Bauman Rare Books
Catalogue november holiday 2012
Acabou de ser editado mais um dos muito apreciados catálogos da Bauman Rare Books: Catalogue november holiday 2012.
Este apresenta-nos um dos livros míticos da história do livro e da bibliofilia: o Liber chronicarum (Crónica de Nuremberg). Só pela inclusão desta obra o catálogo mereceria a nossa atenção.
No entanto, muitas outras obras de inegável interesse estão nele incluídas. Cito apenas, pelo seu bom estado de conservação em brochura, Madame Bovary de Gustave Flaubert.
Gustave Flaubert
Manuscrito de Madame Bovary
Aparecem com alguma frequência exemplares em encadernações de diversos tipos – umas mais luxosas outras mais modestas, algumas assinadas por grandes mestres da encadernação enquanto outras foram executadas por artistas mais modestos, mas em estado de brochura como este exemplar são efectivamente muito raros.
Como exemplo de uma encadernação excepcional, ainda que não se trate duma 1ª edição, repare-se neste exemplar posto à venda por Daniel Bayard – Livre luxe book.
FLAUBERT, Gustave – Madame Bovary. Plein maroquin de Engel Eau fortes Fourié.
Madame Bovary, reliure plein maroquin doublé et entièrement doré de motifs aux petits fers. Collection les chefs d'oeuvres du roman contemporain paru chez Quentin. Exemplaire à la reliure exceptionnelle.
Madame Bovary, reliure plein maroquin doublé et entièrement doré de motifs aux petits fers. Collection les chefs d'oeuvres du roman contemporain paru chez Quentin. Exemplaire à la reliure exceptionnelle.
Mas deixemos mais esta divagação e veja-se então o livro da Bauman Rare Books.
37. FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. Moeurs de Province. Paris, 1857. Two volumes. Thick 12mo, original printed pale green paper wrappers, glassine, custom half morocco chemises and morocco-edged slipcases.
Rare first edition, first issue in book form, of Flaubert’s literary masterpiece, “the definitive model of the novel” (Émile Zola) and the work that “ushered the age of realism into modern European literature,” in exceptionally rare original wrappers. A beautiful copy.
Upon publication of Madame Bovary, both Flaubert and his publisher were brought to trial on charges of immorality and narrowly escaped conviction (the same tribunal found Charles Baudelaire guilty on the same charge six months later). Although purportedly based in part on the circumstances of Flaubert’s friend Louise Pradier, the author’s claim that “Madame Bovary is myself,” with his unrelenting objectivity and deep compassion for his characters, earned him a reputation as the great master of the Realist school of French literature. Flaubert’s attention to minute particulars of description and his belief in “le mot juste” significantly influenced later writers and thinkers, making Madame Bovary integral to the evolution of modern literature. First serialized in
La Revue de Paris in October and December of 1856, this is the first issue in book form, with misspelling of “Senard” as “Senart” on dedication page. With both half titles; bound without publisher’s advertisements. Text in French. Armorial bookplate of William M. Fitzhugh, the renowned book collector, laid in. Small closed tear to rear wrapper and glassine of Volume I and mild toning to spines. A superb copy in about-fine condition, exceedingly rare in fragile original wrappers.
Mas voltando ao tema da nossa conversa – o Liber chronicarum e vejamos um pouco da sua história.
O Liber chronicarum, uma história universal compilada de fontes mais antigas e contemporâneas, pelo médico de Nuremberg, humanista e bibliófilo Hartmann Schedel (1440-1514), é um dos mais densamente ilustrados e tecnicamente avançados trabalhos dos primórdios da impressão. Ele contém 1.809 gravuras produzidas por meio de 645 blocos. O empresário de Nuremberg, Sebald Schreyer, e seu cunhado, Sebastião Kammermeister, financiaram a produção do livro. Michael Wolgemut e seu genro, Wilhelm Pleydenwurff, executaram as ilustrações por volta de 1490, época em que a sua oficina tipográfica atingia o seu apogeu artístico, e o jovem Albrecht Dürer acabara de completar, ali, a sua aprendizagem. As vistas das cidades, algumas autênticas, outras inventadas ou copiadas de modelos mais antigos, são de interesse tanto artístico como topográfico.
Xilogravura, colorida à mão, da Crônica de Nuremberg, representação de Deus criando o mundo.
Erfurt, capital do estado livre da Turíngia, Alemanha.
Cidade de Mainz, Alemanha.
A imagem impressa mais antiga de Jerusalém.
Simon von Trient (ou Simeão de Trento) - acusações falsas antisemitas
Esta outra cópia da Biblioteca Mundial Digital brilhantemente colorida, da qual Schedel era proprietário, contém materiais adicionais de grande valia, tais como o mapa de Erhard Etzlaub da estrada para Roma.
Junto com a parte restante da biblioteca de Schedel, o livro tornou-se parte integrante da biblioteca de Johann Jacob Fugger, a qual passaria para a posse do Duque Albrecht V, da Baviera, em 1571.
Refira-se ainda a propósito do seu interesse bibliófilo esta notícia incluída na Folha de S. Paulo de 4 de Maio de 2011.
Folha de S. Paulo
Primeira edição da Crônica de Nuremberg será leiloada em Londres
Londres, 4 mai (EFE).- A primeira edição de um dos incunábulos, primeiros textos impressos da história, a Crônica de Nuremberg, impressa em julho de 1493, será leiloada em Bonhams em Londres, no dia 7 de junho.
A obra, conhecida em latim como "Liber chronicarum", é o maior livro ilustrado da época e conta a história do mundo, dividindo-a em sete momentos, com mais de 1800 gravuras em madeira, que incluem mapas e panoramas das cidades europeias.
Escrito em latim por Hartmann Schedel e com ilustrações do artista e gravador Michael Wolgemut, foi impresso em Nuremberg por Anton Koberger, um empresário com casas de impressão em toda Europa.
Seu afilhado, o famoso Albrecht Durer, trabalhou como aprendiz com Wolgemut entre 1486 e 1489, quando se encarregou da obra.
Dos cerca de 1,5 mil exemplares impressos da edição latina da Crônica de Nuremberg acredita-se que 400 delas sobreviveram.
A versão em alemão foi impressa em dezembro de 1493, da qual existem 300 exemplares.
O preço estimado do incunábulo é avaliado pela casa de leilões entre 28 mil euros e 34 mil euros.
Este exemplar foi colocado em leilão em 8 de Junho de 2011 pela Sotheby’s e vendido como se pode verificar abaixo:
No entanto, em 11 de Fevereiro de 2010 outra conceituada empresa leiloeira Heritage Auctions - HA.com colocou um outro bom exemplar em praça:
A Very Tall Copy in a Near Contemporary German Binding of the First Edition of the Nuremberg ChronicleHartmann Schedel. Liber chronicarum. Nuremberg: Anton Koberger for Sebald Schreyer and Sebastian Kammermeister, 12 July 1493.
First edition of the Nuremberg Chronicle, preceding the German language edition (23 December 1493) by just over five months. Large folio (18.5625 x 13 inches; 472 x 331 mm). 327 (of 328) leaves ([20], CCXCIX, [1], [2, blank], [5] leaves). Complete with final blank leaves but without the blank leaf following the De Sarmacia. This copy contains the three numbered leaves CCLVIIII, CCLX, and CCLXI, blank except for headlines, and the five additional unnumbered leaves (bound at the end) containing the description of Poland, De Sarmacia regione, and the laudatory verse on Maximilian. Gothic type, sixty-four lines plus headline. Table and parts of the text in double columns. Woodcut title and 1,809 woodcut illustrations, of which 1,164 are repeats, from 645 blocks (Sydney Cockerell's count in Some German Woodcuts of the Fifteenth Century (Hammersmith: Kelmscott Press, 1897), pp. 35-36) by Michael Wolgemut, Wilhelm Pleydenwurff, and their workshop, including (supposedly) the young Albrecht Dürer, including double-page maps of the world and of Europe. The portrait of Pope Joan ("Johannes Septimus," verso of leaf CLXIX), usually missing, is present and unmutilated. The verso of leaf CCLVII and the recto of leaf CCLVIII are in an early state, with most uppercase A's omitted (Koberger evidently ran out of this sort and printed about a quarter of this form before resupplying it). Two- and three-line pearled Lombard initials, seven- to fourteen-line capital spaces. Four- to eight-line pearled Lombard initials supplied in red in the Table, that on fol. [14] with black tracery. Rubricated through fol. XXXVI and on fols. XLIII and XLIV, in a additional few places. With early hand-coloring to some of the woodcuts.
Early sixteenth-century German blindstamped pigskin over wooden boards, expertly rebacked with the original spine laid down. One of two clasps. Early leather label on front cover lettered in manuscript in red and black mentioning the names of Ferdinand and Maximilian (Kaiser Ferdinand III and his son Kaiser Maximilian I?) and dated 1534. Title professionally strengthened and with a few repairs at outer margin, lower corner of fol. CCXXV renewed, just touching corner of woodcut on verso, several leaves with marginal tears or repairs, a few corners torn away, fols. XCVIII and XCIX remargined and probably supplied. Occasional staining and browning, marginal dampstaining to a few leaves at the beginning, occasional minor worming in the gutter and additional minor marginal worming at the end. Ink stamp of Ch. Favet and early ink ownership inscription at foot of preliminary leaf [2] and in a few other places in the text, a few early ink marginalia. Overall, a very tall copy in a wonderful near contemporary binding.
The most extensively illustrated book of the fifteenth century. The artists, Michael Wolgemut, the well-known teacher of Albrecht Dürer, and his stepson, Wilhelm Pleydenwurff, are mentioned in the colophon. The woodcuts comprise religious subjects from the Old and New Testament, classical and medieval history, and a large series of city views (including Augsburg, Bamberg, Basel, Cologne, Nuremberg, Rome, Ulm, Vienna), as well as a double-page map of Europe (fols. CCXCIX-[CCC]) and a large Ptolemaic world map (fols. XII-XIII). The text is a year-by-year account of notable events in world history from the creation down to the year of publication, including the invention of printing at Mainz, the exploration of the Atlantic and of Africa, as well as references to the game of chess, and to medical curiosities, including what is believed to be the first depiction of Siamese twins. The passage relating to the alleged discovery of America in 1483 written by Martin Behaim and Jacobus Canus appears on the verso of leaf CCXC.
BMC II, p. 437. Fairfax Murray, German, 394. Goff S-307. Hain *14508. Harrisse 13. Polain 3469. Proctor 2084*. Sabin 77523. Schreiber 5203. Updike, Printing Types, I, p. 65.
No entanto, este acabaria por não ser vendido como se poderá ver aqui.
Na posse destas notas apreciemos então o exemplar que nos é oferecido pela Bauman Rare Books.
Nuremberg chronicle, 1493
A Superb And Most Rare Hand-Colored Copy: A Landmark In The History Of Printing, And One Of The Greatest Illustrated Books Ever Published, 1493 First Edition Of The Monumental “Nuremberg Chronicle,” In Splendid Contemporary Tooled Binding, Each Illustration With Vivid Original Hand-Coloring.
Espero que desfrutem ao máximo deste belo catálogo e que o vosso entusiasmo pelo estudo da história do livro bem como pela sua beleza como objecto cultural e de arte nunca desmoreça.
Saudações bibliófilas.
3 comentários:
Todo un placer ver estas subastas de obras de primera división.
Como anécdota te contaré que un dia en mi vida, pude ver y tocar dos ejemplares del Chronicarum en dos sitios diferentes... no me lo podía creer porque no lo hubiera soñado nunca!
Rui, lindos livros esses que apresenta, embora me assuste um pouco quando nem mesmo a Bauman ousa estampar o preço deste Liber Chronicarum.
Abraços.
De facto é uma obra notável.
Imagino o prazer que o Galderich terá "sentido" por esta obra quando teve o privilégio de a ver!
(e ainda dois exemplares diferentes!)
Angelo já deverá ter reparado que este tipo de livros - os incunábulos - estão com uma acentuada quebra de preço no mercado bibliófilo na últma década, pelo menos.
Facto que poderá analisar mais em pormenor, se ainda não tiver lido, no link para "Essais sur la Vente Publique des Livres Anciens" (ebibliophilie).
Penso que não será uma venda muito fácil...
(veja-se o preço por que foi vendido em 2011 no leilão da Sotheby's)
Por outro lado encontramos livros modernos com preços que nos levam a questionar-nos sobre a "sanidade mental" do mercado actual.
Um forte abraço para vocês.
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