Aspecto da sala de leilões no Hotel Roma em Lisboa
(foto de Dora Nogueira)
Com efeito neste mês de Maio vamos ter dois leilões de livros de
conceituados livreiros antiquárias.
Pela elevada quantidade, e sobretudo pela qualidade, das obras
propostas para venda merecem uma análise um pouco aprofundada de cada um dos
catálogos, pois a maioria das obras contidas em cada um deles, corresponde a
diferentes propostas de temáticas.
Obviamente que há obras em comum mas, na minha opinião, os bibliófilos
sentir-se-ão indecisos na escolha do leilão, pois que cada uma destas ofertas
estará mais de acordo com as características da estrutura de cada uma das suas
bibliotecas pessoais.
Uma ilustração
Como escrevi na minha última postagem, o desfazer de grandes
bibliotecas traz a possibilidade de aparecerem no mercado obras que
anteriormente eram muito pouco frequentes de se verem à venda.
É claro que com isto, não pretendo dizer de modo algum, que estas
obras não sejam raras, muito antes pelo contrário!
O que se verifica, é que por razões díspares, muitos dos seus
anteriores proprietários optaram por as colocar novamente no mercado.
Tome-se como exemplo as obras de Fernando
Pessoa e em especial a Mensagem,
e contem-se os exemplares que surgiram para venda – tanto em leilões como
directamente pelos livreiros-antiquários – nos últimos 4/5 anos (bem sei que
um mesmo exemplar irá aparecer, por vezes, em várias vendas … mas mesmo assim o
número é bem diferente do que era habitual).
Outros dois bons exemplos são Dispersão de Mário de Sá-Carneiro e Só
de António Nobre. (Claro que só falo aqui em 1ª edições!)
Mas vamos lá a começar.
O José
F. Vicente vai organizar mais um leilão nos próximos dias 9, 10 e 11 de
Maio de 2016 às 21h no Palácio da Independência | Largo de São Domingos, 11 (ao
Rossio) |1150‑320 Lisboa.
A Exposição dos lotes decorrerá
nos dias 8, 9, 10 e 11 de Maio das 15h às 20h.
As três sessões do leilão decorrerão de acordo com a
seguinte planificação:
1ª sessão – Lotes 1 a 480
2ª sessão – Lotes 481 a 960
3ª sessão – Lotes 961 a 1431
066. ARISTOTELES. – EVSTRATII // EPISCOPI NICAENI // COMENTARIA IN
SECVNDVM //
LIBRVM POSTERIORVM RESOLVTIVORVM // ARISTOLELIS. // IN NOMINATI ITEM AVTORIS // EXPOSITIONES
COMPENDIARIAE IN
EVENDEM. // Andrea Gratiolo Tuscano ex benaco interprete. // Venetys Apud Hieronymum Scotum. // 1542. In‑Fólio de [1 em branco], 195 págs. págs. Enc. [€
2.000 / 3.500]
Raríssima obra que versa a filosofia
aristotélica, muito respeitada em todo o mundo da Antiguidade
e responsável pela grande
influência registada na filosofia portuguesa de quinhentos, particularmente de
Pedro Hispano, Pedro da Fonseca e Manuel de Góis, este responsável pelo Curso
Conimbricense da Universidade de Coimbra no séc. XVI. Por seu lado, estes
nossos estudiosos acabaram por influenciar mais tarde grandes filósofos como
Descartes ou Leibnitz.
Esta edição, como era corrente na
época e até no século anterior, é uma obra comentada da filosofia de
Aristóteles, levada a cabo por Eustrato, Bispo de Nice.
O aristotelismo, através do
cultivo da escolástica e da neo‑escolástica,
tem exercido influência decisiva na divulgação da obra deste grande filósofo.
Bela impressão veneziana, marca
do impressor no rosto, cabeçalho decorativo gravado em todas as páginas,
capitulares gravadas de belo efeito e ilustrado com esquemas geométricos no
texto. Magnifico exemplar, muito limpo e de grandes margens.
Encadernação moderna inteira de
chagrin negro, com guardas em pergaminho.
133. BERREDO, Bernardo Pereira
de. – ANNAES // HISTORICOS // DO ESTADO // DO // MARANHAÕ, // EM QUE SE DA’ NOTICIA DO SEU
DESCOBRIMENTO, // e tudo o mais que nelle tem succedido desde o anno em que foy //
descuberto até o de 1718. // Lisboa. // Na Officina de
Francisco Luiz Ameno. // M.DCC.XLIX. In‑Fólio
de [26], 710 págs. Enc. [€ 2.000 / 3.500]
1ª edição. Raríssima. O autor, natural de Serpa, foi Governador e
Capitão General do Maranhão e de Mazagão. Inocêncio, Tomo I, pág. “Berredo
gosou por mais de um seculo da posse não contestada de ser tido como escriptor
consciencioso e instruido na verdade dos factos que relata e puro e correcto na
sua linguagem notando‑se‑lhe apenas o estylo nimio affectado proprio do seculo em que
escrevia...”.
Exemplar com uma mancha de água
á cabeça de todo o texto, pequeno carimbo a óleo no frontispício, duas folhas
preliminares com pequenos defeitos nas margens e pequena falta de papel na
margem das páginas 47/48. Encadernação da época inteira de carneira.
Inocêncio Tomo I, pág. 382; Rodrigues, 388; Borba de Moraes.
Bibliografia Brasiliana. Tomo I, 103.
Contem uma interessante camoniana
(lotes 239 a 264) assim como um bom conjunto de camiliana (lotes 302 a 329) desta cito por serem duas obras que tem
aparecido menos nestes catálogos (embora não de elevada raridade… talvez apenas
o 2º título)
310. CASTELO BRANCO, Camilo. – O
LUBIS‑HOMEM. Comedia original, e inédita, em 3 actos,
por... Visconde de Correa Botelho. (1850). Com um prefácio de Alberto Pimentel.
Lisboa. Livraria Editora Guimarães, Libanio & Cia. 1900. In ‑8º de [10], XXIV, [2], 91, [1]
págs. Enc. Edição primitiva. Póstuma. Encadernação meia de pele. Com capas. [€
60 / 120]
322. CASTELO BRANCO, Camilo. – THEATRO
COMICO DE CAMILLO CASTELLO BRANCO. A MORGADINHA DE VAL ‑D’AMO‑
RES. Entre a flauta e a viola. Porto. Viuva Moré, Editora. 1871. In ‑8º de 190, [1] págs. Enc. Edição primitiva. MUITO RARA. Assinatura
antiga no anterrosto. Encadernação meia de pele. Sem capas. [€ 180 / 300]
Refira-se ainda a presença de algumas Constituições Sinodais (lotes 393 a 396)
395. CONSTITUIÇOENS // SYNODAES
// DO ARCEBISPADO DE BRAGA, // Ordenadas no anno de 1639. // PELLO
ILLUSTRISSIMO SENHOR ARCEBISPO // D. SEBASTIÃO DE MATOS E NORONHA: // E
mandadas imprimir a primeira vez // PELO SENHOR D. JOÃO DE SOUSA, // Arcebispo,
& Senhor de Braga, Primaz das // Espanhas, do Conselho de Sua Magestade, //
& seu Sumilher da Cortina, &c. // LISBOA, Na Officina de MIGVEL
DESLANDES, Impressor de Sua Magestade. Anno de 1697. In ‑Fólio de [34], 811, 15 págs. Enc.
2ª edição. A primeira
publicou ‑se em 1639. Ilus‑ trado com um belo frontispício gravado.
As últi‑ mas 15 págs., são uma Pastoral de
D. José Arce‑ bispo e Senhor de Braga, Primaz das
Hespanhas, datada de 1742. Exemplar com algumas manchas de água e anotações
manuscritas nas margens de algumas folhas. A Pastoral com cortes de traça e
defeitos marginais. Encadernação da época inteira de pele. Inocêncio
Tomo II, 99 e Tomo VII, 219. [€ 200 / 400]
Na literatura merecem destaque Natália
Correia (lotes 405 a 414) em que a peça mais rara é Comunicação;
Tomás da Fonseca (lotes 549 a 567)
564. FONSECA, Tomás da. – SERMÕES
DA MONTANHA. I ‑
A Religião e o Povo.
Lisboa. Typ. de Antonio Maria Antunes. 1909. In ‑8º de 260, [1] págs. Enc. Primeira edição. Muito Rara.
Ilustrada com o retrato do autor. Encadernação meia de pele. Conserva a capa de
brochura da frente. [€ 35 / 70]
Herberto Helder (lotes 673
a 674), Alexandre Herculano (lotes 675 a
681), Soeiro Pereira Gomes (lotes
622 e 623), Guerra Junqueiro (lotes
718 a 722), Gomes Leal (lotes 744 a
758)
©Almanaque Republicano
753. LEAL, Gomes. – A
ORGIA. Publicação mensal.
Politica. Literatura. Costumes. Carta a El ‑Rei de Espanha sobre a União Ibérica. Lisboa. Typographia
Popular. 1882. In ‑8º de 98, [1] págs. Enc. Primeiro e único
número publicado. De grande raridade. Pequenos defeitos nas margens de algumas folhas, assinatura no frontispício e manchas de
humidade. Encadernação em pano. Conserva a capa de brochura da frente. [€
20 / 40]
José Agostinho de Macedo
(lotes 821 a 829) de que a obra mais conhecida é O
Oriente (2ª edição), Joaquim
Pedro de Oliveira Martins (lotes 877 a 882), Rocha Martins (lotes 884 a 889 e 1426 e 1427), D. Francisco Manuel de Mello
(lotes 909 a 911), José de Almada
Negreiros (lotes 966 a 969), Vitorino
Nemésio (lotes 970 a 972), António
Correia de Oliveira (lotes 988 a 993), Ramalho
Ortigão (lotes 1012 a 1016), Alberto
Pimentel (lotes 1068 a 1074), Eça de
Queirós (lotes 1102 a 1119), que é completado com um conjunto de
bibliografia passiva queirosiana
(lotes 1120 a 1129),
1113. QUEIROZ, Eça de. – O
MANDARIM. Porto e Braga.
1880. In ‑8º de [4], 181, [1] págs. Enc. Edição
original. Muito rara. Encadernação da época meia de pele. Sem capas. [€
80 / 150]
Antero de Quental (lotes 1132 a 1137), Alves Redol (1148 e 1149), José Régio (lotes 1152 a 1154), Aquilino Ribeiro (lotes 1179 a 1197),
As gravuras e mapas (lotes 631 a 655) com alguns
belos exemplares.
642. LINSCHOTEN. –
A CIDADE DE ANGRA NA ILHA DE IESV XPÕ DA TERCEIRA QVE ESTÁ EM 39 GRAOS.
1595. Colorida á mão. Medida: 85x51cm. Gravura de Angra do Heroísmo, em
magnifico estado de conservação, apenas reforçada nas margens. Pertence ao
Atlas de Linschoten e rara‑ mente
acompanha a obra. [€ 800 / 1.500]
Os manuscritos (lotes 851 a
867) têm alguns espécimes muito interessantes e raros.
856. CARTA EXECUTÓRIA. Carta
executória espanhola, passada pelo Rei Carlos III e Don Ramon Zalo Ortega, a
favor de Don JuanManuel Monje, natural da Real Islla de Leon, Datada de Madrid
26 de Setiembre de Mil Setezientos setenta). (1770). In ‑Fólio de [26] Fls. Ilumina‑ das a ouro, prata e cores, representando
vários brasões de armas, árvore genealógica, frontispício gravado,
letras capitais iluminadas, etc. Esta famí‑ lia
pertence ás Casas de Monje, Casa de Rodri‑ guez, Casa
de Merchante e Casa de Gallardo. Texto a preto, vermelho e azul.
Encadernação da época inteira de pele com artísticos ferros a ouro, tendo em
ambas as pastas um Brasão de Armas Real. [€ 3.000 / 4.500]
Mas muitas outras obras ficaram por referir.
Podemos encontrar na temática do livro
antigo obras como estas, por exemplo:
1091. POMEY, Padre Francisco. –
PANTHEUM // MYSTICUM, // SEU // FABULOSA // DEORUM // HISTORIA // Hoc
Epotomis eruditionis volumine bre
‑ // viter dliccidèque compehensa. //
Editio nona,... //
AMSTAELO‑ DAMI, // Ex Officina Schouteniana //
MDCCL‑ VII. In ‑8º peq. de [14],298, [14] págs.
Enc. Ilustrado com uma portada gravada e gravuras abertas a buril em chapa de
cobre representando as diversas figuras míticas tratadas na obra, algu‑ mas em folhas desdobráveis.Com um corte
de traça que atinge letras do texto nas páginas 191 a 224 e manchas de
água. Encadernação da época inteira de carneira. [€ 30 / 60]
1324. SOUSA, Fr. Luis de. – PRIMEIRA
PARTE // DA HISTORIA // DE S. DOMINGOS // PARTICULAR DO REINO, E CONQUISTAS //
de Portugal, // POR FR. LUIS CACEGAS // Da
mesma Ordem, e Provincia,
e Chronista della. // Reformada em estilo, e ordem, e amplificada em
succeesssos, // e particularidades. // POR FR. LUIS DE SOUSA // Filho do
Convento de Bemfica. // Lisboa. // N a Officina de António Rodrigues
Galhardo. 1767. 4 Vols. In ‑Fólio. Enc.
2ª edição. A primeira publicou‑se em 1623.
Obra de grande merecimento histórico e literário. Os dizeres dos
frontispícios dentro de artística portada gravada. Todos os volumes com o
carimbo de antigo proprietário na primeira folha da dedicatória. A última folha de Índice do IV
Volume com falta de papel sem atingir letras do texto. Encadernações uniformes inteiras de carneira,
algumas com pequenos defeitos. [€ 1.100 / 1.800]
Em minha opinião trata-se de um leilão a seguir atentamente.
O Pedro de Azevedo - Leiloeiro,
Unipessoal, Lda. | Rua Custódio Vieira 2 A, 1250-086 Lisboa | Portugal vai
realizar mais um leilão.
Trata-se do 62º Leilão de
Livros: Guerra Peninsular, manuscritos, gravuras e outros livros importantes que terá lugar em Lisboa, no próximo
dia 16 de Maio, pelas 19:30 h, no Hotel Fénix Lisboa, no Marquês de Pombal.
Marcadamente centrado para a Guerra
Peninsular, constitui uma óptima oportunidade para os coleccionadores e
estudiosos deste período sempre fascinante e curioso da nossa História poderem
encontrar algum (ou alguns exemplares que possam enriquecer as suas
bibliotecas.
No entanto iremos encontrar muitas outras obras de elevado interesse e
raridade como sejam:
5. ANDRADE, Antonio Galvão de –
ARTE | DA | CAVALLARIA | DE GINETA, E ESTARDIOTA, BOM | primor de ferrar, &
Alueitaria. | DIVIDIDA | Em tres Tratados, que contem varios discursos, & |
experiencias novas desta arte. Lisboa: Na Officina de Joam da Costa, 1678.-
[16], 605 (aliás 607) p.: il.; 29 cm.- Enc. [ € 1.000 - 1.500]
Primeiro tratado de cavalaria (ou equitação) publicado em Portugal,
cujo autor (c. 1613-1689), natural de Vila Viçosa, foi comendador da Ordem de
Cristo e estribeiro da Casa Real. A obra inclui, além de um retrato gravado do
autor (oval envolta em motivos heráldicos e alegóricos), 20 gravuras a
talhe-doce, das quais 15 de folha dupla ou desdobráveis, representando vários
exercícios de gineta, diversos arreios e outros acessórios. As gravuras
apresentam a subscrição C. B. F. (Clemente Bilingue Fecit) e F. D. I. ou C. R.
f. (Ernesto Soares [História], 318).O exemplar, um pouco aparado, apresenta a
falta de três gravuras: hum ferro de hum
garrocham (p. 255), hum homem à
estardiota (p. 453) e um de dous
peitoraes (p. 594); algumas gravuras mal encadernadas, não correspondendo à
localização indicada no índice na oitava folha preliminar (**8). Apresenta
ainda as seguintes intervenções: folhas preliminares (e fólio T4) com restauros
na margem externa (mais grave na folha de rosto); algumas gravuras espelhadas,
outras com restauros nas dobras. Encadernação do século XIX, inteira de
carneira.
Samodães, 1342. Inocêncio, I, p. 147. Torrecilla, 255. BN (Séc. XVII),
177. Arouca, A 341.
28. BOWDICH, Thomas Edward – Excursions
in Madeira and Porto Santo, during the autumn of 1823, while on his third
voyage to Africa; to which is added, by Mrs. Bowdich, I. A narrative of the
continuance of the voyage to its completion, together with the subsequent
occurrences from Mr. Bowdich’s arrival in Africa to the period of his death.
II. A description of the English settlements on the river Gambia. III.
Appendix: containing zoological and botanical descriptions, and translations
from the Arabic.- London: George B. Whittaker, 1825.- XII, 278 p.: il.; 27
cm.- Enc. [€ 800 - 1.200]
Thomas Edward Bowdich (1791-1824), viajante inglês, natural de
Bristol, casou em 1813 com Sarah Wallis (1791-1856), com quem viria a partilhar
a sua carreira de naturalista. Tendo convivido com Cuvier e Humboldt, o casal
efectuou várias viagens de estudo, nomeadamente a Lisboa, em 1822, Cabo Verde,
Madeira e Porto Santo. No decurso da sua terceira viagem a África, Thomas
Edward viria a falecer de malária, quando se encontrava na Gâmbia. A obra é
ilustrada com 22 litografias, sendo duas desdobráveis e quatro coloridas à mão.
A última estampa, com inscrições árabes, não vem referida no índice. Exemplar
com algumas manchas de acidez e ligeiro manuseamento, revestido de
meia-encadernação de pele, da época. Estampas antigas da Madeira (1935), p. 75.
Duarte de Sousa, 97. Silva’s/Pedro de Azevedo, Março de 2000, nº 103.
137. [JOINVILLE, François
Ferdinand Philippe d’Orléans, Prince de] – Études sur la Marine.- Paris:
Michel Lévy frères, 1859.- [8], 385, [2, 1 br.] p.; 22 cm.- Enc. [€ 40 – 80]
O volume inclui os seguintes três estudos publicados sem o nome do
autor : L’escadre de la Méditerranée, La question chinoise e La Marine à vapeur
dans les guerres continentales, previamente publicados na Revue des Deux
Mondes. O príncipe de Joinville (1818-1900), filho de Luís Filipe I de França
(1773-1850) e de Maria Amélia de Bourbon, almirante da Marinha Francesa, casou
em 1843 com a infanta D. Francisca de Bragança (1824-1898), filha do imperador
do Brasil D. Pedro I e de D. Maria Leopoldina de Áustria. Exemplar com algumas
manchas de acidez, revestido de excelente encadernação inteira de marroquim,
com cercaduras nos planos, casas fechadas a ouro na lombada, roda nas seixas e
o corte das folhas impecavelmente dourado. Ex-libris da Biblioteca do Dr.
Ricardo Espírito Santo.
218. MOREIRA, Manuel de Sousa –
THEATRO | HISTORICO, | GENEALOGICO, | PANEGYRICO: | ERIGIDO | a la Immortalidad
da la Excelentissima Casa | DE SOUSA.- Paris: en la Emprenta Real, por Juan
Anisson, 1694.48 [aliás 44], 986, [13, 1 br.] p.: il.; 38 cm.- Enc. [€ 600 –
900]
Obra monumental, ilustrada com
32 gravuras, das quais 30 são retratos, e outras tantas vinhetas gravadas em
folha de cobre, para além de um frontispício alegórico, junto ao rosto.
Inocêncio (VI, p. 114) considera-a um monumento estimável da arte tipográfica,
para além da importância das notícias que contem. Todos os retratos foram
espelhados (recortados pelo vinco da matriz e colados em folhas papel [da
época?], com as mesmas dimensões dos cadernos originais). Apenas as duas
restantes gravuras se encontram no seu estado original. Mancha restaurada na
margem superior, junto ao festo, afectando cerca de 20 folhas finais e a margem
de dois retratos. Pertence manuscrito da época, na página de rosto (Isidoro
Juzte. de Souza Tavares). O exemplar apresenta-se contudo, limpo, sólido e
completo. Encadernação recente, inteira de carneira, da época, ao gosto da
época. Salvá, 3603. Samodães, 3269.
Aqui também vamos encontrar algumas obras raras da literatura portuguesa, ora veja-se:
221. NEGREIROS, José de Almada
– A invenção do dia claro. - Lisbôa:
“Olisipo” Apartado 145, 1921.- 45 [3] p.: 1 retrato; 25 cm.- Broc. [€ 300 – 450]
Edição original de um dos mais raros títulos do autor, ilustrado com o
seu auto-retrato. Transcreve uma das conferências que mais impressionou
Fernando Pessoa, que nesse mesmo ano viria a escolher este texto para inaugurar
a sua editora Olisipo. Exemplar assinado no rosto (data de 1921), com algum
manuseamento, conservando as capas de brochura verdes (com badanas). De
salientar que estas envolvem a primeira e última folhas do primeiro e terceiro
caderno. O exemplar inclui, soltas, duas raras pagelas: bilhete de entrada (1
escudo) no Teatro de S. Carlos para o lançamento do folheto (10x10 cm.);
convite para uma sessão de apresentação do autor e da sua obra, na Liga Naval,
por António Ferro (22x16 cm.).
236. PEDRO, António – Manifesto
do I Salão de Independentes - [Lisboa: edição do autor, 1930]. - 1 f.; 39
cm.- Broc. [€ 200 – 300]
Manifesto publicado por ocasião da exposição ou I Salão de
Independentes, realizado em 1930 em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas
Artes, no qual participaram 20 pintores, 10 escultores, 10 arquitectos, 21
desenhadores, 2 decoradores, 2 cartazistas e 2 fotógrafos, com um total de 312
obras expostas. Folha volante, impressa de um só lado.
238. PESSOA, Fernando –
Mensagem - Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934.- 100, [2] p.; 18
cm.- Broc. [€ 1.600 - 2.400]
Edição original de uma obra emblemática da literatura portuguesa do
século XX. Único livro publicado pelo autor (1888-1935), um ano antes da sua
morte. Exemplar limpo, conservando as capas de brochura com badanas com
pequenas imperfeições.
239. PESSOA, Fernando – Sobre
um manifesto de estudantes - [Lisboa: edição do autor, 1923]. - 1 f.; 38
cm.- Broc. [€ 800 - 1.200]
Segundo manifesto de intervenção, publicado por Fernando Pessoa, na
polémica que, entre Fevereiro e Maio de 1923, envolveu, por um lado, o escritor
e poeta Raúl Leal e próprio Pessoa, e, por outro, a Liga de Acção dos
Estudantes de Lisboa, liderada por Pedro Theotónio Pereira, com o apoio do
jornal A Época, da Igreja Católica. O
objecto dos estudantes era o combate contra a literatura imoral, da qual eram
exemplos acabados as obras Sodoma divinizada, de Raúl Leal e Canções de António
Botto, ambas publicadas pela editora Olisipo, de Fernando Pessoa. Folha
volante, composta a três colunas, impressa de um só lado, provavelmente em
Abril/Maio de 1923.
248. POUSÃO, Frei Manuel,
O.S.A. – LIBER | PASSIONUM, | ET EORUM |
QUÆ A DOMINICA PALMARUM, | usque ad Sabbatum Sanctum cantari solent. | AVCTORE
| P. FR. EMMANUELE POUZAM, | ORDINIS EREMITARUM S. AUGUSTINI, | Provinciæ
Lusitaniæ. | PRIMA EDITIO.- Lugduni: Ex Typographia Petri Guillimin,
Sumptibus Joannis à Costa, & Didaci Suarez, 1675.162 p.: notação musical;
36 cm.- Enc. [€ 800 - 1.200]
Segundo Barbosa Machado, Fr. Manuel Pousão (c. 1593-1683), era natural
de Alandroal e professou no Convento da Graça, de Lisboa, da Ordem de Santo
Agostinho, onde foi Mestre de Capela. A edição, impressa em Lyon por motivos
desconhecidos, é constituída por 20 cadernos (A-T4, V5 [ao exemplar falta a
última folha em branco]) com um rosto (verso em branco), seguido de 80 folhas
com notação musical quadrada tradicional a negro sobre pautas de cinco linhas a
vermelho. Versão actualizada de livros de cantochão congéneres anteriores,
como, por exemplo o Passionário de Fr. Estêvão, impresso em Lisboa, em 1595 (v.
Pedro de Azevedo, leilão nº 61, Outubro de 2014, lote, nº 126), introduz,
contudo, novas formas melódicas, reduzindo os vocalizos de grande extensão, de
expressão bizantina. A este respeito deverá ler-se O Canto da Paixão nos
séculos XVI e XVII: a singularidade portuguesa, de José Maria Pedrosa Cardoso,
Coimbra, 2006 (5.1.4., p. 149 e seg.), de onde foram recolhidos parte dos
elementos para a presente descrição. Fólios do caderno D, encadernados fora de
ordem: D2, D1, D4 e D3. Exemplar aparado, um pouco manuseado e com alguma
acidez; ocasionais restauros menores. Encadernação recente, com a lombada em
pele, com falta das guardas volantes. Vieira, II, p. 230. Alegria, p. 133.
253. [QUEIRÓS, José Maria Eça
de] – [O crime do Padre Amaro] - Revista Occidental: publicação quinzenal.-
1º cuaderno, 1º anno, tomo primero a 5º fascículo, 1º anno, tomo segundo (15 de
Febrero a 15 de Julho de 1875).- Lisboa: Escriptorio da Revista Occidental,
1875.-11 fascículos em 2 vols.; 25 cm.- Enc. [€ 400 – 600]
Trata-se da primeiríssima edição da obra, publicada nesta revista
dirigida por Eça de Queirós, desde o primeiro fascículo do primeiro tomo, ao
primeiro fascículo do segundo, que viria a ser editada no ano seguinte em forma
de livro, com inúmeras alterações. A revista teve ainda a colaboração de Antero
de Quental, Gonçalves Crespo, Oliveira Martins e muitos outros. O conjunto
apresenta a particularidade de o primeiro tomo pertencer à edição em
castelhano, publicada simultaneamente em Espanha através do seu representante
A. Duran. Os 11 fascículos encadernados em dois volumes, conservando todas as
capas de brochura, por vezes com algumas manchas. Tudo quanto foi publicado.
Exemplar com ocasional acidez, revestido de meias-encadernações de chagrin.
Ex-libris de Francisco J. Martins. BN (Jornais e Revistas), 4645 (descrição
incompleta). Guerra Da Cal, 66 e 29.
Nas gravuras temos alguns
bons espécimes como este:
91, GUERRA PENINSULAR – The
Holy Alliance unmasked.- London: Pub. by J. Dickinson, 1823.- 1 litografia
colorida; 280x320 mm. [€ 40 – 80]
Litografia de sátira política, colorida à mão, segundo original de
Edward Purcell, representando os representantes da Grã-Bretanha (Wellington),
Espanha, Russia e Áustria à volta de uma mesa, conspirando para repor Fernando
VII no trono de Espanha. Levemente aparada na margem superior.
E nos manuscritos vamos encontrar esta carta de Beresford:
160. BERESFORD, Lieutenant
General Willam Carr (1768-1854) – 1 documento (carta autógrafa) - Século XIX
(1809). 2 f.; 23 cm. Carta autógrafa dirigida ao capitão Henry Goldfinch
(c.1781-1854), dos Royal Engineers, com instruções para este se deslocar para o
Porto e organizar a sua defesa. Uma página e meia autógrafa (bifólio).
Documento datado e assinado: Lisbon, 20th March - W.C. Beresford. [€ 300 – 450]
Bem a conversa já vai longa embora esteja seguro de que muito mais
havia para dizer e mostrar.
Claro que esta é uma das leituras possíveis destes dois bons
catálogos, mas deixo, um pouco
deliberadamente, ao vosso critério/gosto
uma outra leitura e análise que espero
serem seguramente diferentes.
Um resto de bom fim-de-semana (…mesmo com a chuva)
Saudações bibliófilas.
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