"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Livraria Castro e Silva: Catálogo 120 – Fevereiro de 2010




CATÁLOGO 120 – Fevereiro de 2010

Por razões de ordem profissional, tenho tido pouco tempo para me dedicar ao estudo e elaboração de textos que possam ser do interesse daqueles que, de modo inexplicável, ainda vão tendo paciência para me lerem.
Só por isso merecem o meu respeito e, quando escrevo qualquer apontamento, gosto que este seja um pouco diferente daquilo que se encontra noutros blogs – na maioria com muito melhor qualidade do que as minhas modestas contribuições.

SOARES DA SILVA. (José) – MEMORIAS PARA A HISTORIA DE PORTUGAL
Frontispício

Por exemplo estão em fase de estruturação, que não de conclusão ainda, alguns artigos sobre os Craesbeeck (há quanto tempo!) e a conclusão, pelo menos para já, da série de apontamentos sobre Bocage.
Isto só para falar de algumas ideias.
(só que isto de ideias é preciso ter imaginação – felizmente penso ter alguma – e, sobretudo, tempo para a desenvolver – que é o que mais me falta!)

Mas para vos ir “espicaçando” um pouco a curiosidade, pelo menos que vos possam interessar, como a mim me delicia a sua consulta, vou aqui deixando notícia dos eventos que por cá se vão realizando. Quanta informação preciosa se pode retirar dos Catálogos destes mesmos eventos.
Neste caso concreto, penso que, e como já estamos habituados, o «Suplemento» é sempre a “jóia da coroa!” do qual deixo aqui referência a duas obras notáveis:

324. SOARES DA SILVA. (José) MEMORIAS PARA A HISTORIA DE PORTUGAL, QUE COMPRENDEM O GOVERNO DEL REY D. JOÃO I. DO ANNO DE MIL ETREZENTOS E OITENTA e tres, até o anno de mil quatrocentos e trinta e tres. DEDICADAS A EL REY D. JOÃO V. NOSSO SENHOR, APPROVADAS PELA ACADEMIA REAL da Historia Portugueza. ESCRITAS PELO ACADÉMICO JOSEPH SOARES DA SYLVA. LISBOA OCCIDENTAL, Na Officina de JOSEPH ANTONIO DA SYLVA, Impressor da Academia Real. M. DCC. XXX. - M. DCC. XXXIV. (1730-34) 4 volumes In fólio de 27x20 cm. Com: Vol. I com (xcvi) até a pag. 522. Vol. II com (xviii) até a pag. 980. Vol. III. com (xxiv) até a pag. 1524. Vol. IV. COLLECÇAM DOS DOCUMENTOS, COM QUE SE AUTHORIZAM AS MEMORIAS PARA A VIDA DELREY D. JOAÕ I. ESCRITAS NOS PRIMEIROS TRES. NAS QUAIS SE APONTAM OS LUGARES A QUE PERTENCEM os ditos Documentos, (fielmente tresladados dos seus originaes) que se podem buscar pellos numeros delles, como se declara nas mesmas Memorias. LISBOA OCCIDENTAL, Na Officina de JOSEPH ANTONIO DA SYLVA, Impressor da Academia Real. In fólio de 27x20 cm. Com (xxviii) 506 pags. Encadernações inteiras de pele da época com nervos e rótulos vermelhos e ferros a ouro nas lombadas. Cada um dos quatro tomos apresenta a bela gravura alegórica da Academia Real da História Portuguesa desenhada por Viera Lusitano e aberta por Francisco Harrewyn.


SOARES DA SILVA. (José) – MEMORIAS PARA A HISTORIA DE PORTUGAL
Gravura alegórica da Academia Real da História Portuguesa desenhada por Viera Lusitano e aberta por Francisco Harrewyn

O primeiro tomo apresenta o retrato de D. João II desenhado e gravado por Francisco Harrewyn e ainda dois fólios desdobráveis com árvores genealógicas régias. Obra impressa com belos caracteres itálicos rotundos e adornada de belas vinhetas e capitulares representando cenas históricas, vistas e palácios, abertas por Rochefort e Debrie famosos gravadores estrangeiros ao serviço na corte de D. João V. Magnifico exemplar com margens generosas e impresso sobre papel grande espessura e qualidade. Inocêncio V, 137. “JOSÉ SOARES DA SILVA, Cavalleiro professo na Ordem de Christo, Academico da Academia Real de Historia, e da Portugueza, etc. - N. em Lisboa a 9 de Janeiro de 1672, e m. a 26 de Agosto de 1739, depois de penosa e longa enfermidade. - Foi respeitado no seu tempo como homem mui instruido, e entretinha correspondencia familiar com varios sabios estrangeiros, entre elles com o celebre polygrapho e critico hespanhol Fr. Bento Jeronymo Feijó. Ajuntou uma livraria copiosa e escolhida, a julgarmos pelas amostras que d'ella se conservam, apparecendo ainda nas publicas e particulares de Lisboa, que tenbo examinado, muitos livros marcados com o seu nome, e eu mesmo tenho em meu poder alguns. - E. 4875) (C) Memorias para a historia de Portugal, que comprehendem o governo d'el rei D. João o I, do anno de 1383 até o de 1433. Tomo I. Lisboa, por José Antonio da Silva 1730. 4.º gr. ou fol. de XCVI 522 pag. - Tem frontispício gravado, idêntico ao que costuma acompanhar as demais obras publicadas pela Academia; um retrato de D. João I aberto por Harrewyn, e duas arvores ou mappas genealogicos no fim. (O Catalogo chamado da Academia menciona a impressão d'este volume como feita em 4750!!!) - Tomo II. Ibi, pelo mesmo 1731. 4.º gr. com XVI pag. de rosto, indice etc., sem numeração; e depois continúa a paginação sobre a do volume precedente, de 523 até 980. - Tomo III. Ibi, pelo mesmo 1732. Primeiramente XXII pag. innumeradas; depois segue a paginação de 981 a 1524. Collecção dos documentos com que se auctorisam os primeiros tres tomos. Ibi, pelo mesmo 1734. 4.º gr. de XXVI 506 pag. - Entre estes documentos acha se a collecção completa das trovas e versos que nos restam do infante D. Pedro, filho do sobredito rei, trasladados do Cancioneiro de Resende, etc., etc. É muito para censurar que nas vinhetas historicas, collocadas no começo de varios livros e capitulos dos tres tomos d'esta obra (aliás bem executadas no que dependeu do buril do artista), se commettessem os mais grosseiros anachronismos e disparidades nos trajes das personagens ali representadas. Assim vemos no tomo I os infantes D. Pedro (pag. 317), D. Henrique (pag. 379), e D. João (pag. 475), vestidos, elles e as pessoas do seu sequito, precisamente á moda da côrte de D. João V, de calções, casacas, e com desmesuradas cabelleiras, etc., etc.! O preço dos quatro volumes d'estas Memorias tem sido modernamente de 3:600 a 4:800 réis.” Palha 2868. Sousa da Câmara 2938. Ameal 2266.


SOARES DA SILVA. (José) – MEMORIAS PARA A HISTORIA DE PORTUGAL –
Encadernação

Como já disse, variadas vezes, não sendo de uma qualidade excepcional, se comparadas com outras produções europeias – sobretudo francesas e italianas – as nossas impressões dos séculos XVI a XVIII não nos envergonham, e também é este um dos objectivos destes curtos apontamentos: divulgar as nossas produções e tentar os potenciais coleccionadores para a sua compra ... e aqui é que temos o aspecto mais complicado, mas não esqueçamos tudo na vida se consegue realizar com algum sacrifício, paciência e, sobretudo, força de vontade.



319. MAFFEI. (João Pedro) IOAN PETRI MAFFEII, BERGOMATIS, E’ SOCIETATE IESV, HISTORIARVM INDICARVM LIBRI XVI. SELECTARVM, ITEM EX ÍNDIA Epistolarum, eodem interprete, Libri IV. ACCESSIT IGNATII LOIOLAE VITA. Omnia ab Autore recognita, & nunc primùm in germânia excusa. Item, in Singula opera copiosus Index. His nunc recèns adiecta est charta geographica, a re nitidissimè expressa, qua Lectori vtriusq: Indiae situs, & longuinqua ad aes nauigatio, accuratè ob oculos spectanda pro- ponitur, non minus ad specto, quàm historia ipsa lectu iuncunda. COLONIAE AGRIPPINAE, In Officio Birckmannica, sumptibus Arnoldi Myllii. ANNO M. D. X CIII. (1593) In fólio de 30x20 cm. com (iv) 541 (xxxiii) pags.

 

Mapa desdobrável

Apesar da crise, ou por isso mesmo, a bibliofilia parece atravessar um período de um certo “apogeu”, mas não sei se nos devemos congratular, ou lamentar.
Se por um lado, para os recém-chegados, estamos num período onde se podem iniciar colecções em quase todas as temáticas de bibliofilia, também é certo que assistimos ao desaparecimento de bibliotecas preciosas de grandes bibliófilos.
Espero que este empobrecimento se faça reflectir, dentro de alguns anos, com o ressurgimento de novas e belas bibliotecas, onde o livro, esse objecto de culto e paixão, continue a ser o rei.

Saudações bibliófilas

4 comentários:

Galderich disse...

Buena selección esta de Castro e Silva. Tienes razón cuando afirmas que ahora en el mercado se encuentra de todo y se puede iniciar cualquier colección. A veces a base de mucho dinero porque los precios no bajan en los libros...

lamberto palmart disse...

Siempre serás de lectura obligada para conocer la bibliofilia portuguesa. Aunque no tengas tiempo de desarrollar tus artículos, no te preocupes, somos pacientes. Mientras tanto tus aportaciones sobre catálogos son muy interesantes y en esta ocasión nos muestras piezas fantásticas.

Saludos bibliófilos.

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui.

No todos los libros tienen la calidad de las producciones francesas o italianas, pero ahí esta el encanto y el sello de nuestras producciones.
Quiero decirte que la información de los catálogos que haces el favor de mandarnos es muy valiosa y nos ayuda a tener el pulso exacto de la bibliofilia.
Sobre todo que como bien mencionas se nota en todas partes una oferta inusitada de libros, muy probablemente producto de la crisis actual.

Saludos bibliófilos.

Rui Martins disse...

Galderich, Lamberto e Marco Fabrizio
Gracias por vuestros comentarios
Es verdad que hay en todas partes una oferta inusitada de libros, que para mi es también producto de la crisis actual, pero lo curioso es que ¡sus precios no bajan!
Los catálogos de que yo hablo son preciosas recojas de lo que se puede encontrar en venta e ofertaren una imagen muy clara de la bibliofililla portuguesa… al menos es esta la mi opinión.
Saludos