Ainda recentemente troquei
algumas palavras com uma amiga sobre a situação da bibliofilia (leia-se o preço
que os livros estão a atingir no mercado) e, mais concretamente, sobre como
criar a sua própria biblioteca.
Uma biblioteca
Transcrevo algumas dessas notas
(com algumas correcções que me parecem oportunas para as tornarem menos pessoais)
pois traduzem muito bem aquilo que penso sobre a matéria.
É a minha opinião de
coleccionador, bem como do privilégio que tenho de conhecer alguns
livreiros-antiquários com os quais gosto de trocar algumas impressões sobre a
evolução da bibliofilia e do comércio do livro, que estas notas traduzem ... e simplesmente só isso.
"O
comércio do livro-antigo é uma “arte um pouco hermética” onde nos vamos
iniciando pouco a pouco e, pois claro, “enfiando alguns barretes!”.
Quanto
aos bons negócios esses já foram, pois mesmos os mais incautos e
desconhecedores da matéria pensam que os seus livros valem fortunas … só por
serem “velhos!”
Caberá
ao livreiro-antiquário munido de uma cultura acumulada e muitas vezes passada de
geração em geração ter um conhecimento mais aprofundado sobre as diversas obras
e a cotação no mercado das várias edições (e convirá dizer que nem sempre –
embora raramente – a 1ª edição será sempre a mais cotada)
Entrados
ou melhor “iniciados” nestas andanças do comércio livreiro-antiquário, convirá
definirmos o que vamos coleccionar.
Pois que para se fazer uma colecção terá de se escolher
um tema: autor / encadernador / impressor / livro ilustrado ou
não / literatura / prosa / poesia / livros de viagens (cuidado que estes costumam ser caros!)
/ livros sobre livros / etc. (os temas são inesgotáveis!).
Segue-se
a parte mais complexa: fazer uma avaliação
das nossas capacidades financeiras – quanto posso gastar por mês por exemplo.
Feito
isto, que é o básico, começar a “vasculhar” nos diversos catálogos os livros
que nos possam interessar para ter uma ideia do seu “preço normal” (se podemos
falar assim) e só depois começar a comprar.
Algumas encadernações
[ATENÇÃO:
nunca comprar um livro de que, por uma qualquer razão não se goste, pois que nos
iremos seguramente arrepender e para nos vermos livres dele será um grande
problema! (“este é um dos barretes mais frequentes e eu já enfiei alguns!”)]
Será
sempre de grande utilidade conhecer alguns livreiros-antiquários
(verdadeiramente profissionais!) que nos possam ajudar a ir construindo a nossa
colecção e aconselhando naquilo que devemos comprar primeiro ou aqueles livros
que não deveremos deixar escapar (gastámos num mês o saldo de 6 meses …
paciência! passado esse tempo voltaremos a pensar numa próxima aquisição!).
Num recanto duma livraria teremos de folhear muitos
livros
Com
o tempo chegarão a ser mesmo nossos amigos que poderão inclusive guardar-nos
alguns livros até os podermos pagar (nunca se deve perder a esperança, pois
que os “bibliófilos são todos um pouco doidos” (e eu reconheço a minha
maleita!)
Há
livros que irão aparecer muito raramente à venda e se nos interessarem devemos
arriscar (mas atenção não cair em loucuras), cada livro tem um determinado
valor, e nem todos podem ter o braço levantado até ao fim num determinado
leilão, facto que já presenciei, (poderá ser um “grande bibliófilo”, mas se
me permitem duvido da sua verdadeira vocação bibliófila, talvez seja mais um
investidor – os livros presentemente também caem nesta área)
Mais encadernações... e o trabalho prossegue.
Mas vamos ao que me propus:
sugerir um tema para uma colecção.
Vou propor como temática obras
sobre os acontecimentos históricos em
Portugal no século XIX (temática bastante abrangente e, como tal, sujeita a
várias sub-temáticas se assim quiserem).
Claro que esta opção não é alheia
ao meu gosto claramente manifestado por este século, e pelo facto de neste
blogue aparecerem muitas referências a ele, pelo que poderão ter o vosso
trabalho um pouco mais facilitado, mas a colecção será a vossa e a temática
deverá ser aquela que vocês elegerem!
Como deixei expresso nas notas introdutórias,
será com base nalguns dos catálogos que recebi recentemente que vou explorara
para vos apresentar algumas sugestões.
As obras apresentadas serão
aquelas que surgem nas páginas que vamos consultar, sem ter qualquer pretensão
a elaborar uma listagem mais detalhada (essa será a vossa tarefa se gostarem da
sugestão).
Vejam-se então essas novidades:
Livraria Luís Burnay
Da Livraria Luis Burnay
temos as Novidades Novembro 2014:
VIDAL, Manuel José Gomes de Abreu – Analyse da Sentença proferida no
juizo da Inconfidencia em 15 de Outubro de 1817 contra o Tenente General Gomes
Freire de Andrade, o Coronel Manoel Monteiro de Carvalho e outros, & c.
pelo crime d'alta traição / offerecida aos amigos da Constituição e da Verdade.
Lisboa: Na Typograhia Morandiana, 1820.- 35p., 22cm.-B [€ 48.00]
Transcreve a sentença e
acrescenta diversos comentários sobre ela e o julgamento. Raro
Mancha junto ao festo na página
de rosto.
TESTAMENTO de Junot. Lisboa: Na Impressão Regia, 1809.- 15p.;
21cm.-B. [€ 32.00]
Opúsculo anti-napoleónico, com a
transcrição de um imaginário testamento deixado por Junot. Primeira e ultima
folha com rasgões restaurados. Mancha de água antiga já desvanecida. Raro.
ANALYSE da Proclamação de Mr. Junot de 16 de Agosto de 1808 / por ***.
Coimbra: Na Real Imprensa da Universidade, 1808.- 10p.;20cm.-B [€ 40.00]
Opúsculo anónimo de acerada
crítica à declaração de Junot quando entrou em Portugal. Raro.
Colofon Livros
Na Cólofon Livros na sua montra livros da semana destaco:
4 - Campos, Fernando – O PENSAMENTO CONTRA-REVOLUCIONÁRIO EM PORTUGAL (SÉC.
XIX). Lisboa. Edição de José Fernandes Júnior. 1931-33. 2 Vol. 201 e
228págs. 22cm. E. [€ 65.00]
Obra fundamental para a compreensão do pensamento politico e
ideológico do século XIX.
Neste trabalho são tratados os seguintes autores: Marquês de Penalva,
José Agostinho de Macedo, D. Francisco Alexandre Lobo, José Acúrsio das Neves,
Joaquim de Santo Agostinho Brito França Galvão, Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Visconde de Santarém, João da Gama e Castro, António Ribeiro Saraiva, D.
António de Almeida, António Joaquim de Gouveia Pinto, Faustino José da Madre
Deus.
Exemplar em bom estado.
Encadernação meia francesa em pele (ambos os volumes encadernados em um só).
Contém dedicatória do autor nos dois volumes.
Livraria Alfarrabista Liliana Queiroz
A Livraria Alfarrabista Liliana
Queiroz colocou diversas novidades das mais variadas temáticas na sua
página online
Refiroa propósito do tema em questão:
(Ref. 5408) Joaquim Pereira
Marinho – MEMÓRIA OFFICIAL em resposta ás acusações dirigidas a SUA MAGESTADE
contra o governador geral da provincia de Cabo Verde. Ano: 1839. 1ª Edição.
Lisboa; Typografia de A.S. Coelho; In-8º de 302 páginas; Brochado. [€ 140.00]
Obra bastante rara e procurada.
Exemplar em bom estado de conservação.
(Ref. 5307) Manoel Jose Gomes
de Abreu Vidal – ANALYSE DA SENTENÇA proferida no juizo da inconfidencia em 15
de Outubro em 1817. Contra o Tenente General GOMES FREIRE DE ANDRADE...Ano:
1820. 1ª Edição
...o coronel MANOEL MONTEIRO DE CARVALHO E outros, & pelo Crime
d´Alta Traição oferecida AOS AMIGOS DA CONSTITUIÇÃO E DA VERDADE...
Lisboa; Typografia Morandiana; In-8º de 36 páginas; Encadernado. [€ 125.00]
Exemplar em bom estado de conservação.
[Já incluído na lista, mas
decidi referir este outro exemplar para se constatar como os preços variam em função do estado da obra, da procura da mesma no livreiro em questão, pela sua encadernação,etc.
Cabe-nos sempre decidir qual aqueles que gostaríamos de adquirir para
mais tarde não nos arrepender, pois nem sempre o mais caro será o melhor.
Temos de ter também em atenção do modo como estamos a formar a nossa
biblioteca – livros brochados/encadernados (encadernação da época ou não) – para obtermos uma maior uniformização da mesma
(que é na prática impossível!)]
(Ref. 5219) Ernesto Campos de
Andrada – MEMÓRIAS DO MARQUÊS DE FRONTEIRA E D'ALORNA. Ano: 1926/32 1ª
Edição. Coimbra; Imprensa da Universidade; In-8º de 5 volumes; Ilustrado;
Encadernado. [€ 250.00]
D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto.
Ditadas por êle próprio em 1861. Revistas e coordenadas por Ernesto Campos de
Andrada. Memórias de 1802 de 1853, sendo o último volume um apêndice com
documentos oficiais e particulares de 1802-1881. Cada volume contém um índice
cronológico exaustivo; um índice alfabético de nomes próprios, pessoas,
títulos, cargos, etc. e um índice das gravuras em extra texto. A publicação deste
importante trabalho histórico suscitou um justificado interesse público na sua
época. O segundo volume afirmou a obra como sendo de referência no estudo das
guerras da sucessão ao trono e do Cerco do Porto. Os factos são narrados a
partir do discurso oral do 7º Marquês da Fronteira (1802-1881), fidalgo
liberal, descendente da Marquesa da Fronteira Leonor de Almeida (literariamente
conhecida por Alcipe).
A sua narrativa testemunhal é fixada a partir de um
discurso oral directo, e os episódios são vivos e pitorescos, permitindo ao
leitor uma imagem bem contextualizada da sua época. A revisão e coordenação foi
feita pelo Dr. Campos de Andrada (1882-1943), considerado um investigador
apaixonado e meticuloso e quem acrescentou gravuras que aumentaram o valor documental
da obra. Edição completa com os volumes de memórias publicados entre 1926 e
1931 e o volume de apêndice publicado em 1932.
Exemplares com encadernações da
época em pele com ferros a ouro na lombada, pastas e seixas um pouco cansadas.
Com vestigios de traça já devidamente tratada. Bons exemplares.
Candelabro – Livraria Alfarrabista
E já agora vamos espreitar a Candelabro – Livraria Alfarrabista.
Aí encontrei algumas obras
curiosas:
2418.
ARRIAGA (JOSÉ D') - HISTORIA DA
REVOLUÇÃO DE SETEMBRO. Lisboa. Typ. da Companhia Nacional Editora. S/ d [1892?]. 3 vols. In-4º de
XVI--726-II + 547-IV + 689-III págs. Enc. [€ 180.00]
Obra de referência, escrita no seguimento da anterior "Historia
da revolução Portugueza de 1829".
Curioso o facto, contado por José d'Arriaga, de a publicação deste
livro ter tido a ajuda de Teófilo Braga e Ramalho Ortigão.
Encadernações antigas com lombada em pele, decorada com ferros e
dizeres a ouro. Não conserva as capas de brochura.
Conjunto em bom estado de conservação, com algumas falhas próprias da
idade da obra; o 3º volume tem uma ínfima falha no canto inferior direito da
pasta.
De invulgar aparecimento no mercado alfarrabista.
4133. DISCURSOS PARLAMENTARES
DOS PRINCIPAES ORADORES PORTUGUEZES DAS CONSTITUINTES DE 1821. Discursos
parlamentares de Borges Carneiro, Fernandes Thomaz, Ferreira Borges, Garrett,
José Estevão, Passos Manuel, etc. VOL I [e único]. Porto. Escriptorio da
Empreza. 1878. In-8º de 239 págs. Enc. [€ 50.00]
Título publicado na série "Bibliotheca Modelos de
Eloquencia"; apenas foram editados, ao que julgamos, 2 números
independentes entre si.
Neste 1º volume, os parlamentares são: Manuel Borges Carneiro, Manuel
Fernandes Thomaz, Bento Pereira do Carmo e Agostinho José Freire.
Num 2º volume, que não chegou a sair do prelo, eram os seguintes os
parlamentares previstos: Ferreira Borges, Garrett, José Estevão e Passos
Manuel.
Excelente encadernação com lombada e cantos em pele, conservando as
capas da brochura. Aparado e carminado à cabeça.
Exemplar em razoável estado de conservação; a capa anterior da
brochura tem profundos restauros, antigas assinaturas de posse no rosto e
anterrosto, papel algo amarelecido pelo tempo. A encadernação é de recente
execução.
INVULGAR.
2897. FIGUEIREDO (ALPHONSE DE)
- Le Portugal. Considérations sur l'état de l'administration, des
finances, de l'industrie et du commerce de ce royaume. Éditeur - François Lallemant. LISBONNE.
Imprimerie Franco-Portugaise. 1866. In-8º de 268 págs. Enc. [€ 100.00]
Obra muito importante para o conhecimento da realidade económica de
Portugal no século XIX. Documentado com vários quadros estatísticos: Habitantes
por distritos, Organização judiciária, Organização eclesiástica, Organização
militar, fronteiras existentes, trocas comerciais com os Estados Unidos,
Holanda, etc, etc.
Encadernação antiga com bonita lombada em chagrin.
Exemplar em bom estado de conservação, com alguns picos de acidez. Não
conserva as capas de brochura.
Raro.
5639. GOMES (MARQUES) [JOÃO
AUGUSTO] - LUCTAS CASEIRAS. PORTUGAL DE 1834 A 1851. Tomo I [e único publicado]. Lisboa. Imprensa Nacional. 1894. In-4º
de CLXXVI-630 págs. Enc. [€ 100.00]
Obra importante para o estudo das Guerras Miguelistas.
Elegante encadernação com larga lombada em pele.
Bom exemplar; conserva as capas das brochuras e está só ligeiramente
aparado à cabeça. Capa anterior da brochura com algumas manchas e antiga
assinatura de posse no frontispício.
INVULGAR.
Escolhi esta temática por alguns
destes livros aparecerem bastantes no mercado bibliófilo, ser excelente porque
obriga a “vasculhar” muito bem qualquer livraria tanto virtual, mas sobretudo física
e podermos encontrar exemplares ainda a preços relativamente acessíveis.
Escolhidos os livros resta-nos
transportá-los cuidadosamente para os arrumar nas prateleiras da nossa
biblioteca.
Depois é o prazer da os vermos,
sentirmos, consultá-los e muitas vezes falarmos deles com os nossos amigos.
Escolhidos os livros resta-nos transportá-los
cuidadosamente
A colecção atingiu um dos seus objectivos primordiais - a
aquisição, mas para mim, o mais importante será o aprofundar do estudo desse
mesmo exemplar (desconheceremos sempre um qualquer pequeno pormenor por maiores conhecedores
que sejamos….)
Claro que cada um terá a sua
opinião… esta é simplesmente uma mera sugestão,
Saudações bibliófilas e boas
leituras.
7 comentários:
Rui, já faz um bom tempo que não comento em seu blog, embora sempre o leia, mas seu texto despertou meu desejo de contribuir com um ou dois pensamentos.
A definição de um ou mais temas para se colecionar é fundamental, mas não tem como ser feita sem levar em consideração os aspectos financeiros, como você tão bem expôs. Mas, especialmente no Brasil, há um outro fator limitador: a existência de livros a serem adquiridos. Existem diversas áreas em que não se encontram os livros em qualquer preço que seja. Dou-lhe um exemplo. São e foram muito populares as histórias infantis escritas por Monteiro Lobato, que se passavam no Sítio do Picapau Amarelo. O colecionador que desejar comprar primeiras edições dos primeiros livros com os personagens do Sítio irá descobrir que esses livros não se encontram para venda, sob nenhum preço. A primeira edição de Reinações de Narizinho é de 1931 - o exemplar mais antigo à venda na estante virtual é de 1947; a primeira de Caçadas de Pedrinho é de 1933 - o exemplar mais antigo à venda é a sexta edição de 1944; e por aí vai...
Outro critério para definição da coleção é aquilo que eu sinto como um tipo de valorização dos livros por estarem juntos. Não sei se serei capaz de exprimir o sentimento por trás dessa percepção, mas se assemelha à sensação de que os livros "pertencem" um a outro, ou tiveram o seu alcance e relevância realçados por estarem juntos e, dessa forma, contarem uma história, representarem uma época, não nos permitirem esquecer de algo.
Enfim, são essas as ideias de um pobre amador.
Abraços de além-mar.
Angelo,
Obrigado pelo seu contributo, mas sobretudo pela sua amizade e paciência em me ler.
O meu apontamento como sempre é bastante generalista, pelo que peca por várias omissões. Tentei com, ele demonstrar, que mesmo em tempos de crise como aqueles em que vivemos, poderemos continuar a manter a nossa paixão bibliófila pois há temas que o permitem ainda que com maior ou menor dificuldade para cada um de nós. (ainda que este tema proposto seja muito perigoso, pois tem alguns livros muito caros!)
Tocou num tema que me é muito querido: os livros da chamada literatura infantil!
Estes são sempre raros em qualquer parte do mundo (repara num dos catálogos que ambos muito apreciamos – o da Bauman Rare Books – e confirme que os seus preços são sempre muito elevados quase ao nível dos autores/obras clássicas).
Porquê?
A quem se destinavam os livros? Às crianças/jovens! Que se tinham hábitos de leitura – e nessa época ainda se lia – liam-nos sem cuidados especiais e na maioria das vezes sem elevada estima pelo exemplar e, felizmente, partilhavam-nos com os amigos! (muitos deles ficavam rapidamente degradados)
Cresciam e alguns mudavam-se de casa … e os livros iam-se perdendo, depois vinham as limpezas das garagens/sótãos e lá iam mais uns tantos sacos com papéis para o lixo! (e dentro alguns destes belos exemplares!).
Isto passou-se um pouco por toda a parte – inclusive comigo: perdi muitos dos meus primeiros livros e não os consegui voltar a encontrar mesmo no mercado alfarrabista (e já os procuro há anos).
Quanto ao Brasil penso que devemos considerar dois outros aspectos: a alfabetização não era muito elevada nesse período (pelo que penso que as tiragens não seriam muito elevadas) e o clima tropical é um grande inimigo dos livros (as impressões tradicionalmente não eram feitas em papéis de luxo/grande qualidade).
Como Monteiro Lobato foi um autor muito popular os seus livros eram “mesmo lidos e circulados” daí que poucos dos primeiros tenham “sobrevivido” …este é o meu ponto de vista de observador externo mas interessado.
Sobre este assunto ainda atente num pequeno pormenor: marcas de xilófagos ou marcas de acidez do papel são frequentemente “esquecidas” nas descrições dos lotes num catálogo de venda a preço fixo ou de leilão tal a sua frequência no Brasil (enquanto que na Europa/USA isso seria quase que um crime!)
Por outro lado também me parece não haver um grande mercado para a literatura infantil pelo que a procura não será grande (aliás já coloquei esta mesma questão a um prezado amigo livreiro-antiquário mas que não me soube responder,…)
Mas atenção que há outros livros cujos exemplares se contem pelos dedos de uma mão!
Um forte abraço de amizade.
(é sempre um prazer dialogar consigo)
Bom domingo para si e a sua família.
Rui, correto o seu pensamento em todos os aspectos.
Realmente é sempre possível colecionar sem precisar gastar muito dinheiro, mas isso sempre significará que não se pode colecionar qualquer área que se deseje em abstrato. Há que se definir de olho na disponibilidade de livros e em seus preços.
Agrada-me muito também os livros infantis e infanto-juvenis, o que também começou com o resgate de algumas obras que li em minha infância. Mais uma vez nossos gostos parecem coincidir. Pelo menos, no apreço pelos livros do universo enxadrístico e de ficção científica, acho que não tenho a sua companhia. Parece ser uma regra quase universal que aqueles que se interessam por colecionar livros infantis tenham começado pela tentativa de resgate da própria infância. É aspecto da biliofilia com claras facetas psicológicas.
Você está certo em apontar a falta de conservação dos livros infantis, o problema do clima tropical brasileiro, as pequenas tiragens e o descaso com a descrição de importantes aspectos de conservação dos livros postos à venda. Mas, depois de muito tentar entender o que se passa aqui, penso que há um outro fenômeno.
Enfim, são pensamentos solitários meus e não sei se guardam alguma veracidade, contudo tenho a teoria de que a incipiente cultura de bibliofilia no Brasil faz com que haja poucos vendedores especializados em livros raros, sendo a maior parte dos exemplares oferecidos por livreiros generalistas que vendem livros usados em geral. Como esses vendedores de livros colocam preço em livros raros que recebem? Eles o fazem consultando a estante virtual e verificando quanto outras lojas cobram pelo mesmo livro. Isso produz um curiosíssimo fenômeno brasileiro: o livro raro custa caro e o raríssimo, quando se tem a sorte de encontrar, pode ser comprado a preço de banana porque o vendedor não encontrou qualquer critério para colocar preço. Isso também faz com que livreiros diversos tenham preços semelhantes para o mesmo livro raro, sem que se consiga perceber qualquer sentido lógico em razão da procura/raridade.
Permita-me exemplificar com algo pessoal. Veja que a edição em português mais antiga de Alice no País das Maravilhas à venda na estante virtual é de 1950. Eu tenho a primeira edição em português, de 1931, e a primeira a conter ilustrações brasileiras, de 1934. A primeira eu comprei cinco dias após ser anunciada e a segunda no dia seguinte à sua inclusão no site. Gastei nas duas somadas menos de 35 euros. E isso não é algo excepcional por aqui, mas, ao revés, acontece o tempo todo: o livro raríssimo oferecido por preços mais baixos que os ofertados ao livro raro.
Abraços de além-mar,
Angelo
Angelo,
Vai-me desculpar, mas estou em desacordo – também leio ficção cientifica embora não seja a minha temática favorita.
Não se esqueça que pela minha idade fiquei muito marcado pelo neo-realismo e o existencialismo! (tanto na literatura como no cinema)
A Última Fome (The Death of Grass) de John Christopher, e A Guerra dos Mundos de H.G. Wells (para além dos clássicos de George Orwell e Aldous Huxley entre outros), são duas obras que fazem parte do meu universo literário (como já disse várias vezes sou mais do que um bibliófilo um bibliómano inveterado e irrecuperável!)
Aconselho-lhe vivamente o primeiro – o que o Homem é capaz de fazer para garantir a sua sobrevivência.
Um abraço amigo
Obrigado pela indicação, Rui. Não conhecia essa obra.
Abraços,
Angelo
Rui, muito obrigado por compartilhar teus conhecimentos e as indicações oferecidas, inclusive de livrarias. Sou brasileiro, e como o Angelo tenho dificuldades em adquirir livros no Brasil, meu interesse é por livros e revistas publicadas no Amazonas no século 19 até metade do 20. Aproveito para lhe pedir a gentileza de me indicar livrarias portuguesas que talvez possam ter este material.
Ao Angelo posso dizer que essas primeiras edições do Lobato costumam aparecer com alguma frequência em leilões no Brasil, tenho-as visto sempre.
Cordiais abraços ¶ Rômulo
Obrigado pelo seu comentário.
Sobre esta temática sugeria-lhe que pesquisasse em:
RICHARD C. RAMER
Rua do Século, 107
Apartamento 4
1200-434 Lisboa PORTUGAL
Telephones (351) 21 346 0938 and 21 346 0947
Fax (351) 21 346 7441
E-mail: lx@livroraro.com
(tem muito material de e sobre o Brasil)
Livraria Artes e Letras
http://www.arteseletras.com.pt/index.php
Livraria Luis Burnay
http://www.livrarialuisburnay.pt/
mas tem muitas outras para se “distrair”…estas são aquelas onde já vi alguns exemplares.
Boa sorte.
Um abraço.
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