"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Livraria Lello & Irmão


Livraria Lello & Irmão - Porto – Fachada Exterior

Lamberto Palmart referiu, ontem no seu comentário sempre perspicaz e pleno de conhecimentos, de quem “anda nesta coisa dos livros” há tanto tempo, a Livraria Lello & Irmão do Porto.

Julgo ser justo fazer uma referência a esta livraria, ex-libris da Cidade Invicta, descrita por Enrique Vila-Matas como "A mais bonita livraria do mundo", e, que em 2008, foi considerada a terceira mais bela livraria do mundo pelo jornal inglês «The Guardian».

A Livraria Lello surgiu em Outubro de 1930, no Porto, quando foi mudada a designação da Livraria Internacional Chardron, que havia sido fundada em 1869 pelo francês Ernesto Chardron, na Rua dos Clérigos.

Chardron foi também editor de alguns dos mais afamados escritores da época como, por exemplo, Eça de Queirós. Faleceu ainda novo com 45 anos.


Eça de Queirós (1845-1900)
«Os Maias»
Porto, Livraria Inrernacional de Chardron, 1888.
2 Volumes. 1ª edição
(à venda em «d'outro tempo»)

A Livraria Internacional foi comprada pela Lugan & Genelioux Sucessores. A 30 de Junho de 1894, já após a morte de Genelioux, Mathieux Lugan vendeu a Livraria Chardron a José Pinto de Sousa Lello, que tinha por associado um irmão. Até aos dias de hoje, a livraria esteve sempre na posse da família Lello.


Livraria Lello & Irmão – Interior

A 13 de Janeiro de 1906 foi inaugurado, na Rua das Carmelitas, o edifício, internacionalmente famoso, que ainda hoje alberga a Livraria Lello.

No dia da inauguração do edifício, acontecimento bastante badalado quer em Portugal como no Brasil, marcaram presença personalidades das artes, do ensino, do comércio e da política, como Guerra Junqueiro, Abel Botelho, Bento Carqueja, António Arroio, Júlio Brandão, José Leite de Vasconcelos, entre outros.


Livraria Lello & Irmão – Interior

Este edifício, em estilo neogótico, com escadaria de madeira trabalhada, uma fachada com um arco amplo e uma janela tripla, tornou-se um ex-líbris da cidade do Porto. Na fachada há duas figuras pintadas, da autoria de José Bielman, uma representando a Arte e a outra a Ciência. No interior há uma sala grande onde está a já referida escadaria que dá acesso ao primeiro piso, onde também existe um café com mesas para os leitores. O espaço da livraria está decorado com pilares com bustos de Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Tomás Ribeiro, Teófilo Braga e Guerra Junqueiro, assinados por Romão Júnior. Há ainda um vitral com o símbolo da Lello & Irmãos com a divisa "Vecus in Labore". O edifício foi desenhado pelo engenheiro Xavier Esteves e veio ser classificado como património nacional.


Livraria Lello & Irmão – Interior

Em finais de 1994, a livraria, entretanto renomeada Lello & Irmão, foi restaurada, respeitando a traça original, interior e exterior, passando por uma grande modernização para adaptar o espaço às necessidades da época. A Livraria Lello passou a ter um fundo bibliográfico de 60 mil títulos, um ficheiro informático nacional e internacional, uma secção de revistas, uma de música e uma de livros antigos. Foi também criada uma galeria de arte permanente.

Saudações bibliófilas

9 comentários:

Galderich disse...

Rui,
Conocía la librería porque es famosa en internet y como es lógico cuando se habla de librerias sale la que muy bien nos referencias, con más tradición que el mismo edificio que la contiene.
Gracias una vez más.

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui

Que hermosos lugares, la Biblioteca de la Universidad de Coimbra y esta hermosa librería.

Con lugares así la búsqueda y compra de un libro se convierte en una experiencia que halaga a todos los sentidos. ¡maravilloso!
Saludos bibliófilos.

lamberto palmart disse...

Rui, gracias por adelantarte a mis deseos y poder conocer un poco más a fondo la historia de esta impresionante librería. No sé si Francisco Xavier Esteves, a lo largo de su vida, diseño algo parecido, pero la escalera, alrededor de la cual gira la librería es realmente magistral en su concepción y de un acierto estético difícilmente superable. No se si Jorge Luis Borges conocío esta librería y su escalera, pero facilmente se ubicaría en su laberíntica Biblioteca de Babel al subir y bajar sus peldaños.

Saludos bibliófilos

Rui Martins disse...

Caros amigos

Obrigado pelos vossos comentários e, sobretudo, pela vossa paciência na leitura dos meus modestos artigos.

Nesta pequena divagação/viagem por alguns "lugares de culto" da bibliofilia portuguesa, no que diz respeito a Bibliotecas Publicas e Livrarias, não quis deixar de referir a «Livraria Lello & Irmão» do Porto, que apesar de ser bem conhecida merecia, em minha opinião, ter mais uma vez "recontada" a sua história e referir, pelo menos, um dos autores mais conhecidos que foi por ela editado.

Saudações bibliófilas

António Bettencourt disse...

"Decus in Labore". Ou seja honradez no trabalho.

Cumprimentos

Helena Correia disse...

Realmente a sumptuosa Lello não passa indiferente a nínguém!

"DECUS IN LABORE" O monograma que está inscrito no vitral é também a divisa da casa livreira e de acordo com uma pesquisa que fiz para um trabalho julgo que o seu significado seja dedicação ao trabalho.

António Bettencourt disse...

Cara Helena, desculpe discordar mas decus, decoris em latim significa honestidade, decência, dignidade e deu origem, em português, à palavra "decoro". Dedicação em latim diz-se studium. Penso que o que a divisa pretende expressar é a honestidade e probidade com que a casa trabalha e não o facto de se dedicarem ao trabalho.

Para além disso labore está em ablativo regido pela preposição in, o que nunca poderia expressar uma ideia de dativo.

Temos, também em latim, a palavra dedicatio, que deu em português dedicação, mas que em latim significa mais consagração (no sentido de consagrar algo a alguém, por ex. um templo consagrado a um deus).

Cumprimentos

Helena Correia disse...

Agradeço a explicação, acima de tudo por ter sido tão elucidativa.
Felizmente ainda estou em tempo de corrigir o trabalho que desenvolvi acerca da Livraria Lello.

OBRIGADA

Unknown disse...

Na minha adolescência e juventude o dicionário de português, história, geografia e conhecimentos gerais "Decus in Labore" foi meu livro de cabeceira. Ouso dizer que quase tudo q sei desses assuntos aprendi pela primeira vez ali. Infelizmente esse tesouro, que pertencia a meu falecido pai se perdeu, não existe mais, senão, ainda hoje estaria lendo-o.