"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 5 de setembro de 2009

Conversa bibliófila: uma divagação sentimental



Porta-manuscritos indiano (séc. XIX, Rajasthan) feito em papel-mache.
Pintura bonita e delicada. 285x148 mm.
Como habitualmente, neste tipo de objectos, tem na face anterior pintados os 14 sonhos de Trishala
e na face posterior os 8 símbolos da sorte.

Recentemente, tive um problema de saúde, que me obrigou a um curto período de internamento hospitalar e do qual ainda me encontro em fase de convalescença.

Nada melhor do que sentirmos que a vida nos pode escapar por entre os dedos, como grãos de areia, para reflectirmos um pouco sobre o significado dessa mesma vida e das marcas que nela deixámos para a nossa posteridade.
Será que fizemos algo de que nos possamos orgulhar, ou passámos apenas ao lado dela sem que tivéssemos deixado qualquer testemunho da nossa passagem.
É certo, que nestas ocasiões, sentimos sempre o calor humano dos nossos amigos e familiares, que nos visitam, telefonam e se disponibilizam para nos ajudar ... mas se a situação tivesse seguido outro rumo, ao fim de algum tempo, cairíamos no esquecimento – a vida não pode parar! – e aí, por-se-ia de novo a mesma questão: “Que marca deixei da minha passagem?”

Tudo isto, para vos dizer que me orgulho de ter começado a escrever este Blog há cerca de seis meses.
Ao contrário do idealismo “romântico” inicial, vejo-o agora com outros olhos muito mais pragmáticos.
Não pretendo escrever um “best-seller” (aliás nem para isso tenho habilidade) e, para mais, o tema é extremamente árido para a maioria dos cibernautas e, com a agravante, de nem todos os bibliófilos o serem.
Ainda que se encontrem livros de Harry Potter em Catálogos de Livrarias conceituadas isso não significa nada para mim.
O comércio do livro antigo é um negócio como qualquer outro e, para mais, tem nuances e gostos de época, de que os seus intervenientes tem de se saber aproveitar ... o negócio obriga!


Mas, é sempre com alegria e um certo orgulho que vejo, que um pouco por todo o lado, lêem as minhas simples e modesta reflexões e exposições ... é certo que poucos comentam, mas se calhar o erro é meu, pois não digo nada assim de tão importante que se justifique estar a retorquir.

Perdoem-me os outros leitores, mas quero aqui fazer duas referências: “Anita” seguidora quase desde a primeira hora e um leitor anónimo de Álvaro, quase desde a mesma altura igualmente, por ser a terra de origem dos meus familiares paternos ... cheguei a uma das minhas origens!
Também nunca imaginei que António Nobre e o seu livro «Só» fossem tão procurados no Brasil assim como Camilo Castelo Branco.

Curiosamente, tenho aprendido muito com o que tenho publicado – as pesquisas que faço, os contactos que estabeleço, os novos dados que encontro são elementos que enriquecem bastante os meus modestos conhecimentos – mas também pelo que é ou não lido, o que despertou mais interesse assim como com o que recolho dos vossos comentários.

Chamei-lhe «Tertúlia Bibliófila» exactamente para isso, para que cada um se sinta à vontade para deixar aquilo que pensa sem ter o receio que isso melindre alguém ou que denote ignorância – não estamos num clube de sábios, mas sim de pessoas normais que têm em comum um grande amor por livros antigos e pela sua divulgação!

De facto não ensinei nada – nem era esse o meu propósito, pois eu «Só sei que nada sei!» - mas em contrapartida aprendi muito.


Deixo-vos hoje como ilustrativo desta minha reflexão / divagação um porta-manuscritos indiano do século XIX. (Rajasthan) que se insere na divulgação da bibliofilia oriental e do simbolismo que muitas vezes encerra (como é o caso deste objecto).

Espero compartilhar convosco outros documentos e, sobretudo, ideias para que “esta coisa de bibliofilia” seja “tão concreta e definida como outra coisa qualquer” como diz o poeta (A. Gedeão)

Saudações bibliófilas.

6 comentários:

Marco Fabrizio Ramírez Padilla disse...

Rui.

Lamento saber que estuviste delicado de salud, la buena noticia es que ya te encuentras mejor y deseo que pronto te restablezcas por completo.

Tu reflexión emociona, ya que describes de manera muy sentida, todas las satisfacciones que deja la escritura de un blog.
Te envió un fuerte abrazo.

Diego Mallén disse...

Amigo Rui; lee con preocupación que has tenido problemas de salud que te han obligado a internarte en el hospital. Me alegro que los hayas superado satisfactoriamente y que te encuentres ya en buen estado.

Seguiré leyendo tus artículos tan interesantes y amenos y me han gustado mucho las reflexiones que haces. Yo me reincorporo también y espero colgar pronto algún artículo.

Saludos bibliófilos y un fuerte abrazo,

Diego.

Rui Martins disse...

Caros amigos Marco y Diego
Gracias, una vez más, por vuestra expresión de amistad y de apoyo en esto momento un poco difícil para mí.
Yo voy intentar desenvolver los míos artículos sobre la prensa en Portugal y divulgar la bibliofilia portuguesa.
Saludos bibliófilos y un abrazo

Galderich disse...

Como Marco Fabrizio y Diego me he preocupado mucho por tu estado de salud. Que vuelvas a escribir veo que quiere decir que tienes la salud totalmente reestablecida y con ganas de continuar.

Me gustaron tus reflexiones sobre el hecho de llevar a delante un blog minoritario a pesar de las ganas que sea mayoritario y que nos aporta mucho más de lo que damos en él.

La pieza que nos muestras hoy me ha sorprendido y no. En principio supongo que la fuente que dice que es musulmana es de fiar teniendo en cuenta que a pesar de que se dice que el islam no reproduce la figura humana tiene muchas excepciones y la mogol es una de ella, muy en contacto con la India. Esta pieza me recuerda a una muy semejante que tengo en casa y que es un cajón-biblioteca de tradición jainista. Como en India comparten espacio muchas religiones y culturas no es de exrtrañar las similitudes estéticas, compositivas...

Un fuerte abrazo y a cuidarse mucho que te necesitamos con tu tertulia y aportaciones que nos enriquecen.

Rui Martins disse...

Amigo Galderich
Gracias por tu expresión de amistad y de apoyo en esto periodo de mí vida, pero sobretodo, por tu aporte.
Es evidente que esto porta-manuscritos no es musulmán es de India como se puede veer por los motivos pintados, como tu muy bien referiste, y por la simbología (¡Trishala es una deidad indiana que no tiene nada con el Islam!).
Yo hizo confusión por tener comprado esto y un manuscrito musulmán del siglo XV, vos presento las mías disculpas por el error... ¡pero hablar o escribir es esto: no tener miedo! si hay error hay siempre alguien que nos llamara la atención.

Galderich disse...

Rui,
La India se distingue por su sincretismo y por ejemplo el Taj Mahal no tiene nada que ver con la Alhambra. La cultura musulmana se adapta al quehacer de cada lugar con sus exigencias, pero siempre se escapa algo por lo que los motivos populares podrían ser compartidos con los hindúes.
Espero el manuscrito del s. XV con impaciencia y yo prometo hacer algún artículo sobre el tema musulman en tu honor.