Contrariando um pouco aquilo que
já aqui disse e escrevi – o prazer de visitar uma livraria e trocar impressões
com o seu proprietário é sempre um momento inesquecível e fundamental na
formação da nossa cultura bibliófila – hoje vou dar início a um conjunto de
artigos (não forçosamente seriados nem seguindo uma ordem ou critério
pré-definido) de “visitas virtuais” a algumas livrarias que constam da minha
listagem.
O bibliófilo no seu recanto…
Abri ao acaso a página da Livraria Castro e Silva e deparou-se-me
logo uma obra de ornitologia que me fascinou – o meu eterno prazer de observar
as aves!
HISTORIA NATURAL DE DIFFERENTES
PASSAROS. [FIELD STUDY ON THE BIRDS OF BRAZIL] Traduzida do Francez.
S/L. [Brazil] 1856. In 4º (de 24x21 cm) com [vi], 83, [vi] pags. [€40.000]
Encadernação artística da época
inteira de pele com finos ferros a ouro na lombada e nas pastas. Cortes das folhas douradas.
Fechos de metal na dianteira das pastas.
Profusamente ilustrado com 87
desenhos de pássaros coloridos manualmente sobre 27 folhas papel de desenho
muito alvo e de elevada espessura, encontrando-se protegidas por folhas de
papel vegetal intercaladas. Texto redigido em belíssima caligrafia a uma só mão
firme e regular, ocupando todo o espaço das folhas de papel muito fino e de
elevada qualidade. O texto acompanha a sequência dos desenhos, abrindo a obra
com desenhos e antecedido de uma portada com um ramo de flores (rosas,
crisântemos e cravos).
Exemplar único e de autor /
desenhador anónimo, apresentando 2 ex-libris (de Joseph-Batlle; e do Barão de
Vasconcellos, um aristocrata brasileiro de origem portuguesa).
A obra contém um estudo – baseado
provavelmente na obra francesa de Buffon, Histoire Naturelle de Differents
Oiseaux – pronto para edição que incide sobre os pássaros do Brasil. Supõe-se
que seria este um protótipo da obra encomendada pelo Imperador D. Pedro II para
ilustrar a história natural dos pássaros brasileiros de forma a encontrar uma
alternativa aos trabalhos de campo estrangeiros publicados sobre a ornitologia
brasileira.
This ornithological field work contains a
study - probably based on the French work of Buffon, Histoire Naturelle des
Differents Oiseaux - a ready for editing original focusing on the birds of
Brazil.
This is manuscript might have
been the prototype of the work commissioned by Emperor Dom Pedro II to
illustrate the natural history of the birds in order to find an alternative to
foreign works published on the Brazilian field ornithology.
Single copy from an anonymous
designer, with 2 ex - libris (of Joseph – Batlle; and of the Baron de
Vasconcellos, a Brazilian aristocrat of Portuguese origin).
Binding: contemporary full calf
artistically gilt at folders. Cuts of leaves gilt at edges. Metal clasps on the
front of the folders.
Profusely illustrated with 87
hand colored specimen of Brazilian birds in 29 plates.
Text written in beautiful calligraphy
in one firm and steady hand, occupying the entire space of very thin sheets of
paper and high quality . The text accompanying the sequence of drawings,
opening the book with drawings and preceded by a colorful painting of a bunch
of flowers (roses, carnations and chrysanthemums).
Referência: 1402NM022
Sobre Espanha encontramos alguns livros de que também dou aqui notícia
LOCKER, Edward Hawke – VIEWS in
SPAIN By… Esq. F. R. S. [C. Hullmandel’s Lythography] London: John
Murray, 1824. In folio (29x23 cm). Col: [14], 120 pags. [€12.000]
Encadernação inteira de pele do
século xx (assinada pelo mestre encadernador Frederico de Almeida) com nervos e
ferros gravados a ouro na lombada e nas pastas.
Ilustrado com 1 frontispício
gravado (vinheta) e 60 litografias coloridas a água-tinta gravadas por J. D.
Harding, C. Hullmandel, e W. Westall a partir dos desenhos de E. H. Locker.
Obra com magnificas reproduções
das pinturas de Edward Hawke Locker obtidas durante a sua permanência em
Espanha e intercaladas com a descrição dos locais retratados, das cidades e dos
seus percursos, e da história antiga e moderna, sobretudo com a descrição dos
momentos vividos durante a Guerra Peninsular.
Edward Hawke Locker (1777-1849)
nasceu em Kent, estudou em Eton, e em 1823 fundou o Painted Hall Greenwich.
Durante as campanhas militares contra Napoleão serviu no cargo de Secretário da
frota do Mediterrâneo que desembarcou na Catalunha em 1813 junto com Lord John
Russell (a quem dedicou a obra) e esteve em Tarragona, em Zaragoza e na frente
norte. Passou por Valladolid, Segóvia, Madrid, Toledo e por toda a costa, tendo
chegado a Barcelona vindo de Valência.
Book with magnificent reproductions from
Edward Hawke Locker’s paintings, reunited as an album of the works he obtained
during his stay in Spain with the description of the landscape locations,
cities, roads; interspersed with the ancient and modern history, and
particularly describing the moments he lived during the Peninsular War fought
against Napoleon's army.
Binding: a luxurious 20th century
full calf (brown morocco) signed by the master bookbinder Frederico de Almeida,
very fine tooled and gilt at the spine and folders.
Edward Hawke Locker (1777-1849)
was born in Kent, studied at Eton, and in 1823 founded the Painted Hall
Greenwich. During military campaigns against Napoleon served as Secretary of
the Mediterranean. He arrived in Catalonia in 1813 along with Lord John Russell
(to whom he dedicated the work) from whom he was bringing dispatches to
Wellington. As officer of liaison he passed through Tarragona, Zaragoza and the
northern front. He passed also in Valladolid, Segovia, Madrid, Toledo and along
the coast, having arrived in Barcelona from Valencia. Later visited Napoleon in
May 1814 during his Elba exile. Illustrated with engraved title page (including
a vignette) and 60 colored lithographed plates engraved by Harding, Hullmandel
and Westall after the author’s drawings.
Abbey Travel, 147; Foulche
Delbosc, 264 B; Palau, 139541; Brunet, Vol., III, 1140 p; Alberich, 1497
Referência: 1312CS004
SALMON, Tomás – LO STATO
PRESENTE DEL REGNO DI SPAGNA. [IN]
LO STATO PRESENTE DI TUTTI I PAESI, E POPOLI DEL MONDO NATURALE, POLITICO, E
MORALE, COM NUEVE OSSERVAZIONI, E CORREZIONI DEGLI ANTICHI, E MODERNI
VIAGGIATORI. VOLUME XIV. IN VENEZIA, Presso Giambatista Albrizzi
q.Gir. MDCCXLV. (1745) In 8.º De 18x12 cm. Com (xiv)-464 pags [€2.500]
Encadernação da época inteira de
pergaminho com nervos, rótulo dourado na lombada, e ferros lavrados a seco nas
pastas.
Ilustrado com: um frontispício
gravado, um mapa desdobrável da península Ibérica e 22 gravuras desdobráveis:
vista da cidade de Madrid panorama da Praça Mayor Vista do Palácio Real vista
do Buen Retiro o Grande Lago do Buen Retiro a igreja de Sto António no Buen
Retiro vista de S. Paulo no Buen Retiro o Real Palácio del Pardo a entrada
principal do Escorial o pátio do Escorial o claustro do Escorial vista do
palácio de Aranjuez panorama da fonte de Aranjuez Vista da Catedral de Toledo
panorama da cidade de Sevilha vista da Catedral de Sevilha e da Torre da
Giralda vista do Mosteiro da Praça de S. Francisco em Sevilha vista do Palácio
Real de Sevilha vista do Palácio Real na Grande Praça de Cádis vista do Pátio
dos Banhos na Alhambra de Granada vista do Pátio dos Leões na Alhambra de
Granada. Importante livro de viagens em Espanha. Apresenta uma descrição
histórica e geográfica de todas as suas províncias.
Single
volume.
Binding: later contemporary
vellum (pigskin fashioned at the style of an earlier period) finished on hard paperboards,
blank tooled at covers, and gilt on spine labels.
Illustrated with a frontispiece
engraved cooper plate and 22 folding engravings: view of the city of Madrid,
panorama of the Plaza Mayor, view the Royal Palace, view of the Buen Retiro,
the Great Lake of the Buen Retiro, the church of St. Anthony in the Buen
Retiro, view of S. Paul in the Buen Retiro the Royal Palace del Pardo the main
entrance of Escorial, the courtyard of Escorial, the cloister of Escorial view
of the Palace of Aranjuez, panorama of the Aranjuez Fountain, view of the
Cathedral of Toledo panorama of Seville view of the Seville Cathedral and
Giralda Tower, view from the Square of the Monastery of St. Francis in Seville,
view the Royal Palace of Seville, view the Royal Palace in the Great Square of
Cadiz view of a courtyard in the Alhambra of Granada, seen from the of the
Lions Courtyard in the Alhambra of Granada.
Referência: 1010CS002
VELOSO. Jóse Mariano da Conceição – ATLAS CELESTE ARRANJADO POR
FLAMSTEED, PUBLICADO POR J. FORTIN, CORRECTO, E AUGMENTADO POR LALANDE, E
MECHAIN, TRASLADADO EM LINGOAGEM DE ORDEM DE SUA ALTEZA REAL O PRINCIPE REGENTE
N. S. PARA INSTRUCÇÃO DA MOCIDADE. PRIMEIRA EDIÇÃO PORTUGUEZA REVISTA, E
CORRECTA PELO DOUTOR FRANCISCO ANTONIO CIERA, E PELO CORONEL CUSTODIO GOMES
VILLAS-BOAS. Lisboa. NA IMPRESSÃO RÉGIA. Anno 1804. In 4.º De 24x17 cm.
com XVI, 43 pags. + 30 gravuras desdobraveis de (32x24 cm). Brochado. [€18.000]
Exemplar totalmente por aparar
(intonso) preserva as capas de brochura originais.
Bela gravura decorativa com as
armas de Portugal ao centro da folha de rosto. O texto encontra-se dentro de
cercadura tipografia em toda as páginas.
As gravuras das constelações são
magnificamente adornanadas com desenhos, foram executadas na famosa mas efémera
tipografia do Arco Cego e são assinadas pelos mestres gravadores Vianna, Eloy,
Souto, Figueiredo, Neves, Camena, Lima e Tra[?], Marques e Rebelo.
Inocêncio 2, 113 Arco do Cego 108
G.R. Trad. Port. 1, 2583.A dedicatória da obra ao rei de
Portugal D. João VI, á época da publicação da obra Principe Regente, é da
autoria de Fr. José Mariano da Conceição Veloso director da tipografia do Arco
Cego, que ai afirma ser a obra publicada por ordem do monarca.
Empresa gráfica notável, trata-se
de um dos mais raros e belos livros saídos dos prelos da Impressão Régia, tendo
sido as chapas das gravuras executadas pelos melhores gravadores portugueses na
tipografia do Arco Cego, que entretanto fora extinta.
Esta tipografia real de curta
duração foi criada para por Portugal ao nível tipográfico (em termos de
divulgação cientifica) dos paises mais importantes da Europa.
A 1.ª edição do Atlas Celeste de
Flamsteed foi publicada em Londres no ano de 1729.
Inocêncio II, 113 “CUSTODIO GOMES
VILLAS BOAS, Cavalleiro da Ordem de Christo, Brigadeiro d"Artilheria,
Lente de Mathematicas jubilado na Academia Real de Marinha e ultimamente
Governador da praça de Valença. Socio da Acad. R. das Sc. de Lisboa. - Morreu com
64 annos a 6 de Abril de 1808. - E. (…) 456) Atlas celeste, arranjado por
Flamsteed, publicado por J. Fortin correcto e augmentado por Lalande e Machain,
trasladado em linguagem. Primeira edição portugueza, revista e correcta pelo
doutor Francisco Antonio Ciera, e pelo coronel Custodio Gomes Villas Boas.
Lisboa, na Imp. Regia 1804. 4.º de XVI43 pag. com trinta estampas ou cartas,
gravadas a buril por artistas portuguezes no estabelecimento
typographicolitterario do Arco do Cégo. Esta obra, de que ha ainda exemplares à
venda no armazem da Imprensa Nacional, foi ha annos reduzida em preço, bem como
outros livros d"aquella antiga Officina; passando de 2:000 réis a 1:600,
por que actualmente se vende.”
BNP. Flamsteed, John,
1649-1719 [Material cartográfico] /
arranjado por Flamsteed ; publicado por J. Fortin; correcto, e augmentado por
Lalande, e Mechain; Flamsteed, John, 1649-1719; Fortin, Jean Baptiste,
1740-1817, ed. lit.; Lalande, ed. lit.; Mechain, ed. lit.; Ciera, Francisco
António, 1763-1814, ed. lit.; Vilas Boas, Custódio José Gomes, 1771-1809, ed.
lit.; VELOSO. Jóse Mariano da Conceição,
O.F.M., 1742-1811, ed. com.; Impressão Régia. (Lisboa), impr.
Vide la luce a Londra nel 1729 ad
opera degli esecutori testamentari del Flamsteed e completa la Historia
Coelestis Britannica edita negli anni precedenti e che raccoglieva il lavoro
svolto dal primo direttore dell'Osservatorio Reale di Greenwich nei suoi
quarantatre anni di osservazioni. Questo del Flamsteed può essere considerato
il primo atlante moderno; riporta circa 3300 stelle, il doppio di quello dell'
Hevelius, e per la prima volta le stelle vi vengono collocate attraverso le
loro coordinate equatoriali: ascensione retta e declinazione, il cui reticolo
viene sovrapposto nelle tavole a quello polare eclittico. Questa innovazione fu
possibile attraverso l'introduzione nell'osservazione dell'orologio a pendolo,
che permetteva di risalire alla differenza di ascensione retta partendo dalla
differenza fra i tempi del passaggio delle stelle al meridiano. Un secolo prima
il Bayer inseriva nel suo atlante le due Nubi di Magellano; ora Flamsteed,
nella tavola dedicata ad Andromeda, alla destra di nu Andromedae, disegna una
stellina, la galassia M31, il primo oggetto non stellare ad apparire in una
carta celeste di un importante atlante.
The first stellar atlas based in
Atlas Coelestis was published only ten years after the death of Flamsteed, by
his widow, assisted by "Joseph Crosthwait (Joseph Crosthwait and Abraham
Sharp. It was preceded by the opus 'Stellarum inerrantium Catalogus
Britannicus' (or simply 'British Catalogue', published in 1725, with 2919
stars).
One of Flamsteed"s main
motivations to produce the Atlas, was to correct the representation of the
figures of the constellations, as made by Bayer in is Uranometria 1603). Bayer
represented the figures viewed from behind (not from the front, as was done
since the time of Ptolomy), which reversed the placement of stars and created
unnecessary confusion.
The publication enjoyed immediate
success, becoming the standard reference for professional astronomers for
nearly a century. Even so, three objections have been raised regarding it: the
high price, great size (making it difficult to handle) and low artistic quality
(many criticisms were made to the drawings by James Thornhill, particularly
regarding the representation of Aquarius). This led Dr. John Bevis to try to
improve the Atlas. In 1745, he produced the 'Uranographia Britannica', with
smaller dimensions, updated with observations and more artistic pictures.
However, this atlas was never officially published and at the present, there
are only 16 known copies. The Atlas Fortin-Flamsteed Planetary chart - Atlas
Coelestis (1660) Finally, the changes in the positions of stars (the original
observations were made in the 1690s), led to an update made in the 1770s by the
French engineer Jean Nicolas Fortin, supervised by the astronomers Le Monnier
and Messier, from the Royal Academy of Sciences in Paris. The new version,
called Atlas Fortin-Flamsteed, had 1/3 of the size of the original, but kept
the same table structure. There is also some artistic retouching to some
illustrations (mostly Andromeda, Virgo and Aquarius). The names of the
constellations are in French (not in Latin) and the Atlas included some nebulae
discovered after the death of Flamsteed. In 1795 it was published in an updated
version, produced by Mechain and Lalande, with new constellations and many more
nebulae.
Referência: 1602CS009
LUCENA, João de – HISTORIA DA VIDA DO PADRE FRANCISCO XAVIER E do que fizerão na India os mas Religiosos
da Companhia de Iesu, Composta pelo Padre Ioam de Lucena da mesma Companhia
Portugues natural da Villa de Trancoso. Impresso per Pedro Crasbeeck Em
Lisboa. Anno do Senhor 1600. In fólio de 26x16 cm. Com [iv], 908, [xxxviii] pags. [€12.000]
Encadernação recente ao gosto da
época inteira de pele com ferros a seco nas pasta.
Ilustrado com frontispício
gravado; uma gravura com o túmulo de S. Francisco Xavier; e dois retratos do
mesmo apóstolo. Impressão a duas colunas.
Exemplar com leves restauros
marginais e falta da folha com a licença régia (que foi retirada da maioria dos
exemplares na época) adicionada em fac-simile.
Primeira edição. Obra muito rara
e importante para a história da expansão portuguesa na Ásia.
Azevedo e Samodães, 1856. «Obra
de muito merecimento para a história das missões e do nosso domínio nas Índias
Orientais durante a segunda metade do século xvi. Seu autor é considerado como
um dos melhores clássicos da nossa língua, e isso muitíssimo contribui para a
grande e justificada fama bem justificada estima que o livro desfruta, não só
nos escritores e bibliófilos nacionais, mas também estrangeiros. Os exemplares
desta edição primitiva, bela e primorosamente impressa, são raríssimos.»
Inocêncio III, 399.
"P. JOÃO DE
LUCENA, Jesuita, natural da villa de Trancoso, n. em 1550, e m. em Lisboa na
casa professa de S. Roque em 1600, contando por conseguinte 50 annos d'edade.
Historia da vida do Padre Francisco de Xavier, Pedro Craesbeeck. Em Lisboa.
Anno do Senhor 1600. fol. Tem, afóra o frontispicio, mais dous retratos
gravados em chapas de metal, os quaes todavia faltam em varios exemplares que
tenho visto. Foi traduzida em italiano, e sahiu impressa em Roma, por Zannetti
1613. 4.º, e em castelhano, Sevilha, por Francisco de Lyra 1619. 4.º Ibi, 1699;
e dizem que o fôra tambem em latim. A edição portugueza de 1600 é pouco vulgar,
e assás estimada. D'ella fez Bento José de Sousa Farinha uma segunda edição,
que elle dá por mui fiel, e sahiu: Lisboa, na Offic. de Antonio Gomes 1788. 8.º
4 tomos. Com esta historia o P. Lucena abriu-se praça entre os mestres mais
insignes da pureza da nossa lingua. Suave no estylo, loução e polido no dizer,
grave nas sentenças, e escrupuloso na escolha das palavras, tem sido
universalmente respeitado pelos nossos criticos e philologos, todos concordes
em reconhecerem e apreciarem o seu grande merecimento. Para confirmar este
juizo, transcreverei aqui dous testemunhos, cuja competencia não deve ser
contestada. Seja o primeiro o do P. Francisco José Freire, nas Reflexões sobre
a Ling. Portug., parte 1.ª Diz elle: «O P. João de Lucena merece occupar logar
na classe dos mestres da primeira nota: porque a sua vida de S. Francisco
Xavier é escripta com tal propriedade, energia, e pureza de lingua, que os
muitos elogios com que os sabios honram a sua memoria não são os que bastam
para quem tanto honrou com a sua pura locução aquella linguagem portugueza, que
a critica só reconhece por genuina. Foi injustamente arguido de usar de
diversos termos destituidos de classica auctoridade, mas o certo é que de todos
os que lhe arguem ha exemplos seguros, como facilmente mostrariamos, se fosse
nosso assumpto fazer aqui a apologia do P. Lucena.» Seja o segundo o do P. José
Agostinho de Macedo, no seu opusculo Os Frades, ou reflexões philosophicas,
etc., a pag. 67, onde fallando de Lucena se exprime nos termos seguintes: «É um
dos nossos melhores classicos, e muito seguro texto; e sendo por este lado tão
digno do nosso respeito e reconhecimento, ainda o considero mais por outro
lado, e vem a ser: pelas noções que nos dá, e pelas noticias que só elle, entre
todos os viajantes, nos dá dos costumes, das leis, da religião de muitos povos
do ultimo oriente, isto é, dos habitantes das ilhas que formam o imperio do
Japão, e de muitas outras do Oceano Pacifico, por onde S. Francisco Xavier
levado pelos portuguezes, estendeu a sua vastissima e apostolica missão. São
dignos do verdadeiro philosopho os maravilhosos quadros daquellas disputas e
altercações, em que o sancto com os sagacissimos bonzos de continuo entrava,
onde estão expostos os principios da theologia natural, por onde sempre
começava a convencel-os da necessidade da divina revelação. E estão estas
grandes cousas como escondidas e ignoradas no mundo, no canto incognito de um
livro portuguez, e o peior é, que de todo ignoradas, ou não attendidas pelos
mesmos portuguezes.... Se os francezes tivessem feito aquelle livro, teria mais
edições do que tem uma folhinha, ou de porta ou de algibeira; e ha quasi
trezentos annos tem tido duas em Portugal!»”
First
edition of a very rare and important history of the Portuguese expansion in
Asia, entitled «History of the life of Father Francisco Xavier and the
religious fathers of the Society of Jesus. Lisbon. 1600».
In folio (26x16 cm) with [iv],
908 [xxxviii] pags.
Binding: a beautiful full calf
replica tooled bind at covers and gilt at spine.
Illustrated with one engraved
frontispiece; one engraved plate from the tomb of St. Francis Xavier; and
two portraits of the same apostle. Printed in two columns.
Copy with minor renovations, and
lacking page with the royal license (which was withdrawn from most of the
copies at the time) which is added on a facsimile.
Azevedo e Samodães, 1856: 'Work
of much merit for the history of our field missions and the East Indies during
the second half of the sixteenth century. Its author is considered one of the
best classics of our language, and this greatly contributes to the large and
well-justified reputation justified estimates that enjoys the book, not only in
national writers and bibliophiles, but also foreigners. The original copies of
this edition, beautiful and exquisitely printed, are very rare'.
Inocêncio III, 399. 'Padre João
DE LUCENA, was born in 1550, and died in Lisbon in 1600. This work was
translated into Italian, and printed by Zannetti in 1613; in Spanish, Seville,
by Francisco de Lyra, in 1619 and 1699, and also in Latin. The Portuguese
edition of 1600 is unusual and fairly estimated. Smooth style, and polished in
the telling, in severe sentences, and careful choice of words, has been
universally respected by our critics and philologists, all agreed to recognize
and appreciate their great merit. P. Francisco José Freire says: 'Fr João de
Lucena deserves to occupy a place among the masters because his life of S.
Francis Xavier is written with such property, energy, and purity of Portuguese
language. He was unjustly accused of using various terms devoid of classical
authority. Worthy of our respect and appreciation for the notions that gives
us, and the news that he alone among all travelers, gives us the customs, laws,
and religion of many peoples of the Far East, and the inhabitants of the
islands that form the Empire of Japan, and many others from the Pacific Ocean.
They are worthy of the true philosopher the beautiful paintings of those
disputes and altercations with the holy gurus and bonzes, exposing the
principles of natural theology, which began convincing them of the necessity of
the divine revelation. And these are big things hidden and ignored in the
World, contained in a unknown corner of a Portuguese book - at all ignored or
missed by the Portuguese themselves. If the French had done that book, would
have more issues than a pocket leaflet; and nearly three hundred years after it
had just two editions in Portugal. '
Referência: 1202CS002
Les bouquinistes de Paris c. 1900
Aqui ficam estes belos exemplos
de obras de grande raridade que poderemos encontrar entre muitas outras nesta
Livraria já bem nossa conhecida (mas não se assustem, pois há obras para todas
as bolsas…só que o que é raro é mesmo caro!).
Aliás o Pedro Castro e Silva com
a sua presença constante em várias feiras internacionais do Livro Antigo tem dignificado
a nossa bibliofilia.
Saudações bibliófilas.
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