"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 28 de maio de 2016

Livraria Ecléctica Leilão – Surrealismo Português | Biblioteca Dr. René Souto



António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro, Vespeira, Moniz Pereira – Cadavre Exquis, 1948
[óleo sobre tela, 150 x 180 cm]

Este leilão é um verdadeiro “hino” ao surrealismo português!
(Quanto ao surrealismo voltarei em breve depois de falar sobre o neo-realismo que está em preparação…)

Mas a propósito do Surrealismo não será demais chamar a e atenção para esta obra inserida no Catalogue de Littérature du mois de Mai 2016 da Librairie Le Feu Follet:



26. BRETON André. Manifestes du surréalisme. Jean-Jacques Pauvert, Paris 1962, 13,5 x 21 cm, broché. [450€]



Nouvelle édition collective pour laquelle il n’a pas été tire de grands papiers.



Envoi autographe signé d’André Breton à madame Renoux.



Coins et mors frottés.


Livraria Ecléctica

A exposição decorrerá a partir de 1 de Junho dias úteis (nos dias de leilão até às 17h30) e o leilão terá lugar a 6, 7 e 8 de Junho pelas 19h00 na Sala de Leilões na Travessa André Valente, 26 | 1200-025 Lisboa | Portugal.

Nuno Gonçalves, organizador do catálogo deste leilão, afirma a propósito das obras nele incluídas:

"De entre as obras, destacam-se, pela sua extrema raridade, Kodak de Herberto Helder e João Vieira, o primeiro a aparecer em leilão no nosso mercado; as obras de António Pedro, em especial 15 pomes au Hasard ou Cidade; os muitos papéis surrealistas publicados por Mário Cesariny, alguns deles originais; de António Maria Lisboa Aviso a Tempo por Causa do Tempo, a verdadeira primeira edição recebe todo o destaque; ou de Luiz Pacheco como autor e editor com obras tão raras quanto Caca, Cuspo e Ramela, apenas para destacar uma."



Face à grande riqueza e diversidade das obras presentes vou apresentar apenas alguns dos exemplares mas apelativos, que não forçosamente os mais raros:



43. ARQUIPÉLAGO. Funchal: Editorial Eco do Funchal, 1952. 112 pp.; 190 mm. Extensa dedicatória de Rogério Correia, principal impulsionador da publicação. Brochado em caixa inteira de pele com uma belíssima decoração evocativa assinada Mário Silva. ¶ Publicação colectiva onde se apresenta pela primeira vez ao público o poeta Herberto Helder. Possui ainda colaboração de Aragão Correia, Carlos Cristovão, Florival de Passos, Jorge Freitas, Rebelo de Quental, Rogério Correia e Silvério Pereira. Muito raro. [100,00 — 150,00]



107. CADERNOS de Livre Expressão: publicação não periódica. Coordenadores Egídio Álvaro e José Carlos Gonzalez. — N. 1 (Jan 1972). Lisboa: s.n., 1972. 98 pp.: il.; 240 mm. Brochado em caixa inteira de pele decorada com embutidos reproduzindo a capa de brochura; exemplar com falta da serigrafia de Jorge Martins que foi publicada numa edição limitada. ¶ Único número publicado desta revista considerada por Melo e Castro como surrealista. Segundo José Carlos Gonzalez os Cadernos “foram uma iniciativa de emigrados e/ou exilados políticos em Paris, e noutros países europeus, com o objectivo de transmitir sobretudo a Portugal as preocupações e estado actividade de um grupo heteróclito de escritores [...]. Não teve linhas doutrinárias, limitando-se os responsáveis a contribuir com o que mais adequado julgaram na altura.” Raro. ¶ bib: Daniel Pires, v. 2, t. 1, p. 126. [ 40,00 — 60,00]



206. CORREIA (Natália) — RIO de Nuvens: Livro de Poesias de [...]; Prefácio de Campos de Figueiredo. Coimbra: Atlântida, 1947. 40 pp.; 230 mm. Encadernação inteira de pele com títulos a ouro na pasta anterior e lombada; dedicatória de autora a Júlio. ¶ Primeira edição. Natália Correia reconhecida escritora portuguesa
de enorme versatilidade em vários estilos literários. Iniciando a sua obra na literatura infantil e no romance, inaugura a sua incursão na poesia com o presente título. Podem divisar-se aqui os primeiros traços daquilo que se manifestaria a partir de 1957 como uma marca surrealista na sua obra da década de 50. Raro. [100,00 — 150,00]



284. & etc.... Magazine das Artes, das Letras e do Espectáculo publicado pelo Jornal do Fundão. — N.1 (26. Fev.1967) — n. 26 (11.Abr.1971). S.l.: Jornal do Fundão, 19671971. 26 n.ºs: il.; 355 mm. Brochado em caixa inteira de pele decorada a ouro e embutidos nas pastas e lombada. ¶ Colecção completa de uma das mais raras revistas publicadas nos finais dos anos 60. Revista de contracultura, foi este suplemento que mais tarde deu origem à revista independente. Segundo Vitor Silva Tavares, que fala brevemente deste primeiro projecto e é citado na entrada de Daniel Pires para a publicação com o mesmo nome a partir de 1973, o primeiro objectivo era claro, iludir a censura, publicando nos limites do possível e por vezes superando-os, procurando iludir os censores. Assim publicaram-se textos de Herberto Helder, Luís Paheco, Vitor Silva Tavares, Virgilio Martinho, José Blanc de Portugal, Alves Redol, Liberto Cruz, Manuel de Lima, Ana Hatherly, Luísa Neto Jorge, António Ramos Rosa, Pedro Oom, Alexandre O’Neill, Melo e Castro, entre muitos outros. [300,00 — 500,00]



307. FOLHAS de Poesia. Organização de António Salvado, Helder Macedo [n. 2] e Herberto Helder [n.3]. — N. 1(Jan. 57) - n. 4 (Jun 59). Lisboa: s.n., 1957-1959. 4 n.ºs.; 220 mm. Brochado em caixa com lombada e cantos em pele. ¶ COLECÇÂO COMPLETA, muito rara, desta importante revista de poesia. Segundo António Salvado, “não possuíam os jovens poetas das Folhas de Poesia uma doutrina a formular, uma filosofica poética a defender. O futuro mostrou bem claramente aliás que as afinidades se desenhavam débeis se, em conjunto, avaliarmos as obras que, ao longo das mencionadas décadas, cada um foi publicando. Surgidas numa época de incisivo cançaso da poesia portuguesa, as Folhas de Poesia, procurando a revelação e a insinuação de novas vozes no panorama poética nacional, mostravam-se fiéis ao preceito de um estilo total que buscava as suas raízes no ‘alheamento existencial’ de poetas do passado [...]” [citado de Daniel Pires]. Com colaboração de Herberto Helder, Afonso Duarte, Alfredo Margarido, Ângelo de Lima, Aniel Jannini, António Maria Lisboa, António Salvado, Branquinho da Fonseca, Carlos de Oliveira, David Mourão Ferreira, Edmundo de Bettencourt, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, José Carlos Gonzalez, José Sebag, entre muitos outros. ¶ bib: Daniel Pires, v.2, t.1, p. 226; Laureano Barros, 2308 [200,00 — 300,00]



499. LEAL (Raul) — SODOMA DIVINISADA. Lisboa: “Olisipo” Editores, 1923. 26-[4] pp., ; 235 mm. Encadernação inteira de chagrin ricamente decorada a ouro nas pastas e lombada, assinada Vitor Santos em estojo decorado com papel pintado à mão. ¶ Primeira edição deste livro que deu origem a uma grande polémica com o jornal católico A Época. Raul Leal esteve quase desde o princípio envolvido com o movimento da Presença (primeira colaboração no n.º 4), colaborando também na Sudoeste. [120,00 — 150,00]



550. LISBOA (António Maria) — ERRO Próprio: Conferência Manifesto. Lisboa: ed. autor, 1952. 32 pp.; 215 mm. Brochado em caixa inteira de pele com títulos e ferros a ouro nas pastas e lombada; cremos que a este exemplar falta uma folha preliminar, mas consultada a ¶ bibliografia e dado o carácter sempre difícil deste tipo de publicações não nos foi possível assegurar quer uma, quer outra hipótese. ¶ PRIMEIRA Edição do manifesto tido como um dos principais do surrealismo português. Raro. ¶ bib: Laureano Barros, 3171 [80,00 — 100,00]



737. PACHECO (Luiz) — MEMORANDO Mirabolando. Setúbal: Contraponto, 1995. 288 pp.; 200 mm. Encadernação inteira de pele decorada com ferros e embutidos que reproduzem a capa de brochura. ¶ Edição limitada, numerada e assinada. [20,00 — 30,00]



755. PACHECO (Luiz)  — OS NAMORADOS: novela neoabjeccionista. Lisboa: Contraponto, s.d. [1966]. 21 ff.; 275 mm. Brochado em caixa com cantos e lombada em pele. ¶ PRIMEIRA edição, impressa só de um lado das folhas, em edição policopiada. Muito raro. ¶ bib: Luiz Pacheco, 56 [100,00 — 150,00]



796. PEDRO (António) — ONZE Poemas Líricos de Exaltação. s.l.: s.n., 1938. [22] pp.: il.; 150 mm. Brochado em caixa inteira de chagrin verde, decorada a ouro nas pastas e lombada. Exemplar n. 2 ¶ Raríssima primeira edição desta lindíssima obra de António Pedro numa tiragem de apenas 140 exemplares, numerados e assinados pelo autor. ¶ bib: Laureano Barros, 4412 [200,00 — 300,00]



866. REIMPRESSOS cinco textos colectivos de surrealistas em português de que são autores / António Maria Lisboa, Mário Cesariny, Henrique Risques Pereira, Mário Henrique Leiria, Pedro Oom, Cruzeiro Seixas. Lisboa: Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, 1971. [9] ff.: il.; 325 mm.  ¶ JUNTO COM: PASCOAES (Teixeira de)  — AFORISMOS. Lisboa: Mário Cesariny de Vasconcelos e Cruzeiro Seixas, 1972. [14] ff.: il.; 325 mm.  ¶ JUNTO COM: CONTRIBUIÇÃO ao Registo de Nascimento, existência e extinção do Grupo Surrealista de Lisboa.. Lisboa: Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, 1973. [28] pp., 2 ff.: il.; 325 mm. Primeiro título com dedicatória autógrafa de Cruzeiro Seixas; segundo título com autógrafo do mesmo autor; brochados em caixa inteira de pele com títulos a ouro na pasta anterior e lombada. ¶ COLECÇÃO COMPLETA destas três edições de Mário Cesariny e de Cruzeiro Seixas relacionadas com o Surrealismo Português. O primeiro é uma antologia de textos organizada por Cesariny e Cruzeiro Seixas incluindo «A Afixação Proibida»; «Surrealismo e Manipulação»; «Aviso a Tempo por Causa do Tempo»; «Para bem Esclarecer as Gentes...»; «Não Há Morte na Morte de André Breton» e «Para bem esclarecer as gentes que ainda estão à espera» (Horstexte colado à badana). Os “Aforismos” de Teixeira de Pascoaes, foram recolhidos por Mário Cesariny e inclui como extra texto a famosa licença de isqueiro do poeta. A “Contribuição...” é uma publicação comemorativa do 50.º aniversário do Grupo Surrealista de Lisboa. Tiragens limitadas de 250, 350 e 300, respectivamente. [200,00 — 300,00]



937. VASCONCELOS (Mário Cesariny de) — CORPO Visível. Lisboa: ed. autor, 1950. [16] pp.; 235 mm. Dedicatória do autor a João Villaret. Brochado em caixa inteira de pele decorada com títulos e ferros a ouro nas pastas e lombada. ¶ RARÍSSIMA Primeira edição da obra de estreia de Mário Cesariny subsidiada por Eugénio de Andrade que junto com “Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano” publicado dois anos depois, é a primeira obra possuidora de muitos traços próprios da estética surrealista (cf. ¶ biblos, I, col. 1110). [400,00 — 600,00]



1000. VASCONCELOS (Mário Cesariny de) — ALGUNS Mitos Maiores Alguns Mitos Menores à Circulação com uma carta do Editor. S.l. [Lisboa]: s.n. [Luíz Pacheco], [1958]. [5] ff.; 340 mm. Brochado em caixa inteira de pele com títulos a ouro e a carmim na pasta anterior e lombada. ¶ RARÍSSIMA PRIMEIRA EDIÇÃO. Editada mais ou menos clandestinamente por Luíz Pacheco os poemas que constituem “Alguns Mitos Maiores...” foram aqui publicados pela primeira vez, em tiragem muito restrita e em edição policopiada com uma capa em papel kraft. Na carta que faz publicar no final da obra o Editor justificase: “E edição pobrezinha, confesso. Não houve massa para mais. O texto sai anónimo — não apócrifo. É teu. É do melhor que fizeste.” Segundo declaração de Cesariny “trata-se de um ensaio de descoberta por cabala fonética, há anos iniciado e longe ainda do seu termo, sendo os ‘Mitos’ apenas um seu signo inicial” [cf. Modernistas]. Sobre a obra escreve Fátima Marinho: “Se em ‘Manual de Prestidigitação’ e em ‘Pena Capital’ Cesariny tenta lançar as bases da sua arte poética, em ‘Alguns Mitos Maiores [...]’, ele refere-se-lhe de uma forma indirecta mas indubitável. Já não se trata de alusões mais ou menos precisas a técnicas ou a influências literárias, mas de uma decomposição sistemática de pequenos mitos da sociedade burguesa, decomposição que constitui uma das bases da sua poética e um dos fins da sua obra”. Valioso. ¶ bib: Modenris Portugueses, v. 5, p. 21ss; Marinho, p. 386 [600,00 — 800,00]


Ex-Libris A Nova Ecléctica

Quem vai conseguir resistir a tantas propostas de grande raridade e qualidade, para além de muitas delas, terem excelentes encadernações ou estojos de protecção?

É uma colecção de facto notável, que lamentavelmente se vai dispersar, mas irá permitir que alguns de nós possam enriquecer as suas bibliotecas.

Aconselho vivamente uma leitura atenta do catálogo, pois a decisão de compra é muito difícil …e boa sorte nas vossas apostas. (Já o li e reli e ainda estou indeciso…)

Saudações bibliófilas.

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