António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro,
Vespeira, Moniz Pereira – Cadavre Exquis, 1948
[óleo sobre tela, 150 x 180 cm]
Este leilão é um verdadeiro
“hino” ao surrealismo português!
(Quanto ao surrealismo voltarei
em breve depois de falar sobre o neo-realismo que está em preparação…)
Mas a propósito do Surrealismo não será demais chamar a e
atenção para esta obra inserida no Catalogue de Littérature du mois de Mai 2016 da Librairie Le Feu Follet:
26. BRETON André. Manifestes du
surréalisme. Jean-Jacques
Pauvert, Paris 1962, 13,5 x 21 cm, broché. [450€]
Nouvelle édition collective pour
laquelle il n’a pas été tire de grands papiers.
Envoi autographe signé d’André
Breton à madame Renoux.
Coins et mors frottés.
Livraria Ecléctica
A exposição decorrerá a partir de 1 de Junho dias úteis (nos dias de
leilão até às 17h30) e o leilão terá
lugar a 6, 7 e 8 de Junho pelas 19h00 na Sala
de Leilões na Travessa André Valente, 26 | 1200-025 Lisboa | Portugal.
Nuno Gonçalves, organizador do catálogo deste leilão, afirma a propósito das obras nele incluídas:
"De entre as obras, destacam-se,
pela sua extrema raridade, Kodak de
Herberto Helder e João Vieira, o primeiro a aparecer em
leilão no nosso mercado; as obras de António
Pedro, em especial 15 pomes au
Hasard ou Cidade; os muitos papéis surrealistas publicados por Mário Cesariny, alguns deles originais;
de António Maria Lisboa Aviso a Tempo por Causa do Tempo, a
verdadeira primeira edição recebe todo o destaque; ou de Luiz Pacheco como autor e editor com obras tão raras quanto Caca, Cuspo e Ramela, apenas para
destacar uma."
Face à grande riqueza e diversidade das obras presentes vou apresentar
apenas alguns dos exemplares mas apelativos, que não forçosamente os mais
raros:
43. ARQUIPÉLAGO. Funchal:
Editorial Eco do Funchal, 1952. 112 pp.; 190 mm. Extensa dedicatória de Rogério
Correia, principal impulsionador da publicação. Brochado em caixa inteira de
pele com uma belíssima decoração evocativa assinada Mário Silva. ¶ Publicação
colectiva onde se apresenta pela primeira vez ao público o poeta Herberto
Helder. Possui ainda colaboração de Aragão Correia, Carlos Cristovão, Florival
de Passos, Jorge Freitas, Rebelo de Quental, Rogério Correia e Silvério
Pereira. Muito raro. [100,00 — 150,00]
107. CADERNOS de Livre
Expressão: publicação não periódica. Coordenadores Egídio Álvaro e José Carlos
Gonzalez. — N. 1 (Jan 1972). Lisboa: s.n., 1972. 98 pp.: il.; 240 mm. Brochado
em caixa inteira de pele decorada com embutidos reproduzindo a capa de
brochura; exemplar com falta da serigrafia de Jorge Martins que foi publicada
numa edição limitada. ¶ Único número publicado desta revista considerada por
Melo e Castro como surrealista. Segundo José Carlos Gonzalez os Cadernos “foram
uma iniciativa de emigrados e/ou exilados políticos em Paris, e noutros países
europeus, com o objectivo de transmitir sobretudo a Portugal as preocupações e
estado actividade de um grupo heteróclito de escritores [...]. Não teve linhas
doutrinárias, limitando-se os responsáveis a contribuir com o que mais adequado
julgaram na altura.” Raro. ¶ bib: Daniel Pires, v. 2, t. 1, p. 126. [ 40,00 —
60,00]
206. CORREIA (Natália) — RIO de Nuvens: Livro de Poesias de
[...]; Prefácio de Campos de Figueiredo. Coimbra: Atlântida, 1947. 40 pp.;
230 mm. Encadernação inteira de pele com títulos a ouro na pasta anterior e
lombada; dedicatória de autora a Júlio. ¶ Primeira edição. Natália Correia
reconhecida escritora portuguesa
de enorme versatilidade em vários estilos literários. Iniciando a sua obra
na literatura infantil e no romance, inaugura a sua incursão na poesia com o
presente título. Podem divisar-se aqui os primeiros traços daquilo que se
manifestaria a partir de 1957 como uma marca surrealista na sua obra da década
de 50. Raro. [100,00 — 150,00]
284. & etc.... Magazine das
Artes, das Letras e do Espectáculo publicado pelo Jornal do Fundão. — N.1
(26. Fev.1967) — n. 26 (11.Abr.1971). S.l.: Jornal do Fundão, 19671971. 26
n.ºs: il.; 355 mm. Brochado em caixa inteira de pele decorada a ouro e
embutidos nas pastas e lombada. ¶ Colecção completa de uma das mais raras
revistas publicadas nos finais dos anos 60. Revista de contracultura, foi este
suplemento que mais tarde deu origem à revista independente. Segundo Vitor
Silva Tavares, que fala brevemente deste primeiro projecto e é citado na
entrada de Daniel Pires para a publicação com o mesmo nome a partir de 1973, o
primeiro objectivo era claro, iludir a censura, publicando nos limites do
possível e por vezes superando-os, procurando iludir os censores. Assim
publicaram-se textos de Herberto Helder, Luís Paheco, Vitor Silva Tavares,
Virgilio Martinho, José Blanc de Portugal, Alves Redol, Liberto Cruz, Manuel de
Lima, Ana Hatherly, Luísa Neto Jorge, António Ramos Rosa, Pedro Oom, Alexandre
O’Neill, Melo e Castro, entre muitos outros. [300,00 — 500,00]
307. FOLHAS de Poesia.
Organização de António Salvado, Helder Macedo [n. 2] e Herberto Helder [n.3]. —
N. 1(Jan. 57) - n. 4 (Jun 59). Lisboa: s.n., 1957-1959. 4 n.ºs.; 220 mm.
Brochado em caixa com lombada e cantos em pele. ¶ COLECÇÂO COMPLETA, muito
rara, desta importante revista de poesia. Segundo António Salvado, “não
possuíam os jovens poetas das Folhas de Poesia uma doutrina a formular, uma
filosofica poética a defender. O futuro mostrou bem claramente aliás que as
afinidades se desenhavam débeis se, em conjunto, avaliarmos as obras que, ao
longo das mencionadas décadas, cada um foi publicando. Surgidas numa época de
incisivo cançaso da poesia portuguesa, as Folhas de Poesia, procurando a revelação
e a insinuação de novas vozes no panorama poética nacional, mostravam-se fiéis
ao preceito de um estilo total que buscava as suas raízes no ‘alheamento
existencial’ de poetas do passado [...]” [citado de Daniel Pires]. Com
colaboração de Herberto Helder, Afonso Duarte, Alfredo Margarido, Ângelo de
Lima, Aniel Jannini, António Maria Lisboa, António Salvado, Branquinho da
Fonseca, Carlos de Oliveira, David Mourão Ferreira, Edmundo de Bettencourt,
Fernando Pessoa, Jorge de Sena, José Carlos Gonzalez, José Sebag, entre muitos
outros. ¶ bib: Daniel Pires, v.2, t.1, p. 226; Laureano Barros, 2308 [200,00 —
300,00]
499. LEAL (Raul) — SODOMA DIVINISADA. Lisboa: “Olisipo”
Editores, 1923. 26-[4] pp., ; 235 mm. Encadernação inteira de chagrin ricamente
decorada a ouro nas pastas e lombada, assinada Vitor Santos em estojo decorado
com papel pintado à mão. ¶ Primeira edição deste livro que deu origem a uma
grande polémica com o jornal católico A Época. Raul Leal esteve quase desde o
princípio envolvido com o movimento da Presença (primeira colaboração no n.º
4), colaborando também na Sudoeste. [120,00 — 150,00]
550. LISBOA (António Maria) —
ERRO Próprio: Conferência Manifesto.
Lisboa: ed. autor, 1952. 32 pp.; 215 mm. Brochado em caixa inteira de pele com
títulos e ferros a ouro nas pastas e lombada; cremos que a este exemplar falta
uma folha preliminar, mas consultada a ¶ bibliografia e dado o carácter sempre
difícil deste tipo de publicações não nos foi possível assegurar quer uma, quer
outra hipótese. ¶ PRIMEIRA Edição do manifesto tido como um dos principais do
surrealismo português. Raro. ¶ bib: Laureano Barros, 3171 [80,00 — 100,00]
737. PACHECO (Luiz) — MEMORANDO Mirabolando. Setúbal:
Contraponto, 1995. 288 pp.; 200 mm. Encadernação inteira de pele decorada com
ferros e embutidos que reproduzem a capa de brochura. ¶ Edição limitada,
numerada e assinada. [20,00 — 30,00]
755. PACHECO (Luiz) — OS
NAMORADOS: novela neoabjeccionista.
Lisboa: Contraponto, s.d. [1966]. 21 ff.; 275 mm. Brochado em caixa com cantos
e lombada em pele. ¶ PRIMEIRA edição, impressa só de um lado das folhas, em
edição policopiada. Muito raro. ¶ bib: Luiz Pacheco, 56 [100,00 — 150,00]
796. PEDRO (António) — ONZE Poemas Líricos de Exaltação. s.l.:
s.n., 1938. [22] pp.: il.; 150 mm. Brochado em caixa inteira de chagrin verde,
decorada a ouro nas pastas e lombada. Exemplar n. 2 ¶ Raríssima primeira edição
desta lindíssima obra de António Pedro numa tiragem de apenas 140 exemplares,
numerados e assinados pelo autor. ¶ bib: Laureano Barros, 4412 [200,00 — 300,00]
866. REIMPRESSOS cinco textos
colectivos de surrealistas em português de que são autores / António Maria
Lisboa, Mário Cesariny, Henrique Risques Pereira, Mário Henrique Leiria, Pedro
Oom, Cruzeiro Seixas. Lisboa: Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, 1971. [9]
ff.: il.; 325 mm. ¶ JUNTO COM: PASCOAES
(Teixeira de) — AFORISMOS. Lisboa: Mário
Cesariny de Vasconcelos e Cruzeiro Seixas, 1972. [14] ff.: il.; 325 mm. ¶ JUNTO COM: CONTRIBUIÇÃO ao Registo de
Nascimento, existência e extinção do Grupo Surrealista de Lisboa.. Lisboa:
Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, 1973. [28] pp., 2 ff.: il.; 325 mm. Primeiro
título com dedicatória autógrafa de Cruzeiro Seixas; segundo título com
autógrafo do mesmo autor; brochados em caixa inteira de pele com títulos a ouro
na pasta anterior e lombada. ¶ COLECÇÃO COMPLETA destas três edições de Mário
Cesariny e de Cruzeiro Seixas relacionadas com o Surrealismo Português. O
primeiro é uma antologia de textos organizada por Cesariny e Cruzeiro Seixas
incluindo «A Afixação Proibida»; «Surrealismo e Manipulação»; «Aviso a Tempo
por Causa do Tempo»; «Para bem Esclarecer as Gentes...»; «Não Há Morte na Morte
de André Breton» e «Para bem esclarecer as gentes que ainda estão à espera»
(Horstexte colado à badana). Os “Aforismos” de Teixeira de Pascoaes, foram
recolhidos por Mário Cesariny e inclui como extra texto a famosa licença de
isqueiro do poeta. A “Contribuição...” é uma publicação comemorativa do 50.º
aniversário do Grupo Surrealista de Lisboa. Tiragens limitadas de 250, 350 e
300, respectivamente. [200,00 — 300,00]
937. VASCONCELOS (Mário
Cesariny de) — CORPO Visível. Lisboa: ed. autor, 1950. [16] pp.; 235
mm. Dedicatória do autor a João Villaret. Brochado em caixa inteira de pele
decorada com títulos e ferros a ouro nas pastas e lombada. ¶ RARÍSSIMA Primeira
edição da obra de estreia de Mário Cesariny subsidiada por Eugénio de Andrade
que junto com “Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano” publicado dois
anos depois, é a primeira obra possuidora de muitos traços próprios da estética
surrealista (cf. ¶ biblos, I, col. 1110). [400,00 — 600,00]
1000. VASCONCELOS (Mário
Cesariny de) — ALGUNS Mitos Maiores
Alguns Mitos Menores à Circulação com uma carta do Editor. S.l.
[Lisboa]: s.n. [Luíz Pacheco], [1958]. [5] ff.; 340 mm. Brochado em caixa
inteira de pele com títulos a ouro e a carmim na pasta anterior e lombada. ¶
RARÍSSIMA PRIMEIRA EDIÇÃO. Editada mais ou menos clandestinamente por Luíz
Pacheco os poemas que constituem “Alguns Mitos Maiores...” foram aqui
publicados pela primeira vez, em tiragem muito restrita e em edição policopiada
com uma capa em papel kraft. Na carta que faz publicar no final da obra o
Editor justificase: “E edição pobrezinha, confesso. Não houve massa para mais.
O texto sai anónimo — não apócrifo. É teu. É do melhor que fizeste.” Segundo declaração de Cesariny “trata-se de um
ensaio de descoberta por cabala fonética, há anos iniciado e longe ainda do seu
termo, sendo os ‘Mitos’ apenas um seu signo inicial” [cf. Modernistas]. Sobre a
obra escreve Fátima Marinho: “Se em ‘Manual de Prestidigitação’ e em ‘Pena
Capital’ Cesariny tenta lançar as bases da sua arte poética, em ‘Alguns Mitos
Maiores [...]’, ele refere-se-lhe de uma forma indirecta mas indubitável. Já
não se trata de alusões mais ou menos precisas a técnicas ou a influências
literárias, mas de uma decomposição sistemática de pequenos mitos da sociedade
burguesa, decomposição que constitui uma das bases da sua poética e um dos fins
da sua obra”. Valioso. ¶ bib: Modenris Portugueses, v. 5, p. 21ss; Marinho, p.
386 [600,00 — 800,00]
Ex-Libris A Nova Ecléctica
Quem vai conseguir resistir a tantas propostas de grande raridade e
qualidade, para além de muitas delas, terem excelentes encadernações ou estojos
de protecção?
É uma colecção de facto notável, que lamentavelmente se vai dispersar,
mas irá permitir que alguns de nós possam enriquecer as suas bibliotecas.
Aconselho vivamente uma leitura atenta do catálogo, pois a decisão de compra
é muito difícil …e boa sorte nas vossas apostas. (Já o li e reli e ainda estou
indeciso…)
Saudações bibliófilas.