Alegoria
No último post fiz uma referência a uma excelente capa do último livro de
Mário Cláudio, mas sempre houve belos trabalhos de grafismo e ilustrativo na
concepção das capas.
Se é certo que algumas editores
mantem um certo monolitismo na sua realização: a Gallimard e a Calmann-Lévy
são bem um exemplo disso mesmo:
SARTRE, Jean-Paul – Les Mots
(Éditions Gallimard)
BALZAC, Honoré de - Lettres à L'Etrangère
(Calmann-Lévy, Éditeurs)
No entanto, outras há que se
esmeram na concepção das mesmas entregando os trabalhos a artistas de renome.
No Brasil a Livraria José
Olympio éum bom exemplo.
Graciliano Ramos - Vidas Secas (1ª edição)
(Livraria José Olympio Editora)
No último “O alfarrabista em sua casa” da In-Libris vamos encontrar dois bons exemplos:
8150. CORREIA (Natália).— O
ENCOBERTO. (Lisboa. 1969). 13,5x21 cm. 122-IV págs. Brochura. Peça de
teatro, invulgar nesta sua primeira e cremos que ainda não repetida edição.
Livro que foi apreendido pela
censura que na conclusão do seu relatório afirma o seguinte: “(...) Julgo ser
de proibir por inconveniência política e ser pornografica.”
7700. PEDRO (António).— PROTO
POEMA DA SERRA D'ARGA. Cadernos Surrealistas. (Imprensa Libanio da
Silva. Lisboa. S.d. 1948). 14,5x21 cm. 14-II págs. Encadernado.
Da badana: “Filológicamente,
amador é o que ama. Na linguagem corrente também, e opõe-se a profissional.
Amor e profissão, quando se juntam, dão consequentemente Profissão de Amador e
Amor de Profissional. A primeira confusão dá de comer aos críticos e às
galerias de arte, quando as há; a segunda faz nascer os homens de letras, os
artistas profissionais e as prostitutas. (...)"
São extremamente RAROS os
exemplares deste poema surrealista de António Pedro.
Encadernação com lombada e cantos
em pele. Conserva a capa da frente da brochura.
Da Cólofon - novidades destaco este exemplar pela capa, mas também para
demonstrarcomo um bom descritivo pode ser uma mais-valia na divulgação de uma
obra, como é o caso desta, de um autor desconhecido para uma maioria
significativa dos leitores.
371 - Brederode, Martinho de – SUL. Lisboa. Typografia Castro Irmão. 1905. 174 págs.
23cm. Brochura.
Nascido em 1866, de
família flamenga em Portugal desde os finais do século XVII, habilitado com o
Curso Superior de Letras, diplomata.
O seu primeiro
trabalho de maior fôlego, sob o pseudónimo de Marco Sponti, foi A morte do amor, 1894, romance na senda queirosiana, mas que integra favores ao
simbolismo (e outros testemunhos há na sua obra com a mesma marca), de Mallarmé
e de Verlaine – Verlaine cujo Colóquio Sentimental
logo traduziria em Charneca, 1896. Ganhava corpo, assim, a sua actividade
poética – breve, aliás – na qual Sul é ponto alto, senão culminante: ensaiando
conciliar as mensagens de Cesário e de António Nobre, evoca o Alentejo, Lisboa,
as Águas Livres, Queluz, Sintra e a Pena, o Algarve, e feiras, procissões,
pregões, e a lavadeira saloia, a rendeira de Peniche, ciganos e varinas…
Mas Sul é também,
pode dizer-se, o produto derradeiro da sua obra: pouco mais produziu, ocupado
nos afazeres de chancelaria, que terminou em Bucareste, onde faleceu em 1952,
na qualidade de ministro aposentado, nomeado em 1919.
Exemplar brochado.
Miolo em excelente estado de conservação. Contém uma assinatura de posse a
lápis na folha de anterrosto de Fernando Brederode Santos, conhecido jornalista
e sobrinho neto do autor.
Edição muito cuidada
e de elevado apuro gráfico. Capa ilustrada a cores.
Librairie Henri Leclerc
Aqui ficam estas
reflexões/apontamento para vossa consideração. Muito mais se poderia escrever
(mas muito já ficou descrito ao longo dos muitos posts deste blogue...que tal
uma pesquisa?)
Saudações bibliófilas.
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