"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

domingo, 20 de janeiro de 2013

Umberto Eco – escritor e bibliófilo.


“Rem tene, verba sequentur” (1)


Umberto Eco

Umberto Eco  (Alexandria, 5 de Janeiro de 1932) é um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. Titular da cadeira de Semiótica (aposentado) e director da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha.

Ensinou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard, Collège de France e Universidade de Toronto. Colaborador em diversos periódicos académicos, e destaque-se como colunista da revista semanal italiana L'Espresso, na qual escreve sobre uma infinidade de temas.


Umberto Eco
(caricatura)

Eco é ainda, e justamente conhecido, como escritor de romances, destacando-se na sua bibliografia:

O Nome da Rosa (Il nome della rosa) 1980. (Prémio Médicis, livro estrangeiro na França);
O Pendulo de Foucault (Il pendolo di Foucault) 1988;
A Ilha do Dia Anterior (L'isola del giorno prima) 1994;
Baudolino (Baudolino) 2000;
A Misteriosa Chama da Rainha Loana (La misteriosa fiamma della regina Loana) 2004;
O Cemitério de Praga (Il cimitero di Praga) 2011.


ECCO, Umberto - Il Nome della Rosa. Milano: Bompiani, 1980.
(edição original italiana)

Se é verdade que um leitor não será forçosamente um bibliofilo (quando muito será um bibliómano…) não consigo compreender um bibliófio que não seja um leitor.

Qualquer leitor lerá, por exemplo, La mare au diable de George Sand numa quaquer versão – nem que seja numa vulgar edição em livro de bolso, mas um bibliófilo tentará perseguir até obter a 1ª edição da mesma!

Claro que alguns de nós lerão as "suas primeiras edições" em versões mais recentes e só manusearão e lerão apenas alguns excertos  da verdadeira edição original, mas este previlégio não é para todos...


Aqui fica um óptimo exemplar desta obra de George de Sand  incluso no Catalogue 76: Janvier 2013, Livres Modernes de La Librairie le Feu Follet.



185. SAND George. La mare au diable. Desessart, Paris 1846, 13x21cm, 2 volumes reliés sous étui.
Edition originale rare et très recherchée.



Reliures en demi veau caramel, dos lisses ornés d'arabesques dorées, plats de papier marbré, gardes et contreplats de papier à la cuve, têtes dorées; étui bordé de box chocolat, élégante reliure pastiche romantique.



Notre exemplaire est enrichi, en frontispice du premier volume, du célèbre portrait de l'auteur par Auguste Charpentier gravé par Riffaut; et dans le second, du portrait non signé inspiré du "Portrait de George Sand en costume d'homme" par Delacroix.



Exemplaire exempt de rousseur (ce qui est très rare selon Clouzot qui mentionne qu'ils sont souvent piqués).
Bel exemplaire établi dans une agréable reliure romantique pastiche.


Umberto Eco

Vêm estas conjecturas a propósito do livro de Umberto Eco que li recentemente:



ECO, Umberto – Confissões de um jovem escritor/Conferências Richard Ellmann sobre Literatrura Moderna (Confessions of a young writer). Lisboa: Livros Horizonte, 2012. Colecção Ensaios literários. Tradução de Rita Figueiredo. Capa de Manuel Pessoa. 1ª edição portuguesa. 158(I) pp. 235x155 mm. Brochura de capa mole com badanas.

Da leitura da sua sinopse fica-nos uma ideia clara do seu conteúdo: “O brilhante escritor italiano leva-nos numa viagem aos bastidores do seu método criativo e recorda como arquitetou os seus mundos imaginários: partindo de imagens específicas, fez sucessivas escolhas ao nível da época, da localização e da caracterização do narrador – o resultado foram histórias nesquecíveis para todos os leitores.

De forma alternadamente divertida e séria, mas brilhante como sempre, Umberto Eco explora a fronteira entre a ficção e a não-ficção, afirmando que a primeira deve assentar num intricado enredo que requer ao escritor a construção, através da observação e da pesquisa, de todo um universo até ao mais ínfimo pormenor. Por fim, revela ao leitor um precioso trunfo que permite vislumbrar o infinito e alcançar o impossível.

Umberto Eco tinha quase 50 anos de idade quando a sua primeira obra de ficção, O Nome da Rosa, o catapultou para a fama mundial e se tornou um clássico moderno. Nestas “confissões”, o agora octogenário faz uma retrospetiva da sua carreira, cruzando o seu percurso como teórico da linguagem com a veia romancista que descobriu mais tarde na vida.

Este “jovem escritor” é, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras.”

Podemos através da sua leitura compreender um pouco melhor o processo criativo de uma obra literária e bem assim das diversas interpretações de que a mesma pode ser objecto por parte dos seus leitores ou dos seus críticos literários.

Em minha opinião trata-se de uma obra a figurar nas nossas bibliotecas.

Da sua edição original aqui fica o seu registo:



ECO, Umberto – Confessions of a Young Novelist. Series: Richard Ellmann Lectures in Modern Literature. Harvard University Press, 2011. 240 pages. Jacketed hardcover.

Destaco das minhas “notas de leitura” (sem me querer substituir aos criticos literários, pois que para isso não tenho conhecimentos), alguns apontamentos que me pareceram de sobremaneira importantes e pertinentes.

Numa primeira nota, pode ler-se, na página 10, no sobre o tema “O que é a Escrita Criativa?”: “Em francês é possível traçar uma distinção entre um écrivain – uma pessoa que produz textos “criativos”, como um romancista ou um poeta – e um écrivant: alguém que regista factos, como um escriturário de um banco ou um polícia a preparar um relatório de uma investigação criminal.”

Mais adiante afirma, na página 14, já sobre outro tema – “Como Escrever”: “Enquanto estava a escrever o meu primeiro romance, aprendi algumas coisas. Primeiro, que “inspiração” é uma palavra má que autores sem talento usam para se fazerem parecer artisticamente respeitáveis. Segundo diz o velho adágio, o génio é dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração.”

Mas voltando ao tema que me propus tratar, e a leitura do livro leva-nos muitas vezes a fazer incursões por caminhos nunca antes ensaiados…, acabei por descobrir que Umbero Eco é, ele também, um bibliófilo.


Um bibliófilo
©Fotos de Libri antichi online - Studio bibliografico Apuleio/Facebook
[Norman Rockwell, Bookworm, 1926]

A este propósito leia-se o que escreveu nas páginas 51-52 do Capítulo 2. "Autor, Texto e Intérpretes": “Nos anos seguintes [após 1979], talvez porque depois de publicar O Nome da Rosa comecei a ter mais contacto com bibliotecários e colecionadores de livros (e certamente por ter mais dinheiro para gastar), tornei-me um colecionador de livros raros. Ao longo da minha vida, tinha comprado alguns livros antigos, e tinha-o feito por puro acaso e apenas quando eram muito baratos. Só nos últimos vinte e cinco anos é que me tornei um colecionador a sério – e “a sério” significa que temos de consultar catálogos especializados e temos de escrever, para cada livro, uma ficha técnica, incluindo o cotejo, informações históricas sobre as edições anteriores ou subsequentes e uma descrição exata do estado do nosso exemplar. Esta última parte obriga-nos a usar um jargão técnico, a especificar se o livro está amarelecido ou acastanhadio, se tem manchas de humidade ou de sujidade, se o miolo apresenta pontos de acidez, se há margens aparadas, rasuras, restauros, cansaço, etc.”


A biblioteca de um bibliófilo
©Foto de Philippe Gandillet/Facebook

Aqui estamos perante um bibliófilo já na posse de grandes conhecimentos. Sem eles, formar uma boa biblioteca é uma aventura por demais arriscada e quase sempre condenada ao fracasso!

Aqui ficam estas reflexões e uma boa proposta de leitura, pelo menos na minha modesta opinião.

Saudações bibliófilas.


Notas:

As citações são apresentadas de acordo com as novas normas ortográficas e conforme figuram no livro.

(1) Referido na página 14, da obra mencionada, por Umberto Eco. (“Mantêm-te fiel ao tema e as palavras seguir-se-ão”)

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