Carte dépliante gravée par Du Val retraçant le parcours
des missionnaires francais depuis paris jusqu’au Siam
(BOURGES, Jacques de. Relation du voyage de Monseigneur l’évêque de Beryte Vicaire…)
Desde sempre o Oriente longíquo constituiu um fascínio para a mentalidade europeia pela diversidade dos seus costumes, pela variedade da sua fauna e flora e igualmente pelas suas produções artísticas.
Não será de estranhar que muitos livros tenham sido escritos por várias personalidades, umas mais conhecidas do que outras, com produções que vão desde relatos com grande fundamento científico, pelo menos para o estado da ciência na época, até as mais fantasiosas descrições que também foram publicadas.
Como exemplo de algumas dessas produções poderei citar esta obra que surge no Catalogue 77: Livres Anciens – Janvier 2013 da Librairie Le Feu Fillet:
2. ARGENS Jean-Baptiste de Boyer, Marquis d'. Lettres chinoises, ou correspondance philosophique, historique & critique, entre un Chinois Voyageur & ses correspondants à la Chine, en Perse & au Japon. Nouvelle édition augmentée de nouvelles lettres & de quantité de remarques. Chez Pierre gausse, A La Haye 1751, 5 tomes en 5 Vol. in 12 (9,5x15,5 cm), (2) xlviij, 292pp. et (2) 383pp. et (2)0276pp. et (2) 320pp. et (2) 364pp., relié.
Nouvelle édition, possiblement la seconde, après l'originale parue de 1739 à 1740. Pages de titre en rouge et noir. Plein veau brun marbré d'époque. Dos lisse orné. Pièces de titres et de tomaisons en maroquin rouge. Coiffe du tome VI arrachée. Frottements. 6 coins émoussés. Page de garde après le texte du tome V déchirée avec manque. Bel exemplaire.
Les lettres chinoises, inaugurées par le même auteur par les lettres juives ont ce dessein typique des Lumières de comparer les moeurs et coutumes de plusieurs civilisations ; l'oeuvre reprend le schéma, toujours humoristique, du premier ouvrage de ce type : L'espion de la cour de Marana, puis les Lettres persanes de Montesquieu.
Un narrateur chinois écrivant à ses congénères des différents lieux de l'Europe (Moscou, Stockholm, Paris...). L'oeuvre est toujours censée nous interroger sur l'étrangeté de nos propres pensées et coutumes. D'Argens décrit également plusieurs voyages en orient, avec des informations intéressantes sur les moeurs et institutions des pays orientaux. A l'instar des Lettres cabalistiques ou juives du même auteur, les Lettres chinoises furent publiés en périodiques.
E, porque o tema nos irá interessar, refiro este exemplar bastante raro à venda na Librairie Camille Sourget, sobre o Reino do Sião (hoje Tailândia):
BOURGES, Jacques de. Relation du voyage de Monseigneur l’évêque de Beryte Vicaire apostolique du royaume de la Cochinchine, Par la Turquie, la Perse, les Indes, &c. jusqu’au Royaume de Siam & autres lieux. Par M. de Bourges, Prêtre, Missionnaire Apostolique. A Paris, chez Denys Bechet, 1666. In-8 de (1) f.bl., (6) ff., 1 carte dépliante, 245 pp., (3) pp., (1) f.bl. Relié en plein veau brun granité de l’époque, dos à nerfs orné, coupes décorées, tranches mouchetées. Reliure de l’époque. 179 x 113 mm. Rare edition originale du premier livre français jamais publié sur le Siam.
Cordier, Bibliotheca Sinica, 827-828 ; Brunet, I, 1179.
«Les premiers contacts entre la France de Louis XIV et le Siam de Phra Naraï remontent aux années 1660, lorsque des vicaires apostoliques et des ecclésiastiques des jeunes Missions étrangères de Paris s’installent à Ayutthaya, la capitale du royaume de Siam. L’un d’eux, Jacques de Bourges, a fait partie du premier groupe de missionnaires arrivés à Ayutthaya en 1662. Il est l’auteur du premier livre français jamais publié sur le Siam, la Relation du voyage de Monseigneur de Beryte […] jusqu’au royaume de Siam, publié à Paris en 1666. C’est une traditionnelle relation viatique qui propose le récit du voyage principalement terrestre au Siam (l’aventure), et une description systématique de ce royaume (l’inventaire). Challe, qui se vante d’ « avoir lu toutes les relations qui ont été imprimées, tant sur les terres que sur la religion…», ne connaissait pas ce livre, car il poursuit : «…mais je ne me souviens point d’en avoir jamais lu de Messieurs des Missions étrangères… » ».
«Monseigneur Lambert de La Motte et les missionnaires apostoliques Jacques de Bourges et François Deydier s’embarquèrent à Marseille en novembre 1660 pour Alexandrette, d’où ils commenceraient un voyage surtout terrestre qui les conduirait par Alep, Baghdâd, Bassora et Ispahan à Bandar Abbas sur le détroit d’Ormuz. Un vaisseau de la East India Company les déposerait à Surate d’où ils traverseraient le sous-continent indien jusqu’à Masulipatam sur la côte de Coromandel. Un dhow maure les conduirait de là à Mergui, port siamois. Un dernier voyage fluvial et terrestre, et voilà nos gens à Ayuthia, capitale du royaume de Siam, où ils débarquent en août 1662, après un voyage extrêmement éprouvant de vingt et un mois.
Ce périple mémorable nous est bien connu grâce à la Relation du voyage de Monseigneur l’évêque de Béryte, vicaire apostolique du royaume de la Cochinchine, par la Turquie, la Perse, les Indes, &c. jusqu’au royaume de Siam et autres lieux, par M. de Bourges (Denys Bechet, Paris, 1666 ; réédité en 1668 et 1683). Précédant de vingt ans la grande vogue siamoise des années 1685-1688, la Relation de Jacques de Bourges nous propose la première relation et description française du Siam, et ceci au début du règne de Somdet Phra Naraï qui recherchera l’alliance et l’amitié de Louis XIV avec qui il échangera des ambassades dans les années 1680».
(De branche en branche. Etudes sur le XVIIe et le XVIIIe siècles français. Dirk Van der Cruysse).
Le présent ouvrage est illustré d’une carte dépliante gravée par Du Val retraçant le parcours des missionnaires français depuis paris jusqu’au Siam.
Exemplaire grand de marges car conservé dans sa reliure de l’époque, de cet intéressant récit de voyage capital pour la connaissance du Siam au XVIIe siècle.
Aucun exemplaire de cette rare originale n’est répertorié dans ABPC depuis 1989.
Entretanto, a produção do livro nesses países era uma realidade.
Seja em forma de manuscrito – quase exclusiva nos países de influência muçulmana, pois o livro impresso só surgiria muito tardiamente por força das normas corânicas – seja impresso – estes mais raros e mais comuns na China e Japão.
Deste modo, alguns exemplares fizeram parte do espólio trazido para a Europa por muitos destes exploradores/aventureiros e foram enriquecer as bibliotecas dos seus financiadores e/ou soberanos.
Ultimamente têm aparecido no mercado bibliófilo alguns exemplares destas longíquas paragens retratando de modo expressivo as suas técnicas bem como os temas da sua produção literária.
(ainda que de leitura inacessível para muitos de nós a sua beleza não pode deixar de nos fascinar).
Tudo isto vem a propósito de dois exemplares inseridos no Catálogo140 –Janeiro de 2013 da Livraria Castro e Silva.
54. MANUSCRITO ILUMINADO - LIVRO RELIGIOSO TAILANDÊS. [Phra Malai]. In Fólio de 68x15x10 cm. Com 49 fólio duplos + 1 fólio simples, desdobráveis em forma de acordeão. Tailândia. Circa final do século XVIII, início do século XIX.
Texto a duas colunas, cada uma com cinco linhas, em frente e verso de cada fólio duplo. Pastas finais encadernação cartonada com acabamento da época dourado, com falhas. Ilustrado com 5 conjuntos de 2 desenhos com temática da religião budista. Boa qualidade da execução dos desenhos que apresentam as dimensões 29x20 cm; ocupando em altura um fólio duplo. Vestígios de humidade em cerca de 14 dos fólios iniciais e finais sem afectar a mancha gráfica. Manuscrito tailandês (Thai) em papel cartonado contendo 100 folhas (49 fólios duplos e 1 fólio simples) em ligação tipo concertina. Manuscrito com 5 linhas por página divididas em 2 colunas. Ilustrado com 10 ícones: em aguarela ou guache coloridos e dourados, representando várias cenas de monges, divindades e histórias fabulosas.
Contém sermões budistas, possivelmente no idioma Thai em escrita Khmer. Este manuscrito iluminado do início do século XIX conta a história do santo budista Phra Malai de uma forma acessível e permanece popular na Tailândia e no Sudeste da Asiático. O texto – denominado segundo este santo budista conhecido por suas viagens lendárias entre o inferno e o céu – figura em destaque nos tratados religiosos, obras de arte, e rituais, particularmente aqueles associados com a vida após a morte.
Os primeiros exemplos destes manuscritos tailandeses datam do final do século 18, sendo a história muito mais antiga, baseada num texto Pali do Sri Lanka e mencionado numa inscrição birmanêsa do século XIII. No século XIX tornou-se um texto muito popular cantando em casamentos e funerais. A lenda descreve as visitas Phra Malai ao céu e ao inferno e os poderes por ele alcançados através da meditação. Posteriormente ensinou aos leigos e aos monges os efeitos cármicos de acções humanas e o que aprendeu no seu encontro com o Buda Maitreya no céu. Foi através dessas narrativas que a mensagem do Buda; a esperança num melhor renascimento; e a possibilidade de atingir o Nirvana foi transmitida. Os manuscritos Phra Malai foram frequentemente produzidos e doados aos mosteiros budistas como promessas e objectos de aparato.
Fugindo um pouco ao tema, mas por se enquadrar dentro do espírito de lvros na sua forma primitiva, e por se citarem atrás os livros em árabe, veja-se este manuscrito árabe:
53. MANUSCRITO ÁRABE. MUHAMMAD. ALCORÃO. S/l. [Norte de África?] S/d. [circa final do século XVIII]. In 8º (de 16x11 cm) com cerca 600 pags.
Encadernação inteira de pele ao estilo islâmico (com dobra dianteira) e super-libris em ambas as pastas com elementos de decoração vegetalista. Texto manuscrito a negro e dourado (com pontuações a vermelho) dentro de tarja com filete dourado. Apresenta frontispício e folha de rosto iluminadas com cercaduras vegetalistas dentro de carcelas douradas. Manuscrito com bela e diminuta caligrafia arábica. Exemplar com pena de pavão em lembrete/marcador.
Este apontamento pretende apenas abrir o horizonte a todos aqueles que se interessam pelo universo do livro que, se procuramos avidamente os livros europeus e sobretudo aqueles saídos das tipograsfias/editoras dos nossos países de origem, nunca deveremos neglicenciar o que de belo e importante se produziu contemporaneamente noutras paragens bem distantes e diversas da nossa cultura ocidental.
Saudações bibliófilas.