"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 28 de fevereiro de 2016

Os novos livreiros-antiquários – uma aventura nos tempos presentes?


Almanaque 23

Se infelizmente uma geração de livreiros-antiquários está a fechar as portas – a Barateira, a Livraria Luís Burnay (só tem página web), a Livraria Camões e a Ulmeiro está periclitante… entre outros; outros tentaram diversificar as suas actividades, caso do Miguel de Carvalho da Livraria do Adro (Coimbra) e do Luís Gomes da Livraria Artes & Letras (Lisboa) e, houve mesmo alguns, que tiveram a coragem de abrir uma Livraria!

Neste caso refiro-me ao Francisco Brito da Cólofon Livros Raros Edições, que decidiu abrir a 6 de Fevereiro de 2016 um novo espaço a Almanaque 23. A loja fica nas Galerias do Toural, nº 23 - ou se preferirem, na viela da Arrochela (ou dos Caquinhos)!



“Nesta loja cabem histórias. Histórias essas que viajam da banda desenhada para umas t-shirts, ouvindo uns vinis antigos e a ver postais ilustrados da cidade de Guimarães. A ideia de três amigos, Francisco Brito, Zé Teibão e Ricardo “Kafka” Couto é de “não abrir uma loja, mas sim um espaço de lazer”

Com as prateleiras preenchidas, a Almanaque tem as ilustrações do artista vimaranense Zé Teibão, livros históricos do Francisco Brito e ainda umas BD’s obscuras do “Kafka”. “E também há peluches”. (1)

Obviamente que desejo o maior dos êxitos a este novo espaço, que parece reunir um conjunto de temáticas capaz de atrair vários tipos de clientes e, como tal, conseguir sobreviver, mas como bibliófilo é a parte de “livraria” que mais me interessa (não esquecendo é claro os outros heróis desta aventura).

E é com as últimas novidades que deixo aqui o convite para uma visita a este espaço e quem sabe se irão descobrir alguma peça para as vossas colecções.

Voltando aos livros aqui ficam alguns apontamentos:



657 - Noydens, Bento Remígio (Padre) – PRACTICA//DE//EXORCISTAS//E MINISTROS//DA IGREJA. Coimbra. Na officina de Joam Antunes. 1694. 433-VII págs. 14cm. Enc. RESERVADO.

Primeira edição portuguesa desta obra dada à estampa pelo padre espanhol Bento Noydens, da Sagrada Religião dos Clérigos Regulares Menores. A primeira edição desta obra data de 1660 e, muito embora se destaque pela sua especificidade e por se definir como um manual, vem de uma linha já antiga de livros sobre este obscuro tema, dos quais se destaca o Fuga Satanae Exorcismus de 1619, entre outros. Esta Practica de Exorcistas conheceu ainda outras edições em Espanha, nomeadamente a de 1666 de Madrid e a de 1668 de Barcelona. Ao longo dos séculos esta obra de Noydens permaneceu popular, tendo novas edições ao longo do século XVIII...Em Portugal, da mesma officina de Joam Antunes, saiu ainda uma segunda edição desta obra em 1718.

Esta tradução, da autoria do Padre Manuel Rodrigues Martins, Bacharel em Teologia, é enriquecida com uma nova parte intitulada Acrescentamento dos Novos Exorcismos.

 Exemplar encadernado. Encadernação da época em carneira. Miolo em bom estado.



658 - Santo António, Frei Manuel de – ESCUDO//BENEDICTINO//Em defesa dos injustos golpes//Da Crisis Doxologica, Apologetica e Jurídica (...). Salamanca. En la Officina de la Viuda de Antonio Ortiz Gallardo. 1736. XXXVI - 316 págs. 29cm. Enc. [280 euros]

Sobre esta obra diz-nos Innocêncio Francisco da Silva no V volume do seu Diccionario Bibliographico Portuguez (págs. 359-60): “A extensa e demorada controvérsia a que este livro diz respeito, suscitada, entre os monges benedictinos e jeronymos por motiva de precedências de lugar na procissão de Corpus Christi, e n'outros actos a que concorriam as ordens regulares deu azo a vários escriptos, com que uns e outros interessados pretenderam sustentar seu direito, levando aliás a causa aos tribunaes, onde nunca obteve resolução definitiva. Estes escriptos começaram por uma Crisis doxologica apologetica e jurídica de Fr. Manuel Baptista de Castro, em lingua castelhana; a que se seguiram suecessivamente em portuguez a Analysis benedictina de Fr. Manuel dos Sanctos; Notas da Aualysis por Fr. Jacinto de S. Miguel; Escudo beneditino por Fr. Manuel de Sancto Antonio; e (...) Carta-critica por Fr. Marcelliano d'Ascensão etc.”

O seu autor, Frei Manuel de Santo António, monge Beneditino, nasceu em Lisboa no ano de 1676, tendo vivido em Coimbra, onde foi Lente de Teologia, reitor dos Colégios de S. Bento em Coimbra e Lisboa. Morreu em Coimbra em 1749.

Exemplar encadernado. Encadernação inteira de pele, com algum desgaste na pasta anterior. Miolo em bom estado de conservação



661 – Pimentel, Alberto – HISTÓRIA DO CULTO DE NOSSA SENHORA EM PORTUGAL. Lisboa. Livraria Editora Guimarães, Libanio & Ca. s.d. 1889. 501 págs. 25,5cm. Enc. [48 euros]

Estudo histórico sobre o culto de Nossa Senhora em Portugal que trata  dos diversos aspectos desse culto, desde das suas origens até à segunda metade do século XIX.

Obra enriquecida com ilustrações e fotografias ao longo do texto e extra texto. Exemplar encadernado. Miolo em geral bom estado. Papel do miolo amarelecido.

E, por fim, a última novidade



Albuquerque, José Osório Cabral de – OSMIA. CONTO HISTÓRICO-LUSITANO. Lisboa. Na Imprensa Nacional. 1845. 133 págs. 21.5cm.Enc. [60 euros]

Osmia, versando o conflito entre o amor e o dever pátrio em tempos lusitanos, alinha-se na busca de temas que se entendia constituir uma tradição nacional; o argumento vinha sendo cultivado há décadas, desde o século anterior, com lugar especial à 4ª Condessa do Vimieiro, Dona Teresa de Melo Breyner, em trabalho premiado pela Academia das Ciências e que conheceu várias edições.

As “outras poesias”, desde a página 51, referem, por vezes em epígrafe, Garrett, Castilho, Camões e, também em epígrafe ou em tradução, Chateaubriand, Delavigne, Lamartine, Byron.

De notar ainda as poesias “à insigne Rossi Cacia” – Giovanna Rossi-Cacia, que então fez furor em São Carlos aonde regressaria na década seguinte, em 52-53 (Mário Moreau, O teatro de São Carlos, 2 v., 1999) – e Impressões de Cintra.

O volume, que houve crítica favorável de António Serpa Pimentel (Inocêncio V, 85), é bom exemplo dos esmerados trabalhos saídos da Imprensa Nacional por esses anos.

Exemplar encadernado. Encadernação da época inteira de pele, com trabalho a ouro nas pastas. Lombada cansada com ligeiros sinais de desgaste e defeito (ver imagem). Miolo em bom estado. 

Impressão em papel de boa gramagem e qualidade

Aqui ficam estas sugestões e, para o meu amigo Francisco Brito, os meus reiterados votos de grandes êxitos pessoais e profissionais.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1)     In Free Pass – Guimarães / 15

2 comentários:

Galderich disse...

Realmente es un problema el de la contiuidad de las librerias de viejo. En Barcelona este problema también está pero tambien empiezan a aparecer de nuevas de una gran profesionalidad. Supongo que han de ser los cambions necesarios de otras épocas. Un saludo.

Rui Martins disse...

Caro Galderich
Com efeito os novos livreiros-antiquários deverão ter um papel importante na revitalização do comércio bibliófilo.
Face às novas condições resultantes dos vários tipos de colapso das principais economias, que determinou uma mudança no perfil do bibliófilo clássico, e com a forte concorrência do mercado virtual da internet (sob múltiplas formas) perdeu-se o contacto directo cliente-bibliófilo e vendedor-livreiro, que terá de ser renovado e reformulado.
É precisamente essa a tarefa dos novos livreiros em minha opinião.
Um forte abraço.