"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 11 de fevereiro de 2012

José F. Vicente Leilões – Importante Leilão de Livros e Manuscritos





Deixei propositadamente para o fim a apresentação deste leilão – e que o meu prezado amigo José Vicente me perdoe – pois gostaria de tecer algumas observações que se justificam após as leituras dos artigos anteriores.

O leilão realiza-se nos dias 13 e 14 de Fevereiro de 2012 às 21:00h no Palácio da Independência - Largo de São Domingos, 11 (ao Rossio) em Lisboa.

1ª sessão – Lotes 1 a 465
2ª sessão – Lotes 466 a 935

As obras estão em exposição nos dias 12, 13 e 14 de Fevereiro das 15:00h às 20:00h no mesmo local.


Alguns dos livros em leilão

As regras na sala do leilão são um pouco diferentes daquelas que podemos estabelecer com os livreiros antiquários que conhecemos ao longo do nossso percurso na compra e procura de livros para as nossas bibliotecas, com os quais muitas das vezes acabamos por estabelecer uma amizade, para além do sempre salutar convívio e “cavaqueira” que nos enriquece muitas vezes mais os nossos conhecimentos do que a nossa biblioteca (que para mim é sempre a vertente mais importante).

Com efeito, um leilão é um evento bibliófilo, que requer alguns conhecimentos por parte dos coleccionadores tanto sobre bibliofilia, e obviamente a bibliografia das temáticas da preferência de cada um, bem como da evolução do mercado bibliófilo.

Ao folhearmos este excelente catálogo, somos confrontados com um vasto leque de opções de aquisição, pois as temáticas são bastante variadas.


Castelo de Rosny-sur-Seine
pintura de
Jean-Baptiste Camille Corot (1796–1875)

Mas como seguramente não temos as capacidades económicas, por exemplo da Duquesa de Berry, que reuniu no Castelo de Rosny-sur-Seine uma imponente biblioteca com mais de 8.000 volumes, mas cujo critério de escolha não era muito claro, pois que comprava quase tudo que aparecia; temos de seleccionar as obras que caiam dentro da(s) temática(s) que coleccionamos.

Seguidamente temos de analisar os seus descritivos para tomarmos conhecimento detalhado da sua condição (o ideal será sempre visitar a exposição para se analisar em mão as obras seleccionadas).

E, por fim, com base na estimativa colocada pelo leiloeiro/livreiro antiquário, decidir atá onde poderemos ir nas nossas licitações.

A leitura atenta dos vários catálogos que vão aparecendo e as notas que se devem guardar ao longo do tempo sobre algumas destas ou outras obras da temática das nossas bibliotecas serão sempre de grande utilidade para a tomada de uma decisão.

Convirá nunca esquecer que “isto de estimativa máxima” tem muito que se lhe diga, pois se é um valor aceitável, e muitas vezes correcto do seu valor real, na sala do leilão ele pode disparar para valores inimagináveis … e eu que o diga pela minha fraca experiência!

E, sobre este aspecto, gostaria de citar parte do Prefácio escrito por João José Alves Dias do Valor do Livro Antigo em Portugal, sobre o qual se escreveu um breve artigo neste blogue: O Valor do Livro Antigo em Portugal – um livro um pouco caído no esquecimento.



Pereira, João Figueiredo e Vicente, José Ferreira – O Valor do Livro Antigo em Portugal. Volume I. Séculos XV e XVI, Forais e Manuscritos. Leiloados em Portugal. 1990 - 2003. Lisboa. 2006. Suporgest. In-4º de 814 págs. Prefácio de João José Alves Dias. Primeiro e único volume saído. Descrição de centenas de espécies leiloadas entre 1990 e 2003. Com reproduções a cores e p/b. Encadernação editorial em material sintético com sobrecapa de protecção. Edição bilingue: português / inglês.

“E é esse público, com mais ou menos poder de compra, com mais ou menos conhecimentos, com mais ou menos preconceitos, que estabelece o valor, em leilão, do livro. Quantas vezes não iremos dizer, ao consultar a presente obra "que pena não termos estado presente neste leilão, pois esta obra que desejávamos foi vendida por um preço tão aliciante"... Fique o leitor com uma certeza: se estivesse estado presente, o preço final teria sido bastante mais caro, pois haveria mais um concorrente para a mesma obra ou para o mesmo exemplar. E qualquer coleccionador faz subir o preço de um livro, em leilão, pelo simples facto de desejar ardentemente ser seu possuidor. E só assim se justifica que um mesmo livro tenha atingido preços tão díspares em diferentes leilões.”

Se no caso da Bauman Rare Books – 80 Great Books Catalogue, a escolha era fácil, pois os livros eram poucos e as temáticas também não eram muitas … só os preços é que travavam de imediato o nosso entusiasmo, nos catálogos da Otium Livraria, Librairie Le Feu Follet ou da Livraria Castro e Silva, já somos obrigados a fazer uma selecção, mas podemos sempre calcular o que podemos gastar pois os preços são fixos, enquanto aqui podemos correr o risco de ao fim de poucas licitações termos esgotado o nosso “pé-de-meia” e se calhar ainda não comprámos nada... e ainda nos falta aquela obra que será leiloada quase só no final do leilão.

De facto qualquer bibliófilo sofre a bom sofrer nestes momentos – alguma razão terão aqueles que nunca compram livros em leilões!

Depois destas minhas divagações, que como sempre se dirigem a todos aqueles que se iniciaram nestas andanças há pouco tempo, pois que para outros nada disto será novidade, ou terá mesmo incorrecções, vamos folhear o nosso catálogo.

Se pensarmos no livro antigo, encontraremos alguns bons exemplares, e refiram-se:



048 ANDRADE, Manoel Carlos de. – LUZ // DA LIBERAL, // E // NOBRE ARTE // DA // CAVALLARIA, // OFFERECIDA // AO // SENHOR // D. JOÃO // PRINCIPE DO BRAZIL, // PARTE PRIMEIRA. // LISBOA, // Na Regia Officina Typografica. Anno M.DCC.XC. In-Fólio de XXVI, 454, [1] págs. Enc.



PRIMEIRA EDIÇÃO deste célebre e belo livro de equitação. Ilustrada com o retrato de D. João V e 93 estampas extra-texto, algumas em folhas desdobráveis, finamente abertas a buril em chapa de cobre. Exemplar muito limpo. Com insignificantes cortes e picos de traça marginais que afecta apenas a estampa 76. Encadernação contemporânea em inteira de pele. Magnifico exemplar.



059 [APLAUSOS ACADÉMICOS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA A EL-REI D. JOÃO IV]. Invictissimo Regi Lusitaniae Joanni IV. Academia Conimbricensis libellum dicat in felicissima sua aclamatione. Jussu Emanuelis de Saldanha... Contém depois das Licenças, “Relaçam do successo que teve a acclamação delRey... Dom João o IIII. na Universidade de Coimbra, & das festas com que a celebrou”, Sermão do Pe. Filipe Moreira, Orações “In palestra literaria...” de Jerónimo da Silva de Azevedo e “In festiva acclamatione...” do Dr. Manuel Álvares Carrilho e poesias várias, todos os textos dedicados a D. João IV. Conimbricae : expensis Universitatis, typis Didaci Gomez de Loureiro, 1641. In-8º de [12], 122 [de facto: 125] Fls. Frontispício gravado e 4 Fls. desdobráveis. Enc.

Edição raríssima. O frontispício gravado a buril com pórtico, encimado por escudo de armas reais de Portugal, tendo ao centro, em moldura oval, o busto de D. João IV, em cabelo, ladeado por D. João III e D. Dinis, subscrito “Joseph do Avelar pin” e “Augustin Suaez. Florian”. As 4 folhas desdobráveis com poemas latino sacrósticos, que faltam na maioria dos exemplares. De grande importância para as colecções da Restauração. Com algumas manchas de humidade. Encadernação da época inteira de pergaminho.

Ameal 136. Inocêncio Tomo I, 302; Nepomuceno 896; - Samodães, 180; Visconde da Trindade, Restauração, 62.



115 BEZERRA, Manoel Gomes de Lima. - OS ESTRANGEIROS // NO LIMA: // OU // CONVERSAÇOENS ERUDITAS // Sobre varios pontos de Historia Ecclesiastica, Civil, // Litteraria, Natural, Genealogica, Antiguidades, // Geographia, Agricultura, Commercio, Ar- // tes, e Sciencias. // COM // Huma Descripção de todas as Villas, Freguezias, e Lugares notaveis da // Ribeira Lima,... // OBRA ENRIQUECIDA DE ESTAMPAS, // TOMO I (e TOMO II). // Coimbra: // Na Real Officina da Universidade. // Anno de M.DCC.LXXXV. 2Vols. In-8º de [12], 437, [1] e [VIII], 357, [1] págs. Enc.

Edição original, de grande raridade. Ornada com o retrato de D. José Príncipe do Brasil, e 6 gravuras abertas a buril em chapa de cobre, representando vistas de Viana, Foz do Lima, brasões heráldicos de famílias nobres, etc., etc. Bons exemplares.

Encadernações do século XIX, inteiras de pele, com ferros a ouro nas lombadas e a seco nas pastas.

As revistas literárias, sempre com boa procura, ocupam igualmente alguns bons lotes. Refiram-se:



082 ÁRVORE. Folhas de Poesia. Direcção e Edição de António Luis Moita, António Ramos Rosa, José Terra, Luis Amaro, Raul de Carvalho. Direcção Gráfica de Luis Moita. 1º Fascículo - Outono de 1951. 2º Fascículo - Inverno de 1951-1952 e 3º Fascículo - Primavera e Verão de 1952. Lisboa. 1951 (a 1953). 3 Números. In-8º Brs.

Colecção completa. Colaborada por José Terra, Ramos Rosa, Manuel da Fonseca, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny de Vasconcelos, Cabral do Nascimento, Eugénio de Andrade, Eduardo Lourenço, Sebastião da Gama, Vergílio Ferreira, José Augusto França, Cipriano Dourado, Lima de Freiras, Fernando Lanhas, etc.



848 SW SUDOESTE. Nº 1 (a 3). Cadernos de Almada Negreiros. Publicação Mensal. Lisboa. 1935. 3 Números. In-8º Brs.

Colecção completa desta rara revista literária. Julgamos que uma das gravuras, que raramente acompanha o número 2 por ter sido censurada, é fac-similada. Encerra colaboração de Fernando Pessoa, Ângelo de Lima, Mário de Sá-Carneiro, José Régio, Saul Dias, Mário Sá, etc.



886 VARIANTE. Editor: António Pedro. Número da Primavera. 1942 e Numero de Inverno. 1943. Lisboa. 1942 e 1943. 2 Nos. In-4º de 84 e 90 págs. Encs. em 1.

Colecção completa desta revista de belo aspecto gráfico. Encerra colaboração literária e artística de Adolfo Casais Monteiro, Almada Negreiros, Branquinho da Fonseca, António Pedro, António Navarro, Carlos Queirós, José Régio, Ruy Cinatti, Sophia de Mello Breyner Andresen, Vitorino Nemésio, etc.

Bem conservados. Encadernação em linson. Capas de brochura preservadas.

Na literatura podem citar-se estas obras:



129 BOTTO, António. – CVRIOSIDADES ESTHETICAS. Com palavras de Junqueiro. Um retrato do auctor e outras referências valiosas. Lisboa. Typographia Libanio da Silva. 1924. In-4º de [14], 25, [8] págs. Br.

Edição original. Poesia. Rara. Ilustrada com o retrato do autor por Almada Negreiros. Assinatura de António Botto na primeira folha em branco.



616 ORTIGÃO E EÇA DE QUEIROZ, Ramalho. - AS FARPAS. Chronica Mensal de Politica, as Letras e dos Costumes. Lisboa. Typographia Universal. 1871 (a 1883). 4 Séries. In-8º peq. Encs. em 9 Vols.

Colecção completa. Primeira edição desta famosa publicação de critica à politica e aos costumes da época. Publicada em 4 Séries de 26, 10, 3 e 3 numeros respectivamente.

Encadernações meias de pele. Todos os numeros possuem as capas de brochura. Só ligeiramente aparado à cabeça.

Na temática de arte refira-se este excepcional exemplar:



574 MURPHY, James. - PLANS, // ELEVATIONS SECTIONS // and VIEWS of the // CHURCH OF BATALHA, // in the PROVINCE of // ESTREMADURA in PORTUGAL, // with the History and Description // by FR. LUIS DE SOUSA; with remarks. // To which is prefixed // an INTRODUCTORY DISCOURSE // ON THE PRINCIPLES of // GOTHIC ARCHITECTURE // ... // Illustrated with 27 Plates. LONDON. Printed for I. & J. TAYLOR, MDCCXCV. In-Fólio max. de [6], II, 26, [2], 27 a 61, [1] págs. e 27 Estampas. Enc.

Primeira edição. Dos mais importantes livros que se tem escrito sobre o Monumento da Batalha. Impressa em papel de excelente qualidade e ilustrada com 27 gravuras abertas a buril em chapa de cobre. Revestido de bela encadernação moderna inteira de chagrin com artísticos ferros a ouro na lombada pastas e seixas. Guardas em seda moiré. Ostenta 9 ex-libris de antigos proprietários, entre eles Ávila Perez. Acondicionado numa caixa-estojo em cartão. Peça de colecção.



… e ainda outros livros em leilão

Aqui deixo uma proposta para a leitura e interpretação de um qualquer catálogo.

Quanto ao catálogo deste importante leilão espero que vos tenha dado uma perspectiva um pouco diferente de olharmos para ele. As escolhas são minhas e um pouco aleatórias como sempre. Caberá a cada um de vós ler, estudar, escolher e, porque não, licitar alguma destas obras.

Saudações bibliófilas e boa sorte no leilão.


quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Vamos pôr a escrita em dia!





41. TAKIZAWA KOKYUTEI BAKIN & TOYOKUNI KUNISADA UTAGAWA.
Ominaeshi goshiki sekidai.
Moushun Shinkan, Edo [Tokyo] 1847, 12X18cm, 50p., relié.
(in Librairie Le Feu Follet
Catalogue de Livres Anciens Février 2012)
[clicar na imagem com o botão direito do rato e abrir a hiperligação para a sua visualização em tamanho real]

Devido a falta de tempo por questões relacionadas com a minha vida privada, não pude deixar aqui notícia dos vários catálogo que me foram enviados, mas que pela grande qualidade justificam a sua divulgação ainda que tardia.

A Otium Livraria de Nuno Gonçalves lançou o seu Boletim Bibliográfico de Janeiro de 2012.



Deste catálogo com um bom acervo na temática do livro antigo, destaco, como mero exemplo, estes exemplares:


47. GILLOT (Joacques) TRAICTEZ des Droicts et Libertez de l’Eglise Gallicane. A Paris: Chez Pierre Chevalier, 1609. 4.º; [8], 392 pp.; 245 mm. Bonito exemplar; encadernação inteira de pele da época, lombada ligeiramente cansada; super-libros de Diogo de Mendonça Corte Real; ex-libris de António Capucho.

Muito rara obra, proibida pelos Index de 1704. Joacques Guillot, natural de Langres de meados do séc. XVI, foi um escritor e político francês, entre outros cargos, conselheiro do Parlamento de Paris e um dos autores da obra satírica “Satire Ménippée”. Morreu em Paris, 1619.



51. LEÃO (Duarte Nunes de) LEIS Extravagantes collegidas e relatadas Pelo Licenciado Dvarte Nvnes do Liam per Mandado do muito alto & muito poderoso Rei Dom Sebastiam. Nosso Senhor. Em Lisboa: per Antonio Gonçaluez, 1569. 8.º; ¶//4, A-K//8, L//10, M-N//8, O//4, P-Y//8, Z//4, Aa-Bb//8, Cc//4, Dd-Ee//8, Ff//4, ¶, ¶, AA//8; [4]-218-[16]-8 ff.; 285 mm. Encadernação inteira de pergaminho moderna, decorada com dupla cercadura a ouro nas pastas, ferros decorativos a ouro na lombada e títulos a ouro em rótulo castanho; manchas de humidade pouco acentuadas nos últimos fólios. Bom exemplar.

Importante repositório de Leis por Duarte Nunes de Leão, importante homem do Direito Civil do século xvi, Desembargador da Casa da Suplicação, natural de Évora. Deixou vários escritos, alguns deles publicados em vida, sobre variadíssimas matérias, incluindo um conjunto de Crónicas dos Reis de Portugal. A edição, da responsabilidade do grande impressor António Gonçalves, está impresso a uma coluna em caracteres romanos, com belas capitulares ilustradas no início de cada parte. Muito Raro.

ŦŦ Inocêncio, II, p. 210; Ameal, 1650; Samodães, 2243.



71. PARADA (António Carvalho de) ARTE de Reynar ao Potentissimo Rey D. Ioam IV Nosso Sñor Restavrador da Liberdade Portvgvesa [..]. Em Bucelas: Por Paulo Crasbeeck, s.d. [1643]. 6.º; front., [ ]//4, A-Z, Aa-Zz, Aaa-Ccc//6, Ddd//2; [5]-296 ff.; 285 mm. Bom exemplar; encadernação inteira de pele marmoreada restaurada; corte das folhas carminado; ocasionais picos de acidez.

António Carvalho de Parada (1595-1665) exerceu vários lugares públicos, entre os quais o de Guarda Mor da Torre do Tombo. Esta sua obra, integrada numa série de outras publicadas por outros autores que procuram justificar a legitimidade de D. João IV ao trono de Portugal. Raríssimo.

ŦŦ Samodães, 625; Salema Garção, I, 598, com faltas; Inocêncio I, 107; Travel and Exploration, 1891

A Librairie Le Feu Follet iniciou o ano com um precioso catálogo – Catalogue Janvier 2012.



Na sua apresentação Sibylle Pandolfi escreveu:

«Pour la nouvelle année, le Feu Follet ouvre son catalogue à la photographie contemporaine en proposant des portraits originaux réalisés par Marc Trivier : diptyques confrontant des artistes à des fous ou des abattoirs.

La deuxième partie du catalogue est consacrée aux livres et manuscrits de littérature, dont un manuscrit inédit de Gustave Flaubert, une lettre exceptionnelle de Théophile Gautier et un ensemble autographe de sa fille Judith, ou encore des collages originaux de Jacques Prévert.»

Deste deve ser destacado pela sua grande raridade e qualidade este exemplar manuscrito:



90. FLAUBERT Gustave "La dictature de Sylla" : Manuscrit autographe complet inédit. S.n., s.l. s.d., 20x31cm, 6 pages en feuilles.

Précieux manuscrit autographe complet de 6 pages in-4, inédit, évoquant cet épisode de l'histoire de Rome.

Ce récit, très documenté, semble autant une compilation de notes historiques que l'élaboration d'une toile de fond au destin épique de Sylla.

Flaubert y évoque succinctement, bien qu'avec précision, les événements majeurs de l'Histoire et s'attarde plus volontiers sur les épisodes moins significatifs mais plus évocateurs de la démesure du personnage.

Ainsi remarque-t-on, dès le début, une attention prêtée aux déplacements géographiques des différents protagonistes et la mise en exergue de leurs fins tragiques : "Catilina (…) lui creva les yeux, lui arracha la langue, les oreilles, les mains, lui rompit les bras et les jambes et lui coupa la tête enfin qu'il porta toute sanglante à Sylla puis il se lava les mains dans l'eau lustrale d'un temple voisin. Le cadavre du vainqueur des Cimbres fut exhumé, livré aux outrages et jeté dans l'Anio."



Plusieurs références bibliographiques : "Mr D. n'a pas remarqué cela" ; "Selon Pline XXXVI 186"; "v. p. 296 est-ce cela ? " soulignent la réflexion de l'auteur au-delà de la simple relation des événements. Il conclue d'ailleurs ainsi : "Sylla homme du passé voulant rétablir une société morte (...) se mit lui-même au dessus des lois (…) caractère commun à tous les acteurs de ce même rôle."



Le manuscrit évoque bien évidemment l'intérêt de Flaubert pour l'Antiquité après le procès de Mme Bovary, "le besoin de sortir du monde moderne, où ma plume s'est trop trempée et qui d'ailleurs me fatigue autant à reproduire qu'il me dégoûte à voir" (lettre à Mlle Leroyer de Chantepie, 18 mars 1857). L'absence totale de mention de Carthage dans ce texte semble plutôt témoigner d'un écrit antérieur aux recherches historiques qu'il effectua pour Salammbô, d'une recherche encore ouverte, mais l'intérêt porté au potentiel "tragique" de personnages hors norme, aux antipodes de la "dramatique" actualité de Mme Bovary évoque son grand roman orientaliste.



Depuis longtemps, le personnage exerçait une fascination certaine sur Flaubert : "Nous remarquerons d'abord le crime grand, politique et froid, dans la personne de Sylla : il accomplit sa mission fatalement, comme une hache, puis il abdique la dictature et s'en va au milieu du peuple ; c'est là un orgueil plein de grandeur, ce sont là les crimes d'un homme de génie." (Rome et les Césars, 1839). Paul Bourget évoque également cette passion de l'auteur : "Ses amis se rappellent encore avec quel frémissement il récitait tel morceau de prose, le dialogue de Sylla et d'Eucrate, par exemple : « Sylla, lui dis-je...» puis, s'arrêtant là de sa citation, il ajoutait : « Toute l'histoire romaine est là dedans...» et il l'y voyait, tant l'ensorcellement des syllabes agissait sur ses nerfs tendus." (Journal des débats politique et littéraire, 10 février 1884).



Mais aussi épique fut-elle, l'histoire de Sylla manquait sans doute, à l'instar du manuscrit, d'une figure essentielle aux grandes œuvres de Flaubert : une femme.

Lançaria posteriormente o seu Catalogue de Livres Anciens Février 2012, no qual se encontram livros de Literatura, História, Filosofia e Viagens.



Do seu conteúdo destaco estes dois exemplares, com a particularidade de o segundo ser um livro ilustrado japonês do séc. XIX, que não aparecem com regularidade nestes catálogos.





Finalmente a Livraria Castro e Silva apresentou o seu Catalogo nº 132 / Rare Books Catalog, como sempre com forte componente no livro antigo.



Deste Catálogo deixo aqui algumas imagens de obras que ilustram a diversidade dos lotes nele incluidos.





Bom agora resta-vos, com calma e alguma paciência, folhearem estes catálogos onde irão rever alguns livros, que já por aqui passaram noutros, e avaliarem um pouco da evolução do mercado bibliófilo.

Qualquer deles será sempre uma óptima fonte de enriquecimento para os  nossos conhecimementos bibliográficos.

Saudações bibliófilas.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Bicentenário do Nascimento de Charles Dickens




Charles Dickens

Celebra-se hoje, um pouco por todo o Mundo, o 200º aniversário do nascimento deste escritor inglês que marcou uma época com o seu estilo e as suas personagens e que ainda hoje perduram no nosso imaginário.

A sociedade vitoriana pode ser bem compreendida e analisada através das suas obras, em que as suas ilustrações são um marco de referência para esta época.

As opulências e as misérias, desta mesma sociedade, são bem retratadas pelo punho do mestre que ainda hoje se lê com redobrado prazer.


Charles Dickens retratado em "Dickens' Dream", Robert William Buss, 1875
(reprodução parcial da obra)

Charles Dickens nasceu a 7 de Fevereiro de 1812 em Landport, Portsea. Era o segundo de oito filhos de um funcionário da Marinha.

Em criança gostava de brincar na rua e era um leitor compulsivo.

Em 1824 o seu pai é detido pelo não pagamento das suas dívidas., pelo que é obrigado a trabalhar numa fábrica enquanto visita o pai nos domingos.

Em 1829 depois de uma experiência como assistente dum advogado, decide tornar-se jornalista.

Em 1837 bcomeça a publicar Oliver Twist em fascículos mensais, como aconteceria com a maioria das suas obras, no Bentley’s Miscellany. Estas aventuras do orfão na Londres vitoriana seriam editadas como livro no ano seguinte.

Em 1840 casado com Mary Beadnell, por quem se apaixonara em 1829, e já pai de dez filhos, inicia a publicação de David Copperfield, que se prolonga até ao ano seguinte.

Morrerá em 9 de Junho de 1870 vítima de um ataque cardíaco.

Foi sepultado na Abadia de Westminster em 14 de Junho.

Para uma melhor aprofundamento da sua bio-bibliografia leia-se, neste blogue, Charles Dickens – Apontamentos para um estudo


Charles DIckens em Portugal
Exposição na Biblioteca Nacional de Portugal

A Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) conjuntamente com o Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa (CEAUL) leva a efeito uma exposição biblio-iconográfica subordinada ao tema: Charles Dickens em Portugal, que pode ser acedida aqui.

Este evento, comemorativo do bicentenário, decorrerá em Lisboa na BNP desde hoje até 10 de Março. Tem no Conto Verdadeiro: o Estalajadeiro de Andermatt, publicado em 1839 no jornal O Ramalhete, a obra mais destacada.

Foi com esta mesma obra que o público português começou a tomar conhecimento com a obra deste escritor.


 Folha de sala

No entanto, muitas outras traduções podem ser apreciadas nesta importante exposição.

E, a propósito de traduções, refira-se que, por exemplo Christamas Caroll, conheceu 25 traduções diferentes e com títulos igualmente distintos.

Referência ainda para este livro que fazia parte da colecção Lusitânia:


Carlos Dickens - Oliveiros Twist

Pois que “Quando se abre o livro nas folhas de anterrosto, existem fotografias da Madeira e na contracapa uma casa de beiral arrebitado”

Trata-se de uma exposição a não perder, mas sobretudo convirá não esquecer o escritor que merece ser relido ou no original – nas suas excelentes 1ª edições ou senão mesmo nas edições em fascículos – ou, pelo menos, numa das suas boas traduções.

Saudações bibliófilas.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

404º Aniversário do Nascimento do Padre António Vieira




Padre António Vieira
por Arnold van Westerhout (1651-1725)

Celebra-se hoje mais um aniversário do nascimento do Padre António Vieira, que foi um padre jesuíta, professor de Retórica, crítico da sociedade e da escravatura e um defensor dos cristãos-novos.

Da sua vasta bibliografia destaco duas obras das mais conhecidas:



VIEIRA, Padre António. - ARTE DE FURTAR,// ESPELHO DE ENGANOS, // THEATRO DE VERDADE, // MOSTRADOR DE HORAS MINGUADAS, // GAZUA GERAL // Dos Reynos de Portugal. // OFFERECIDA // A ELREY NOSSO SENHOR // D. JOÃO IV. // para que a emende. // COMPOSTA NO ANNO DE 1652. // Correcta, e emendada de muitos erros; e assim // tambem a verà o curioso leytor com as pa- // lavras, e regras, que por inadvertencia faltaraõ na passada impressão. // AMSTERDAM, // Na Officina de Elziveriana. 1652. // In-8º de [24], 512 págs.
Primeira edição. MUITO RARA. Ilustrada com o retrato do autor. Frontispício impresso a negro e vermelho.

[Nesta data publicaram-se duas edições distintas. Contudo a outra edição contém [24], 409 págs.e não tem o retrato do Padre António Vieira.]

E o célebre Sermão de Santo António aos Peixes, que pode ser lido na integra aqui.

 
Sermão de Santo António aos Peixes

Dum estudo em preparação deixo um apontamento sobre os seus primeiros anos:

António Vieira nasceu a 6 de Fevereiro de 1608, em lar humilde, na Rua do Cónego, freguesia da Sé, em Lisboa. Filho de Cristóvão Ravasco, que serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição, e de Maria de Azevedo.

António é baptizado na Sé, segundo parece na mesma pia baptismal em que o fora Fernando Bulhões, o famoso Santo António de Lisboa, por quem o futuro pregador jesuíta sempre manifestará grande admiração e devoção

O pai, de origem modesta e provavelmente com ascendência africana, é destacado para o Brasil em 1609 para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Relação da capitania da Baia. Trata-se de uma oportunidade para melhorar de vida e simultaneamente fugir da opressão filipina.

Em 1614 mandou vir a família para o Brasil. A família Ravasco – a mãe e os dois filhos, António de seis anos e o irmão mais novo, Bernardo, partem de Lisboa a 16 de Dezembro de 1614.

Aplica-se-lhe a frase que ele mesmo escreveu: "os portugueses têm um pequeno país para berço e o mundo todo para morrerem."

Refira-se esta de que aquí se deu notícia mais detalhada.

 

VIEIRA, Padre António - LAS CINCO // PIEDRAS // DE LA HONDA // DE DAVID // EN CINCO DISCURSOS // MORALES, // Predicados en Roma a la Reyna de Suecia, // CHRISTINA ALEXANDRA, // en lengua Italiana, // Por el Reverendissimo Padre // ... // Y traducidos en lengua Castellana por el mismo Author. // LISBOA, // En la Officina de Miguel Deslandes, // Año de 1695. In-8º de [16], 125, [40] págs. Encadernação moderna em inteira de carneira, com título e gravados a ouro na lombada.
Referências: Ávila Perez, 7994; Garcia Perez, 570.

A nossa cultura tem vultos que se destacaram pela sua universalidade e o Padre António Vieira foi seguramente um deles.

Saudações bibliófilas.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Bauman Rare Books – 80 Great Books Catalogue





A Bauman Rare Books lançou o seu novo catálogo – 80 Great Books Catalogue, que como o seu título deixa subentendido, compreende uma selecção de 80 obras de elevada raridade e valor bibliófilo, algumas de maior interessse para o mercado americano embora outras possam despertar o interesse de qualquer bibliófilo independentemente da sua nacionlidade,

Na sua nota sobre o ncatálogo a Bauman Rare Books escreve:

Every year at this time we like to challenge ourselves to put together an offering of books, manuscripts and autograph material that we believe qualify as “great,” whether due to their importance, their rarity, their desirability, their provenance, their beauty, or any combination thereof. […]

Every book has its own history, every document its own story. We are pleased to offer this selection of great books and documents, and hope that you find them every bit as fascinating—every bit as ‘great’—as we do.

Não quero deixar de vos apresentar a página inicial deste bom catálogo, pelo menos com grande interesse para referenciação e consulta bibliográfica, mesmo que não possamos adquirir nenhuma das obras nele incluidas, que reflecte o espírito com que este foi elaborado.

 
What makes a book "great"?
[Para uma visualização da imagem, em tamanho real,
clicar no botão direito do rato e abrir a hiperligação]

Das obras que este catálogo apresenta, destaco alguns exemplos.



1. NEWTON, Isaac. The Mathematical Principles of Natural Philosophy. London, 1729. Two volumes. Octavo, 18th-century calf covers laid down over new boards, rebacked in period-style, custom cloth clamshell box.



4. MILTON, John. Paradise Lost. A Poem in Ten Books. London, 1668. Small quarto, early 20th-century full red morocco gilt rebacked with original spine laid down.





5. SHAKESPEARE, William. Mr. William Shakespeare’s Comedies, Histories, and Tragedies. Published according to the true Original Copies. Unto which is added, Seven Plays, Never before Printed in Folio… The Fourth Edition. London, 1685. Folio, 19th-century crushed burgundy full morocco gilt.

E encontramos uma das obras mais procuradas em bibliofilia a famosa Crónica de Nuremberga.





10. (NUREMBERG CHRONICLE) SCHEDEL, Hartmann. Liber Chronicarum. Nuremberg, 12 July 1493. Tall folio, splendidily rebound in 18th-century full blind tooled calf, metal clasps, renewed endpapers; ff. 326 (of 328—without two final blanks only), custom clamshell box.

Seguem-se três obras clássicas na temática de livros sobre “viagens / descobrimentos”:



12. HAKLUYT, Richard. The Principal Navigations, Voyages, Traffiques and Discoveries of the English Nation, made by Sea or overland, to the remote and farthest distant quarters of the Earth. London, 1599-1600. Three volumes bound in two. Quarto, early 20th-century full olive morocco gilt, full morocco pull-off boxes.



13. (PACIFIC VOYAGES) (COOK, James). Cook’s Three Voyages. Comprising: HAWKESWORTH, John. An Account of the Voyages undertaken… for making Discoveries in the Southern Hemisphere. Three volumes. WITH: COOK, James. A Voyage towards the South Pole, and Round the World. Two volumes. WITH: COOK, James and KING, James. A Voyage to the Pacific Ocean… for making Discoveries in the Northern Hemisphere. Four volumes (three quarto volumes plus atlas folio). London, 1773, 1777, 1784. Nine volumes altogether. Quarto (atlas volume large folio, measures 17 by 22 inches), uniform period-style three-quarter speckled brown calf gilt.



 

76. CORYATE, Thomas. Coryats Crudities. Hastily gobled up in five Moneths travels. London, 1611. Octavo, late 19th-century full brown paneled morocco gilt.

Termino com este exemplar soberbamente ilustrado sobre as tribos dos indios da América do Norte.





21. MCKENNEY, Thomas and HALL, James. History of the Indian Tribes of North America. Philadelphia, 1838-44. Three volumes. Folio (14-1/2 by 19-1/2 inches), period-style half green morocco gilt.

Muitas outras obras poderiam, ou mesmo deveriam ser referidas, mas estas foram aquelas que despertaram a minha atenção numa primeira leitura.

Com sempre, resta a vossa leitura e consulta atenta, para descobrirem outras preciosidades que vos possam interessar mais. Notarão seguramente que muitas das obras se repetem, mas convenhamos que os preços nem sempre são acessíveis…

Saudações bibliófilas.


domingo, 29 de janeiro de 2012

World Legend – Leiria & Nascimento - Leilão de Livros, Serigrafias e Instrumentos musicais




Anúncio do Leilão

A World Legend – Leiria & Nascimento, com sede na Avenida Álvares Cabral, n.º 35 em Lisboa, vai organizar um leilão no próximo dia 31 de Janeiro pelas 21:30 horas onde vão ser leiloadas livros, serigrafias e Instrumentos musicais.


Catálogo do Leilão

Este catálogo pode ser visualizado aqui  .

Da parte que nos interessa mais – os livros – que se inicia no lote n.º 126 destacam-se duas obras de inquestionável raridade e interesse para o mundo da bibliofilia e sobretudo para os coleccionadores das obras de Fernando Pessoa.


Retrato de Fernando Pessoa em 1914

Lote nº 191


Lote nº 191

PESSOA, Fernando. - MENSAGEM
Lisboa. Parceria António Maria Pereira. 1934. In-8º de 100, [2] págs. Enc. Primeira edição. Valorizada com dedicatória manuscrita de Fernando Pessoa a Francisco Camello. Conserva as capas de brochura e revestido de bela encadernação em pele, com artísticos ferros a ouro na lombada e pastas Peça de colecção.




Lote nº 192

PESSOA, Fernando. - 35 SONNETS
Lisbon. Monteiro & Co. 1918. In-8º de 20 págs. Br. Primeira edição desta Rara obra incluída no ciclo inglês, publicada ainda em vida do autor. Valorizada com bela dedicatória manuscrita de Fernando Pessoa a César Porto.

De salientarainda, pelo seu interesse e apesar de não ser uma edição original, um “livro de viagens”na tradução desse eminente bibliófilo e investigador que foi Rubens Borba de Moraes, de Auguste de Saint-Hilaire, do qual já se deu aqui um breve apontamento.


Lote nº 202

SAINT-HILAIRE, Auguste. - VIAGEM À PROVINCIA DE SÃO PAULO E RESUMO DAS VIAGENS AO BRASIL, PROVINCIA CISPLATINA E MISSÕES DO PARAGUAI. Tradução e prefácio de Rubens Borba de Moraes. S. Paulo. Livraria Martins. 1940. In-8º de 375, [1] págs. Enc. Inserida na Biblioteca Histórica Brasileira. Reprodução deste importante texto do século XIX. Encadernação meia de pele. Com capas.

Outras obras nesta temática e referentes ao Brasil podem ser encontradas neste catálogo..


World Legend – Leiria & Nascimento

Estarão também em leilão vários conjuntos de partituras musicais, que serão seguramente muito licitadas.

Espero que a consulta seja do vosso agrado.

Saudações bibliófilas.