomas
O livro que é considerado a sua obra-prima, o romance "Fogo Morto", saiu em 1942. O autor consagrou-se como mestre do regionalismo. Seu último romance, "Cangaceiros", foi publicado em 1953.
Manuel Bandeira e José Lins do Rego
Em 15 de setembro de 1955 foi eleito para a Cadeira n.º 25 da Academia Brasileira de Letras, na sucessão de Ataulfo de Paiva.
No seu discurso de posse, referiu-se ao seu antecessor, o ministro do Supremo Tribunal Federal Ataulfo de Paiva, como alguém que "chegou à academia sem nunca ter gostado de um poema". A partir desta nota de sarcasmo, os seus discursos da Academia passaram a ser censurados previamente.
José Lins do Rego e Gilberto Freyre
A obra de José Lins do Rego, bastante conhecida, foi adaptada para o teatro, o cinema e televisão. Teve as suas obras traduzidas para diferentes idiomas, entre eles, o russo. Em 1956 Lins do Rego publicou "Meus Verdes Anos", um livro de memórias. No ano seguinte morreu de um problema hepático, aos 56 anos, no Rio de Janeiro.
José Lins do Rego e Graciliano Ramos
na Livraria José Olympio no Rio de Janeiro em 1947
Romances:
Menino de engenho (1932)
Doidinho (1933)
Bangüê (1934)
O Moleque Ricardo (1935)
Usina (1936)
Pureza (1937)
Pedra bonita (1938)
Riacho doce (1939)
Água-mãe (1941)
Fogo morto (1943)
Eurídice (1947)
Cangaceiros (1953)
Estórias da Velha Totonia (1936) (2)
Meus Verdes Anos (memórias) (1956)
REGO, José Lins do - Pureza (1ª ed,)
Coletânea de Crônicas
Gordos e magros (1942). Rio de Janeiro, Casa do Estudante do Brasil.
Poesia e vida (1945). Rio de Janeiro, Universal.
Homens, seres e coisas (1952). Rio de Janeiro, Serviço de documentação do Ministério da Educação e Saúde.
A casa e o homem (1954). Rio de Janeiro, Organização Simões.
Presença do Nordeste na literatura brasileira (1957). Rio de Janeiro, Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde.
O vulcão e a fonte (1958). Rio de Janeiro, O Cruzeiro.
Dias idos e vividos - antologia (1981). Seleção, organização e estudos críticos de Ivan Junqueira., Editora Nova Fronteira.
Ligeiros Traços: escritos de juventude (2007). Seleção, organização e notas de César Braga-Pinto. Rio de Janeiro: Editora José Olympio.
Infanto-juvenil
Estórias da Velha Totonia (1936). Rio de Janeiro, José Olympio.
Alguma bibliografia passiva on-line:
Consultar ainda:
Dentro da divulgação de escritores brasileiros, iniciada com Graciliano Ramos, aqui fica o esboço do “retrato" de José Lins do Rego.
Sobre a sua obra voltarei num próximo artigo.
Saudações bibliófilas.
(1) Ainda que bastante completa, esta lista não é exaustiva.
(2) Optou-se pela grafia original da 1ª edição.