"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Livraria Manuel Ferreira – 97º Catálogo de Livros


A Livraria Manuel Ferreira localizada na Rua Dr. Alves da Veiga, 89 no Porto acabou de editar o seu 97.º Catálogo de Livros para venda.


Montra de livros

Penso que melhor que ninguém, a nota que acompanha a distribuição da versão pdf deste mesmo catálogo, nos dá uma imagem bem elucidativa do seu conteúdo.



Senão vejamos:

Nas edições setecentista e de importância para a História do Brasil e de Portugal temos:



33658 - INSTITUIÇAÕ // DA // COMPANHIA GERAL // DE // PERNAMBUCO, // E PARAÍBA. // [Gravura em madeira] // LISBOA, // Na Officina de MIGUEL RODRIGUES, // Impressor do Eminentissimo Senhor Cardial Patriarca. // M. DCC.LIX. In-4.º gr. de 30-II págs. B. [125 €]

Instrumento legal de magna importância para a implementação das reformas Pombalinas que tiveram como objectivo a reafirmação do comércio exclusivo das Colónias com Portugal, a repressão do contrabando e o desenvolvimento da agricultura, do comércio e da indústria.

Com interesse para o estudo das relações comerciais dos “Homens de negocios das Praças de Lisboa, do Porto, e de Pernambuco”. Documento datado de 30 de Julho de 1759, a que se segue, em duas páginas inums., o Alvará Real confirmando aqueles Estatutos.

Com uma elegante e grande xilogravura com as armas reais estampada no frontispício.



32982 - TASSO (Torquato).- LA // GERVSALEMME LIBERATA // DI // TORQVATO TASSO // Con la Vita di, lui e con gli // Argomenti dell’opera // DEL CAV: GVIDO CASONI. // All Ill.mo Sig:r Gio: Soranzo // dell’Ill.mo et Ccc.mo S.r Lorenzo. //In Venetta dal Sarzina con licenza de Superiori, e Priuilegio 1625. In-4.º de II-XXII-255-I págs. E. [1500 €]

Um dos mais célebres poemas épicos da literatura europeia, nesta edição dada à estampa nas célebres e muito prestigiadas oficinas Sarzina com 20 preciosas gravuras de Francesco e de Giacomo Valegio.

Com grande repercussão na sua época, este Poema relata a Primeira Cruzada proclamada pelo Papa Urbano II, com o objectivo de auxiliar os cristãos ortodoxos a libertar a Terra Santa. Obra de elevada importância histórica, literária, geográfica e emblemática, nesta edição importante documento tipográfico.

Os dizeres do frontispício fazem parte integrante de uma bela e muito elaborada gravura primorosamente aberta a buril em chapa de cobre.

Encadernação contemporânea de pele inteira. Com falta das págs. 63 a 66; 115 a 116 e 125 a 128.

Nas edições seiscentistas temos:



7844 - LOCKE (John).- DE // INTELLECTU // HUMANO. // In Quatuor Libris. // Authore JOHANNE LOCKIO Armigero. // Editio Quarta Aucta & Emendata, & nunc primum // Latine reddita. // [...] // LONDINI: // Impensis Aunshami & Johan. Churchil, and Insigne Nigri Cyoni, in vico // vulgò dicto Pater-Noster-Row. MDCCI. In-fólio de XXVI-317 págs. [com erros de numeração]. E. [500 €]

Primeira edição latina do importantíssimo Ensaio sobre o Entendimento Humano, a mais notável obra de John Locke, um dos mais reputados filósofos ingleses de todos os tempos, que, para além desta, deixou outras obras de grande notoriedade, que influíram “de uma maneira decisiva nos filósofos do séc. XVIII, tendo feito um grande eco no pensamento, por exemplo, de J. J. Rousseau”, como se lê na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Diz-se no Diccionário de Autores de Gonzáles Porto-Bompiani que o autor, nesta obra, trabalhou “a lo largo de casi veinte años. Como idea básica, defiende en la misma la dependencia absoluta en que se halla el conocimiento humano respecto a la experiencia: se trata, pues, del primer principio del empirismo, del que L. es considerado justamente el representante más ilustre de la edad moderna”.

Com um bom retrato do autor aberto a buril em chapa de cobre.
Encadernação da época, inteira de carneira.

Nas edições quinhentistas temos:



33662 - ARRAIS (Amador).- DIALOGOS // DE DOM FREI // AMADOR ARRAIZ // BISPO DE POR- // TALEGRE. // [gravura com as armas de Frei Amador Arraiz] // EM COIMBRA. // Em casa de Antonio de Mariz, Impressor. // Anno de 1589. // Com licença do sancto Officio, e do Ordinario. // COM PRIVILEGIO REAL. In-4.º de II-300-[301 a 315 manuscritas]. E. [2000 €]

Edição princeps de um dos muito raros e apreciados clássicos da literatura portuguesa, cuidadosamente impresso sobre papel de linho de escolhida qualidade.
Com falta das últimas 8 folhas que compreendem a edição, tendo no entanto em sua substituição 15, manuscritas com o texto em falta. No início deste grupo de folhas manuscritas vem a seguinte nota: “(Estas paginas, foram copiadas pela mão do Cardeal Saraiva, a quem pertenceu este livro)”.

Bonita encadernação da época em carneira, decorada a ouro na lombada e pastas. Com o Ex-libris de H. de Araújo Lima. Restauros marginais nas duas primeiras folhas e com uma anotação no frontispício, do punho da nota acima referida, assinada P. Bar [?] Correia. Ponte do Lima, quediz: “Este livro pertenceu a D. Frei Francisco de S. Luis, Cardeal Saraiva, Patriarca de Lisboa”.



EXEMPLAR QUE PERTENCEU A D. FREI FRANCISCO DE SÃO LUÍS SARAIVA, POPULARMENTE CONHECIDO COMO CARDEAL SARAIVA - OITAVO PATRIARCA DE LISBOA.

D. Frei Francisco de São Luís Saraiva, natural de Ponte de Lima, nasceu em 1766, tendo vindo a falecer em 1845. Adepto dos ideais liberais tornou-se mação (adoptando o pseudónimo ‘Condorcet’). Posteriormente integrou a associação secreta portuense ‘Sinédrio’. Em 1822 foi nomeado Bispo de Coimbra e Conde de Arganil. Foi Reitor da Universidade de Coimbra e deputado às Cortes de 1823. Resignou ao episcopado em 1824. Ocupou o cargo de presidente da Câmara dos Deputados logo após a aprovação da Carta Constitucional de 1826. Durante o regime Miguelista refugiou-se no Mosteiro da Serra de Ossa, de onde saiu em 1833, ano em que foi nomeado administrador apostólico da Diocese de Portalegre. Por influência de D. Maria II foi feito Patriarca de Lisboa e mais tarde, em 1843 o Papa Gregório XVI elevou-o ao cardinalato sem que, contudo, tivesse recebido pessoalmente o título e o barrete cardinalício.

Refere por fim nos manuscritos:



33208 - CIERA (Miguel António).- Michaelis Antonii Cierae / In Regali Olisiponensi Collegio / Studiorum Praefecti / Oratio // habita XIV Cal. April. / Coram // JOSEPHO I. / Lusitanorum Rege / Fidelissimo / Cum primum nobiles Adolescentes / Studiorum retionem ingredderentur / Anno 1766. / Sebastiano Josepho / Carvalio Melio / Comiti Oeyrensi / Regis Fidelissimi Consiliario / arque Antonius Ciera. Dim. 15 x 19,5 cm. 12 ff. inums. B. [150 €]

EXEMPLAR PROVAVELMENTE MANUSCRITO PELO PUNHO DO AUTOR, DO DISCURSO INAUGURAL PROFERIDO EM 19 DE MARÇO DE 1766, POR OCASIÃO DA SUA INTEGRAÇÃO NO CORPO DOCENTE DO COLÉGIO DOS NOBRES.

Miguel Ciera, italiano natural do Piemonte de quem Inocêncio se ocupa, foi: “Encarregado pelo governo portuguez, juntamente com outro mathematico italiano, João Angelo Brunelli da demarcação topographica dos limites das possessões portuguezas na America meridional, voltou para Lisboa finda aquella commissão, e foi empregado no ensino das mathematicas, primeiro no Colegio real dos Nobres, e depois na Universidade de Coimbra por occasião da reforma em 1772; Pelas portarias do marquez de Pombal de 3 e 7 de outubro de 1772, foi-lhe mandado conferir o grau de doutor para ser encorporado na universidade de Coimbra e na faculdade de mathematica.”

Espero que tenha despertado a vossa curiosidade para este interessante acervo de obras na temática do livro-antigo.

Saudações bibliófilas.

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